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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

31
Mar09

O olhar de Sérgio Pinheiro sobre a cidade


 

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Dizem que uma imagem vale mais que mil palavras, o que nem sempre é verdade, mas admito que às vezes as palavras só atrapalham, principalmente quando na imagem está tudo que se possa dizer, ou que se queira dizer, ou ainda, como se pode dizer.

 

São assim as imagens e quando pensamos que de um motivo não há mais imagens para retirar, eis que surge mais uma, a seguir mais outra e depois outra, sucedem-se como as palavras quando amontoadas, podem cair ou não na escolha e preferência do poeta para melhor compor o seu poema. São assim as imagens, são assim as palavras.

 

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Palavras que vou alinhando por aqui para vos apresentar as imagens do nosso convidado de hoje e que mais uma vez descobri na NET, no flickr e não só. Imagens daquilo que ainda vamos tendo de melhor, com algumas das nossas maravilhas e com mais um olhar diferente, num momento também diferente.

 

São imagens de Sérgio Pinheiro que vai deixando pelo flickr (http://www.flickr.com/photos/spinheiro/), mas também pelos olhares.com, pelo photosig ou pelo seu blog em http://srpinheiro.wordpress.com/ onde  “The passion of writing with light!”.

 

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É tudo que sabemos do nosso convidado, que se reparte entre Lisboa e Viseu, mas que vai escrevendo com a luz e imagens de muitos locais, entre os quais, também calhou a sorte à nossa terrinha:

 

Até amanhã e obrigado ao Sérgio Pinheiro por estes olhares sobre Chaves.

30
Mar09

Arte Tamagani à margem do 25 de Março


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Deixando de parte algumas questões a respeito das comemorações dos 200 anos das Invasões Francesas, vamos ainda ao rescaldo do seu dia grande, o dia 25 de Março e daquilo que parece que aconteceu à margem das comemorações oficiais, ou seja, quase parece que havia dois programas de festividades e comemorações, um, anunciado e aberto ao grande público, com cobertura dos jornais e televisões, e outro em privado como de um segredo se tratasse ou não merecesse ser do conhecimento do público em geral, dos jornais e televisões.

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Não sei quem foi o responsável pelo programa do dia 25 de Março, se a Câmara Municipal, o Regimento de Infantaria ou a Presidência da República ou talvez até todos juntos, mas houve alguns momentos que por terem sido tratados à margem do grande público quase que parece que são clandestinos e que embora com fotografia de família, não passaram de um acontecimento aparte das comemorações.

 

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Claro que me refiro aos dois painéis que foram pintados pelos 16 artistas TAMAGANI, que embora tivessem tido a presença do Sr. Presidente da República, do Ministro da Defesa, do Presidente da Câmara e das entidades militares, com direito até à respectiva fotografia de família, não passou de uma cerimónia à margem das comemorações, fora do programa oficial do dia e sem a presença da imprensa e já se sabe, que nestas coisas da arte e de artistas, se existem, é para serem partilhadas com todos e com o público em geral, senão, não tinham razão de existir.

 

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Claro que também eles, artistas TAMAGANI mereciam o seu momento de glória e de visibilidade, e pela certa que a sua arte fazia melhor figura que outra arte que foi inaugurada com pompa e circunstância e imposta à população, às custas de todos e com sacrifícios de algumas das nossas maravilhas…mas enfim, já estamos habituados, esses eram artistas de fora que foram bem pagos para fazer o “bonito” e o povo ajoelhar. Os santos da terra, já se sabe, além de terem de actuar de borla, não fazem milagres…

 

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Da minha partem, com a cumplicidade de alguém que tirou as fotos de família e a cumplicidade de alguém que as fez chegar até ao blog, deixo por aqui aquilo que não passou para a imprensa, que não fazia parte do programa e que doeu aos artistas Tamaganis que com todo o carinho e arte trabalharam para estas comemorações, mas que lhes foi negado um pequeno momento de glória, que também mereciam…

29
Mar09

São Julião de Montenegro - Chaves - Portugal


 

Hoje vamos até S.Julião de Montenegro,


S.Julião de Montenegro, fica a 12 quilómetros de Chaves, o principal acesso à freguesia é feito pela E.N. 213 (Chaves-Valpaços) é sede de freguesia, à qual pertencem as povoações de Limãos e Mosteiró de Baixo, confronta com as freguesias das Eiras, Faiões, Águas Frias, Oucidres, Nogueira da Montanha e Cela e ainda com as freguesias de Alvarelhos, Ervões e Friões, estas últimas do Concelho de Valpaços.

 

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São Julião, freguesia com a área de 15,29 km2 e 293 habitantes residentes, dados para a freguesia, pois para a aldeia propriamente dita, os números resumem-se a 113 habitantes, com 6 crianças com menos de 10 anos, 5 entre os 10 e os 20 anos e 44 habitantes com mais de 65 anos. Números do ano de 2001 do Censos que como em todas as aldeias demonstram bem a tendência do despovoamento do mundo rural, principalmente o mundo rural de montanha o mundo dos resistentes, embora por S.Julião até ainda haja alguns casais novos que vão dando alguma vida à aldeia que fazem esquecer um pouco o abandono da sua velha rua principal.

 

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A agricultura é a principal actividade da aldeia e da freguesia, embora com os seus terrenos essencialmente de natureza granítica a altitudes acima dos 700m, no entanto como são terras com abundância de água, são também terras férteis. Se cultivadas, produzem centeio, milho, trigo, batata, toda a espécie de legumes e variadas frutas, com especial destaque para a castanha.

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Se hoje a agricultura é a principal actividade da aldeia, nem sempre foi assim, pois tempos houve em que para além da agricultura havia outras actividades mais rentáveis, como uma importante exploração mineira com muita actividade no período da 2ª Guerra Mundial, exploração essa que se fazia num local a que hoje ainda chamam estanheira, por ter sido jazida de umas importantes minas de estanho.

 

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E embora possa parecer estranho, principalmente pela sua distância até à raia, S.Julião ficava também nas rotas e caminhos do contrabando, com os fardos a mudar de mãos precisamente no troço de estrada nacional que passa junto à aldeia. Pela certa que desde as minas ao contrabando passando pelo tempo do “pulo” para outras paragens, haverá muitas estórias perdidas e por contar.

 

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S.Julião de Montenegro, assume como topónimo o nome de S.Julião + Montenegro com origem no antigo julgado de Montenegro, aquando a aldeia gozava de grande importância que ainda está patente em algumas tradições fidalgas e na sua Igreja Matriz, um templo românico, que data dos princípios da nacionalidade, com uma traça arquitectónica que foi suportando como pode os atentados do tempo e até os do homem.

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A igreja matriz de São Julião de Montenegro é um templo de traça românica onde ainda persistem muitos dos elementos arquitectónicos originais. Só a fachada principal, com uma orientação a Oeste, é que se encontra completamente descaracterizada por obras de restauro mais recentes, aliás obras a que tem estado mais ou menos sujeita ao longo dos tempos e ligadas a estragos causados por causas naturais, como o terramoto de 1755 (segundo alguns documentos) ou mais recentemente, atribuídas a um ciclone do início do século passado que muitas vezes é referido pela população mais idosa, ou mais recentes ainda, nos anos 80, por iniciativa do então padre da freguesia. Obras mais ou menos felizes que lá foram mantendo a cachorarrada  que testemunha a sua origem românica, bem como uma pequena porta que se rasga na parede norte do edifico e que curiosamente podemos ver repetida em desenho na Igreja de Moreiras, desenho onde se encontra reproduzida a famosa cruz usada pela Ordem dos Templários que neste caso seria já da Comenda da Ordem de Cristo, à qual pertenceu S.Julião.

 

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No interior da Igreja revela-se um importante testemunho de pintura mural, surgindo ainda alguns fragmentos a forrar as superfícies das paredes internas do templo. Os vestígios concentram-se junto do arco triunfal e em toda a sua superfície, constituindo-se assim como um dos raros exemplares que testemunham a riqueza e a temática pictórica que de uma forma geral existia no interior das igrejas medievais.

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Igreja românica, no entanto e aquando das obras de restauro já aludidas, o tempo regressou até à época romana com a descoberta de três marcos miliários pertencentes à via augusta XVII. O primeiro é atribuído a Macrino, datável de 217-218 e surgiu debaixo de um dos altares juntamente com um outro exemplar, encontrando-se actualmente no interior da igreja, junto da porta principal. Possui a seguinte inscrição: [OPLL]IV[S] MACRI[NVS] / NOB(ilissimus) C[A]ESAR.

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Um segundo marco é atribuído a Décio, apresenta a indicação da milha (VI) e é datável do ano de 250. Apresenta a seguinte inscrição: IMP(eratori) [G]AIO TRA / IANO DECIO IN / VICTO AVG(usto) TR(ibunicia) P(otestate) / II CO(n)[S](uli) III PRO / CO(n)S(uli) / RE[ST(ituit) V(iam) A A(qvis) F(lavis) / M(ilia) P(asum) VI [HE / RENNI] OETRVS / [CIO M]ES[IO NOBI / LISSIMO CAESARE]

 

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O terceiro exemplar encontra-se no adro da igreja, ao lado do portão de ferro que permite acesso ao terreiro do templo. Trata-se de um grande fragmento da secção inferior que termina num espigão quadrangular. Não possui epigrafe. António Rodriguez Colmenero (RODIGEZ COLMENERO,1997: 333, nº 426) refere ainda um quarto fragmento de miliário, também procedente da igreja de S. Julião e que na altura se encontrava no domicilio do Pe. Fernando Pereira. O autor consegue recuperar a inscrição ---]FLAVIO DALMACIO[---

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Importantes testemunhos dessa importante via romana da qual ainda hoje se podem ver alguns fragmentos na freguesia das Eiras, mesmo por baixo do Miradouro de S.Lourenço e que facilmente se adivinha a passagem por terras de S.Julião de Montenegro.

 

Voltando à igreja de S.Julião, ainda é um bonito exemplar a apreciar quer pelos modilhões da cornija e as pinturas a fresco que apresentam algumas alfaias e paramentos religiosos de grande valor artístico. Interiormente possui uma só nave, a qual, no seu conjunto com a abside e dois altares laterais, representa uma cruz, formato de igreja mais usado nos séculos XI e XII em toda a cristandade. O altar principal e o seu retábulo são lavrados em talha simples do segundo período da renascença. No tecto da capela-mor, está pintado o apóstolo S.Pedro no acto que se seguiu à negação.

 

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Continuando ainda com a igreja e para um último apontamento e, um alerta para quem de direito. A população lamenta não ter dinheiro para recuperar o tecto da capela-mor e as suas pinturas. De facto é lamentável que o nosso mais rico património, neste caso o religioso ligado ao românico, tenha que depender da vontade e das expensas da população. Património cultural que é de todos e até da humanidade, mas que em termos de preservação e custos cai sempre sobre a população. Pois acontece que a população de S.Julião está envelhecida e não tem dinheiro para mandar recuperar as pinturas do tecto da igreja que entretanto se vão deteriorando cada vez mais. Património cultural, histórico e artístico que se poderá perder e pela certa que não será por culpa da população, mas talvez por culpa da própria entidade que é a Igreja Católica que deveria cuidar dos seus templos (em vez de os “roubar” como parece já ter acontecido em tempos nesta igreja de S.Julião), por culpa da Junta de Freguesia (que já sabemos que também não tem meios), por culpa da Câmara Municipal (que se põe à margem destas questões) e por parte do Estado, “IPA’s”, “IGESPARES” ou seja lá o que for ou quem seja. Ninguém tem responsabilidades e a realidade repete-se não só aqui em S.Julião, mas também na Granjinha e noutros templos que embora não tão antigos como os românicos, não deixam de ter interesse e em todos eles, a não ser os cuidados da população, ficam abandonados e entregues ao seu próprio destino.

 

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Foi demorada esta abordagem à Igreja de S.Julião porque sem dúvida é também um dos templos mais importantes que testemunham o românico no nosso concelho.

 

S.Julião, bispo de Toledo, que foi coevo dos reis Vamba e Ervígio, soberanos godos é também o santo que dá nome à aldeia e que é também o seu padroeiro, celebrado em 11 de Março, no entanto a verdadeira festa da aldeia (um pouco e tal como acontece em todas as aldeias de montanha) é o mês de Agosto, em que as ruas se enchem de gente com os regressos à terrinha dos seus filhos.

 

Para a feitura deste post, foram recolhidos dados do INE (censos 2001), ANAFRE e IPA.

28
Mar09

Mosaico da Freguesia de Soutelinho da Raia


 

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Localização:

A 18 km da cidade de Chaves, na extremidade Nordeste e limite do concelho e não só, pois também é terra de raia, onde Portugal termina para começar a Galiza. Grande parte da freguesia desenvolve-se já em pleno planalto barrosão que se estende ao longo da fronteira com a Galiza até à Serra do Larouco.

 

Confrontações:

Confronta com as freguesias de Ervededo e Calvão do concelho de Chaves e como freguesia limite do concelho, confronta ainda com o concelho de Montalegre e com a Galiza, da vizinha Espanha.

 

Coordenadas: (Escola Primária)

41º 37’ 27.32”N

7º 30’ 38.80”W

 

Altitude:

Variável – entre os 750 e os 850 m

 

Orago da freguesia:

Stº António

 

Área:

5,97 km2.

 

Acessos (a partir de Chaves):

– Estrada Municipal 507.

 

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Aldeias da freguesia:

            - Soutelinho da Raia (única aldeia da freguesia).

           

 

População Residente:

            Em 1900 – 483 hab.

            Em 1920 – 478 hab.

Em 1940 – 535 hab.

            Em 1950 – 559 hab.

Em 1960 – 493 hab.  

Em 1981 – 342 hab.

            Em 2001 – 192 hab.

 

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Principal actividade:

- A agricultura.

 

Particularidades e Pontos de Interesse:

Historicamente falando sobre o povoamento desta aldeia, teríamos que recuar possivelmente até ao tempo dos povoados fortificados castrejos, pelo menos assim o defendem alguns historiadores que ligam este povoado a um sítio da aldeia designado por “Muro”. Também há referencias ao romanos e a uma possível via romana secundária, havendo mesmo alguns autores que dizem existirem ainda nas imediações o que serão possíveis restos de calçada. Diz-se também que por aqui passaria um dos caminhos de Santiago e actualmente é pela aldeia também que passa a principal ligação (em termos de utilização) entre a cidade de Chaves e a Vila de Montalegre.

 

Da história também já faz parte o tempo em que Soutelinho da Raia foi uma aldeia promíscua, ou seja, uma aldeia que era dividida pela linha da raia, pertencendo metade a Espanha e outra metade a Portugal e que assim foi até ao tratado de Lisboa de rectificação de fronteiras (de 1864) em que Soutelinho da Raia passa exclusivamente para Portugal em troca das aldeias do Couto Misto que passam integralmente para Espanha (mais sobre este assunto consultar o blog Cambedo Maquis ou o post deste blog de 14.Dez.2007 - http://chaves.blogs.sapo.pt/231841.html). Ainda hoje Vilarelho da Raia vive um pouco dessa promiscuidade dos Séculos passados, pois se repararem na fotografia aérea que se apresenta neste post, existem terrenos e até construções que são atravessados pela linha de fronteira (a amarelo na imagem), que pela sua condição já se adivinha que foi também terra de contrabandistas e Guardas-Fiscais enquanto existiu a fronteira entre Portugal e Espanha. Muitas estórias pela certa haverá para contar de ambas as partes.

 

Ainda na história desta aldeia,  consta o acampamento das tropas monárquicas de Paiva Couceiro, em 1912, do qual sairia a segunda tentativa de restaurar a Monarquia do Norte.

 

Terra de frio também, onde as primeiras neves marcam sempre presença.

 

Sem dúvida alguma que é uma das freguesias à qual recomendo uma visita com passagem e paragem obrigatória no S.Caetano.

 

 

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Linck para os posts neste blog dedicados à aldeia e freguesia:

 

            -  Soutelinho da Raia

27
Mar09

Discursos Sobre a Cidade, por Gil Santos


 A ORAÇÃO DO MILITAR

 

Um texto de Gil Santos

 

O paquete de luxo “Santa Maria” propriedade da Companhia Colonial de Navegação, largou de Lisboa a 9 de Janeiro de 1961, com destino à América Central. Fez a primeira escala no porto venezuelano de La Guaira a 20 do mesmo mês. No barco seguia, desde Lisboa, um grupo de contestatários da Direcção Revolucionária Ibérica de Libertação, movimento constituído por opositores aos regimes totalitários de Franco e de Salazar. Um dia depois, em Coraçau, embarcou clandestinamente o comandante deste movimento Henrique Galvão, com mais três camaradas, com o objectivo de tomar o navio. Exilado na Venezuela, desde 1959, Galvão pretendia ferir de morte a ditadura de António Oliveira Salazar, utilizando estas práticas de assalto como forma de contestação ao regime. O navio, que levantando ferro de Coraçau tomava o destino de Port Everglades na Florida, foi tomado na madrugada de 22 de Janeiro de 1961 pelos 24 homens do movimento que tiveram necessidade de abater a tiro o único resistente, o terceiro piloto Nascimento. Alterando o rumo para leste os assaltantes pretendiam alcançar rapidamente o Atlântico. O agora comandante Galvão pretendia, com a manobra, deslocar-se até à colónia espanhola de Fernando Pó, no golfo da Guiné e daí desenvolver um ataque a Luanda, iniciando a partir de Angola o derrube dos regimes ditatoriais da Península Ibérica. Porém, no dia 25, cruzou-se com um cargueiro dinamarquês o que permitiu que a força aérea norte americana identificasse a sua posição permitindo a sua localização e respectiva apreensão no porto brasileiro de Recife a 2 de Fevereiro. Este acontecimento, abortado, deu origem a outros do género.

 

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Mas já antes, outros acontecimentos punham em causa o regime de Salazar: a 7 de Fevereiro de 1927 eclodiu no Porto num movimento revolucionário de forças militares; a 20 de Julho de 1928 outro movimento eclodiu em Lisboa; a 4 de Abril de 1931 verificaram-se tumultos na Madeira; a 26 de Agosto de 1931, rebentou mais uma revolução, que viria a causar 40 mortos e cerca de 200 feridos; a 18 de Janeiro de 1934, eclodiu uma greve geral, com atentados à bomba, a tiro e sabotagens em várias localidades, com maior incidência na Marinha Grande; a 10 de Setembro de 1935 houve uma tentativa de assalto ao destacamento da Penha de França, entretanto abortada pela prisão dos seu precursores; a 9 de Setembro de 1936 deu-se uma revolta dos barcos de guerra, "Afonso de Albuquerque" e "Dão" que pretenderam sair a barra para se juntar às forças republicanas que combatiam em Espanha. Sobre os navios foram disparados 21 tiros de canhão, dos quais 18 atingiram os alvos e determinaram a sua rendição.; a 4 de Julho de 1937 verificou-se um atentado a Salazar. Na manhã deste dia deflagrou uma potente bomba num colector de uma rua por onde passaria o ditador, a caminho da missa de domingo. O veículo em que o chefe do Governo se fazia transportar não foi atingido; a 10 de Abril de 1947, 5 generais, 6 oficiais-superiores e 13 professores universitários foram demitidos das suas funções por terem participado numa conjura que se manifestou através de greves e de uma tentativa de revolta na região de Tomar; a 12 de Março de 1959, após as eleições de 1958, um grupo designado por Movimento Militar Independente pretendeu levar por diante uma sublevação militar em Lisboa; a l de Dezembro de 1961, foi assaltado, por um grupo chefiado por Henrique Galvão, um avião dos TAP, que voava de Casablanca para Lisboa com o objectivo de lançar panfletos sobre Lisboa, Barreiro, Beja e Faro.

 

Do início da década de sessenta por diante seguiram-se outros boicotes no sentido de chamar a atenção do mundo democrático para os exageros das ditaduras na Península Ibérica e particularmente em Portugal. Coincidindo com o assalto ao Santa Maria, outros acontecimentos deflagraram a 4 de Fevereiro no norte de Angola, mais precisamente nos distritos do Zaire, Uije e Quanza Norte. Incidentes esses que deram origem à guerra colonial em Março de 1961. O Governo de Lisboa perante a afronta dos movimentos independentistas que lutavam pela autodeterminação das colónias e o medo de perder o respectivo império, iniciou o envio de tropas para uma guerra de guerrilha que apenas o Movimento dos Capitães havia de parar em 1974.

 

Ora, para fornecer o exército de homens para guerra, que entretanto alastrava às restantes possessões ultramarinas, havia de encetar uma mobilização em massa.

 

Desta forma muitos mancebos foram parar a terras africanas, numa escala muito maior do que aquela que os havia levado, em dezassete, para a Flandres francesa. Uma rara oportunidade de largar o torrão amargo da terra magra. Muitos deles conheceram primeiro África do que a própria capital de distrito de onde eram naturais. A maior parte regressou. Porém, alguns por lá ficaram, uns mortos e esquecidos e outros por opção de vida. Os vivos foram quase todos obrigados a retornar pela revolução de Abril e pela inabilidade dos descolonizadores. Assim aconteceu com o Zeca Rambóia, um moço nascido nos corgos do Brunheiro.

 

 

 

 

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Nado na aldeia de France, José da Taleta, conhecido por aquela nomeada por ser amigo da pândega, aos dezanove anos, conhecia apenas até onde a vista podia alcançar. Até aquela idade, se visitou Chaves foi por engano, quiçá embrulhado na confusão dalguma procissão de bestas para a Feira dos Santos. A natureza agreste do Brunheiro não lhe reservava segredos. Os animais, domésticos ou selvagens, também não. Tratava o Planalto por tu. Os trabalhos da lavoura e mesmo os domésticos não lhe metiam qualquer serra. Se fosse preciso pendurar na cremalheira um caldeiro de batatas para cozer aos recos, acendia o lume, ajeitava as canhotas de carvalho no estrafogueiro, botava-lhe lume com um palhito e fronças secas de giesta, bufava para atiçar com o fole e já estava. No fim amassava à mão as batatas com o farelo grosso do centeio mal moído, numa balde de folha da Flandres e abrindo o alçapão que do sobrado dava para a loje dos recos, chamava assim à refeição:

 

- Tchua, Tchua, Tchua - e botava a caldeirada para uma pia de perpianho metros abaixo, ouvindo, satisfeito a aplicação das cevas a engordar para a faca!

 

Outras alturas, se tivesse de madrugar e jungir uma parelha de bois galegos e assucar uma terra para semear canibeque, fazia-o com’a nada: pegava na aguilhada em riste, chamava os bois pelo nome, emparelhava-os, colocava sobre a cornadura de cada um a sua molida, sobrepunha o jugo de buxo que os unia, transava-o com as sogas que tensava fincando o ombro nos cornos de cada animal e depois de jungidos conduzia a parelha ao pátio, introduzia o pinalho ou cambão do carro no tamoeiro travando-o com o chavilhão. Antes tinha já preparado o carro de bois com os respectivos ladranhos, que entalava entre os estadulhos e com o arado para a lavra. E de aguilhada na mão, feita de vara de castanho que preparava em Cova do Ladrão, assobiando modas de rouxinol, lá seguia encantando a matina com a chiadeira típica do eixo nas cavilhas do chedeiro.

 

Era um verdadeiro regalo observar esta força da natureza que na mais pura e singela simplicidade e desconhecendo por inteiro os vícios do mundo cão que em breve o esperava, comungava da natureza apenas as virtudes!

 

Porém, as suas dezanove primaveras haveriam de mudar tudo. Foi às sortes. No edital de Freguesia constava o seu nome. A vida estava prestes a mudar e o largar os torrões estava já ali. Ajeitou-se botou o fato de ir à missa, brilhantina no cabelo, juntou-se aos camaradas das redondezas que partilhavam o seu destino e rumou Ao Distrito de Recrutamento Militar, à época em Vila Real. Em couro, apresentou-se à Junta e, ausente de qualquer moléstia, o veredicto foi o de “apto para todo o serviço”. Uma festa! Cigarros, foguetes e uma cardiela de caixão à cova! Dois meses depois assentava praça no Regimento de Infantaria 19 em Chaves para tomar recruta e se preparar para rumar a Angola e enfrentar os turras.

 

Não tinham ainda chegado as andorinhas e já recebera ordem de marcha para Luanda. Embarcou no Niassa em Lisboa e após uma semana de mar e enjoo desembarcou em Luanda. Rumou de imediato ao quartel do Grafanil, onde pernoitou, para no dia seguinte marchar de imediato para o Ambriz onde passaria um ano no mais aceso e cruel cenário de guerra de guerrilha. Soldado raso Rambóia tinha a ingrata especialidade de atirador de infantaria, na gíria da tropa era “carne para canhão”. Assistiu a muitas mortes de camaradas e amigos, viu muitos terroristas esfacelados, participou em diversas carnificinas e viu por diversas vezes a morte logo ali. Os momentos que mais temia eram aqueles em que lhe cabia escoltar colunas de viaturas em marcha lenta pautada pelo ritmo dos picadores que seguindo a pé pelas picadas detectavam as minas que constituíam um dos maiores flagelos daquela guerra. Também as emboscadas eram temíveis pois quando menos contavam choviam rajadas traiçoeiras de metralhadora, ou mortíferos morteiros que desfaziam um homem. Era nestes momentos que em voz baixa e apertadinho do coração recorria aos favores da Virgem Santíssima, lembrando-lhe o tercinho que todas as noites rezava e ao qual juntava uma oração que a avó, uma velhinha, rata de sacristia, lhe havia ensinado. Assim rezava:

Este terço que aqui rezo

O ofereço a Maria

Que me livre do pecado

E da má companhia

 

O pecado ficou triste

Todo cheio de agonia

Por ter oferecido

Este terço a Maria

 

Se quiseres alma minha

No reino do céu entrar

O terço a Maria

Nunca deixes rezar

 

Olha que há céu e inferno

Para os bons e para os maus

E as contas do meu rosário

São peças de artilharia

Fazem tremer o inferno

Quando digo Ave Maria.

 

Ave Maria Senhora

Cofre do ventre sagrado

Amparadora dos anjos

Senhora sois do rosário

 

Eu vos ofereço esta santa e humilde oração

Seja por vossa imensa glória e para minha salvação.

 

Por Deus querer nada de mau lhe havia de acontecer naquela guerra maldita. Em breve passou à disponibilidade são e salvo, à peluda como se dizia.

 

Ora as terras de África apesar da má recordação da guerra entraram de tal forma no coração do jovem que no fim da guerra decidiu não regressar ao continente montando vida por lá. Foi para Luanda e não demorou que nos arredores, próximo do Musseque, botasse uma pequena mercearia. Não tardou que o negócio crescesse e o Rambóia fosse aos poucos ampliando o espaço, metendo empregados e enriquecendo.

 

Os anos foram passando e como já tinha dinheiro que chegasse para viver desafogado até à velhice, regressou. Como o fez antes do 25 de Abril ainda conseguiu trazer riqueza suficiente. Já não regressou a France. Estabeleceu-se na cidade de Chaves, onde comprou uma casa e gozou do conforto que os anos de África lhe proporcionaram.

 

Não dispensava o seu cafezinho do almoço no Geraldes onde aproveitava para contar algumas das estórias que vivera pelas terras benditas de África como gostava de frisar.

 

Entre as muitas retive duas breves que reconto:

 

Do armazém onde guardava os stocks da mercearia que vendia na loja, começou estranhamente a dar conta de que lhe iam faltando coisas. Tinha dois funcionários africanos a trabalhar consigo, o Donzílio e o Virgolino. O primeiro trabalhava ao balcão, o segundo na entrega das compras aos clientes. Um belo dia reparou que o Virgolino saia da loja com um andar estranho. Curvado ao peso de qualquer coisa que não se via, caminhava Virgolino desconfiado, desenhando em passos comprometidos trejeitos de quem esconde qualquer coisa.

 

O Patrão abordou-o:

 

- Olha lá ó Virgulas, tás doente? Porque caminhas tão a custo?

- Eis patrão muito doente. Dói muito a hérnia da virilha!

- Tens uma hérnia na virilha? Ora deixa lá ver. Sabes que eu nunca vi tal coisa!

- eis patrão muito feio p’ra cê ver!

- Eu estou habituado. Mostra lá.

 

Perante a intransigente insistência de Rambóia o Virgolino desapertou o cordel de sisal que prendia as calças, à cinta e deixou ver, entaladas nas cuecas surrentas que trazia, duas latas de sardinha de conserva e um pacote de açúcar branco.

O patrão passou-se! E ali mesmo deu uma descascadela ao desgraçado que de uma forma singela se desculpava desta forma:

 

- Me descupre patrão mas preto é mesmo filho da puta!!!

 

E lá foi então Virgolino com o cantar das segadas e duas latas de sardinha e um quilo de açúcar como paga pelo mês de trabalho que findava.

 

Contava ainda que muitas vezes se dirigiam à sua mercearia os miúdos do Musseque com cinco tostões para um pão e manteiga. Rambóia não estava com meias medidas, como a coroa mal dava para pagar o bijou, pegava numa faca, untava-a na manteiga e dava-a a cheirar aos negrinhos. Os moços, todos contentes, mamavam o pão com o cheiro da manteiga impregnado nos narizitos famintos do peguilho que não avezavam!...

 

A sorte bafejou-o. Adivinhou o 25 de Abril antes que acontecesse. Cheirou-o como o corvo cheira a carniça e safou a pele e a riqueza a tempo A Revolução aconteceu e a vida em Angola tornou-se insuportável para os “rostos pálidos”. A sorte de Rambóia faltou a muitos que, empenhando toda a ilusão naquelas terras, retornaram apenas com a camisa do corpo e uma vontade imensa de sobrevivência.

 

Parecem abrir-se agora novas portas nesse país imenso!...

 

De uma terra farta e próspera restava a saudade que carpia nos copos. E entre os momentos mais suportáveis contava as estórias da sua incursão pelas Áfricas.

 

Uma aventura feliz, apesar de tudo, que a guerra ofereceu!

 

26
Mar09

Coleccionismo de Temática Flaviense - Postal Alusivo à Reconquista de Chaves pelo General Silveira


 

Inteiro postal emitido pelos CTT em 25 de Março de 2009, para celebrar os 200 anos da reconquista de Chaves às tropas francesas, pelo general Silveira (Francisco da Silveira Pinto da Fonseca Teixeira, 1763-1821).

 

Desconhece-se a tiragem, mas conhece-se um número, também indeterminado, de exemplares autografados pelo presidente da República e pelo presidente da Câmara Municipal de Chaves.

 

Este é o exemplo infeliz de um postal com iconografia e obliteração completamente desajustadas, traduzindo  ausência de pesquisa séria e consentânea com o acontecimento evocado.

 

Com efeito, a praça forte de Chaves foi cercada a 10 de Março de 1809 e conquistada a 12 do mesmo mês pelas forças do general Soult (Nicolas Jean de Dieu Soult, 1769-1851), na sequência da retirada, estratégica ou não, de Silveira.

 

Silveira regressou a 21 de Março, reocupando a vila de Chaves e reconquistando o forte de S. Francisco a 25 do mesmo mês.

 

Silveira, no entanto, celebrizou-se pela defesa da ponte de Amarante, entre 18 de Abril e 2 de Maio desse ano, contra as forças do general Loison (Louis Henri Loison, 1771-1816), o famoso general "maneta" que deu origem à conhecida expressão em Português.

 

Ora, 200 anos depois, com esta opção iconográfica, é que "foi tudo para o maneta!..." – a ilustração do inteiro postal reproduz uma imagem de Silveira, do acervo do Museu Militar do Porto, sobreposta à ponte de Amarante e a obliteração reproduz uma secção de três arcos que poderia pertencer a qualquer ponte, mas recorda particularmente a ponte de Amarante...

 

É pena, para não dizer mais, pois este é o primeiro inteiro postal dedicado a Chaves em muitas décadas, e o segundo em toda a história dos CTT.

 

26
Mar09

Os 200 anos do Cerco e Tomada de Chaves - Portugal


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O PR falou e falou bem, devagar, toda a gente o entendeu, mas para quem o ouviu com atenção, e/ou para quem era dirigido o recado, que não siga textualmente a sua recomendação,  aquela de “termos de estar à  altura dos nossos antepassados e de hoje como há 200 anos, ter a capacidade para vencer as lutas que Portugal tem pela frente” pelo menos, não devemos seguir o exemplo do General Silveira, ou seja, fugir às lutas como aconteceu em Chaves, porque, a seguir o seu exemplo, bem tramados estamos, pois não é fugindo da crise, que uma crise se resolve… e não me venham com estratégias!

 

Mas enfim, festa é festa e o Silveira continua a ser o maior… razão tinha Torga quando dizia que por Chaves não há raças, há castas … começo agora a entender o que ele queria dizer com estas palavras e, acrescentaria eu agora: há castas sim senhor, e algumas são dominantes…

 

Mas vamos lá à festa.

 

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O dia começou com o nascer do sol que também se quis juntar à festa mostrando-se em pleno céu azul, como que recordando as cores da época em celebração. Dia até,  quente demais para a época, mas, para mais um dia muito nebuloso para o esclarecer da história flaviense, principalmente dos feitos dos homenageados, mas ao que parece também pouca gente se preocupou ou preocupa com as verdades dos acontecimentos, o que interessa mesmo é festejar e celebrar, mesmo que não ou nem se saiba o quê! Mas já vamos estando habituados a desprezar os nossos para enaltecer os de fora e basta dar uma olhadela a quem dá nome a algumas das nossas ruas para ficarem a saber do que estou a falar… mas enfim, isso até são contas de outro rosário.

 

A festa, como festa, valeu pela diferença dos restantes dias, pois não é todos os dias que temos por cá o Presidente da República, ministros, entidades civis, engravatados e todas as altas patentes militares, que aliás, foram eles que fizeram a festa (os militares, não as patentes), que além dos desfiles, da música, do aparato com “tanques”, “canhões” e desportos radicais, deram movimento salutar à cidade e à monotonia da eira das Freiras.

 

Engraçado como sem querer se vai fazendo justiça, pois por mais que oficialmente insistam em chamar de Silveira ao agora largo do Liceu, é como Freiras que toda a gente o conhece, tal como num ou noutro escrito se vai dizendo que são as celebrações dos 200 anos do cerco e tomada de Chaves… é preciso coragem, virem os franceses, cercarem e tomarem a cidade, e EIA!... celebramos o acontecimento. Enfim!

 

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Bom gosto também se precisa por cá, não só para os acontecimentos a celebrar, como para os motivos com que se celebram e também os locais que se escolhem para os celebrar, além dos efeitos secundários que os mesmos provocam. Claro que estou a falar do muro, do pónei e do Silveira de crista levantada, ou seja uma infeliz reprodução tridimensional de uma gravura da época em que, SEM NINGUÉM DAR CONTA, ou assim parece, se reproduzem os feitos junto à ponte de Amarante como sendo os feitos de Chaves em que se toma um forte cheio de doentes e feridos de guerra… e viva a glória, glórias destas são fáceis de amar, aliás no local de todos os acontecimentos, foi este o escrito que mais deu nas vistas… o amor pela glória! Seja ela que for, também teve o seu momento de glória e, por um momento, todos te amamos, Glória.

 

 

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Festa é festa, mas não é para toda a gente, e se até a Glória teve quem lhe escrevesse e demonstrasse amor no muro do liceu (sortuda), nem todos tiveram direito à glória que mereciam neste dia, que o digam os TAMAGNI, artistas flavienses que pintaram um painel alusivo à data, 16 artistas ao todo pintaram para o evento, e não tiveram a glória de ser mencionados em programa ou sequer falados e, indignados, contentaram-se com a presença do PR numa olhadela, como se duma actividade à margem se tratasse…indignados e com razão, que lá vem dar razão ao baixarmos as calcinhas prós de fora e desprezar os da terra, excepção para o Mestre Nadir Afonso, que também com mestria, partiu mundo fora, onde depois de reconhecida a sua arte, Chaves lha reconhecesse também, mesmo assim, parece custar em aceitar os brindes que o mestre nos quer dar…claro que falo da sua Fundação. Enfim, nem todos têm estatura para ver além de simples barreiras…curiosamente para ultrapassar o muro e ver aquilo que todos ouvem e tudo cai na emoção da geometria do mestre Nadir, nos seus sentidos e na quadratura do circulo que os quer juntos, como no ver e ouvir onde não basta dizê-lo  para o ser, mas há também que o ver…. Coitados dos que não têm estatura para ver além de….

 

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E resta irmos de encontro do, finalmente,  ponto alto, em que (infelizmente) se supõe que lá terá que ficar para sempre, mesmo que alguns (coitados) até mostrem a sua cara resignada  e despromovida à triste condição de parecerem aquilo que não são, em que para levantarem a crista a uns, amocham a condição a outros. Coitado do cavalo que passou a um gordo pónei desajeitado para outros mais facilmente o montem… ó prá cara dele de um simpático infeliz:

 

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E voltando à emoção das geometrias do Mestre,  que a bem de Chaves,  talvez devesse ser consultado quando de geometrias, alinhamentos e enquadramentos se trata, pelo menos quando parece ninguém entender patavina da matéria, pelo menos a julgar pelas posições dos planos e dos layers, bem como do backgroud…pois é, a globalização dá-lhe para pôr as coisas em língua estrangeira e depois ninguém percebe nada…mas há que admiti-lo e não presumir que se percebe de tudo… enfim, há vezes em que o ditado tem mesmo razão de ser e em que a imagem vale mesmo mais que mil palavras!

 

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Mas estamos contentes e felizes, foi festa em dia de feira e embora se possam apontar falhas e algum amadorismo nas poses e esquecimentos de organização, só faltou mesmo o arraial e o foguete no ar e quanto ao PR, agradecemos-lhe o cumprimento e as festas às criancinhas e o repórter de serviço, agradece-lhe em especial aquele gesto de mão, que diz tudo… Obrigado PR pela visita a Chaves.

 

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Entretanto vamos aguardar que os franceses agradeçam esta homenagem e que daqui a 100 anos, alguém se lembre de falar de um Ilustre Flaviense que dá pelo nome de Francisco Pizarro e do heróico povo flaviense de então e já estejam de parte velhas quezílias de famílias e castas e politiquices, liberais, absolutistas, monárquicas ou republicanas, para não falar das cores da democracia. Não estarei cá para ver, mas a bem da verdade, espero que seja a verdade a vir ao de cima, que a não ser assim, o homenageado futuro ainda calha ao Marques de La Romana…

 

Já a seguir vem aí o coleccionismo, desta vez a condizer com as celebrações!

 

Inté!

26
Mar09

A Emoção da Geometria, por Nadir Afonso até Agosto


 

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Tal como disse no post anterior, ontem Chaves prometia ter um acordar diferente de uma comum quarta-feira, e assim foi.

 

Por entre um dia normal de trabalho, lá fui espreitando como pude o dia das comemorações e no final, já noite, lembrei-me de espreitar as notícias da NET a respeito do assunto, e a notícia que mais se repete é:

 

“Cavaco Silva recebe, em Chaves, livro de Agostinho Santos sobre Nadir Afonso” e ainda bem que assim é.

 

Pois vamos começar precisamente por Nadir Afonso, o Livro de Agostinho dos Santos e a inauguração da exposição do Mestre na Biblioteca Municipal de Chaves.

 

Vamos à notícia da NET:

 

Porto, 24 Mar (Lusa) - A editorial Afrontamento e a Fundação Nadir Afonso apresentam quarta-feira ao Presidente da República, em Chaves, a obra "Itinerário (com) sentido", uma biografia do pintor em edição de luxo, disse hoje à Lusa o seu autor, Agostinho Santos.

 

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Capa e contra-acapa da caixa do livro Itinerário (com)sentido

Agostinho Santos, que é também jornalista e pintor, apresentará o livro ao Presidente da República durante a inauguração da exposição de obras de Nadir Afonso, a que Cavaco Silva presidirá, no âmbito da sua visita oficial à cidade.

 

"É uma espécie de biografia ilustrada de Nadir Afonso que considero como um dos maiores artistas vivos da arte contemporânea portuguesa", disse à Lusa Agostinho Santos.

 

Profusamente ilustrado, o livro integra mais de cem pinturas e desenhos das várias fases do pintor (algumas inéditas), assim como muitas fotos que mostram o pintor em várias circunstâncias, ao longo da sua vida.

 

Com o título "Itinerário (com) sentido", integra também excertos de textos escritos pelo pintor ao longo dos tempos.

 

A obra aborda todo o percurso de vida do artista, os tempos da infância em Chaves (sua terra natal), a época do Porto, o tempo de estudante na Escola de Belas-Artes do Porto onde fez o Curso de Arquitectura, a sua estada em Paris, onde pintou enquanto trabalhava no atelier de Le Corbusier, assim como o período em que esteve no Brasil, onde trabalhou com outro dos maiores arquitectos do século XX, Óscar Niemeyer.

 

"O livro é o resultado de uma grande conversa, feita de muitas conversas realizadas ao longo dos tempos, que põe em evidência a vida e a obra de Nadir, em que o pintor-arquitecto fala de si, do seu percurso, da sua carreira, das pessoas que ama, do futuro e da morte", disse Agostinho Santos.

 

O livro tem também uma análise que aborda as pinturas mais importantes da carreira do pintor, por Maria José Magalhães, da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação do Porto.

 

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Inclui ainda depoimentos do pintor Júlio Resende, de Laura Afonso (a segunda mulher do pintor, com quem vive há 30 anos) e poemas do pai de Nadir e do filho Artur, que trabalha actualmente em arquitectura em Nova Iorque.

 

"Trata-se de uma edição trilingue (português, inglês e espanhol), com arranjo gráfico de José Miguel Reis, que sairá com caixa, com 450 páginas e uma tiragem limitada de 1500 exemplares" disse o autor.

 

"Espero que este trabalho contribua para uma maior divulgação da pintura de Nadir Afonso, que ficará, tenho a certeza, na história da pintura moderna portuguesa", disse Agostinho Santos.

 

Esta mesma obra será oficialmente apresentada ao público a 23 de Abril no Museu de Serralves, pelo director da instituição, João Fernandes, e por Maria José Magalhães, estando a apresentação em Lisboa prevista para o Museu do Chiado, em data a anunciar.

 

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É, resumindo, o mestre Nadir em tamanho grande, XL, quer no livro que hoje se deu a conhecer, com grande dimensões, peso e conteúdo, quer na exposição onde o Mestre apresenta algumas das suas obras de maior dimensão, quer na arte da qual que já estamos habituados à sua grandeza, a grandeza do Mestre Nadir Afonso.

 

NADIR AFONSOA Emoção da Geometria, uma exposição para ser mastigada devagarinho, como convém, que poderá ver e rever na Biblioteca Municipal de Chaves até ao próximo dia 31 de Agosto de 2009 – Sem desculpas para quem não a visitar.

 

 

25
Mar09

Vem aí o chefe...


 

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Não quero ser o mau da fita e deixar passar sem uma referência o dia de hoje em Chaves, porque hoje, dia 25 de Março de 2009, por cá, acontecem coisas para além do comum dia semanal de feira em que, nos restaurantes, há feijoada.

 

Pois para quem ainda não deu conta, cá pela terrinha, tem-se andado a comemorar o 2º centenário das Segundas Invasões Francesas. Comemorações que até ao dia de hoje têm passado despercebidas para a maioria da população, mas que hoje, prometem sair à rua e dar um pouco do ar da sua graça, nem que seja pelo aparato que sempre é montado em torno de uma visita oficial presidencial, porque hoje vem aí o chefe, o patrão, o nosso Presidente da República Aníbal Cavaco Silva.

 

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Independentemente da razão de ser destas comemorações e de quem se homenageia, pois já vamos estando habituados ao deturpar oficial das coisas, o que interessa mesmo é a festa e o foguete no ar, é disso que o povo gosta, a verdade dos acontecimentos, são coisas da e para a história, daquela em que nós, à nossa boa maneira, damos a volta e ficamos sempre por cima para parecermos os maiores, sendo estas comemorações um bom exemplo disso mesmo, pois se formos a ver bem, Chaves foi o ponto fraco que os Franceses encontraram para invadir Portugal pela segunda vez e o Silveira, que hoje se homenageia, foi o que deixou as portas abertas para que os franceses entrassem por  Portugal adentro. Dos flavienses e do nosso ilustre Francisco Pizarro, os únicos que tiveram coragem para se oporem aos franceses (pelo menos tentaram), não reza a história…  quanto mais homenagens!... mas está bem, este nosso povo também vai tendo o que merece, e tal como dizia Torga “Que povo este! Fazem-lhe tudo, tiram-lhe tudo, negam-lhe tudo, e continua a ajoelhar-se quando passa a procissão.”

 

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Pois hoje por cá também há procissão, que embora não seja religiosa, lá terá as suas cerimónias, quase todas concentradas no Largo da Lapa, onde estará o Presidente da República e toda aquela cambada de engravatados a que chamam entidades civis, militares e religiosas. Festinha para o povo ver e ajoelhar de novo ao passar da procissão, com batimento de palmas quando for inaugurado aquele que para mim não passa do nosso muro da vergonha.

 

Mas tá bem, pode ser, e já estou por tudo porque a mim tanto me faz, pois se os que podem fazer nada fazem, quem sou eu, simples cidadão comum vir para aqui armar-me aos cucos!?

Gostamos de ilusões, pois gostamos, então deixemos que nos iludam!

 

Bem, mas no meio disto tudo, alguma coisa de positivo ainda vai ficando e se vai fazendo de onde realço alguns pontos altos do dia:

 

- As tropas vão sair à rua, com desfile ao som da fanfarra e, embora bem longe de anteriores desfiles militares a que esta cidade já assistiu, são sempre interessantes de ver, principalmente para quem gosta de fardas a marchar!

 

- A exposição “ A Emoção da Geometria” do Mestre Nadir Afonso, na Biblioteca Municipal.

 

 

E por hoje vai sendo tudo. Talvez um dos nossos repórteres de serviço ainda traga hoje por aqui alguma imagem, mas não é garantido, pois embora hoje seja dia de festa para alguns, para o comum flaviense é um dia de trabalho como outro qualquer.

 

Fica para os devidos efeitos o programa para a manhã de hoje:

 

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Inté!

 

 

 

24
Mar09

Ilustres Flavienses - Marechal de Campo Francisco Pizarro


Há dias, mais propriamente no post da última quarta-feira, dia 18 de Março no meu post com o título  ”O muro da vergonha do General Silveira” eu insurgia-me contra a homenagem que vai ser feita ao General Silveira no âmbito das comemorações do 2º Centenário das Invasões Francesas, quando a mesma deveria ser feita a Francisco Pizarro e ao povo de Chaves, que estes sim, demonstraram valentia quando quase sem armas se propuseram  defender a vila de Chaves dos Franceses, ao contrário de Silveira que fugiu com as suas tropas para a Serra de Stª Bárbara.

 

Nos dias seguintes à publicação do mencionado post, algumas pessoas questionaram-me sobre o que tinha acontecido a Francisco Pizarro após as Segundas Invasões Francesas. Pois, logo após que o (então) Brigadeiro Silveira restabeleceu o domínio de Chaves, mandou prender o Ten. Coronel Pizarro, que ficou-se a aguardar o resultado do Conselho de Guerra por  desobediência, que lembre-se, em tempo de guerra, pagava-se com a pena de morte. É este o Silveira que Chaves está agora a homenagear e é também este o Pizarro que Chaves teima em esquecer… mas infelizmente, para Chaves, a atitude até nem é estranha, pois sempre assim foi, enaltecemos os de fora e esquecemos os nossos.

 

Mas vamos a esse ilustre flaviense, à sua vida para além do então Ten.Coronel Pizarro das 2ªs invasões Francesas, vamos até ao Marechal de Campo Francisco Homem de Magalhães Quevedo Pizarro, ou Maranhão, do Conselho de Sua Magestade, Comendador de Santa Marinha de Lisboa., da Ordem de Cristo, Honorário da Torre e Espada, Marechal de Campo dos Reaes Exércitos, Governador e Capitão General do Maranhão – Brasil, pois foi assim que em 1819, com apenas 43 anos, morria na sua casa em Bóbeda, neste concelho de Chaves.   

 

Tardio, mas aqui está o prometido post sobre mais um ilustre flaviense.

 

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MARECHAL DE CAMPO

FRANCISCO HOMEM  DE MAGALHÃES QUEVEDO PIZARRO,

OU «MARANHÃO,)

(1776-1819)

 

 

 

Foi um dos varões que mais honrou a família Pizarro em Portugal.

 

Nasceu em 27 de Setembro de 1776, em Bóbeda, aldeia do concelho de Chaves, onde então já residiam seus pais. Foi o 12º génito de 14 irmãos, e ficou órfão de pai em 1780, tendo apenas 4 anos de idade. Filho legítimo de José de Souza Cardozo Pizarro, Fidalgo Cavaleiro da Casa Real e Capitão de Cavalaria e de D.Henriqueta Júlia Gabriela de Quevedo, Dona da Câmara da Rainha a Srª D. Maria I

 

Neste dar a conhecer o nosso ilustre Flaviense, vamos deixar por aqui aquilo que já foi dito a seu respeito em muita da literatura por aí existente, mas principalmente aquilo que foi dito nas “Noticias Biographicas” editadas pelos seus ajudantes D’Ordens em 1819 no Rio de Janeiro em Impressão Regia e posteriormente pelo Dr. José Timóteo Montalvão Machado no livro “ Dos Pizarros de Espanha aos Pizarros de Portugal e do Brasil”.

 

 

Sendo muitos os filhos do Capitão José de Sousa Cardoso Pizarro e não deixando este uma fortuna muito avultada, cedo começaram os seus filhos a alistar-se no Exército e a procurar posições.

 

 

Juventude militar - Em 1790, com 14 anos de idade, Francisco Pizarro sentou praça num Regimento de Cavalaria, e, em 2 de Agosto de 1793, foi mandado admitir na Armada Real, como Aspirante a Guarda Marinha. Ainda no mesmo ano, a 14 de Dezembro, recebe de D. Maria I carta de Fidalgo Cavaleiro da Casa Real. Em 27 de Novembro do ano seguinte, 1794-, é promovido a Guarda Marinha, e em 10 de Novembro de 1796 ascende a 2º Tenente.

 

Promovido a 1º Tenente em 1799, tomou parte numa expedição naval, em 1801, a Malta e a Trípoli, quando a Espanha nos invadiu o Alentejo, e quando a França, sua aliada, quis apoderar-se da ilha inglesa de Malta.

 

Em 1804, ou porque Francisco Pizarro suspeitasse de que muito viria a lutar-se no solo pátrio contra as ambições de Napoleão, ou porque ele tinha interesses pessoais a defender em Trás-os-Montes, como veremos, resolveu requerer a sua transferência da Armada para o Exército. Efectivamente, uma carta régia assinada pelo Príncipe Regente D. João e com a data de 18 de Junho do dito ano, reconhece-lhe os bons serviços e remete-o, como Tenente-Coronel de Infantaria, ao Tenente General Manuel Jorge Gomes de Sepúlveda, Governador das Armas de Trás-os-Montes.

 

Foi colocado no Regimento de Milícias de Chaves e deve ter sido então, naqueles anos de paz, entre 1804 e 1807, que Francisco Pizarro deve ter começado a contactar com a sua grande casa agrícola, herdade de seu tio, Conselheiro Inácio Xavier.

 

Eis que iniciam as Invasões Francesas, e Francisco Pizarro, patriota ardente e militar pundonoroso, vai mostrar as suas brilhantes qualidades através de todo o extenso período da Guerra Peninsular.

 

Na  Primeira Invasão Francesa - Todo o País assistiu, mudo e atónito, à entrada das tropas napoleónicas, em Novembro de 1807, porque EI-Rei D. João VI e o seu Governo assim o haviam resolvido, atenta a falta de preparação militar.

 

Todavia, desde logo, Francisco Pizarro, patriota honesto, liberal e inteligente, marca a sua posição: aguardar os acontecimentos até ao momento propício à explosão da revolta; não prestar nenhum apoio às tropas napoleónicas; ser refractário a todos os convites dos franceses.

 

Enquanto muitos, por interesse ou falta de entendimento, misturavam ideologia política com traição à Pátria, o Tenente-Coronel Francisco Quevedo Pizarro disse que aceitava as ideias políticas que alastravam por toda a Europa, mas não ingressaria na Legião Portuguesa, nem interviria em qualquer acção favorável a Bonaparte, nem deixaria de combater os intrusos soldados de França.

 

Que lhe importava a ele que os mais altos representantes do Clero e da Nobreza fossem a Baiona saudar o poderoso Napoleão? que lhe importava a ele que militares valorosos, mas desnorteados, fossem pela Europa fora, servir as ambições da França? ele e muitos mais saberiam cumprir o seu dever. E souberam!

 

Logo que começou a patentear-se o descontentamento do povo, o Tenente-Coronel Francisco Quevedo Pizarro abandonou a sua casa de Bóbeda e foi para Chaves, onde se entregou aos trabalhos da conspiração, até à eclosão da revolta. Há mesmo dois documentos, um assinado por João de Sousa Ribeiro da Silveira Malheiro, Coronel de Cavalaria e Governador da Praça de Chaves, e outro assinado pelos Vereadores e Procurador da mesma vila, dizendo que o  «Tenente-Coronel de Milícias do Regimento de Chaves muitto cooperou para a mesma Revollução apresentando-se immediatamente ao Illustrissimo Governador desta Praça cumprindo com exação as ordens que odito lhe dava àquelle fim, animando o Povo e a Tropa; e foy elle que arvorou huma Bandeira de Guerra no Alto do Castello da mesma villa, organizou o Seu Regimento e fez outras acçoins mais, todas tendentes à Revolução ... ».

 

Coube aos Milicianos de Chaves assegurar o cerco de Almeida pelo sector do Cabeço Negro, ou Rio Côa, a Ocidente e Sul da vila. Este cerco de Almeida, durante os meses de Julho, Agosto e Setembro de 1808, embora tivesse sido importante militarmente não merece grandes referências aos historiadores, porque ficou ofuscado pela importância militar das vitórias da Roliça e Vimeiro.

 

Sobre o que se passou na Segunda Invasão Francesa  já o deixei escrito no post de 18 de Março passado a minha versão dos acontecimentos, em que o nosso ilustre então Ten Coronel chefia uma força avançada de 2000 homens em Vilarelho e entrou por Espanha adentro até às portas de Verin onde em confrontos com as tropas avançadas dos franceses faz mais de 80 mortos. Aqui, deveria vir em seu auxilio e juntar-se no combate dos franceses o Marquês Espanhol de La Romana, que tal como o Silveira também fugiu, este para as Astúrias. O Ten. Coronel Pizarro não podendo aguentar a sua posição avançada,  regressando depois a Chaves, que entretanto já tinha sido abandonada pelo Gen. Silveira com as suas tropas, ficando o Ten. Coronel Pizarro conjuntamente com a população na defesa da Vila de Chaves, quase sem armas e numa proporção de 1 para 10 a 20 militares  franceses.

 

Já sabemos como terminaram os acontecimentos e estas invasões, com Silveira a receber louros de herói e o Ten. Coronel Pizarro a desonra da prisão e um concelho de guerra para o qual foi levado pelo Gen. Silveira e o qual a não ser inocentado, poderia ser condenado com a pena de morte. Tudo por ficar ao lado da população flaviense na defesa da Vila de Chaves e que ainda hoje passados 200 anos (vá lá saber-se porquê) esquecem o seu contributo e valentia, erguendo muros e estátuas àquele que abandonou a população e a vila de Chaves e que para o cenário agora proposto estar completo, no tal muro (dos lamentos) só falta mesmo o Marquês de La Romana.

 

 Mas, enfim, ficam as honras e o reconhecimento sincero, por humilde que seja, deste blog a este nosso ilustre flaviense em particular e outros ilustres que a terra faz por esquecer, porque há mais.

 

 

E seria injusto se não referisse também um outro oficial militar que ficou conjuntamente com o Ten.Coronel Pizarro na defesa de Chaves, o Capitão de Engenheiros José Maria, que também viria a ser preso e presente a Conselho de Guerra que também viria a ser inocentado.

 

 

Na Terceira Invasão Francesa , tal como na primeira, Francisco Pizarro estaria em Chaves no seu Regimento de Infantaria n.º12.. e por cá continuou,  pois o RI12 foi um dos 6 Regimentos que ficou encarregado de guardar as fronteiras, correspondendo ao RI 12 a fronteira Norte. Assim  quando o Marechal Massena, em 24 de Julho de 1810, entrou pela fronteira de Almeida, a comandar a Terceira Invasão, o nosso ilustre flaviense estaria em Chaves com as suas tropas na guarda da fronteira Norte, não podendo assim partilhar das glórias da célebre Batalha do Buçaco.

 

Sabe-se no entanto que no combate de Fuentes de Oñoro, já em território espanhol, travado de 3 a 5 de Maio de 1811, o nosso Regimento de Infantaria 12 comandado pelo Francisco Pizarro, também teria participado.

 

Em Novembro de 1812,  em tempo de campanha, o nosso ilustre foi promovido a Coronel e encarregado de comandar o Regimento de Infantaria 16, porque é nesta situação que o vamos encontrar em futuras acções militares através da Espanha e da França.

 

Batalhas de Salamanca e Vitória, cerco de S. Sebastian, campanha dos Pirenéus foram feitos militares em que tanto se distinguiu Infantaria 16 e consequentemente o seu comandante, Coronel Francisco Pizarro.

 

Também. sabemos que os exércitos aliados, depois de penetrarem em França, feriram, entre outras, a Batalha de Nive (do rio Nivelle), de 9 a 13 de Dezembro de 1813, batalha em que se lutou com o maior ardor para conseguir desalojar o inimigo. Nesta luta do Nive, mostrou a mais decidida valentia o Regimento de Infantaria 16, com um efectivo total de 956 homens, comandados pelo Coronel Francisco Pizarro.

 

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Em 30 de Maio de 1814 era assinado o tratado de paz e em 1 de Junho punham-se as tropas aliadas a caminho dos seus países. Terminara a Guerra Peninsular, que tantos sacrifícios nos custara, mas servira para mostrar aos povos da Europa o valor das nossas tropas, que só em fins de Julho pisaram o solo português. Com elas, deve ter regressado o Coronel Francisco Pizarro, que fora ligeiramente ferido no dia em que foi feito prisioneiro.

 

De regresso da Guerra Peninsular, o Coronel Francisco Pizarro, Comandante de Infantaria 16, deve ter aproveitado a sua permanência em Lisboa, para, em horas de paz, dedicar a sua atenção a dois problemas: a constituição do Morgadio de Bóbeda, que tanto lhe recomendara seu tio, Conselheiro Inácio Xavier, e a aquisição da Comenda de Santa Marinha, de Lisboa, com a respectiva administração.

 

Em 21 de Janeiro de 1815, o mesmo Príncipe Regente, por especial decreto, houve por bem «fazer mercê ao mencionado Francisco Homem de Magalhães Pizarro, em quem também. concorrem. serviços próprios, da Comenda de Santa Marinha de Lisboa da Ordem de Cristo, em sua vida ... ».

 

Em 6 de Julho de 1815, isto é, dez meses após o seu regresso de França, foi o Coronel Francisco Pizarro desviado do Comando de Infantaria 16, para ingressar no Corpo dos Voluntários Reais do Príncipe.

 

Pouco depois foi o mesmo Coronel promovido a Brigadeiro e mandado para o Brasil, onde com a data de 28 de Novembro de 1817, uma carta régia, firmada por D. João VI, no Rio de Janeiro, na qual se menciona que apreciam os serviços prestados por Francisco Pizarro na «pacificação da margem esquerda do Rio da Prata» . No mesmo diploma se diz que a intrepidez, a lealdade e o decidido valor, revelados pelos mesmo Pizarro no Chafalote e noutras operações militares e testemunhados pelo General-em­chefe Carlos Frederico Lecor, constituíram motivo para promover o mesmo oficial Brigadeiro ao posto de Marechal de Campo.

 

Nesta altura, Francisco Pizarro, com 41 anos de idade, começou a sentir-se minado por doença grave. E então correm paralelas e à desfilada uma série ininterrupta de triunfos e honrarias e uma sucessão de sintomas de progressiva decadência física.

 

Alguns meses depois, em 29 de Abril de 1818, o Tenente-General Carlos Frederico Lecor, comandante dos reais exércitos no sul do Brasil, que nutria a maior estima por Francisco Pizarro, manda conduzir este oficial, a bordo da corveta Voador, para a Corte do Rio de Janeiro, acompanhado dos seus ajudantes: Tenente Manuel de Sousa Pinto de Magalhães, ajudante de ordens; Alferes João de Sousa Quevedo Pizarro, ajudante de campo; Capitão graduado dos Esquadrões de S. Paulo Rodrigo Pinto Pizarro; Capitão de Fragata graduado Joaquim de Sousa Quevedo Pizarro (este último foi sempre o irmão querido de Francisco Pizarro e será o futuro Marechal de Campo Pizarro, Visconde de Bóbeda) .

 

Em 25 do mês seguinte, D. João VI lavra uma carta, na qual, «atendendo às qualidades, merecimentos e serviços de Francisco Homem de Magalhães Pizarro», o nomeia Governador e Capitão General da Capitania do Maranhão. E no mesmo dia, 25 de Maio de 1818, é lavrada outra carta régia, que concede ao Governador do Maranhão o título de Conselheiro de Estado.

 

No mês seguinte, a 15 de Junho, nova carta régia manda lançar sobre Francisco Pizarro o hábito de Cavaleiro Professo da Ordem de Cristo.

 

Em 27 de Agosto, o ministro, Tomás António Vila Nova Portugal, dirige, do Paço do Rio de Janeiro, uma carta a Francisco Pizarro, autorizando-o, em nome de El-Rei, «a demorar-se em Portugal por tempo de um mez e até mez e meio, antes de partir para a Capitania do Maranhão ... » .

 

Em  9 de Setembro de 1818, era nomeado comendador da Ordem da Torre e Espada.

 

Seria o último título de glória concedido ao bravo cabo de guerra!

 

No Outono de aquele mesmo ano de 1818, o  Marechal de Campo Francisco Pizarro regressa a Portugal, à sua aldeia natal de Bóbeda,  já muito doente, vindo a falecer no dia de Reis de 1819. Tinha então 42 anos de idade.

 

O Marechal de Campo Francisco Homem de Magalhães Quevedo Pizarro, ou Maranhão, foi sepultado na igreja do Forte de São Francisco, onde já tinham sido sepultados os seus antepassados Pizarros (Bisavô, avô e pai), onde também esteve sepultado D.Afonso, 1º Duque de Brangança.

 

.

 

Francisco Pizarro era casado com D. Antónia Adelaide de Morais Sarmento Vaz Pereira Pinto Guedes, de Vila Real, de cujo casamento nasceram 4 filhos, 3 do sexo feminino e um do sexo masculino, este de nome Inácio Pizarro de Morais Sarmento também um ilustre flaviense que já foi nosso convidado e que se evidenciou no campo das letras com um notável escritor e poeta. Sobre Inácio Pizarro ver post’s (4) de dia 8.Dez.2008 com início em :  http://chaves.blogs.sapo.pt/338064.html

 

.Inácio Pizarro, Escritor e Poeta

filho de Fransciso Pizarro

E para finalizar este longo post que por sinal até é muito abreviado para deixar aqui toda a vida deste ilustre flaviense Marechal de Campo Francisco Pizarro, que ficou também conhecido entre os seus homens como “O Maranhão”, penso que pelo seu historial e importância era digno de uma justa homenagem da cidade de Chaves. Homenagem que insisto cabia e ficava bem nestas comemorações do Segundo Centenário das Invasões Francesas, tanto mais que o o Marechal de Campo Francisco Pizarro esteve directa ou indirectamente envolvido nas três invasões dos franceses, mas principalmente na segunda, aquela que a Chaves diz respeito e que ao contrário do General Silveira, Francisco Pizarro não abandonou o povo de Chaves.

 

Mas infelizmente a história do reconhecimento dos filhos da terra vai-se repetindo e como sempre os nosso heróis são esquecidos, entretanto, aos de fora, erguem-se-lhes estátuas.

 

Também aos organizadores destas comemorações fica mal não haver um registo que seja do Marechal de Campo Francisco Pizarro, que a uns talvez se desculpe por desconhecerem a história, mas a outros, nem por isso, porque têm obrigação de a conhecer.

 

Quanto à homenagem ao General Silveira, além de a não considerar merecida, pelo menos em Chaves (talvez em Amarante) e sem me pronunciar sobre o conjunto escultórico, pronuncio-me quanto ao lugar que foi escolhido para a sua localização, onde se sacrificou parte de um belíssimo jardim e árvores centenárias para que o mesmo tenha visibilidade.

 

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