Pois hoje chegou a vez de Casas Novas ter por aqui o seu post alargado e, se algumas aldeias ainda não passaram por aqui por falta de fotografias ou visitas, não é o caso da aldeia de hoje. Talvez a demora se deva mesmo aos motivos e ao excesso de fotografias que tenho desta aldeia, mas também à sua história, que rica ou não, é bem diferente das restantes aldeias do concelho.
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Mas, diga-se a verdade, tinha algum receio de abordar esta aldeia. Receio em com o seu post alargado, ficar aquém de transmitir realidade desta aldeia, feita de contrates de tempos de outrora e de hoje, mas também contrates reflectido no seu casario solarengo por um lado, e tradicional típico do granito por outro e, ainda bem, que não trago aqui outros contrates que se verificavam há anos atrás, com os solares abandonados e em ruínas, como os solares habitados ou em bom estado.
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Claro que não irei aprofundar a história de Casas Novas e a razão porque em Casas Novas, Redondelo e também na vizinha Rebordondo se concentram, relativamente ao restante e existente no concelho, tantas casas solarengas, e solares brasonados. Não abordarei essa parte da história por duas razões: primeira porque cada uma dessas casas e solares merecem um post alargado e, segunda, porque confesso não saber a história de todas essas casas e solares.
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Mas hoje quero mesmo é dar uma ideia em geral da aldeia de Casas Novas, aldeia da qual guardo “imagens” de sempre, desde tenra idade, pela simples razão de que, vista de passagem desde a nacional 103, encanta qualquer um. Mas mais encantado se fica quando penetramos nela e conhecemos a restante aldeia e a nobreza do seu casario, quer seja nobre em todo o sentido da palavra, quer porque também é nobre em termos de construção típica tradicional, a tal da pedra, ferro e madeira, embora, claro, era inevitável não ter os seus atentados pelo meio. Mesmo assim, Casas Novas ainda se recomenda.
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A aldeia em si, não é grande. Na realidade trata-se de uma pequena aldeia que se vai desenvolvendo ao longo de uma rua onde, quase paredes meias, há dois solares e menos de uma centena de casas. Adivinha-se que a antiga aldeia estaria dividida entre duas ou três casas ricas à volta das quais nasceu a aldeia do povo que as servia, mas isto sou eu a adivinhar ou a mandar palpites, pois como inicialmente disse, tenho poucos dados da história da aldeia.
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Localizada numa pequena colina de terras não muito elevadas, com o Rio Tâmega a seus pés (embora não se sinta), andam todas elas na cota dos 400/500m. Fica a 10 quilómetros de Chaves e outros tantos de Boticas. Aliás Casas Novas faz mesmo fronteira com o concelho de Boticas e é também pelas suas terras que se inicia a transição para terras do Barroso.
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Embora de proximidade de terras frias, são ainda ares da veiga de Chaves e do rio que chegam até às suas terras, e talvez por isso, ainda terra férteis que o povo sempre destinou à agricultura, mas que nem sempre chegavam às colheitas, pois reza a história da aldeia, que os temporais destruíam quase todos os anos as suas colheitas. Reza também a história ou a lenda, que para acabar com estes males, a povoação mandou construir uma capelinha, com uma galilé e invocação a S. Bernardino de Sena, pois continua a história, que foi mandada construir como agradecimento ao santo, pela protecção que devotou às colheitas, quando lhe foram encomendadas, não tendo sido destruídas pelos temporais, como acontecia todos os anos. O resultado, é uma pequena mas interessante capela, que pelo seu enquadramento bem pode ser considerada uma pequena pérola da aldeia.
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E já que falamos de pérolas, outra, é a o edifício da Escola Primária. Uma escola que teve o seu início de construção em 1900, com duas salas, uma para cada sexo e ainda habitação dos respectivos professores. As despesas da construção da escola (4.010$000 réis) foram pagas com dinheiros que Luiz Teixeira de Morais, um emigrante no Brasil, natural da aldeia, que legara para a sua construção.
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Desconheço quem é o autor do projecto da escola, embora haja quem defenda que foi construída ao estilo ou que é do tipo Adães Bermudes (Arnaldo Redondo – Porto 1/10/1864 - Sintra 18/02/1948), um importante arquitecto, professor de arquitectura e político que se notabilizou como um dos expoentes da arte nova em Portugal. Com belíssimas obras executadas desde Bragança ao Algarve e ilhas. Embora haja que defenda tal, a escola não consta no seu curriculum e a ser verdade, seria uma das suas primeiras obras, pois o mesmo só começa a ser notabilizado com o projecto do Banco de Portugal, em Bragança, no ano de 1902.
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Um pequeno apontamento só para dizer a importância que pode ter na história, em especial na história da arquitectura, a autoria de um projecto e a sua obra. Sem tirar o valor arquitectónico da Escola de Casas Novas, teria ainda mais valor se realmente fosse de Adães Bermudes. Claro que esse valor é sempre relativo e nem todos o entendem. Exemplo recente acontece com uma obra do Arquitecto Eugénio Correia (1897-1985), essa sim, de autoria do próprio com placa e tudo, colocada na construção, sito na Rua 1º de Dezembro em Chaves, e que actualmente está a ser demolida para dar lugar a mais um edifício de betão no Centro Histórico de Chaves. Eugénio Correia, também apenas, importante, por ser um dos pais da “casa portuguesa”, autor da moradia da Rua 1º de Dezembro em Chaves, que era um belíssimo exemplar de arquitectura de uma “casa portuguesa”. E disse bem – era! Mas como a Rua 1º de Dezembro é em Chaves e hoje estamos em Casas Novas, voltaremos ao assunto durante a semana.
Voltemos então às pérolas e jóias de Casas Novas. A capela e a escola são dois exemplares que espero seja tratados e cuidados por muitos anos, mas em Casas Novas há mais – Os solares.
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O Solar dos Vilhenas, um belíssimo conjunto habitacional com uma não menos bela e artística pedra de armas e capela de invocação da Senhora da Piedade. As armas que constam do brasão foram concedidas no ano de 1752 a Manuel Álvares Calvão, 1º Morgado de Casas Novas, Capitão de Infantaria Auxiliar, Escrivão da Câmara de Chaves e Juiz Almoxarife da Comenda de Moreiras, que intituiu o vículo com capela de invocação à Senhora da Piedade. Manuel Álvares Calvão está sepultado na capela do solar. Do solar destaca-se ainda uma passagem superior em arco sobre a rua principal da aldeia.
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Mesmo, ou quase, ao lado deste solar dos Vilhenas, encontra-se um outro solar, o Solar da Viscondessa do Rosário, do início do século XIX e que embora tivesse estado francamente degradado e à beira da ruína total há poucos anos atrás, foi recentemente recuperado para Hotel Rural, ao qual este blog já dedicou um post alargado e que poderá ver/ler aqui:
http://chaves.blogs.sapo.pt/286402.html
Será pela certa um local agradável onde poderá ficar um fim-de-semana para conhecer esta aldeia de Casas Novas, mas também as aldeias vizinhas de Redondelo e Rebordondo onde uma rica arquitectura rural e solarenga se repete.
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A história deste solar é contada na página do Hotel Rural (http://www.hotelruralcasasnovas.com) que transcrevemos:
“Trata-se de um antigo Solar com uma antiga e relevante História. Após o seu restauro, ainda se mantém imponente o Solar do Conde de Penamacor também chamado Solar do Visconde do Rosário.
No final do século XVIII, o Solar era propriedade o 2º Conde de Penamacor, António de Saldanha de Albuquerque e Castro Ribafria, nasceu a 3 de Novembro de 1815 e morreu a 15 de Maio de 1864. Era filho do Alcaide-mor de Sintra e de D. Maria Teresa Braamcamp. Terá sido ele que mandou gravar a pedra de armas que se encontra na fachada do Solar. Outras fontes apontam como responsável desta gravação o seu pai, João Maia Rafael Saldanha de Albuquerque e Castro Ribafria.
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Em Casas Novas, o nome Albuquerque do terceiro quartel foi substituído por Pereira, apelido e armas do pai da avó paterna do 2º Conde. O título de Conde de Penamacor tem uma história curiosa e invulgar. O rei D. Afonso V, em 1475, concedeu-o ao seu valido e Camareiro-mor D. Lopo de Albuquerque, que foi embaixador do Rei de Castela e Roma. Este 1º Conde, tendo sido considerado culpado na conspiração dos Duques de Viseu e Bragança contra D. João II, receando o castigo deste, fugiu do país. Depois de uma vida aventurosa, acabou por morrer no exílio, em Sevilha. Por isso o título não foi renovado e assim se manteve durante mais três séculos, embora os seus descendentes tivessem regressado a Portugal e prestado relevantes serviços em sucessivas gerações.
A associação das armas referidas deve-se à seguinte linha de sucessão: D. Luís de Albuquerque, neto do primeiro conde, casou com uma filha do grande Vice-rei D. João de Castro. Desse casamento nasceu uma filha, D. Luíza de Castro, que casou com André Gonçalves Ribafria, Alcaide-mor de Sintra, filho de Gaspar Gonçalves Ribafria. Uma bisneta destes casou com Manuel de Saldanha Távora, Capitão-mor das Naus da Índia. É um bisneto destes que se liga pelo casamento a Casas Novas. O título foi renovado em 1844 por D. Maria II num neto deste último que assim veio a ser o 2º Conde de Penamacor. A ascendência do 2º Conde em Casas Novas, tendo um percurso histórico completamente diferente, é um bom e curioso exemplo da mobilidade social que caracteriza a sociedade portuguesa. Ademais, revela-nos um notabilíssimo flaviense que está completamente esquecido.
Este solar foi mais tarde vendido pela família, passando para a posse de uma filha do Visconde do Rosário. Mais tarde foi doado por esta à Santa Casa da Misericórdia de Chaves.
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Falemos agora desta família. Como foi dito, a casa foi habitada pela Viscondessa do Rosário, Maria Clementina Conde Saraiva. Era filha do Visconde do Rosário, Manuel José Conde, e de D. Eufrosina Ermelinda do Nascimento, natural da Bahia. Casada com António Teixeira de Morais, adoptou a cidade de Chaves como sua terra. Faleceu em 21 de Dezembro de 1935.
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O seu marido António Teixeira de Morais, era natural de Casas Novas, e faleceu em Lisboa em 6 de Junho de 1887. Esteve no Brasil durante muitos anos. A Câmara de Chaves dedicou-lhe uma rua urbana pelo facto de ter doado à Santa Casa da Misericórdia da cidade, a quantia de 40 contos (em moeda brasileira), destinada a cuidar dos pobres da sua freguesia. Além da avultada importância em dinheiro, doou também a sua quinta de Casas Novas, em 12 hectares e respectiva casa solarenga, brasonada, aos mesmos fins.”
Consta ainda na história da aldeia, ou nos seus arredores, a assinatura da Convenção de Chaves que deu como finda a Revolta dos Marechais, em 20 de Setembro de 1837.
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E sobre a aldeia não digo mais. Nem há como passar por lá, pois fica apenas a dois ou três quilómetros do nó de Curalha da auto-estrada, a 10 quilómetros de Chaves e por ela pode fazer passar um interessante roteiro com saída de Chaves, passagem por Curalha com visita ao Castro, dar um pulo à Pastoria, Casas Novas e Redondelo, Rebordondo, Anelhe, Souto Velho e regresso a Chaves. Deixe Vidago para outra altura, pois com olhos de apreciação e visita o itinerário que lhe acabo de traçar da para todo um dia, ou para uma manhã ou tarde com olhos de ver apressados.
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Vai ver que é um passeio que vale a pena e que muito flaviense desconhece. Não é preciso sair do concelho para se conhecerem verdadeiras pérolas, onde até pode almoçar ou jantar bem e pernoitar, com qualidade, ao longo de várias ofertas que a nossa ruralidade põe à disposição.
Até amanhã!