30
Abr07
Chaves, Rua Cor. Bento Roma – Um elogio à cor
.
Na minha adolescência, num daqueles livros para adolescentes, li uma vez uma passagem a respeito da moda que dizia mais ou menos assim:
“ Uma vez um pato foi dar uma volta para fora do seu habitat. Um caçador deu-lhe um tiro mas não lhe acertou, apenas o depenou deixando-lhe apenas três penas na cauda. O pato, embora muito envergonhado por estar depenado voltou para junto dos outros patos. Todos se começaram a rir quando o viram depenado, mas como o pato em questão era um bocado ousado e gostava de andar sempre na moda, todos se interrogaram sobre as três penas, não seria a última moda!? Silenciaram, e no dia seguinte a maioria dos patos tinham apenas três penas na cauda.”
É assim que nasce a moda.
Em Chaves não é diferente, e em termos de construção, pinturas, arquitecturas e revestimentos, vai acontecendo o mesmo. Houve tempo em que as construções de cantaria de pedra mostravam a sua moda com as caixilharias pintadas a vermelho sangue de boi ou verde-garrafa. Depois, com o aparecimento do tijolo e do reboco veio o branco, que aliás era a única cor permitida, ou melhor, isenta de licenciamento. Com a chegada de arquitectos à Câmara Municipal, a construção em Chaves começou a ser mais cuidada e a reflectir um pouco a tendência da moda do arquitecto responsável da Câmara. Foi assim que na fase da passagem do Arquitecto Júlio Grilo pela Câmara, a moda no centro histórico passou a ser a pedra à vista, a proibição de alumínios anodizados e introdução de alguns elementos ousados e diferentes da arquitectura tradicional que até então se praticava na cidade. A construção começou a ser mais cuidada e marcou uma época, da qual eu saliento a da pedra à vista.
Após o abandono da Câmara do Arq. Júlio Grilo, um novo arquitecto, e também flaviense, já veterano, o arquitecto António Luís Guerra passa a ditar os desígnios da moda da arquitectura flaviense. É abandonada a pedra à vista e passa-se a uma nova fase. Os rebocos começam a tapar a pedra à vista (respeitando-se as molduras) e começa a aparecer a cor nas construções do centro histórico. Amarelos, rosas velhos ou não, verdes, azuis e familiares. Era uma nova época, aliando a cor a novos materiais disponibilizados no mercado (como o inox escovado), que inicialmente e timidamente começou a aparecer na cidade e depressa começou a ganhar adeptos. Iniciava-se em Chaves uma nova época de olhar a arquitectura e que ainda hoje vai dominando, mesmo depois do Arq. Luís Guerra se ter reformado. É a época da cor, das cores vivas e alegres que agora vai animando o olho dos flavienses.
Cada época tem os seus adeptos. Sei que há os adeptos da pedra e os adeptos da cor. Pela minha parte, aprecio a cor e a sua vida e alegria conciliadas com a pedra, mas na sua medida devida, vou por assim dizer, pela moda do pato pintado e multicolor. Mas claro que respeito os que têm opinião contrária, desde que, claro, não me atirem com mamarrachos para cima de mim.
Seria injusto se terminasse sem demonstrar o meu apreço e admiração por ambos os arquitectos aqui mencionados, com os quais tive o gosto de trabalhar e sobretudo de aprender, como autênticos mestres e amigos que o foram e ainda são.
E agora a foto de hoje. É da Rua Coronel Bento Roma, uma rua de contrastes onde de um lado da rua as construções da foto marcam presença e do outro lado um mamarracho que me nego a fotografar, um dos tais atentados que se cometeram e que tanto prejudicam o nosso centro histórico.
A respeito da foto de hoje, há ainda mais um apontamento. Agora que todas as infra-estruturas no centro histórico já se desenvolvem no subsolo não seria já tempo de acabar com os cabos de eléctricos e de telecomunicações aéreos!? Claro que aqui entra a falta de coordenação, entendimento e burocracia inter instituições que tanto mal fazem à nossa bolsa e à nossa vista.
Até amanhã, em Chaves, como não poderia deixar de ser.