Ruralidades, desertificações e despovoamentos em balanço
Agradecido a quem agradece, hoje trago aqui três olhares sobre Bobadela de Monforte. Apenas os olhares, pois as palavras, são de outras cenas, nas quais Bobadela também poderia entrar, mas não entrou.
.
.
Dia em que continuam os Sabores e Saberes de Chaves, mas poucos, pois faltam os sabores e saberes da maioria das freguesias do nosso concelho.
Estive atento ao que se disse e vi na RTP, a quem os organizadores dos sabo(e)res devem estar agradecidos por a RTP ter feito a festa de ontem da feira e, por terem levado a cidade de Chaves a todo o Portugal e comunidades Portuguesas. Até eu, ou o orgulho flaviense, me(se) ia rendendo à “grandeza” da festa, animada como convém, pela música pra pular portuguesa, com o animador mor da pimbalhada. Até ia desculpando as incorrecções do discurso político dos entrevistados como o da desertificação de um concelho que cada vez está mais cheio da matização dos verdes acastanhados do mato que invade antigas terras de cultivo, mas que, mesmo com a confusão, amargamente agradou-me saber, que sabem, que o concelho rural (sem perigo de desertificar) está tristemente despovoado, mesmo que, para os seus sabores e saberes se trabalhe 365 dias por ano. Talvez fosse melhor trabalhar menos e melhor, digo eu, que gosto de apostar na qualidade…
Com o cair da noite, fui caindo também em mim e, já a frio, com o orgulho flaviense já arrefecido, fui-me dando conta do tal poder que a televisão e as objectivas têm para deturpar verdades e realidades.
.
.
Que ninguém me interprete mal. Sei de longe que o nosso presunto é o melhor, que as alheiras são feitas ao nosso gosto e não existem outras iguais, que as linguiças fazem crescer água na boca, que os pasteis, mesmo com todas as variantes e reivindicações de genuinidade não encontram igual em Portugal, que a batata sorri para quem a come, que as couves não se dispensam e, já nem quero falar do grelo de Chaves, senão perco mesmo a cabeça…mas também temos muitos saberes, que ainda se sabem, mas infelizmente não se praticam. Em suma, quase todos os flavienses que estiveram nesta feira, estiveram lá por direito próprio, sem qualquer favor, pois os produtos que lá levaram, são do melhor que há. A minha mágoa, não vai para esses expositores e produtos, mas para todos aqueles que deveriam estar por lá e não estiveram e para outros que por lá estiveram (de fora) e que nada contribuem para travar a tal desertificação que até é despovoamento. Em suma, em vez de se abrir a porta para o repovoamento, cada vez se fecha mais.
.
.
Há ainda muito trabalhinho de casa para fazer, incentivos, certificações (sem as quais não vamos a lado nenhum), pois tal como o Presunto de Chaves, não basta ter a fama, tem que se lhe tirar o proveito e, só há proveito, se houver presunto de CHAVES. Engraçado, é que embora o presunto de Chaves , que vai existindo para consumo próprio, não chegue para ser comercializado, vai fazendo as delícias das ementas de muitos restaurantes do país e da capital… milagres que não sei explicar!
A frio, vi também que o sucesso do dia de ontem se deveu à pimbalhada e palhaçadas de mestre e estou em crer, que o pessoal que por lá estava, debitava mais interesse às palhaçadas que ao próprio certame. Pimbalhada musical que substituíram os verdadeiros saberes musicais do concelho, dos nossos músicos e das nossas bandas filarmónicas e, em sua substituição, aparece como representante flaviense, a Senhora Dona Agata. Atenção que estou a falar de música e não dos nossos grupos ou ranchos folclóricos, pois esses, ainda foram passando pela feira.