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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

30
Set10

O Homem sem Memória (10) - Por João Madureira


 

 

Texto de João Madureira

Blog terçOLHO

 

 

 

10 - Quando chegaram à aldeia, estacionaram o carro junto da igreja e deslocaram-se a pé às instalações do edifício escolar. Cá fora, as mulheres rezavam e os mais jovens tinham transformado o recreio da escola numa festa de Entrudo. Dentro da sala, uma meia dúzia de homens gritavam impropérios e faziam juras de morte ao comunismo e à Rússia, terra que a Nossa Senhora de Fátima havia de converter para a salvação do mundo.


Os camaradas esclarecedores, quase todos docentes, continuavam na sua teima em falar dos amanhãs que tinham de cantar também em Portugal, tal e qual os galos que os camaradas camponeses possuíam nos seus galinheiros. Bastava de especuladores e intermediários gananciosos, de parasitas que viviam à custa do povo humilde e laborioso. O Partido, liderado pelo camarada Punhal, era o guia redentor, o farol revolucionário, a chama ardente da vontade dos proletários de todo o mundo, que em aliança sagrada com os camponeses, tinha de triunfar, custasse o que custasse.


Cá fora as mulheres, juntas a um canto, continuavam a rezar monocordicamente muitas ave-marias e pais-nossos. Os rapazes, na sua estupidez crua e profana, faziam rebentar bombas de carnaval e lançavam bichas-de-rabear para debaixo das saias das raparigas. Elas, tontas de lascívia, sorriam e davam gritinhos histéricos. Lá dentro os homens maduros gritavam alto: “Morte ao comunismo, Punhal para a Sibéria”. Os camaradas esclarecedores teimavam na sua ladainha revolucionária. O camarada da aldeia era o único que ouvia com atenção a arenga retirada, palavra a palavra, com vírgulas e tudo, do editorial da “Verdade”. Os maneirismos de linguagem eram uma imitação barata e triste da musicalidade do discurso do camarada de cristal.


Dentro da sala, o ambiente estava a tornar-se pesado. Os camponeses olhavam para as meninas comunistas com ar de quem não se importava mesmo nada de abocanhar mulheres tão tenras e fáceis. No fundo, o comunismo era isso mesmo, igualdade, fraternidade… e amor livre.


Os camponeses, com os olhos postos nos seios das meninas camaradas e no traseiro generoso da companheira mais madura, acusavam o Partido de querer-lhes roubar as terras, as casas, os animais e a religião. Ou seja, Deus. E a Nossa Senhora também. E os santos. Substituindo-os por imagens de Lenine, Marx, Engels e Punhal. Isto apesar de Punhal afirmar que detestava o culto da personalidade. Dele não havia fotografias em nenhum centro de trabalho do Partido. O único que circulava era os seus desenhos de prisão, com homens possantes, mulheres de pés descomunais e seios como os pães da padeira de Aljubarrota. Apesar de famintos e paupérrimos, os retratados nos desenhos do líder comunista, eram todos bem constituídos, a irradiar saúde e esperança no povo do qual faziam parte integrante, quase como anjos magnânimos, insensíveis à dor e às necessidades humanas primárias.


“Ai Jesus, vem aí os guerrilheiros!”, gritou aflita a beata mais beata das beatas da aldeia.

 

11 – Todos olharam na direcção da estrada que conduzia à escola. Marcelino e os seus camaradas travaram de repente. O chefe da Brigada Brejnev virou-se para o segundo da fila e passou-lhe o revólver que transportava no bolso do casaco. “Sou muito nervoso”, sussurrou. O UEC pegou na arma a medo e passou-a ao terceiro da fila, dando a mesma desculpa.

 

(...)

 

(continua)

29
Set10

Hoje não há (tempo para) feijoada!


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Pois é, às vezes somos atraiçoados pelo tempo, o dos relógios, feliz ou infelizmente ele falta-nos, foge-nos, some-se sem darmos conta.

 

Infelizmente porque não nos permite fazer tudo o que queremos, por exemplo, hoje que é quarta-feira, era dia para se confeccionar por aqui uma boa feijoada, bem temperada, para ser regada, como convém, com um bom tinto encorpado q.b. para combater e desfazer (matar)  aquelas coisas  que dizem vir misturadas com a feijoada (gorduras e outros pormenores). Ou seja, uma dieta saudável, como convém nos dias de feira.

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Felizmente, esse mesmo tempo, falta-me e livra-me de insónias ou depressões, de aturar conversas chatas a ouvir falar dos outros, dos futebóis e politiquices das partidarices e da crise da crise, como se não bastasse ela já por si. Felizmente também o mesmo tempo não me permite ver televisão, a qual já nem ligo desde que acabou o único programa que ainda ia sendo saudável (o 5 para a meia noite)… enfim, o tempo, o tempo!

 

Assim, hoje em vez de uma boas feijoada ficam apenas três imagens daquilo que vamos tendo de melhor, a p&b ou sépia para a cor não distrair ou atrair. A duas cores apenas, aquilo que vai sendo um verdadeiro património da humanidade, de uma cidade que sonha (ou há quem se atreva a sonhar) que pode ser património da humanidade, o mesmo que só é possível, se o olhar for selectivo e enganador como o é nas fotos, onde as misérias ficam escondidas, ou com um bocadinho de Photoshop até podem ser removidas. Mas sonhar é bom, sempre nos vai trazendo iludidos, enganados e ensina-nos a acreditar, é assim como o euromilhões, em que segundos os matemáticos, há mais probabilidades de nos cair um meteorito na cabeça do que nos sair o euromilhões, mas nós apostamos sempre, porque acreditamos, no impossível.

 

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Chaves património da humanidade! Era bom, então não era!? E até seria possível (em tempos) se o b€tão não mandasse tanto na cidade ( e este b€tão, não é o Betão do 5 para a meia noite).

 

Até amanhã, com um homem que perdeu a memória, ou pelo menos, é um homem sem memória.

 

 

 


28
Set10

Pedra de Toque - A Menina Dança?


 


A MENINA DANÇA?

 



 

Os olhos dela subiam em direcção aos dele e neles lia-se muita ansiedade, enorme desejo.


Levantava-se da cadeira, e, nos braços um do outro, dançavam.


O tango, a valsa, o bolero, entravam nos corpos e embebedavam-nos de sonhos.


Instintivamente, deslizavam para o meio do salão, festivamente decorado.


Misturados com outros pares, fugiam deste modo, aos olhares vigilantes dos pais, das tias, demasiado atentas.


E eram então que, as faces perfumadas e ruborizadas nervosamente se tocavam deslizando o contacto pelo corpo todo.


Depois, no meio de um passo, no requebro de uma volta, a mão dele apertava a dela, na espera angustiante, da resposta dela apertando a dele.


Quando tal acontecia, abruptamente crescia uma intransponível muralha a cercar toda a ternura.


Com a magia do momento, esqueciam os outros e subiam muito alto e juntinhas nas cordas da melodia.


Ai, como acabava depressa o bolero cantado num castelhano quente e romântico feito com palavras doces prenhes de sensualidade.

 

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De mão na mão cruzavam o salão a caminho da mesa dos pais da menina, princesa dos amores dele.


Com uma vénia discreta, dirigida à matriarca, ele deixava um obrigado que ela agradecia com um sorriso e delicioso aperto de mão que o fazia estremecer.


Estava aberto, assim, o caminho para no próximo tango lhe declarar amor e lhe pedir namoro.


 

António Roque

27
Set10

Quem conta um ponto ... Milagres lusitanos


 

 

Milagres lusitanos

 

Texto de João Madureira

Blog terçOLHO

 

 

Alguém muito importante anda a organizar o Dicionário Taumatológico Nacional, que, para quem não saiba, tem a ver com o estudo dos milagres.

 

Em Portugal tudo tem a ver com taumatologia. A Nação Portuguesa pode não ter nada a ver com o desenvolvimento, com a cultura, com a ciência, com a energia, com a indústria, com a agricultura e com o talento, mas tem tudo a ver com a taumatologia.

 

O milagre das rosas foi dos mais encantadores momentos da nossa nacionalidade. E transformar pão em rosas não está ao alcance de qualquer um. Mesmo transformar rosas em pão, não é tarefa nada fácil. Mas, convenhamos, a primeira premissa é muito mais poética. E Portugal é um país de poetas. E de futebolistas. E a poesia tem muito a ver com os milagres. E o futebol também. Para isso basta ver os futebolistas e os treinadores a beijarem os seus santos e a glorificarem Deus (especialmente os brasileiros, que devem, nesses momentos de fé e oração, agradecer devotamente o facto de serem fruto de um outro milagre, o de serem filhos, netos e bisnetos, de portugueses, o que é novo e enorme milagre).

 

Em Portugal existe um outro milagre, o da linguagem. Por isso os prodígios acontecem a cada dia que passa. O assombro da saúde gratuita, a maravilha da educação espontânea e o portento da segurança social universal são conquistas de um outro milagre, a Democracia, que, também ela, é sucedânea de um distinto milagre, o Estado Novo, que substituiu um outro portento, a República, que se opôs com tenacidade a idêntico prodígio, a Monarquia, que, por mor da taumatologia nacional, se viu defendida por uma rainha tão corajosa e crente que, já de pé, fustigou o criminoso que abateu o seu marido e o seu filho com a única arma de que dispunha: um ramo de flores, gritando “Infames! Infames!”.

 

Depois ver Nossa Senhora aparecer a três pastorinhos em Fátima é, digamos, um final feliz, isto enquanto ao facto em si mesmo, pois se nos cingirmos à mensagem, o milagre está em não ter acontecido o que a Senhora vestida de branco vaticinou, ou sugeriu.

 

Podemos dizer que a vida é um milagre. Podemos até dizer que os próprios milagres são um milagre. Um milagre é um empreendimento de fé. Fé em que o milagre se realize.

 

Há por aí muita boa gente que acredita piamente no milagre de acertar no totoloto ou no euromilhões, por isso se cotiza toda as semanas. E o milagre de adivinhar os números por vezes acontece. Um em vários milhões, é verdade, mas é nesse pormenor onde se consubstancia o milagre. Pois se o prémio fosse distribuído por metade dos apostadores nenhum ganhava nada que se visse. Esse é o entretenimento que o Estado pratica com todos nós. Por isso, o milagre existe na circunstância de o prémio sair ao menor número possível de apostadores, ou a nenhum, facto que transfere, para desespero dos mais impacientes, o milagre para a semana seguinte.

 

Os matemáticos fizeram as contas e afirmam que cada apostador do euromilhões ou do tolotolo tem tantas probabilidades de acertar na chave milionária como de lhe cair um meteorito na cabeça. Nunca li uma notícia relatando o caso de um ser humano ter levado com um pedregulho intergaláctico na cachimónia, mas quase todas as semanas leio a notícia de alguém ficar milionário com as apostas da Santa Casa. E isso é um milagre. E grande. Que o digam os afortunados com os prémios milionários.

 

Também é um de milagre o amigo leitor estar a ler o que está a ler sem se incomodar. Ao preço que a batata está, já é um milagre alguém disponibilizar algum do seu tempo (pois tempo é dinheiro) a ler o que um escritor de província rabisca num órgão de informação local. Então se pensarmos no quilo do bife, apenas nos resta deduzir que os vegetarianos vão atingir os seus objectivos de transformar o ser humano num ruminante. E isso também é um milagre. Não tão grande como o de ganhar o euromilhões, mas, mesmo assim, um milagre em tudo semelhante ao de transformar o pão em rosas. Já o de transformar Portugal num país a sério, nem Deus está em condições de garantir tal milagre.

 

PS – Se o amigo leitor (ou leitora) possui um cão, e gosta dele, claro, aconselhamos que comece desde já a preparar o Outono e o Inverno. Por isso aqui deixamos a sugestão: adquira, quanto antes, roupa para o seu animal de estimação. E pode fazê-lo através da internet. É fácil encontrar boutiques especializadas na venda de roupa para cães, desde capinhas, chapéus, camisolas de lã, cuecas, pijamas, roupões e até botas para a chuva.

 

Vá, não se esqueça. Depois não diga que não o avisamos a tempo. Para alguma coisa têm de servir estas crónicas. Nem que seja para ajudar o Estado a cumprir o serviço público da informação.

 

 

 

26
Set10

Quando a esmola é grande...


 

 

 

 

O Restauro das Igrejas Românicas do Douro e Tâmega

ou

Um Presente Envenenado?

 


 

 

Granjinha

 

 

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Alertado pelo  Blog da Granjinha recebi, com satisfação, a notícia que a Capela da Românica da Granjinha ia ser recuperada, pois há muito que a capela pedia obras, algumas até urgentes. Mas no pacote dos arranjos estão também incluídas a Igreja de São Julião em São Julião de Montenegro, a Igreja de São João Baptista em Cimo da Vila de Castanheira, a Igreja de Santa Leocádia em Santa Leocádia e Igreja de Nossa Senhora da Azinheira em Outeiro Seco. Satisfação ainda maior, pois se a Igreja de Santa Leocádia até teve obras de restauro há poucos anos atrás, uns arranjos extras ou a conclusão dos arranjos são com certeza bem-vindos, mas quem agradece mesmo é a Igreja de S,Julião e a de São João Batista em Cimo de Vila da Castanheira e, também a Srª da Azinheira deve ter razões para agradecer, pois obras de restauro são sempre de agradecer.

 

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S.Julião de Montenegro

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Recebi a notícia com tanta de satisfação como de admiração, ou surpreendido mesmo, pois a Grajinha e S.Julião há anos que pedem obras mas sem resposta e, Cimo de Vila, desde sempre as pediu, mesmo depois dos arranjos do telhado e a reconstrução possível que a Câmara Municipal fez há anos.

 

Surpreendido por assim de atacado, se restaurarem 5 igrejas românicas do concelho, e, quando a esmola é grande, o pobre desconfia, pois traz sempre água no bico.

 

Mas vamos esmiuçar a notícia, que foi notícia há dois dias na televisão e está publicada no site do Ministério da Cultura:

 

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Cimo de Vila da Castanheira

 

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( A azul a notícia, a sépia e itálico os meus considerandos, os sublinhados também são meus).

 


Ministério da Cultura


Ministério da Cultura de Portugal, a Junta de Castelo e Leão e a Fundação Iberdrola apresentam o projecto de restauro mais ambicioso da Arte Românica do Douro.


Fundação Iberdola!? Quem são eles!? Por mero acaso são os mesmos que vão construir as Barragens no Rio Tâmega.


O Ministério da Cultura de Portugal, a Junta de Castela e Leão e a Fundação Iberdrola subscreveram um acordo com base no qual as três instituições levarão a cabo o mais ambicioso projecto de restauro e manutenção de arte românica em ambos os países, que abrangerá 33 edificações religiosas deste estilo situadas nas imediações dos rios Douro e Tâmega.


Rio Tâmega para onde a Iberdola projecta o seu negócio com as Barragens do Tâmega!


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Stª Leocádia

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(…)

Das 33 igrejas que vão beneficiar do projecto, nove localizam-se na província de Zamora, sete no distrito português de Vila Real, seis no distrito do Porto, seis na província de Salamanca e cinco no distrito de Bragança. No desenho e execução técnica dos trabalhos participará a Fundação Santa Maria La Real, instituição de referência no âmbito do restauro de arte românica.


Tudo bem, o românico merece esta abrangência e não duvido que a Fundação Santa Maria La Real seja uma instituição de referência, mas não haverá mais instituições do género, também de referência, capazes de fazer o serviço!?


(…)

Na cerimónia esteve também presente o Presidente da Iberdrola que destacou que «este acontecimento intensifica o forte compromisso existente entre a nossa Empresa e Castela e Leão - onde o Grupo nasceu há 110 anos - e com Portugal, terra com a que partilhamos um futuro repleto de importantes projectos». Ignacio Galán recordou também que a «Iberdrola Portugal iniciou o seu caminho já há alguns anos com o objectivo de ajudar a satisfazer as necessidades energéticas do país e de ser uma parte activa do seu progresso económico e social». «Conseguimos que a Iberdrola Portugal seja hoje o segundo comercializador de electricidade do País,  (amor com amor se paga) contando já com uma importante carteira de clientes, aos quais a empresa presta serviços e oferece soluções à medida das suas necessidades», acrescentou.


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Outeiro Seco

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Compromisso da Iberdrola


O objectivo da Iberdrola ao participar nesta iniciativa é contribuir para o desenvolvimento económico e social das zonas onde desenvolve a sua actividade. Assim, o projecto de restauro terá lugar em Castela e Leão, uma comunidade na qual a Empresa mantém um vínculo histórico, e na zona do Tâmega, onde a Companhia desenvolve o Complexo Hidroeléctrico do Alto Tâmega, um dos últimos grandes aproveitamentos hidroeléctricos da Europa.


Areia para os olhos, pois ninguém dá nada sem receber muito mais em troca…


Esta grande instalação, que alcançará uma potência instalada de mais de 1000 megawatts (MW), constitui um dos maiores projectos com estas características levados a cabo nos últimos 25 anos em todo o continente. O complexo requererá um investimento por parte da Iberdrola de cerca de 1550 milhões de euros e deverá produzir, aproximadamente, 1800 gigawatts ao ano (GWh), valor que representa 3% do consumo eléctrico português (bastava controlar a electricidade mal gasta ou inutilmente gasta e desperdícios para a percentagem ser muito mais elevada) e que será suficiente para abastecer o consumo anual de aproximadamente um milhão de pessoas.


(areia para os olhos) – Porquê é que nestas coisas se fala sempre no esforço (investimento) das empresas e nunca se fala nos lucros que vão ter e nos prejuízos que causam (económicos, ambienteais e sociais) para obter os seus objectivos.


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Granjinha

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Para ler a notícia completa fica aqui o link:

 

http://www.governo.gov.pt/pt/GC18/Governo/Ministerios/MC/Notas/Pages/20100922_MC_Com_Romanico_Atlantico.aspx


 

Que fique claro que nada tenho contra o restauro das Igrejas Românicas, antes pelo contrário, pois vai sendo o património mais valioso que temos, e que, constantemente deveria ser objecto de manutenção cuidada e restauros quando necessários, em vez de entregues a si próprias, esquecidas e algumas, mesmo em abandono total e ruínas durante anos (como foi o caso da Igreja de Cimo de Vila) e outras, onde as poucas obras que se iam fazendo, de boa vontade era a custos da população, que se faziam deficientemente sem qualquer apoio técnico de preservação , substituindo-se a população ao Estado, pois o Românico não é só património das populações, mas património do Estado e da Humanidade.

 

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Stª Leocádia

 

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Estranha-me é a promiscuidade entre o estado e os privados, principalmente quando estes (os privados) têm interesses económicos (que até são contestados pela população) nas regiões onde servem de “mecenas”. Ou seja, é um mecenato feito em nome de interesses económicos e não, em nome do património, ainda com a agravante, de tal mecenato, vir a servir de desculpa ou perdão para os males que vão ser feitos socialmente e ao ambiente.

 

Recebo com agrado todo este restauro do nosso Românico e do Românico da região, no entanto, a areia,  já não me deixa ver com bons olhos a intervenção de interesses escondidos por trás do mecenato e todo este restauro, orçado em 4,5 milhões de euros vai sair muito mais caro que estes simples números de milhões, mas enfim, vamos ter de dar graças a Deus por todas estas obras, e o contentamento de uns, vai pela certa ser a desgraça de outros, os costume, não é !?

 

 


25
Set10

Mosaico da Freguesia de Faiões


 

 

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Mosaico da Freguesia de Faiões

 

Localização:

 

A nascente de Chaves, oficialmente a 6 quilómetros de Chaves, mas na prática quase ligada fisicamente à cidade de Chaves.

 

Confrontações:

 

Confronta com as freguesias de Santa Cruz/Trindade e Outeiro Seco (com o Rio Tâmega pelo meio), Stº Estêvão, Águas Frias, S.Julião de Montenegro (num único ponto), Eiras e Madalena.

 

Coordenadas: (Escola Primária)

 

41º 45’ 02.60”N

7º 25’ 28.51”W

 

Altitude:

 

Variável – acima dos 350m e abaixo dos 650m. Embora haja uma certa amplitude entre os dois valores, grande parte do seu território ronda a cota 350m, não fosse Faiões umas das freguesias que ocupa parte da Veiga de Chaves.

 

Orago da freguesia:

 

Nossa Senhora da Conceição.

 

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Área:


 

8.75 km2.

 

 

Acessos (a partir de Chaves):

 

– Estrada Nacional 103.

 

 

Aldeias da freguesia:

 

- Faiões é a única aldeia da freguesia.

 

 

População Residente:

 

Em 1930 – 770 hab.

Em 1950 – 952 hab.

Em 1960 – 1001 hab.

Em 1970 – 736 hab.

Em 1981 – 969 hab.

Em 2001 – 944 hab.

 

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E eis uma excepção ao comportamento tipo da população residente das freguesias e do despovoamento, por razões óbvias, primeiro porque Faiões só tem dados dos Censos desde 1930, pois como freguesia só existe desde 20 de Julho de 1925, quando foi desanexada da freguesia de Stº Estêvão e segundo, por ser uma das aldeias de proximidade da cidade e por último, também a considerar, por ser freguesia da fértil veiga de Chaves. Em suma, será de prever que Faiões, ao contrário da maioria das freguesias de Chaves, aumente ou mantenha a sua população. Vou mais pelo manter a população pelo facto de a maioria do seu território e mais próximo da cidade, ser reserva agrícola onde não é permitida a construção.

 

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Principal actividade:


- Tradicionalmente é a agricultura e a panificação, mas dado a proximidade da cidade, os sectores secundários e terciários também se manifestam em várias actividades.

 

Particularidades e Pontos de Interesse:


Em 1975 no lugar da Carreira da Pedra, a escassas centenas de metros da povoação foi encontrada uma tosca escultura de granito que viria a ser designada pela estátua-menir de Faiões. Este achado veio provar ou comprovar a importância que o lugar teve nas ocupações proto-históricas. Esta peça escultórica um parente afastado das designadas estátuas “ de guerreiro calaico” . Pelas figurações insculturadas os historiadores datam esta escultura num horizonte relativo ao Bronze Final ou mesmo, Idade do Ferro, reforçado por outros historiadores com um provável povoado fortificado dessa época (Idade do Ferro).

 

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Provado está que a famosa Via Augusta XVII, uma importante via romana que ligava Braga a Astorga passava por Faiões o que lhe confere também a presenção da civilização romana nas suas terras.

 

A “Villa” alti-medieval de Faiões aparece documentada desde muito cedo, pois um documento do ano 995 já alude à sua posse por parte de Pelaio Rodrigues, ex-bispo da Iria (Santiago). Mais tarde, em Julho de 1124, a condessa D.Teresa doava a coutaria de Faiões à Sé Bracarense.

 

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Em termos de património, de assinalar o património de arquitectura religiosa, nomeadamente a Igreja Paroquial, a Capela de S. Martinho e o Cruzeiro com base circular. Também na arquitectura civil se realçam algumas casas de traça solarenga, como a Casa dos Sarmentos, a dos Morgados e Condinhos. Dá também nas vistas por ser um belíssimo edifício, o edifício da escola, com um curioso torreão sineiro que muitos na aldeia defendem ser uma réplica, em proporções mais pequenas, da Universidade antiga de Coimbra, e digamos que de memória, a parecença é possível. Seja como for, é um belíssimo edifício escolar, sem dúvida alguma o edifício escolar mais bonito e interessante do concelho e até de Portugal. Digo isto levianamente (quanto ao Portugal), pois não conheço todos os edifícios escolares (das antigas escolas primárias) do país, mas dos que conheço, não tenho qualquer dúvida quanto a essa afirmação.

 

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E como este é um mosaico da freguesia, ou seja, um resumo da caracterização da freguesia, para saberem mais sobre Faiões, nem há como consultar o post que neste blog lhe foi dedicado.

 


Linck para os posts neste blog dedicados àfreguesia:


 

- http://chaves.blogs.sapo.pt/455551.html

 

 

 

 

 

24
Set10

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As Casas da Várzea

 

 

poema de José Carlos Barros

 

http://casa-de-cacela.blogspot.com

 

 

 

há muito tempo que tenho uma história para contar

e tenho vergonha de contá-la por ser verdadeira

tão verdadeira como eu estar aqui

e saber que as pessoas em regra

não acreditam em histórias verdadeiras.

as pessoas em regra acreditam

na prosa das mentiras.

 

eu era então uma criança.

e é claro que quase todos nós tão rapidamente

começamos a aprender a deixar de ser

aquilo que somos

para passarmos a ser

aquilo que julgamos que os outros

a um espelho poliédrico

julgam que somos.

não admira por isso mesmo

que não acreditemos nas histórias das crianças

e não admira que quase sempre seja necessário

colocarmos máscaras no rosto

para regressarmos à identidade

que ao longo do tempo perdemos.

e está portanto explicada a razão

de ter uma história verdadeira para contar

e temer que ninguém acredite

na minha história verdadeira.

 

pois é dar-se o caso de eu em criança

apanhar a camioneta da carreira

no largo do toural das boticas

a caminho de chaves.

mas os milagres precisam de tempo

e deslocamento do fulcro onde se sustenta

o quotidiano concreto das coisas.

e talvez por isso mesmo

só na viagem de regresso

esse já entretanto pressentido mistério

começasse em rigor os trabalhos

fabulosos da revelação.

 

na garagem da auto viação do tâmega

onde funcionavam também os escritórios subindo-se

uma escaleira sem guarda

havia um cheiro permanente a gasóleo

e uma bruma que vinha dos filmes a preto e branco

e um ruído de fundo de motores

que só muitos anos mais tarde viria a saber

que revertia da insânia do levante.

 

e logo começavam os milagres

em saindo a camioneta da carreira dos largos portões

da garagem do canto do rio

com esse rumor contínuo

a acompanhar-nos a viagem toda

e a ficar nos ouvidos durante a noite

até se desvanecer enfim às primeiras horas da manhã

e ser apenas já um murmúrio ou a sua reminiscência

o que vibrava ainda nos vidros

das janelas do quarto.

 

mas saindo da cidade

e abrindo as curvas muito fechadas até

à tipografia gutenberg

que nesse tempo ficava do outro lado da estrada

num pequeno anfiteatro virado às águas do tâmega

 

eu via que os homens

de súbito

voavam.

 

os homens que voavam

pareciam vir do lado das casas da várzea.

voavam numa lentidão inverosímil

os braços muito abertos e as pernas a quarenta e cinco graus

como naves alienígenas

suspensas da rarefacção dos fins de tarde

dos meses de junho.

 

o meu pai nunca compreendia

a razão de eu querer ficar no banco corrido de trás

o mais desconfortável

e sujeito à oscilação de enjoo das molas oscilatórias

da camioneta da carreira:

mas só assim podia ainda quedar-me

de olhos colados ao imenso vidro traseiro

a ver os homens da várzea

a desaparecer na distância

voando sobre a veiga de chaves

tocando com as mãos na copa dos salgueiros

e dos amieiros

incendiados pela reverberação

das seis e meia.

 

eu próprio cheguei a duvidar

das imagens antigas da infância

e dessa memória que ao longo dos anos

repercutiu nos meus sonhos.

 

a verdade é que no passado dia vinte e três de agosto

numa segunda feira do ano de dois mil e dez

ao fim da tarde

quase quarenta anos depois do

episódio a que faço ingloriamente referência

por saber que ninguém no mundo em que vivemos

acredita em histórias verdadeiras

 

ia eu de carro a caminho de chaves

e vi claramente visto

com estes dois que só a terra haverá de comer

um homem e uma mulher

suspensos à luz rasa do crepúsculo

voando sobre os campos da veiga.

 

vinham ambos do lado das casas da várzea

e a mulher tinha um vestido de um amarelo tão intenso

que eu estou que o resto da minha vida

não será bastante

por longa que seja

para ofuscar na memória

o halo dessa tão intensa e concreta

revelação dos milagres.

 

 

 

 


23
Set10

O Homem sem Memória (9) - Por João Madureira


 

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Texto de João Madureira

Blog terçOLHO

 

 

9 – Foi através dos vidros do Volkswagen do Marcelino que assistiu a muitas das rusgas realizadas pelas brigadas do partido perto da fronteira do concelho de Névoa com a Galiza. Quando se dava uma intentona da reacção em Lisboa, era certo e sabido que alguns dos implicados subiam até à fronteira norte do país para irem abrigar-se a Espanha. Meia dúzia de comunistas dedicados à causa de acossar reaccionários lançava-se no seu encalço e batiam muitas das estradas e caminhos que ligavam Portugal a Espanha. E por ali andavam, de carro ou a pé, com uma faca de matar porcos, uma pistola Mauser e uma caçadeira com cartuchos de chumbo, para caça grossa. Felizmente que nunca encontraram nenhum desses perigosos reaccionários (se não neste momento não haveria memórias de um homem que se nega a possuí-las), pois esses chefes fascistas eram sempre escoltados por brigadas de militares competentes, exercitados na guerra colonial. Para desespero de Marcelino, nunca encontraram nenhum desses perigosos reaccionários. Ou eles se escondiam muito bem, ou, então, na sua prudência de homens avisados, esquivavam-se das brigadas populares para evitarem eliminar aquele bando de parvos que por ali andava a brincar às revoluções. Uma só metralhadora era o suficiente para mandar a brigada do Marcelino para o cemitério e o Volkswagen para a sucata. Mas o chefe da brigada popular não se conformava com a sua sorte. “Se dou de caras”, gritava vermelho de raiva, “com um filho-da-puta de um fascista encho-lhe o bandulho de chumbo, a ele e aos seus capangas. Os fascistas são uns cobardes. Têm medo da vigilância revolucionária. Dos verdadeiros revolucionários transmontanos. Um comunista transmontano vale por cinco dos outros. E vale mais do que um quarteirão de fascistas. José ouvia o camarada Marcelino e, através dos vidros orvalhados do carro, olhava para os pássaros que voavam entre os pinheiros e para as nuvens que desenhavam bonitas manhãs que haviam de cantar e lindas noites que haviam de sussurrar e de gemer baixinho e de… avante camarada avante. E o Marcelino observava nervoso as serras ao redor, de binóculos nos olhos, enquanto assobiava a “Internacional” e maldizia a sua pouca sorte de comunista decidido mas sem ventura para apanhar fascistas. Acontecia-lhe como na caça, onde ele andava os animais corriam logo à desfilada a esconder-se bem longe da mira da sua espingarda. Por isso gritava bem alto para as fragas: “Os fascistas parecem perdizes assustadas ou coelhos metidos nas tocas. Aparecei filhos-da-puta para eu vos mostrar o quanto vale um comunista a sério. Eu sou um revolucionário discípulo de Lenine e não de Marx. Eu sou um operacional, não sou dos que aprenderam a ser comunistas nos livros. Eu limpo o cu aos livros. Pertenço à “Brigada Brejnev” e à “Quinta Coluna”. Aparecei fascistas para eu vos tratar da saúde”. E as suas iradas palavras ficavam a fazer eco na cabeça do José. Mas Marcelino não era homem para ser levado muito a sério.


Uma noite, em plena campanha eleitoral, um grupo de camaradas tinha ido fazer uma sessão de esclarecimento a uma aldeia. Receberam-nos mal, como era espectável em terra de camponeses católicos apostólicos e romanos. Dentro da sala da escola primária, uma meia dúzia de homens começaram bater com os socos no soalho e a vociferar alto impropérios e outras baixezas. Cá fora as mulheres gritavam maldições enquanto vários rapazes espalhavam bombas de carnaval e batiam em latas. O único comunista da aldeia conseguiu escapulir-se e foi à taberna telefonar para o Centro de Trabalho de Névoa para informar que os outros camaradas estavam a necessitar de ajuda para conseguirem sair da aldeia. Na altura encontravam-se na sede do Partido o Marcelino, que vivia ali mesmo ao lado, o José, e mais dois camaradas da UEC, que eram os melhores pinta paredes e cola cartazes do distrito, jovens revolucionários dedicados, campeões de vendas da “Verdade” e do “Combatente”, além de dirigentes estudantis que insultavam os professores reaccionários, ou pequeno-burgueses de fachada socialista, que eram quase todos. “Toca a andar camaradas. Está na hora da "Brigada Brejnev" ir socorrer os camaradas que estão a ser vítimas de mais uma provocação da reacção que se recusa a escutar o clamor da verdade”. E lá foram todos no Volkswagen do Marcelino ajudar os camaradas sitiados na escola da aldeia. À frente foram os homens e na mala do carro seguiu o arsenal: a faca de matar porcos, uma navalha de ponta e mola, uma caçadeira, uma Mauser e um revólver prateado. O silêncio impôs-se, do grupo apenas o Marcelino tinha dado tiros de caçadeira em árvores e nas pedras dos montes. Os rapazes da UEC apenas tinham caçado pássaros com fisgas ou, já mais crescidos, com escopetas de chumbo. O Marcelino assobiava, como sempre fazia, a “Internacional”. E assobiava-a bem. Parecia o clarinete do Pombo, o camarada caixeiro que tocava na Banda dos Pardais.

 

 

10 – Quando chegaram à aldeia, estacionaram o carro junto da igreja e deslocaram-se a pé às instalações do edifício escolar. Cá fora, as mulheres rezavam e os mais jovens tinham transformado o recreio da escola numa festa de Entrudo. Dentro da sala, uma meia dúzia de homens gritavam impropérios e faziam juras de morte ao comunismo e à Rússia, terra que a Nossa Senhora de Fátima havia de converter para a salvação do mundo.

 

(continua)

 

 


23
Set10

 

Medalha em bronze, com o módulo de 80 mm, comemorativa da Semana Transmontana, realizada no Casino Estoril entre 20 e 29 de Outubro de 1978. Assinada M. Silva (datas desconhecidas) esta medalha foi cunhada em oficina não identificada, num total de 400 exemplares, de que este é o número 351.

 

Um folheto promocional do Banco Português do Atlântico, publicado em Junho de 1979 pela Secção de Metais Preciosos, Numismática e Medalhística, indica que esta é uma medalha que servia de introdução à série Personalidades Transmontanas, desenhada por Cabral Antunes (1916-1986), cujo total se previa atingir 9 a 12 medalhas. No texto que descreve tiragem e características técnicas a autoria desta medalha também é atribuída a Cabral Antunes.

 

O mesmo folheto reproduz já duas dessas medalhas. A primeira dedicada a Monsenhor Manuel Alves da Cunha (Chaves, 1872 - Angola, 1947), a segunda dedicada a Abílio Manuel Guerra Junqueiro (Freixo-de-Espada-à-Cinta, 1850 - Lisboa, 1925).

 

 

 

Com alvará concedido a 23 de Setembro de 1905, a Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro celebra no dia de hoje 105 anos de existência.

 

Reproduz-se abaixo a capa dos números 14 e 15, correspondentes a Maio e Junho de 1949, II ano, da revista mensal Trás-os-Montes e Alto Douro, aquela que na época era a publicação oficial da instituição.

 

 

22
Set10

As nossas desgraças e a Nossa Senhora das Graças


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Ainda antes de irmos à Nossa Senhora das Graças, queria deixar aqui um apontamento, se me é permitido, sobre o nosso Portugal real, que quase não o parece (real).

 

Claro que os temas e discussões do nosso dia-a-dia vão sendo feitos com aquilo que os media nos vendem ou impingem. Todos sabemos que nem tudo que dizem e mostram, é como é, ou seja, os media têm a força de iluminar os caminhos que eles querem que o pessoal (o povo) caminhe, deixando os outros às escuras. Em vez da informação isenta, eles (os media) formulam opiniões e têm toda uma série de artimanhas de fazer a cabecinha do povo, e, se necessário for, até inventam.

 

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Por muito conhecedores ou informados que se possa estar de como as coisas (o sistema) funciona, a verdade é que as notícias e informações que os media nos passam, fazem mossa e sem querermos, somos obrigados a participar na discussão, a entrar no sistema, senão, podemos correr o risco de ficar isolados e a falar sozinhos.

 

Mas o sistema é muito mais complexo e vai muito para além dos media. Estes apenas são um pequeno tentáculo do tão falado polvo…mas adiante, somos constantemente levados mas ao que parece, até gostamos.

 

Há no entanto coisas que revoltam, e se umas até dão para rir por tão anedóticas que são, outras revoltam a sério.

 

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Por anedótico podemos tomar tudo aquilo que se tem passado com a Federação Portuguesa de Futebol e com a selecção nacional. É oficial que Paulo Bento é o novo seleccionador Nacional. Quase dá para dizer que a “tranquilidade” chegou à selecção. Embora me esteja a marimbar para a bola e os seus problemas, a Selecção Nacional é de todos nós, é a nossa equipa e que até tem a força de fazer parar Portugal para a vermos jogar e torcer por ela, onde, honra lhe seja feita, tem o dom de unir todos os portugueses num mesmo sentimento. E, se é nossa, de todos, também todos devemos ter opinião. Não tenho uma ideia formada sobre o homem Carlos Queirós, não o conheço, mas por aquilo que conheço da sua carreira, é um bom profissional, e como tal, respeito o seu trabalho. Nesta história dos acontecimentos da selecção, acredito seriamente que foi uma vítima do sistema e de outros interesses… o tempo deixará ver algumas dessas tramóias. A anedota chegou agora, pois quer se goste ou não de Carlos Queirós, ninguém pode por em dúvida o seu passado, o seu trabalho, competência e experiência. Será que podemos dizer o mesmo de Paulo Bento? – Faço a pergunta porque não sei a resposta, pois aquilo que é conhecido de Paulo Bento, são um somar de pontos negativos para o alto cargo que ocupa, mas ocupa, por muito boa pessoa que possa ser, e parece ser, deixa algumas dúvidas quanto ao que possa fazer pela selecção de todos nós. Do Mourinho nem quero falar, e embora todos digam que ficou bem no retrato desta crise que envolve a selecção, eu gostava de conhecer toda e a verdadeira história dos acontecimentos.

 

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Este tipo de pensamento e sentimento leva-me a uma notícia de ontem, que já é de há anos. Portugal atravessa uma crise sem precedentes, em que está teso e sem soluções para sair dela. A temida notícia de ontem era a hipótese do FMI entrar por Portugal adentro para por ordem na casa, em simultâneo, vão saindo a lume os astronómicos custos da construção do TGV, bem como os custos e prejuízos a que Portugal vai ficar sujeito após a sua construção, e qual é a solução – Construir o TGV!. Tesos como carapaus, mas não se abdica de um luxo que em nada vai contribuir para a nossa felicidade. É assim como uma família que passa necessidades ou sérias dificuldades, que o dinheiro quase nem chega para comer e, como solução, resolve comprar um Ferrari topo de gama… e creiam que a comparação fica muito aquém da realidade do TGV. É este o Portugal que temos! Não admira que tenhamos o Fado como “choro nacional”  e a saudade para sermos eternos saudosistas do pouco que tivemos de melhor.

 

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E pego no saudosismo para entrar finalmente no tema de hoje – A Nossa Senhora das Graças e afinal, para voltar à terrinha, que é a quem este blog se dedica. O que ficou escrito para trás, são puros devaneios, sentidos, mas devaneios de um flaviense, que afinal, também é português.

 

Pois fui ao arquivo do blog ver as minhas referências a esta festa da Nossa Senhora das Graças.  Como em 2008 e 2009 não estive por Chaves no dia dos festejos, os únicos registos que tenho são de 2007 e a título de curiosidade, deixo aqui o que então escrevi sobre o assunto.

 

Segunda-feira, 17 de Setembro de 2007

 

Ainda há dias dizia aqui no blog que não valia a pena inventarem festas quando elas não têm tradição. Ontem mesmo dizia também aqui que as festas se mediam pela música e neste caso de procissões, pelo número de bandas a acompanhar.

 

Pois vamos lá à festa da Nossa Senhora das Graças, que a julgar pelas bandas de música (quatro) e gente,  é uma boa festa. O mesmo não acontece com a tradição, pois esta nova versão apenas tem 3 ou 4 anos (se não me engano). Parece contradição, mas no caso, não o é, mas há truque.

 

Claro que uma festa com apenas 3 ou 4 anos, não seria de ter tanta gente como tem e, o truque, está em chamar a participar na festa, com os seus padroeiros, todas as freguesias do concelho de Chaves.

 

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O que o nosso povo quer é procissão na rua (fé), foguete no ar e arraial abrilhantado por umas boas bandas de música e, se é isso que o nosso povo quer, porque não dar-lho. A festa tem que ser popular e é com o povo que a festa se faz e que se cala qualquer crítica dos intelectuais de cidade (da esquerda ou direita, tanto faz).

A par da Feira dos Santos (festa de Inverno), bem se poderia verdadeiramente pensar e fazer desta festa, as verdadeiras festas (de verão) da cidade e das freguesias que a cidade não tem e, abandonar de vez o 8 de Julho, que lá terá o seu valor histórico, mas não tem qualquer valor festivo.

 

Em tudo posso estar enganado, mas é a minha opinião e, até prova em contrário, continuarei a defende-la.

 

Entretanto vamos ficando com as imagens que faz descer o povo flaviense das montanhas até à cidade e, sempre bem acompanhados pelos seus padroeiros.

 

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Se quiser ver o texto acompanhado das fotos, nem há como seguir o link até ao post publicado:

http://chaves.blogs.sapo.pt/208959.html

 

Nisto da escrita e da opinião que deixamos vertida nela, corremos o risco de com o tempo, a escrita e até opinião ficar desactualizada. Mas lendo e relendo aquilo que escrevi em 2007, não lhe altero uma virgula que seja, excepção óbvia apenas para o número de anos que a festa foi realizada. Pois além de nada alterar, vou reforçar aquilo que disse então.

 

Aldeia, vila ou cidade que se preze tem as suas festas de verão, religiosas, com o seu santo ou santa  lá da terra, com procissões, arraial até às tantas da manhã, foguetes no ar, desfiles, tascas e tasquinhas, diversões para os putos, barracas, provas desportivas, enfeites, eu sei lá… e não digam que é parolice ter uma festa religiosa, pois Lisboa e Porto, as nossas grandes cidades também têm as suas festas populares em honra de dois santos – Stº António e S.João.

 

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Pois Chaves não tem essa festa e que me lembre, à excepção das grandes verbenas que se faziam nos anos 60 e 70 (já lá vão 40 anos) que davam algum ar festivo aos sábados à noite dos verões da cidade, não me lembro de haver festa com ar de festa, nem a Srª das Brotas (quando era grande) tinha essa pretensão.

 

Houve pela nossa Câmara, há coisa de mais ou menos 20 anos atrás, o tempo até nem interessa, que se tivesse apercebido que em Chaves não havia essa tal festa de verão e logo um iluminado se lembro do 8 de Julho que, como já era feriado municipal, poderia passar a ser também o dia das festas da cidade. Ora, quanto a mim, foi uma má decisão e por muitas e variadas razões, começando logo pelo facto de não ser uma festa religiosa, sem santo ou santa, sem procissão, anjinhos e bandas de música pelo meio, aquilo que o povo gosta e que os da cidade dizem que é parolo, mas até apreciam e fazem tudo para “por acaso” estarem, sem o querer é claro, na rua em que passa a procissão. Pois a mim, que me juntem aos parolos e quando me virem na rua a ver passar a procissão e a ouvir as bandas de música, fiquem a saber que estou lá porque quero e gosto, e quanto ao ser(-se) parolo é um assunto que merece reflexão, mas isto até são contas de outro rosário….pois ia eu dizendo que o 8 de Julho foi uma má escolha para festa da cidade, precisamente pela falta do espírito religioso, dos santos e andores e, mesmo que vestissem meia dúzia de republicanos e outros tantos monárquicos de anjinhos, ninguém ia acreditar neles e muito menos ajoelhariam à sua passagem. Uma segunda razão para um não ao 8 de Julho é a sua falta de tradição e, não se tome ao de leve esta palavra, pois TRADIÇÃO é tradição e é por ela, que todos os anos na mesma data, as festas se realizam e é por se realizarem na mesma data e todos os anos haver festa, que os filhos da terra marcam as suas férias para esse dia e os filhos ausentes, chegam a percorrer milhares de quilómetros para não faltarem à festa, para se divertirem, mas também para reverem velhos amigos, amores e familiares, porque no dia da festa, estão lá todos os da terra. É essa festa que falta a Chaves, ou melhor, essa festa de Verão, pois de inverno, temos nós uma boa, que poderia ser muito melhor, é certo, mas é boa.

 

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Voltemos então à Nossa Senhora das Graças que tem o espírito religioso que falta ao 8 de Julho e que até, consegue trazer a Chaves todas as freguesias e os seus padroeiros e as suas gentes que não deixam que a santa(o) desça sozinho à cidade. Também tem as bandas de música, sem as quais não há festa e, até o clero, faz o esforço de se juntar e desfilar em procissão. Em suma, os ingredientes para uma grande festa estão lançados, mas falta tudo o resto – os foguetes, os arraial até às tantas da madrugada, as barracas, os divertimentos para os putos, as tascas e tasquinhas… mas sobretudo, falta-lhe a tradição e trazer a Chaves os flavienses. Em suma, para ser festa, falta-lhe o lado pagão e profano, o do divertimento. Assim, tal como é, é apenas uma cerimónia religiosa, de sofrimento até, daquele com o qual temos que sofrer para atingir o céu, e para sofrimento, nos tempos que correm, penso que já nos basta aturar a crise e os senhores de Lisboa que tudo nos roubam e nos desprezam constantemente.

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Conclusão das conclusões: A Nossa Senhora das Graças poderia muito bem ser a festa de Verão que Chaves não tem. Tem os ingredientes, agora falta fazer a festa.

 

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