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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

31
Out10

Feira dos Santos 2010 - Uma voltinha


 

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Costumo dizer que no sangue de um flaviense corre sempre um bocadinho do Rio Tâmega, um pouco de nevoeiro, um pedaço de Ponte Romana, recordações das Freiras mas também a Feira dos Santos, a nossa festa grande. Lamentos à parte, pois esses já os fiz na quarta-feira passada, vamos então dar uma volta pela festa deste ano, apenas ou quase só em imagem.

 

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São sem dúvida imagens que se repetem todos os anos, não fossem os Santos uma festa de tradição, mas, tal como a Ponte Romana, é sempre com gosto que fotografamos a feira.

 

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Mesmo com o tempo a contrariar a festa, não há flaviense que resista e lá temos que dar as nossas voltinhas, rua cima, rua abaixo, com mais ou menos gente – vamos sempre lá.

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Apreciamos as modas, e deita-se olho a tudo, até a instrumentos cuja escrita desconhecemos, mas não deixamos de os apreciar, até com um sorrisinho malandro.

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Chaves também já há muito ganhou fama pelo seu presunto, e na ausência do verdadeiro presunto de Chaves, os espanhóis não se fazem rogados e se não o vendem, sorteiam-no. Afinal de contas, agora, também Chaves-Verin é uma euro-cidade e se pela manhã se fez o festival gastronómico do polvo à galega, porque não os espanhóis venderem por cá o seu presunto… temos pena, mas não há outro.

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E viva a pimbalhada, que também faz parte da festa. Aliás bombos e concertinas sempre fizeram parte da Feira dos Santos e também gostamos de os ver e ouvir e, se na animação também há lamentos, não é por causa dos bombos e concertinas descerem à cidade, mas pela ausência de outra animação em paralelo, principalmente ao nível de espectáculos para os nossos jovens, tal como nós os mais crescidinhos tínhamos os famosos e saudosos bailes dos Santos nos Bombeiros.

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Mas vamos à feira e se não compramos, pelo menos apreciamos. Não deixamos de deitar olho a um ou outro monumento que vai passando mas também a penteados mais esquisitos…

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E então o cheirinho a castanha assada…mas melhor que cheirar, é mesmo comer. Penso que toda a gente gosta, mas se não gostar, também há farturas com fartura.

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Mas a festa não é igual para todos e se há quem compre, tem que haver quem venda e se para nós até pode ser uma diversão, principalmente para as crianças, para os vendedores e também as suas crianças, a diversão é bem diferente…

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Mas enfim, também nos dias da feira a noite acaba por cair e com compras ou sem compras, um bocadinho de casa começa a apetecer.

30
Out10

Outeiro Seco - Aldeia e Freguesia


 

Finalmente vamos até Outeiro Seco, mas hoje, ao contrário do habitual e devido a limitações impostas pelo SAPO, os post será composto de três partes, e em três posts.


 

I PARTE


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Abordar Outeiro Seco é complicado e pelas mais variadas razões, começando logo pelo seu ser como aldeia, a aldeia típica transmontana que embora ainda o seja com toda a sua beleza e tipicidade, já há muito que não o é, pois nela estão implantados equipamentos urbanos próprios das cidades e dos seus arredores, afinal, arredores nos quais está integrada Outeiro Seco, dando mesmo, nesta década, origem a uma freguesia urbana saída do seu território.

 

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Talvez daí Outeiro Seco assumir em placa na sua entrada da aldeia, a TRADIÇÃO e a MODERNIDADE,  que embora não se conjuguem lá muito bem também não se querem de costas voltadas e, podem ser até boas amigas, um pouco como, teoricamente, acontece ou deveria acontecer nas relações da cidade com o mundo rural, pois a não serem amigas corre-se o risco de a MODERNIDADE ser uma feroz inimiga da TRADIÇÃO podendo mesmo acabar com ela.

 

Durante estes anos de blog andei também a tentar descobrir e compreender a tal TRADIÇÃO de Outeiro Seco e onde ela se conjuga ou não com a MODERNIDADE. Quanto à MODERNIDADE, não tenho dúvidas, ela é bem visível, como aliás o é sempre e, nem sempre pelas melhores razões.

 

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Quanto à TRADIÇÃO, aí a coisa já pia mais fino, pois TRADIÇÃO é uma palavra muito complexa que não pode ser usada levianamente porque a ela estão sempre associadas raízes profundas onde quase sempre o preservar é muito mais importante que modernizar e, quando se moderniza, deve-se ter o cuidado de como se moderniza tendo em conta uma modernização sustentada sempre atenta à preservação da TRADIÇÃO…mas isto são outros assuntos, porque eles até nem se aplicam a Outeiro Seco. Não quero com isto dizer que Outeiro Seco não tenha as suas tradições e muito


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menos a MODERNIDADE, porque as tem, mas embora as tenha, parecem ser indiferentes uma à outra e, assim, entendo eu que estou de fora e não falo com o coração, a placa de entrada onde se lê TRADIÇÃO e MODERNIDADE deve ser lida como se lê um cartaz a anunciar um jogo de futebol dentre duas equipas, em que cada uma faz o seu jogo no campo e tenta ganhar à equipa adversária, onde, quase sempre ganha a mais forte, a que tem mais dinheiro, a que tem melhores jogadores e sabe jogar dentro e fora do campo sem olhar a meios para atingir a vitória, com ou sem fruta.

 

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Postas as coisas em termos futebolísticos, neste encontro travado no campo de Outeiro Seco entre a TRADIÇÃO e a MODERNIDADE, a segunda, a equipa visitante, parece estar a dar uma cabazada à TRADIÇÃO, assistindo esta, apática, a todas as jogadas da MODERNIDADE, prostrada e sem qualquer reacção. Indiferente, ou se não o é, parece.

 

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TRADIÇÃO e MODERNIDADE - Aquilo que se vê.


 

Primeiro a cidade entra pelo território de Outeiro Seco quase sem pedir autorização e a solução, em vez de Outeiro Seco reivindicar e se assumir como uma grande freguesia urbana, um autêntico braço direito da cidade, cede parte do seu território para uma nova freguesia, ou seja, fechou-se no seu núcleo tradicional de aldeia provinciana, na aldeia de sempre, e afasta-se da cidade, embora pareça que a TRADIÇÃO ficou a ganhar, foi a MODERNIDADE que ganhou uma freguesia roubando território à TRADIÇÃO. Em suma o resultado do jogo inicia-se com: TRADIÇÃO - 0  *  MODERNIDADE - 1.

 

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Mas vamos por partes e deixemos a MODERNIDADE para o final. Vamos para a TRADIÇÃO, para Outeiro Seco aldeia fechada no seu núcleo, para os seus valores como aldeia, começando pela sua história, bem remota por sinal.

 

 

Um pouco da história mais antiga

 

Há historiadores que defende que na época do Império Romano, a cidade de Aquae Flaviae se poderia estender até às actuais terras de Outeiro Seco.


Os inúmeros vestígios romanos podem confirmar essa teoria, como a ara (com data provável o Sec. II)  já atrás referida, mas também os fornos de fabrico de material cerâmico para construção. Com a descoberta destes fornos, poder-se-á pensar mesmo (sou eu a deduzir) que Outeiro Seco poderia funcionar como a zona industrial Romana da cidade de Aquae Flaviae, onde, também se acredita que tivessem existido explorações mineiras de ouro, pelo menos a julgar por notícias relacionadas com o lugar de Lagares, que para isso apontam.

 

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Mas o povoamento de Outeiro Seco será muito anterior ao povoamento Romano, pois graças as suas óptimas condições de terras planas e de veiga fértil, a julgar por achados arqueológicos, terão atraído às suas terras povoados pelo menos desde uma fase final da Pré-história, dos primórdios da metalurgia, remontando ao III milénio A.C.


O Castro de Santana, por outro lado, aparece como arrolado a um povoado fortificado  da idade do Ferro.


Quanto às origens paroquiais  de S.Miguel de Outeiro Seco, estas remontarão à época pré-nacional . Nas inquisições dos reinados de D.Afonso II e III (1220 e 1258), no Julgado de Chaves, existiam separadamente as freguesias de Outeiro Seco e Santa Maria da Azinheira.

 

Ao contrários dos tempos actuais, há séculos, Outeiro Seco integrou nas suas terras esta freguesia de Santa Maria da Azinheira, na qual está implantada a Igreja da Senhora da Azinheira.


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De data muito mais recente, testemunhei a existência em duas casas, uma no Largo da Mesa de Pedra e outra junto ao cruzeiro do Solar dos Montalvões (actualmente em obras – a casa, infelizmente não é o solar)  de figuras gravadas na pedra das construções com representação de animais e outras figuras (um burro ou coisa parecida, uma pomba ou outra qualquer ave, bolas e duas chaves, umas rosetas,  um arranjo floral, uma máscara ou rosto e outras figuras de animais e escudos). Parece tratar-se de um possível e também importante povoado de uma comunidade judaica.

 

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Junto da casa onde funcionou em tempos passados o Julgado de Paz e em frente a uma das atrás referenciadas no capítulo anterior, existe uma mesa de pedra que parece ter tido também funções históricas e à qual o povo dedica uns versos:


Adeus ó pedra de mesa,
Do Bairrinho do Pontão,
Onde se faziam audiências,
Donde se concedeu algo de perdão.

 

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Perdão esse, que também parece estar associado a quem atingisse a entrada principal do Solar dos Montalvões, e neste, não só o perdão, mas também o matar de muita fome a gentes do povo, pelo menos é o que consta nas conversas que tivemos com gentes de outeiro Seco e confirmadas pelo meu cicerone Carlos Félix e também por Berto Alferes nalgumas contribuições que tem feito no seu blog e para o Blog das Velharias, que à frente referenciaremos. Mas antes, vamos às Igrejas e Capelas de Outeiro Seco.



As Igrejas e Capelas

 

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A Igreja Românica da Senhora da Azinheira é sem dúvida alguma o ex-líbris da aldeia de Outeiro Seco, mas também da freguesia e uma referência para o concelho e para a região, sendo também uma referência do Românico no Norte de Portugal e Galiza. Monumento românico do século XII ou XIII (diferem as opiniões ao respeito), classificada como “Imóvel de Interesse Público” desde 1938, devendo-se ao Prof. Virgílio Correia a sua valorização como uma esplêndida obra de arte, através de uma minuciosa descrição feita em 1924, na obra “Monumentos e Esculturas”. No seu interior está decorada, nas duas paredes laterais, com valiosos frescos quinhentistas, embora algo degradados. Bons dias se poderão aproximar para este templo do românico com a recente notícia de ser um dos templos do românico contemplados com obras de restauro com base num protocolo assinado entre o nosso Governo, o Governo Galego e a Iberdrola (a tal das barragens do Tâmega – ninguém dá nada de borla).

 

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Da Igreja da Senhora da Azinheira, um belíssimo exemplar da arte românica,  só temos pena que ela não esteja com as portas abertas ao público para turista ou passante interessado poder visitar e valorizar. Talvez, fica a dica, pedindo ao Centro de Emprego (penso que existem programas para tal), pudessem dispensar um dos seus desempregados para abrir, guardar e fechar portas diariamente. Era uma mais-valia para a TRADIÇÃO de Outeiro Seco e para o turismo religioso de fronteira, que curiosamente este fim-de-semana até tem Jornadas marcadas para Chaves.

 

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No centro da aldeia encontra-se a Igreja Paroquial de construção em estilo barroco e de devoção a S. Miguel, o orágo da freguesia.. A igreja possui um belo retábulo também barroco em talha dourada, sendo nela que se realizam todas as cerimónias religiosas da freguesia.

 

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A Capela de Stª Ana, construída em cima de um altar rupestre, à qual está associada uma interessante lenda. Conta a mesma que a imagem de Santa Ana apareceu em cima do altar rupestre. A população conduziu a imagem para a Igreja românica que lhe fica em frente. Porém, a imagem misteriosamente, voltou para a fraga, com a face voltada para o pôr-do-sol. Vieram romeiros e a imagem era recolocada na Igreja românica, toda enfeitada de flores, mas ela voltava sempre à fraga. Então a população construiu-lhe uma capelinha nesse local que tomou o nome de Monte de Santa Ana.  Desde então, nas procissões de 8 de Setembro, dia da festa da Senhora da Azinheira (esta sim de grande TRADIÇÃO), ela desfila no seu andor, oferta das mães de Outeiro Seco que a tomaram como protectora.

 

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A Capela da Senhora do Rosário, no centro da aldeia, na qual está depositada uma ara romana, segundo se julga, dedicada por Caio Fuscus ao Deus Hermes Eidevoro, oferecida pelo êxito do espectáculo de gladiadores. Também a esta ara está associada uma lenda. Diz ela que a ara apareceu em tempos remotos no cimo das águas que inundaram a aldeia na consequência de uma forte trovoada. A ara foi recolhida e, para além do seu valor histórico, passou a ser também um escudo protector contra os malefícios das trovoadas.

 

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A Capela de Nossa Senhora da Portela, na extremidade Norte da aldeia, do século XVII ou XVIII, onde está sepultado o Capitão de Cavalos José Álvares Ferreira e possui um interessante cruzeiro no seu adro. Pena que por parte das empresas que procedem a colocação dos postes de electricidade e respectivos cabos não haja o cuidado e gosto de afastar estas infra-estruturas das capelas e outros pontos de interesse, pois conseguir uma foto desta capela sem os malditos postes ou cabos da MODERNIDADE é quase missão impossível.

 

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A Capela de Santa Rita, integrada no Solar dos Montalvões e da qual hoje praticamente só resta a fachada, pois o interior foi vandalizado, é outra que, mesmo assim, merece uma visita (infelizmente apenas à fachada).

 

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Sem dúvida alguma que Outeiro Seco possui um importante património religioso de Igrejas e Capelas, como também de peças de arte sacra (santos) desses mesmos templos, para além de uma interessantíssima Via Sacra que prolonga as suas cruzes muito além da aldeia e também dois cruzeiros. Mas no que respeita aos santos, espante-se, alguém mandou retirar os santos das respectivas capelas e reuni-los a todos na Igreja Paroquial. Ao que apurei, a razão de tal (julga-se) prende-se com o medo dos santos serem roubados das respectivas capelas.

 

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Se a razão até pode ser aceitável também se corre o risco de num roubo, só de uma vez, levarem todos os santos da freguesia, pois tal como as Capelas, também a Igreja Paroquial pode ser vitima de um assalto. Por outro lado, as capelas sem os respectivos santos, perdem todo o seu interesse e até religiosidade ou devoção, pois para ser capela ou igreja, não bastam as suas paredes. Até dá para dizer que capelas sem santos, são como uma procissão sem andores…e já que não os ai, também sem povo para ajoelhar. Mas se há gente de Outeiro Seco que até se conforma com a decisão, há também que não se conforme com tal. Uma dessas pessoas é Berto Alferes que denuncia o caso numa interessante publicação intitulada “Altares Vazios…” onde além

 

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da denúncia e outros assuntos, é também um autêntico trabalho de investigação à procura dos Santos, sinos, vestes e outros da freguesia, que ele consegue descobrir e fotografar, reproduzindo-as nesta publicação. Publicação essa, edição de autor (ou de blog), que era oferecida a troco de um donativo de 5€ para a AMA – Associação Mãos Amigas de Outeiro Seco. Se a ideia e atitude do autor é de louvar e elogiar, já não o é a atitude do “poder instituído” e não instituído de Outeiro Seco, pois à boa maneira de antigamente, “censurou” a publicação, não permitindo que nas suas instalações e instalações que controlam, a publicação pudesse ser oferecida a troco do respectivo donativo.

 

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Felizmente, através de mãos amigas, consegui um exemplar, contribuído também com os 5 € para a AMA, mas ganhando uma publicação, ainda por cima de tiragem reduzida (apenas 100 exemplares) que conta e reúne em fotografia toda a história religiosa de Outeiro Seco, um valioso documento. Toda a história desta publicação é contada no Blog Outeiro Seco aqi, mas também contada por aí…, a quem não achou piada aos acontecimentos (e não me refiro ao autor). Esta cidade é uma aldeia e tudo se sabe! Temos pena, que em pleno Séc. XXI, já com trinta e poucos anos de democracia, ainda se continuem a praticar actos do antigamente em que a liberdade de expressão e opinião, democraticamente, ainda seja censurada.

 

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Mas vamos continuar com aquilo que Outeiro Seco tem de melhor, ou tinha, com um daqueles que foi o seu património civil e arquitectónico mais valioso e que a par da Igreja Românica da Senhora da Azinheira, é(ra) também um dos seus ex-líbris – o Solar dos Montalvões.

 

Já a seguir, a II PARTE.

 

30
Out10

Outeiro Seco - Aldeia e Freguesia - II Parte


II PARTE

 

O Solar dos Montalvões

 

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Imagem retirada do blog de Luís Montalvão

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Com uma longa e rica história ligada a Outeiro Seco e a um ramo da família Montalvão, apresenta-se hoje triste, moribundo e quase em total ruína. É mais uma história que inevitavelmente também está ligada à MODERNIDADE, pois o seu declínio começa com a aquisição por parte da Câmara Municipal de Chaves, com boas intenções, mas quando os esforços desta, apoiados pela cidade (leia-se cidadãos e um povo fácil de iludir) estavam postos no futebol e nos negócios do betão que o envolviam e subsidiavam, deixando irremediavelmente esquecida a luta de Chaves se poder afirmar

 

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Imagem de Arquivo com o Solar a Iniciar Ruina

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noutros campos e, assim, também o Solar e a Quinta dos Montalvões, que parece ter sido comprado com intenções nobres, depressa ficou no esquecimento e de fora dos planos de qualquer intervenção e qualquer futuro, pelo menos a julgar pelo que lhe tem acontecido desde que foi vendido pela família Montalvão. Mas bem pior que isso, é que se perdeu um solar e o seu espólio – principalmente o da sua biblioteca, um “museu” e a sua capela que além de abandonada foi vandalizada ficando praticamente destruída, incluindo o altar e a sua talha, tal, afinal, como todo o Solar, hoje em ruínas, e como a sua quinta, hoje, uma autêntica lixeira a céu aberto.

 

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Também aqui a TRADIÇÃO (recorrendo de novo aos termos futebolísticos) levou logo com uma cabazada de 6 ou 7 “frangos” seguidos, com essa cedência (e permissão) dos seus terrenos para depósitos de lixos, escombros, entulhos… E isto não é inventar, pois está à vista de todos entre as ruínas do Solar e a Escola de Enfermagem, hoje, graças a Deus (é sempre a Deus que se dão as graças), também pólo da UTAD.

 

Teria ficado bem a Outeiro Seco, às suas gentes mas sobretudo aos seus representantes, já que a Câmara Municipal nunca o fez, ter preservado ou pugnar pela preservação deste solar, mas infelizmente, ao que apurei, tal nunca aconteceu e a pouca intervenção que houve, até foi para destruir ou construir-se o que não devia… está à vista.

 

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Claro que estou a falar do solar de hoje ou daquilo que resta dele, pois quanto ao Solar tal como existiu nos seus anos de Solar, com gente dentro da Família Montalvão, um dos seus descendentes vai contado (com pena sentida) toda a sua história feita com pequenas estórias publicadas no seu blog. É caso para dizer que do Solar dos Montalvões quase e só resta a sua história e as estórias nele vividas. É ao seu blog e palavras que recorro agora para deixar aqui, pelo menos, a descrição do Solar tal como ele existiu nos seus melhores tempos, nos quais até a primeira dama Madame Carmona era visita:

 

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Imagem de Arquivo com o Solar a Iniciar Ruina

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01 - LOJA - Destinada inicialmente a cavalos. Havia baias em pedra e aros de ferro para prender os mesmos.

02 - LOJA - Havia 3 tulhas para cereais. Urna grande, para centeio. Duas mais pequenas, para trigo.

03 – CAPELA.

04 – ADEGA

05 - BICA
06 - LOJA - Pequena loja que servia para criar coelhos.
07 - LOJA - Loja inicialmente para acolher cavalos. Era agora preparada para armazenar batata.

 

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08 - ADEGA
08a- LOJA - Destinada a guardar baratas ou galinhas.
09 - LOJA - Destinada a guardar galinhas e patos.
10 - PÁTIO PEQUENO
11 - LOJA - Em destinada a porcos. No meio, havia uma enorme pia de granito, que servia para os porcos comerem, a comida que era deitada do andar de cima, por um alçapão aberto no chão da cozinha.
12 - LOJA - Destinada aos porcos. Tinha também uma pia de granito por baixo de outro alçapão.
13 - LOJA
14 – ADEGA

 

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15 - LOJA - Para esta loja, davam as 2 retretes do andar superior. O chão, estava cheio de palha, que era substituída regularmente.
17 - BICA
18 - JARDIM
19 - BALCÃO

20/21 - CASAS DE BANHO
22 - CORREDOR
23 - QUARTO DA MIMI –

 

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24 - QUARTO DOS AVÓS - Para entrar neste quarto, tinha de se subir um degrau. Na parede que dava para a sala de jantar, havia uma «roda», que talvez tivesse servido para passar comida da sala de jantar para este quarto. Nessa época estava desactivada.
25 - SALA POLlVALENTE
26 - SALA DE JANTAR -
27 - TRÊS DEGRAUS - Para passar à cozinha, tinha de subir-se três degraus.
28 - COZINHA - Era o maior compartimento da casa, dividido em duas partes. Uma parte, com o chão lajeado a granito, a outra parte com o chão a madeira. A parte lajeada tinha a grande lareira, ladeada por dois escanos.

 

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29 - 30 - QUARTOS - Eram quartos das empregadas
31 - ARRUMAÇÃO - Era utilizado como quarto das empregadas e servia ao mesmo tempo de arrecadação. Antes de um grande incêndio, tinha um outro andar que ardeu completamente, nunca mais sendo reconstruído.
32 -CORREDOR - Fazia a ligação com a parte nobre da casa
33 - QUARTO DO LILI
34 - ARMÁRIO NA PAREDE - Mesmo em frente á porta do quarto do Lili,

 

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Este armário, tinha uma característica especial. Dava acesso a um quarto secreto, que pelo menos por uma vez salvou o Liberal Sampaio da prisão.
35 - VARANDA - Esta varanda, tinha vários escanos e bancos encostados à parede. Era também aqui que o feijão era seco ao sol e descascado.
36 - QUARTO
37 - QUARTO DAS ARMAS
38 - QUARTO PEQUENO

39 - QUARTO

 

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40 - QUARTO - com escadas que davam acesso ao andar superior.
41 - BIBLIOTECA

42 - SALA DE VlSITAS. Tinha um grande fogão de sala
43 - SALA D0 MUSEU - Era aqui, que estava previsto ser a entrada principal do Solar, pois, seria ligada ao pátio pequeno por escadaria, nunca terminada. No topo da sala, uma porta com dois degraus, ligava ao coro da capela. Era deste local , que os habitantes do solar assistiam aos Ofícios de Domingo.
44 - MIRANTE - Este acrescento, construído em madeira, foi mandado fazer por um dos Montalvões, para mais facilmente poder avistar os sinais feitos pela sua amada, moradora num solar vizinho
45 - SALA
46 - SALA
47 - SALA –

 

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ANEXOS

 

48 - CASA DO LAGAR
( a ) Loja onde eram engordados porcos
(b ) loja onde estava o lagar. Este era construído em granito da região, com grandes lajes maciças. A trave de madeira da prensa, dividia-o em duas partes iguais.
49 - PORTA DE ENTRADA LATERAL -Fazia a ligação do pátio grande com rua principal da aldeia.
49a- PORTA DE ENTRADA - Fazia a ligação do pátio grande com a rua principal da aldeia. Dava passagem a carros de bois carregados. Era protegida por um telheiro de 2 águas.
50 - TELHEIRO - Protegia um grande forno de cozer o pão. Este era feito de barro branco e tinha uma cruz gravada por cima da boca. Havia sempre muita lenha a secar.
51 - CASA DOS CASEIROS - LOJA - Tinha um grande forno de cozer o pão. Servia também para guardar madeira serrada e rachas de pinho para os fogões de ferro.
52 - CASA DOS CASEIROS - LOJA - Era a segunda loja dos coelhos.
53 - CASA DOS CASEIROS - LOJA - Esta loja era aproveitada para engordar porcos.
54 - CASA DOS CASEIROS - ESCADA DE PEDRA - Dava acesso ao primeiro andar.
55 - CASA DOS CASEIROS - ESPIGUEIROS - As paredes eram feitas de ripas de madeira. Depois da colheita do milho, ficavam cheios de espigas a secar.
56 - CASA DOS CASEIROS - SALA - Sala bastante ampla, com lareira para cozinhar e com duas janelas para a rua principal da aldeia. Esta sala, comunicava com dois quartos, cada um uma janela que dava para o pátio grande. Estes aposentos, eram ocupados pelos criados de lavoura.
57 - MIRANTE

58 - GARAGEM - Esta garagem ficava do outro lado da rua principal da Aldeia, em frente da CASA DOS CASEIROS.

 

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O Texto está disponível no blog de Luís Montalvão. Os desenhos das plantas e alçados são de autoria do Arquitecto Manuel Sousa Cardoso e a compilação dos dados são de José Manuel Montalvão Cunha. Tudo isto e muita mais história e estórias do Solar dos Montalvões estão no blog das velharias de Luís Montalvão em http://velhariasdoluis.blogspot.com/ ao qual recomendo uma visita.

 

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Estórias sobre a família Montalvão e Solar que curiosamente é também ajudada a ser feita ou a preservar por cidadãos anónimos de Outeiro Seco, despojados de outros interesses que não sejam os de contribuir para a história do Solar e também de Outeiro Seco. Cidadãos anónimos que no entanto têm nome como o Carlos Félix graças ao qual ainda hoje existem devidamente guardados os Santos da Capela do Solar e um excelente cicerone e conhecedor da história de Outeiro Seco, sempre pronta a partilhá-la com quem a solicite, bem como o Humberto Ferreira (Berto Alferes) na recolha de estórias e na defesa dos interesses do solar, das suas terras e também de Outeiro Seco, com recolha, informação e até denúncia que tão bem o tem feito em publicações de sua autoria, como também no seu blog Outeiro Seco Aqi - http://outeiroseco-aqi.blogs.sapo.pt/ ao qual recomendo uma visita, não só pelo que aqui foi dito ao seu respeito mas também pelas boas fotografias que vai apresentando e revelando um excelente fotógrafo.

 

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Em suma, sobre o Solar dos Montalvões, por aqui, é tudo, certo que o Solar as suas terras não mereciam o estado de abandono a que está dotado, com o edifício em ruínas e as terras a servirem de lixeira onde a custo, só o mato consegue romper, sem esquecer os atentados que lá se têm cometido como o soterrar dos milenares Lagares. É caso para perguntar – Então a TRADIÇÃO que se anuncia na entrada da aldeia não deveria ter entrado em acção neste solar? E a Junta de Freguesia que tem feito por ele? Será que por ser propriedade da Câmara Municipal a Junta de Freguesia se demite dos seus deveres de defender o património da aldeia? Pois uma coisa é a propriedade e outra é o património e esse, ninguém o tira a Outeiro Seco, mas também a nós, pois o património artístico, cultural, arquitectónico e religioso, afinal é de todos e daí, também é meu. Eis a razão destas palavras que pela certa não agradarão a que está envolvido na indiferença com que tem olhado para este solar. Mas adiante …

 

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E termino este lamento sobre o solar com um lamento (pela certa muito mais sentido) do Luís Montalvão, deixado no seu blog e na conclusão de um dos seus posts :

 

“Como conclusão, podemos arriscar que a sua morte [referindo-se ao “Montalvão Velho” (como era conhecido) – a nota é minha], em 1965, com 87 anos, é mais do que falecimento de um homem com uma existência feliz, marca também o fim de uma grande casa agrícola, cujo modo de produção e vivência vinha praticamente da Idade Média. O seu desaparecimento significou a partilha da grande propriedade e a venda do solar, que entrou numa triste e imparável ruína.”

 

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E fica a inevitável pergunta – Para quando uma solução e uma intervenção neste solar, enquanto ainda é possível recuperar alguma da sua memória?

 

E é precisamente nos terrenos da Quinta dos Montalvões que a MODERNIDADE entra mais uma vez em Outeiro Seco, com a Escola de Enfermagem, hoje também Pólo da UTAD.

 

Abordada que está a história e alguma da TRADIÇÃO de Outeiro seco, vamos então à MODERNIDADE.

 

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Escola de Enfermagem/Pólo da UTAD


 

Esta tem sido uma das bandeiras abanadas pela MODERNIDADE de Outeiro Seco, mas muito mal abanada, pois também aqui, mais uma vez, a vitória é da MODERNIDADE com a TRADIÇÃO a ficar de novo de lado ou esquecida, e temos pena.

 

Qualquer freguesia ou aldeia ficaria contente com uma instalação destas nas suas terras e qualquer aldeia ou freguesia tiraria dessa instalação o seu proveito, atrevo-me mesmo a dizer - o justo proveito. Tive esperanças que Outeiro Seco (núcleo) despertasse e ganhasse com este empreendimento e instalação do Ensino Superior nas suas terras, que se tornasse até numa aldeia universitária, atractiva para os estudantes e com toda a vida que eles lhes dão. Mas não, a Escola de Enfermagem, agora também Pólo da UTAD é um mundo à parte, fechado em que a aldeia de Outeiro Seco apenas lhe cedeu terreno para a construção e apenas serve de passagem entre Chaves e o agora Pólo Universitário. De quem é a culpa não o sei, apenas sei que Outeiro Seco e a sua população, até hoje, nada ganharam com esta escola e é pena, pois perdem todos os proveitos que as universidades costumam dar aos lugares. Pelo menos (coisa de nada - insignificante) poderia exigir que o espaço (da Quinta dos Montalvões) existente entre a aldeia e a Escola de Enfermagem/Pólo da UTAD, fosse limpo e no mínimo, beneficiar de algum arranjo paisagístico onde todos ficariam a ganhar, quer a aldeia quer os alunos universitários com uma zona de estar, nem que fosse e só para ser agradável à vista. Mas enfim, continua a ser um depósito de lixo, entulhos e mato, pouco digno como vizinho de uma aldeia e de um estabelecimento universitário.

 

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As Novas Vias e o Parque Empresarial

 

Tal como a Escola de Enfermagem/Pólo da UTAD, as novas vias e o Parque Empresarial só vieram roubar terrenos e território à freguesia, pois a freguesia nada tem ganho com este empreendimento, a não ser na venda de terrenos (mas que ficou sem eles) e num nó da auto-estrada. Fora isso, em nada consta que Outeiro Seco tivesse ganho o que quer que seja. Poderia talvez ganhar em postos de trabalho se houvesse empresas a funcionar no Parque Empresarial, mas sem empresas e toda uma plataforma logística onde só existem em instalações e nome, transformada hoje em “sexódromo” ou “sexometro” (como preferirem) onde se recomenda até à RESAT que coloque por lá um Ecoponto para recolha de papel e látex. Recomendações à parte, sem empresas não há postos de trabalho e, nas poucas que por lá há, não me consta que haja pessoas de Outeiro Seco a trabalhar.

 

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Com as novas vias por lá executadas, Outeiro Seco também em nada beneficia (excepção para os que utilizam a Auto-Estrada), pois as novas vias nada ligam e com uma delas, até se conseguiu destruir parte de uma estação arqueológica onde existiam uma série de fornos romanos, mas também aqui, a julgar pelo que aconteceu pelo Vale de Lagares e outros, o rico património arqueológico que Outeiro Seco possui, também tem sido vítima da MODERNIDADE. Já perdi a contagem dos golos marcados pela MODERNIDADE e a TRADIÇÃO ainda está a zeros.

 

 

Parque Empresarial que mais que um bem, tem sido um mal para Outeiro Seco, pelo menos em termos ambientais e agrícolas, conforme denúncias que chegam a este blog e que já mais que uma vez tive oportunidade de trazer aqui, como neste post: (http://chaves.blogs.sapo.pt/439286.html).

 

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Denúncias que também vão sendo feitas no Blog Outeiro Seco Aqi, e não é de estranhar, pois pasme-se, o parque empresarial não tem o efluente do seu saneamento básico ligado a qualquer rede pública, como também não tem nenhuma estação de tratamento, possuindo apenas uma fossa, que após a passagem do efluente o devolve à linha de água que vai desaguar ao Rio Tâmega. E se hoje com as poucas empresas que por lá existem já faz moça, imagine-se quando num hipotético futuro haja por lá empresas a funcionar a sério. Ao que sei, por Outeiro Seco desconhecem-se estes acontecimentos que ocorrem no seu território, salvo, claro, aqueles que são prejudicados directamente e que não calam a sua indignação, mas ao que também sei, ninguém lhes liga. Aqui a TRADIÇÃO leva outra cabazada monumental de uma MODERNIDADE fedorenta…

 

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Em suma, e no que respeita à MODERNIDADE, Outeiro Seco bem que a podia dispensar, pois só tem perdido com ela.

 

Esquecendo a MODERNIDADE e a TRADIÇÃO de Outeiro Seco, vamos à TRADIÇÃO deste blog trazer aqui as aldeias do concelho um mosaico de cada freguesia, que no caso, aldeia e freguesia, são a mesma coisa.

 

 

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E como, por razões alheias a feitura do blog, tenho de acelerar o encerramento dos posts dedicados às aldeias e freguesias, assim hoje este post funciona também como um dois-em-um, ou seja, vamos ter também aqui, o respectivo mosaico da freguesia, seguindo a sua habitual feitura, à excepção dos seus pontos de interesse, pois esses, na sua essência, já foram referidos.


 

Já a seguir, a III e última parte.

 

 

30
Out10

Outeiro Seco - Aldeia e Freguesia - III Parte - Mosaico da Freguesia


III e última parte


 

Mosaico da Freguesia de Outeiro Seco

 

 

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Localização:


Localiza-se em plena veiga de Chaves, a norte da cidade, na margem direita do Rio Tâmega.

 

Confrontações:


Confronta com as freguesias de Stª Cruz/Trindade, Sanjurge, Bustelo, Ervededo (num único ponto), Vilela Seca e Vilarelho da Raia. Confronta ainda com as freguesias de Vila Verde da Raia, Stº Estêvão e Faiões, nestas últimas, o Rio Tâmega serve de limite de freguesia.

 

Coordenadas: (Adro da Senhora da Azinheira)


41º 46’ 06.70”N

7º 27’ 02.62”W

 

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Altitude:


Variável – Entre os 349 e os 425m

 

Orago da freguesia:


S.Miguel

 

Área:


Lamento, mas não possuo dados da área actual, pois os que disponho são ainda antes de se ter criado a freguesia de Stª Cruz/Trindade, cuja área era de 16.15 km2

 

Povoações da freguesia:


- Outeiro Seco é a única povoação da freguesia

 

 

População Residente:


Em 1900 – 514 hab.

Em 1920 – 598 hab.

Em 1940 – 746 hab.

Em 1960 – 905 hab.

Em 1970 - 977 hab.

Em 1981 – 2059 hab.

Em 2001 – 3435 hab.

 

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Como é sabido os últimos Censos ainda contabilizaram a população residente da actual freguesia de Santa Cruz/Trindade, onde graças ao crescimento imobiliário de edifícios de habitação colectiva, todo um bairro para alojar retornados do ultramar e o vrescimento inevitável de Santa Cruz, fez disparar em flecha os números após o 25 de Abril de 1974. Estou em crer que o comportamento da população da actual freguesia de Outeiro Seco seguirá a tendência que se registou até aos Censos de 1970, mantendo uma subida ligeira da população, pois se por um lado Outeiro Seco núcleo (estou em crer) perdeu população, os dois grandes Loteamentos de S.Bernardino I e II compensam essa perda. Deduzo que actualmente a sua população residente pouco irá além do milhar de habitantes, mas os Censos que se aproximam de 2011 encarregar-se-ão de repor a verdade.

 

Em suma, também aqui a MODERNIDADE fez das suas, pois nos últimos Censos Outeiro Seco era a 2ª freguesia mais populosa do concelho, logo a seguir a Santa Maria Maior e muito além da freguesia da Madalena, pois então só tinha 2004 habitantes contra os 3435 de Outeiro Seco. No ranking de 2011, tento adivinhar que Outeiro Seco passará a ocupar a 7ª ou 8ª posição.

 

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Principal actividade:


De Outeiro Seco da TRADIÇÃO - a agricultura.

 

De Outeiro Seco da MODERNIDADE - a Indústria, os Serviços e o Ensino Superior. Infelizmente das actividades da MODERNIDADE, Outeiro Seco e a sua população não são parte interveniente das actividades desenvolvidas no seu território, estas, vivem à margem e apenas se servem do seu território para implantar as suas estruturas e edifícios, não só no novo Parque Empresarial, mas também (neste com alguma importância) a zona industrial que se desenvolve ao longo da estrada municipal de acesso a Vila Verde da Raia.

 

Em tempos, pelo menos que eu recorde, anos 60 e 70, uma das suas principais actividades era a produção de leite com o qual abasteciam a cidade com leite fresco do dia. Era sobejamente conhecido o transporte de leite pelas famosas Leiteiras de Outeiro Seco, em cântaros de inox com recurso a burros e que logo de manhã cedo se dirigiam à cidade para o distribuir porta a porta. Costuma-se dizer que o leite de Outeiro Seco criou muita boa gente da cidade. Eu, fui um dos que ainda bebeu muito desse leite que religiosamente me era deixado à porta aquando habitante da Estrada de Outeiro Seco. Também a MODERNIDADE veio por termo a esta actividade da freguesia e aldeia, principalmente a partir do momento em que o Leite começou a ser comercializado nos actuais pacotes de litro ultrapasteurizado (ou lá o que é) pela AGROS, ditando o início da “morte” das Leiteiras de Outeiro Seco. Seria bom e pela certa todos aplaudíamos, que a tão apregoada TRADIÇÃO de Outeiro Seco prestasse uma homenagem a essas Leiteiras, algumas ainda vivas e mães de muitos filhos de Outeiro Seco. Em vez de aceitarem o que ninguém aceitou para enfeitar uma rotunda, refiro-me ao túmulo da rotunda da Escola de Enfermagem, aquele que está encimado pelas Chaves de Chaves, ficaria bem melhor e seria bem mais digna, uma estátua ou monumento que reproduzisse as antigas leiteiras de Outeiro Seco. Seria uma justa homenagem às mulheres de Outeiro Seco, bem aceite e compreendida por todos os que fomos ajudados a criar com o seu leite como por todos os que se recordam delas. E tenho dito.

 

Ainda antes de terminar uma referência a uma colectividade de Outeiro Seco que não posso ignorar – A Banda Filarmónica de Outeiro Seco a qual já teve direito a um post neste blog. Assim, em vez de umas palavrinhas para a banda, deixo aqui o link para esse tal post:

 

http://chaves.blogs.sapo.pt/59979.html

 

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Fotografia de Arsénio Pinto

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Tenho consciência de que com o presente post não agradarei a todos os Outeirosecanos, mas já estou numa idade em que não tenho de agradar a todos e vou mais pelas verdades nuas e cruas. Já não ajoelho ao passar da procissão. Gosto da aldeia de Outeiro Seco, penso ser uma das aldeias mais interessantes da proximidade de Chaves, mas penso também que poderia ser muito mais interessante, mais cuidada (principalmente no seu património do casario tradicional do seu núcleo bem como o Solar e, já agora o meio ambiente), mais interessada no seu ser, sem actores “pavões” imitadores dos da cidade, daqueles que olham em frente e só vêem o seu umbigo. Sei também que existe uma grande dinâmica na aldeia, mas infelizmente também sei que está minada por alguns interesses de brilho pessoal e politiquices que em vez de ir ao encontro de uma desejável união e interesses da população, a afasta e cria atritos entre ela. Já sei que nada tenho a ver com o assunto, mas, como tenho alguns amigos em Outeiro Seco (suponho que também alguns menos amigos) sofro com eles o sofrimento de quererem uma aldeia de Outeiro Seco melhor e, bem o poderia ser, pelo menos aproveitando os trunfos que têm dado à freguesia e que mais nenhuma freguesia do concelho tem.


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E por hoje é mesmo tudo, deixo apenas, também como habitualmente, os links para os espaços na NET da freguesia, onde aquilo que acabei de dizer também se reflecte um pouco.


Por ordem alfabética por causa dos melindres:


Aldeia de Outeiro Seco - http://www.outeiroseco.com/ - Uma página interessante e bem estruturada. Penso que foi o primeiro espaço de Outeiro Seco a aparecer na NET. Não apurei a autoria, mas assina como Kostinha. Pena, como todas as páginas, ser tão estática, pois prometia se por lá houvesse vida diária.


Altino - Blog do Altino - Um blog politicamente correcto. O Blog do antigo presidente da Junta, e também o blog da TRADIÇÃO e MODERINADE, alinhado com o poder autárquico instituído onde tudo corre sempre bem por Outeiro Seco e, um verdadeiro chat onde as comadres se juntam para conversar no seu dia-a-dia. Recomendo o chat do blog, é divertido, embora haja queixas de que só os comentários alinhados é que entram.


Berto AlferesOuteiro Seco Aqi - De autoria de Berto Alferes, com muita fotografia, boa e interessante, documentos de interesse e denúncia. Poderemos dizer, que ao contrário do blog do Altino, este, vai mostrando o que Outeiro Seco tem de bom mas também denuncia o que de mal por lá se passa. Sou fã deste blog, não o escondo, e recomendo-o, mesmo sem ter a diversão do chat. Um abraço para o Berto e boa recuperação.


Casa de Cultura Popular de Outeiro Seco - http://ccp-outeiroseco.blogs.sapo.pt/ - É o Blog da Casa da Cultura, por onde vão passando as suas ctividades.


Junta de Freguesia - http://jf-outeiroseco.webnode.com.pt/ - Página oficial da Junta de Freguesia.


E por último o blog http://velhariasdoluis.blogspot.com/ que embora não se dedique exclusivamente a Outeiro Seco, é nele que se pode ver e ler quase toda a história (apaixonada) do Solar dos Montalvões. É de autoria de Luís Montalvão, um dos descendentes da família do solar.

 


E “prontos”, para aqueles que reclamavam, finalmente Outeiro Seco passou por aqui, talvez não para agrado de todos, mas é tal como eu vejo a aldeia e freguesia, afinal tal como sempre o tenho feito até aqui, com a sua história, actualidade e com a minha visão pessoal.

 

 

 

 


29
Out10

Discursos Sobre a Cidade - Por José Carlos Barros


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Santos & Pecadores


um texto de José Carlos Barros

 

 

A questão não é a das memórias que tenho ou deixo de ter da Feira dos Santos. Porque a minha memória da Feira dos Santos vem da infância e da juventude, e a memória desses tempos não foi ainda capaz ao longo dos anos de trazer-me nada de que pudesse arrepender-me – incluindo os erros e os perigos, ou sobretudo isso. A questão, portanto, não é a da memória da Feira dos Santos: a dos carrosséis e das pistas de carrinhos de choque onde cheguei a fazer ultrapassagens de milagre nas curvas em U; a do fascínio das barracas, essa geometria entre a matemática dos quadros do Nadir e a perfeição abstracta dos fractais e da teoria do caos; a da gente tão diversa circulando nas ruas e nos terrados com sobretudos, mini-saias e legs ou samarras, e sacos de compras pendendo enquanto se dão boas-horas a esmo a olhar cores e padrões, a apreçar socos e cuecas, a comprar pijamas e capotes alentejanos; a do gado vagaroso, com esses olhos grandes a olhar-nos como se transportassem neles o tempo imemorial; e a dos bailes, como esse em que uma música me lembra ainda de não haver outra que se lhe possa sobrepor porque só eu, de um dos dois lados, a dançava; e a do polvo miúdo, e a do barulho das bolas dos matraquilhos contra a parede da linha de fundo, e a das cassetes piratas com a música pimba que calha tão bem, como nenhuma outra, com esta alegria e esta nostalgia de ser de novo a data de calendário da Feira dos Santos.


A questão, pois, não é a das memórias que tenho da Feira ou deixo de ter. A questão é que o mundo mudou. E a Feira mudou, ou está a mudar, ou vai mudar irreversivelmente, ou vai regressar a um pouco do que já foi não deixando de ser o que é. E essa, mais que a questão das memórias que temos dela, é que é a questão.


Nada sei, nada sabemos. O mundo vai mudando contra o nosso entendimento dos carretos que o movem. Nós assistimos às mudanças do mundo sem compreender que fios vinham de trás a ligar os fios que puxamos hoje.

Mudaram, além do mundo inteiro, e do entendimento que temos dele, as razões que justificavam a Feira dos Santos tal como cheguei a supor entendê-la: um mundo de gente vinculada à ruralidade, aos campos, à terra de aluvião ou das pastagens de gado, aos matos rasteiros ou aos mosaicos de hortas e nabais e bosques e agras de poila, à transformação dos produtos dos campos, às vinhas e aos pomares, ao comércio das panelas e dos tachos e da roupa de vestir – um mundo de gente que comprava e vendia, mercava, e se encontrava e se perdia numa prancha de pinho sob uma tenda de petiscos e vinho, e fazia os preços, e recomeçava, e se misturava às pessoas da urbe nessa complementaridade que separava as fronteiras para que elas se pudessem aproximar.

 

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Veio depois um tempo de diluição. Um tempo em que a urbe e a ruralidade se juntaram, aos sábados, nos mesmos espaços de shopping; um tempo em que os empréstimos e o consumo e os juros nos aproximaram a todos na mesma impossibilidade de futuro. Chamam-lhe crise. Podíamos chamar-lhe outra coisa.


Um país evoluiu do sector primário para o terciário sem passar pelo secundário. Chamaram-lhe sucesso. Em menos de uma geração, num ápice, eliminou-se a ruralidade sem transições, sem continuidades, sem contiguidades: e aos afastados deste movimento de modernidade acolheu-os a segurança social, o subsidiozinho insustentável, a inserção – o desaparecimento, a invisibilidade, o desperdício.


A Feira dos Santos, hoje, inscreve-se num tempo de contradições e rupturas. Entre um tempo que era e deixou de ser e deixámos de saber o que é. Os matraquilhos não fazem sentido no tempo da internet, o polvo cozido não faz sentido no tempo dos hambúrgueres, os socos não fazem sentido no tempo do asfalto nos caminhos de saibro que não há, os produtos agrícolas não fazem sentido num tempo em que vamos durante o ano aos hipermercados comprar ervilhas congeladas da maggi.


Ou voltará, tudo isto, a fazer sentido. Se a realidade concreta nos demonstrar que estávamos errados e que é preciso regressar a um modo diferente de compreender o mundo, além da abstracção dos títulos da bolsa, das taxas de juro, dos empréstimos de longo prazo e do pib. E tudo, então, provavelmente, voltará a fazer sentido, e a Feira dos Santos voltará a ser a Feira dos Santos que a memória guarda.


Sei lá. Sabemos sempre tão pouco. E talvez esta confusa crónica, de alguém afastado e dividido, seja a única coisa a não fazer sentido num tempo que foi e deverá ser sempre de exaltação, nostalgia e encontro, porque o tempo é novamente, mais uma vez, o tempo de ser a Feira dos Santos.

 

 

 

28
Out10

O Homem Sem Memória - 16


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Texto de João Madureira 

Blog terçOLHO 

 

  

16 – Uma noite, enquanto os outros seus camaradas vigilantes dormiam o sono dos néscios, naquele engano de alma subversivo e vesgo que a realidade não deixa durar muito, José sentiu que alguém mexia na porta do Centro de Trabalho. No meio do seu sono vigilante, pegou inconscientemente no revólver prateado que o SUV tinha a seu lado (ele que nunca tinha dado um tiro e abominava armas de fogo) e foi tentar apurar a origem do estranho ruído. Dirigiu-se à porta e escutou. O ruído era discreto, mas constante. Ainda a bocejar, abriu a porta e dois homens ficaram a olhar para ele espantados. Eram os varredores que com as suas vassouras feitas de ramos de arbustos tentavam varrer as folhas e os papéis que se acumulavam junto às escadas que subiam ao primeiro andar. Tanto o José como os varredores camarários ficaram assustados, mas os varredores quedaram mais atemorizados do que o José. Eles tinham nas mãos duas vassouras, mas o guardião da revolução tinha uma pistola que reflectia luz e medo. “Pedimos desculpa por tê-lo acordado, jovem camarada, mas não era essa a nossa intenção”, desculparam-se os varredores enquanto enfiavam o lixo no balde do carro de mão e se escapuliam dali numa espécie de trote humano em direcção à zona escura da praça.

 

Entretanto o SUV acordou e pôs-se a berrar que lhe tinham roubado o revólver. José entrou no bar e desfez o equívoco. Excitado, o SUV propôs irem ao Angola, que era um bar que estava aberto toda a noite, tomar o pequeno-almoço. A alvorada deu luz à realidade: as leiteiras, junto aos seus burros, distribuíam o leite pelas casas; os caixeiros dirigiam-se aos seus empregos e os estudantes que viviam nos arrabaldes caminhavam tontos de sono para o Liceu. A rotina diária absorvia a revolução. E os reaccionários nunca mais mostravam as garras. “Que puta de situação esta”, desabafou o SUV, “eu não aguento. Ou mato ou morro. Esta pasmaceira é que me dá cabo dos nervos. O Partido não se dispõe a tomar o poder e a reacção não se decide a vir para a rua lutar”.

 

Quando chegaram ao Centro de Trabalho, os dois UEC ainda dormiam a sono solto. Foi então quando o SUV pegou no revólver, aumentou o volume da telefonia e, enquanto se escutava “A canção é uma arma”, Martins, o SUV neurasténico, disparou um tiro verdadeiramente revolucionário na parede. Enquanto observava o buraco feito num tijolo, Martins gritou para o José: “A arma é que é a cantiga que os reaccionários vão ter de ouvir para aprender”.

 

 

17 – “Estamos fodidos, estamos fodidos, agora vai aparecer aí o Dr. Sebastião e pôr-nos a todos na rua. O funcionário já nos tinha avisado que não eram permitidas brincadeiras com armas de fogo dentro do Centro de Trabalho. (...)
 
(Continua)
28
Out10

“Num Centro Comercial”


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“Num Centro Comercial”

 

 

 

Entrámos num “xó.o-pingue» para tirar uma dúvida do «tèlèlé» e tomar um «pingo».

 

Virámo-nos para uma Loja Vodafone, mas já não entrámos    -   o «chefe de loja» estava sentado, junto à parede, com o cotovelo esquerdo apoiado na mesa baixa do balcão e com um telefone colado à orelha esquerda.

 

Olhámos com alguma demora. Não mexia a beiça. Deveria estar a escutar um longo “sermonídeo” do seu «director de loja» ou ……… da sua «garina».

 

Decidimo-nos  pelo «pingo», com prejuízo da dúvida.

 

Mal pusemos  um pé dentro da área da lojinha do “Café e Pastelaria”  e logo ficámos encostado ao balcão envidraçado.

 

Como não víssemos ninguém dentro, predispusemo-nos a esperar. Mas logo soou uma voz branda, vinda do lado esquerdo, onde havia outra vitrina, de tamanho mais reduzido.

 

- Diga! – ouvimos.

 

Olhámos.

 

E se a garota de um metro e cinquenta de altura e de quarenta quilos de peso não se levantasse nem dávamos conta de gente!

 

A chávena ficou a verter para o pires.

 

Foi preciso pedirmos um guardanapo e explicar que, desde o balcão até à mesa mais próxima onde nos íamos sentar, se verteria e se sujaria o chão, a mesa, ou o que calhasse.

 

Com sacrifício, a garota lá pegou em duas folhas de papel e pô-las sobre a vidraça.

 

Viemos para a mesa. Tomámos o «pingo». Demos continuação à (re) leitura de «El Manantial». A sombra que deslizou à nossa frente fez-nos levantar o olhar    _    o «chefe de loja» da Vodafone vinha, em passo lento, entregar o Jornal Desportivo à garota do metro e cinquenta!

 

Tupamaro

27
Out10

Feijoada com Santos 2010


Está a aproximar-se a festa grande de Chaves, a verdadeira festa flaviense – a Feira dos Santos.


É uma feira e festa que faz parte do imaginário e da tradição flaviense, a única que consegue (para além das religiosas como o Natal e a Páscoa) trazer  a Chaves os flavienses ausentes.


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Como todos os anos, faço por aqui os meus considerandos e renovo o sonho de uma verdadeira festa de Chaves, que já é grande, mas que poderia ser muito mais e afirmar-se mesmo como uma grande festa a nível nacional e internacional, mas… enfim, as ideias por aqui pouco mais conseguem de ir além dos bombos e concertinas…


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Mas vamos ao documento oficial que saiu da habitual conferência de imprensa de apresentação da feira. A Azul o documento, a sépia e itálico - após cada parágrafo - os meus considerandos, pois não resisto….

 

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A cidade de Chaves vai, mais uma vez, estar em Festa com a tradicional Feira dos Santos, sem dúvida um dos maiores eventos no plano sócio económico e cultural do Norte do país. O evento foi apresentado em conferência de imprensa, no passado dia 18 de Outubro.


Concordo, sim senhor, que esta é uma festa de tradição em Chaves. Agora quanto ao ser um dos maiores eventos no plano sócio económico e cultural do Norte do país…bem, lá diz a sabedoria do povo – “presunção e água benta, cada um toma a quer” – Como já disse atrás - poderia ser!...se…

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A Feira realizar-se-á nos dias 30 e 31 de Outubro e 1 de Novembro, mantendo-se a localização das actividades da Feira, à semelhança dos últimos anos.


Fico grato em saber que a feira se mantém nos dias 30 e 31 de Outubro e 1 de Novembro, conforme manda a tradição. Quanto à localização, há o senão da feira do gado ser em “cascos de rolha” e o concurso no fosso do Forte de S.Neutel, ou seja, separam a feira do concurso quando o público alvo é o mesmo…mas na falta de melhor, apenas faço o apontamento (lamento de muitos) sem nada a opor.

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A par das tradicionais “barracas” e dos stands de artesanato, os visitantes poderão contar mais um ano com a tradicional Feira do Gado, que decorrerá no Mercado de Gado de Chaves (na Zona Industrial, junto à Munível), com a 8.ª edição do Concurso Nacional Pecuário, que se realizará no fosso do Forte de S. Neutel como habitualmente e com o habitual Festival Gastronómico do Polvo.


Como do gado já falei, aqui só comento o sublinhado que vou repetir:  «a par das tradicionais “barracas”».


Concordo sim senhor, plenamente e ainda bem que a organização o admite, pois o programa da feira tem sido (todos os anos)  uma autêntica “barraca”, sem inovar, sem olhar ao essencial,  que seria promover a região e os seus produtos, a sua história, o turismo, a cultura, os sabores e saberes. Mas não, é preenchido quase na totalidade com as coisas que naturalmente acontecem na feira, só falta mesmo acrescentar alguns itens ao programa, como a venda de farturas no monumento, a venda de meias à dúzia na rua do estádio, o serviço de refeições nos restaurantes, a actuação musical dos índios no Bacalhau, a roupa contrafeita junto ao Forte de S.Neutel, a venda de calçado no Bairro dos Fortes e até a passagem do rio Tâmega por baixo das pontes flavienses, entre muitos outros itens que poderiam constar no programa, tal como consta a Feira Gastronómica do Polvo… e já agora, o que é feito da Feira Gastronómica do Presunto de Chaves!?  ou do Pastel de Chaves. Porquê o polvo à galega e ainda por cima caro “comó caralho”! – Desculpem o palavrão, mas não encontrei um termo que encaixasse melhor. Feira Gastronómica sim, mas com a nossa gastronomia, Há que abrir os olhos e Feira dos Santos seria uma boa oportunidade para uma feira gastronómica com as nossas iguarias. Mas enfim, já que a “barraca” é tradicional…

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Pelo terceiro ano consecutivo, o comércio tradicional irá sair à rua, associando-se aos “Santos 2010” através da iniciativa da Procentro – Associação para a Promoção do Centro Urbano de Chaves - “STOCK OUT – O Comércio Sai à Rua”. Esta acção pretende envolver o comércio local da cidade, através da colocação dos seus “stocks” na rua, no sentido de facilitar o seu escoamento, contribuindo também por essa via para a animação e dinamização dos negócios e do próprio certame.


Concordo plenamente! E depois, alguma iniciativa há de ter a Procentro para justificar a sua existência…

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O programa da Feira dos Santos 2010 conta este ano com algumas novidades ao nível da animação. A organização da feira decidiu-se pela realização apenas de animação de rua, com bombos, concertinas, gaiteiros, música tradicional e folclore, considerando por um lado o carácter tradicional da feira e por outro a instabilidade das condições climatéricas, que muitas vezes inviabilizam os espectáculos ao ar livre durante a Feira. Ainda no capítulo da animação, a organização envolveu este ano também as discotecas locais, procurando assim prolongar a animação da Feira noite adentro, nos estabelecimentos de diversão que a cidade oferece.

 

Aqui não sei se hei-de rir ou chorar (de pena e riso ao mesmo tempo) – novidades ao nível da animação!? – apenas animação de rua …por causa da instabilidade das condições climatéricas!!!! (boa!) Há aqui qualquer coisa que não bate certo. Então por causa do possível mau tempo não se fazem actividades ao ar livre, mas fazem-se na rua. Será que a animação de rua não é feita ao ar livre? Ou vão cobrir as ruas? Assim, põe esta ordem de ideias também se parte do princípio que se estivesse bom tempo garantido, as actividades eram de interior…..


Depois vem o envolvimento das discotecas…ao que parece, lá as convenceram a abrir portas durante os dias de Santos…pois tudo indica que nos anos anteriores fechavam durante este período dos Santos e se assim não foi, parece, pelo texto, parece… ingratos!

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O evento, designado por “Santos da Noite 2010” marcará a noite do dia 31 e irá contar com a participação de quatro discotecas locais: “Amiça Bar”, “Platz”, “Press Disco Bar” e “Vanity Club”, que oferecerão uma bebida e a entrada sem consumo obrigatório (em cada um dos espaços) a quem apresentar a pulseira identificativa da festa. A pulseira custará 5€ para compra antecipada e 7,5€ para quem optar pela compra no próprio dia e será vendida nas discotecas aderentes, ACISAT, Associação Chaves Viva, Procentro, na sede ACISAT em Valpaços (Av. 25 Abril), em Vila Pouca de Aguiar na “Foto Nova Era” (Urbaguiar) e em Montalegre no Quiosque Estrela Norte (Largo Luis de Camões).


Esta ainda é melhor, senão vejamos: “O evento, (…) irá contar com a participação de quatro discotecas locais (…) que oferecerão uma bebida e a entrada sem consumo obrigatório (…) a quem apresentar a pulseira identificativa da festa. A pulseira custará 5€ para compra antecipada e 7,5€ para quem optar pela compra no próprio dia” – Bom, afinal em que ficamos!?  – é de borla ou a pagar 5 ou 7€ por bebida!? Pois se oferecem uma bebida por 5 € , se calha até era melhor nem ter feito acordo nenhum com as discotecas, talvez ficasse mais barato. Já agora, para quem é o dinheiro das pulseiras?

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Bom, obrigado pelo texto oficial da feira, pois já há algum tempo que não tinha oportunidade de ler um texto cómico tão bom. O autor que se cuide, que vá fazendo as malas, pois qualquer dia ainda é contratado pelas “Produções Fictícias” para escrever para o “Gato Fedorento” ou para o Herman José!

 

Já agora um conselho (sem pulseira e tal como as discotecas não levo nada por ele): – Os responsáveis máximos pela feira deveriam começar a ler os textos oficias antes de serem publicados, o mesmo digo ao Sr. Presidente da Câmara, pois foi da página oficial da Câmara que o retirei. Não é por nada, mas quem fica mal no retrato, são sempre os responsáveis! E o povo, já sabemos, gosta de ver os seus representantes a sorrir no retrato.

 

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Já agora, fazer uma conferência de imprensa para dizer que tudo vai ser na mesma, com as habituais “barracas” nos dias 30 e 31 de Outubro e 1 de Novembro, até nem era necessário, pois isso, já toda a gente o sabe. Nas conferências de imprensa lançam-se novidades e a não ser pela fotografia para os pasquins da terra, a manter-se tudo igual, nem valia a pena fazê-la. Mas, enfim, já que têm os fatos e as gravatas, há que lhes dar uso. Estão perdoados. Ah! E desta vez não chamei pavão a ninguém – que conste em acta.

 

 

Mas adiante – Vamos finalmente ao programa e, a par das tradicionais “barracas”, às novidades anunciadas em conferência de imprensa:

 

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FEIRA DOS SANTOS – CHAVES 2010

 

Dia 30 de Outubro


10h30 – Arruada de Bombos e Concertinas

15h00 - Arruada de Bombos e Concertinas

16h00 – Sessão de Abertura, Biblioteca Municipal de Chaves

Open Internacional de Xadrez, Intalações da Toyota, Organização: Clube e Xadres de Chaves

 

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Dia 31 de Outubro – Feira do Gado


8h30 – Feira do Gado, Zona Industrial (Junto à Munivel)

10h00 – 8º Concurso Nacional Pecuário, Forte de S.Neutel

10h30 – Arruada de Concertinas

12h00 – Festival Gastronómico do Polvo, Estádio Municipal de Chaves

14h00 – Festival de Folclore, Largo General Silveira

15h00 – Arruada de Concertinas

15h00 – Chega de Bois, Forte de S.Neutel, Organização dos bomveiros Voluntários de Salvação Pública

23h30 – “Santos da Noite 2010” – Amiça Bar, Platz, Press Disco, Vaniy Club

Uma pulseira, quatro espaços, qautro bebidas (Pré-venda: 5€; Dia:7,5€)

 

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Dia 1 de Novembro – Dia de Todos os Santos


10h30 – Arruada de Gaitas

14h00 – Festival de Folclore, Largo General Silveira

15h00 – Arruada, Grupo Musical Tradicional

 

Todos os Dias


STOCK OUT “ O Comércio sai à Rua”

Feira de Stocks do Comércio Local

 

 

Deixando para trás a publicidade enganosa do cartaz, pois o designer recorre aos foguetes para ilustrar o cartaz, porque até o designer sabe que não há festa sem foguetes, vamos lá um comentário breve, pois o programa não merece mais.

 

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É sem dúvida alguma, desde que a Feira dos Santos tem programa, o programa mais pobre de todos os tempos. Bem espremidinho, é igual a nada, vergonhoso e até insultuoso à dignidade flaviense. É sem dúvida alguma a habitual “barraca” aumentada e agravada corrida com bombos e concertinas à boa maneira da festa de antigamente para povo ignorante aplaudir – só falta o vinho e regressavam todos felizes a suas casas. Só que, meus senhores, já estamos no século XXI e a coisa não vai lá com bombos e concertinas a toda a hora. De novidade mesmo, só o open de xadrez e, neste, sejamos sinceros, nada tem a ver com a feira, a tradição e muito menos com um ambiente festivo de feira. Não estou a ver ninguém a vir à feira para perder horas a ver um jogo de xadrez. O xadrez, tem o seu ambiente, calmo e silencioso por natureza.

 

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Nada mais digo a não ser, que talvez pudessem pedir emprestado o programa dos putos da UTAD, que sem meios e experiência, promovem em simultâneo a Semana Académica com actividades festivas que, qualquer uma delas, mete todo o programa da feira num chinelo quando esta feira, espante-se, é organizada e colaboram, a saber: a Câmara Municipal de Chaves, a ACISAT, a Chaves Viva, a Procentro e a Cooperativa Agrícola de Chaves – toda esta massa intelectual e associativa para trazer a Chaves Bombos e Concertinas, pois o resto (e até estes), fazem parte da feira naturalmente, pois mesmo que não fizessem parte do programa, aconteciam na mesma.

 

Há que ter vergonha e eu, como flaviense, sinto-me insultado com um programa vergonhoso (que nem digno de uma aldeia é), incompetente e insultuoso, pois se não o é, parece, que querem fazer de nós parvos.

 

Programa à parte, felizmente, a tradição manda mais alto e a Feira dos Santos continua a ser a grande festa da cidade de Chaves e da Região que, a não ser aproveitada pelos seus responsáveis para promover Chaves e o concelho, dispensava bem os disparates de um programa oficial, em que tudo que nele consta para além da tradição da feira secular (feira do gado, o comércio das barracas e as diversões/carrosséis), é areia para os olhos que em vez de animar uma festa, é um festival de desanimação.

 

Ai como eu gostava de elogiar um programa da Feira dos Santos!

 

 

 

 

Para finalizar deixo aqui o que tenho dito nos anos anteriores, sem alterar uma palavra, pois continua actual:

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Desde há anos que digo e continuarei a dizer que a Feira dos Santos é a festa por excelência e com tradição da cidade de Chaves e, que seria uma boa oportunidade para, a par da festa da feira que se faz sozinha, promover Chaves e a região, quer turisticamente, quer nos produtos de qualidade que a terra e a região produz, como também na recuperação dos afamados produtos (marca de Chaves)  que estão em vias de extinção (presunto de Chaves, olaria de barro preto, a cestaria, etc.), mas ainda o termalismo e sobretudo na gastronomia, a montanha a natureza etc.

A par da feira comercial e tradicional (que se faz sozinha), exigia-se a promoção de Chaves e um verdadeiro programa de festa, com empenho também das associações desportivas e culturais, do pólo da universidade, das escolas, etc. Bastava um bocadinho de imaginação e empenho dos organizadores, que afinal até seriam eles  os primeiros beneficiários dos “lucros” que esta feira poderia gerar.

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A par da feira, também a cultura, a arte, a música, a história tão rica que temos, poderia marcar presença, com exposições, colóquios e conferências, mas não… assim não pensam os organizadores e eu, tenho pena.  Destas cenas, a feira só conhece uma. Uma conferência de imprensa que por sinal se fez para dizer que na Feira dos Santos “há pouco a inovar” (1) . Está tudo dito, aliás nem sei para que se faz a conferência de imprensa, se tudo continua igual, pois a não ser pelos organizadores gostarem de sair no retrato, bem se poderia dispensar.

(1) – O texto é do ano de 2009. Este ano não foi dito que “há pouco a inovar” mas foi dito “A par das tradicionais “barracas”



 


Já agora, e é mesmo o remate final, se alguém quiser fazer um xixizinho nos espaços da feira, onde o pode fazer!? – Já sei que para os homens uma parede ou um tronco de qualquer árvore - serve (não deveria ser assim, mas no aperto que remédio) mas, e as mulheres!? Aqui nem sequer têm mar para dar razão ao poeta Ruy Belo no seu poema “Na Praia”:

 

 

Raça de marinheiros que outra coisa vos chamar

Senhoras que com tanta dignidade

À hora que o calor mais apertar

Coroadas de graça e majestade

Entrais pela água dentro e fazeis chichi no mar?

 

Ruy Belo in “homem de palavra[s]


 

Já chega! e o o mar, e o mar....

 

 

 

 

 


26
Out10

Pedra de Toque - A Feira dos Santos


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A Feira dos Santos

 

 

 

 

Os Santos são um pouco a minha varanda de infância, balcão do espectáculo para o palco dos Quadradinhos, onde se exibiam os Robertos e o homem da cabra, exímio equilibrista com garrafas que, com seus variados números, deleitava a pequenada.


Era o tempo do Xarabaneco, uma figura dançante, da Mulher Aranha, pasmo para os da cidade e para os da aldeia e do Gigante Negro, oriundo da selva moçambicana, o homem mais alto do mundo.


Os Santos eram o comércio engalanando janelas, varandas, portadas com uma extensa gama de produtos e artigos das mais diversas proveniências, transformando as fachadas nos grandes escaparates da feira.


O Concelho, com as suas gentes, descia à cidade desde a alba, para vender e comprar cobertores e peúgas de lã quentinha, a samarra para o marido, os cacos para a mulher, as botas para o rapaz, o brinquedo para o pequeno.

 

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O gado exibia-se tilintante pelas ruas do burgo, escoltado pelos criadores ufanos ou, já sol poente, por compradores eufóricos.


O bulício invadia praças e vielas, sombreado pela neblina, pelo fumo e pelo cheiro das castanhas bem assadas.

A noite caía ruidosa.


Lá em cima, ao Monumento, os carrinhos encetavam mais uma corrida, mais uma viagem, enquanto os carrosséis rodopiavam felizes, o perigo rondava no poço da morte e as farturas esparrinhavam no panelão de óleo, à espera da canela e do açúcar.

 

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Com o tombar das horas, os cafés enchiam para a consumação – balanço dos negócios – ao abrigo da geada ou da chuva persistente.


Na calçada, as rusgas deslizavam ao ritmo da concertina do tocador, quiçá, de Travassos, das botas cardadas ou das bengalas batendo o paralelo.


A música e o bagaço temperador impediam o frio de tocar nos ossos.


Era assim toda a noite, até a fadiga vencer.


Os Santos eram a festa que toda a cidade profundamente sentia!


Nos últimos anos iniciou-se o desquite entre a cidade e a feira, e pouco se tem feito pela reconciliação.

As duras críticas dos comerciantes aos responsáveis, vão sendo uma constante.

 

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O visitante lamenta-se, queixa-se da lama que pisa, do recinto pouco propicio para a diversão que procura, para a exposição que lhe interessa, da dispersão da loja ou da tenda para comprar, tantas vezes gato por lebre, quando levianamente se opta pelo primeiro feirante ao dobrar da esquina.


A cidade cresceu, aumentou!


É verdade que nos últimos anos, algo se tem feito pela tradicional Feira dos Santos, agora confrontada com o crescimento inevitável.


Ter-se-ão, no entanto, tomado todas as medidas necessárias em protecção do comércio local?


Que se tem realizado, de verdadeiramente atractivo, para estimular o visitante a voltar sempre?


Para quando um recinto próprio, relativamente central, cuidado e preparado para a instalação da feira?


Que se atinjam em breve estes desideratos, porque os Santos e a tradição que os envolve merecem ser a festa anual dos flavienses, a partilhar com os milhares de forasteiros que nesta época nos procuram.

 

 

 

António Roque

 

 

 

25
Out10

Quem conta um conto... O Especialista


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O especialista


Texto de João Madureira

Blog terçOLHO

 

 

 

O meu amigo F. é a educação em pessoa. Ou melhor, é um tratado ambulante de boas maneiras e um especialista em subtilezas. Ele expressa toda uma série de condutas e conhecimentos de um modo educado e cortês. É um mesuras, “um querido”, como o evocam as amigas da sua esposa, ou um “certinho”, um “barra”, como o distinguem os amigos. Ou um “merdas”, segundo a opinião da minha esposa. Mas a ela tem de se dar algum desconto, pois é muito crítica em relação aos meus amigos. O F. faz as coisas com uma urbanidade digna dos maiores encómios. E foge do antagonismo como o Diabo da Cruz. Ou o Deus verdadeiro da maldade e do pecado original.


O meu amigo dá-se bem com toda a gente. Elogia a conduta das pessoas bem-educadas, aplaude o bom gosto dos burgueses, enaltece o conhecimento dos sábios, exalta o estatuto social dos homens de leis e as individualidades do estetoscópio, gaba os professores eficazes e os bons alunos, eleva os presidentes de câmara que foram galardoados com a comenda no 10 de Junho, dá vivas à República, aplaude a coerência e a perseverança dos monárquicos que ainda o são depois de tantos anos de poder do povo, celebra a democracia, compreende e perdoa o Estado Novo, chora hiperbolicamente com a miséria dos pobres, emociona-se com o canto dos pássaros, com o nascer e o pôr-do-sol, com os discursos do Presidente da República, com as desculpas do Primeiro-Ministro, com as promessas do Líder da Oposição, adora jantar na companhia daqueles que apreciam, mais do que a qualidade dos manjares, a subtileza do acto cerimonial de comer uma refeição de acordo com a etiqueta e com as leis do protocolo, preza os fatos de lã e de linho de fino corte, entende as combinações das peças de um traje de cerimónia, sabe qual o nó de gravata que dá com os diversos tipos de colarinho, sabe lindos poemas de amor, quer eles sejam dirigidos à natureza, à fauna, à flora, ao amor em tempos de guerra, ao amor em períodos de paz, ao amor espiritual, ao amor carnal e ao amor estrito senso, distingue o bem do mal com muito rigor, apesar de liberal, distingue as classes melhor que um marxista-leninista, aprecia subjectivamente um bom estalinista, preza objectivamente um convicto capitalista, sabe rezar todas as orações dignas desse nome, conduz com um irrepreensível rigor, sabe combinar as meias com os sapatos e estes com as calças (por exemplo, com calças cinzentas devemos usar meias cinzentas, mas também podemos usar meia pretas e o cinto tem de estar de acordo com os sapatos, mas alguns especialistas defendem que o que deve estar de acordo com o cinto são as calças porque os sapatos ficam muito longe) e estas com o blazer e este com a camisa e com o cinto e com a gravata (ou vice-versa) e revela um especialíssimo gosto na escolha dos botões de punho, além disso consulta com apreciável delicadeza e elevado conhecimento técnico uma carta de vinhos, uma carta de águas, uma carta de whiskies, vodkas, ou conhaques, distingue um cordeiro do monte de um borrego do vale logo à primeira mordiscadela, caracteriza e destrinça os cogumelos pelo cheiro durante a cozedura ou no acto de os comer, que é quando todos os cogumelos se tornam mais ou menos indistintos, distingue pela pigmentação o salmão fumado de aquacultura do selvagem, diferencia as pessoas não pela cor, mas pela aura, distingue a carne de um porco bísaro de um de marca branca pela textura da carne, diferencia um pato mudo de um que grasna mesmo depois de mortos e depenados, distingue uma linguiça barrosã de uma de Chaves de olhos fechados, sabe quando comer, sabe quando beber, sabe quando deve interpelar alguém à mesa, sabe dizer uma laracha, sabe fungar delicadamente para um lenço, sabe pôr as mãos para beber, comer, urinar, acariciar um rosto, os seios, as coxas e o sexo da sua esposa, sabe beijar a sua mulher e a do próximo sem a cobiçar, sabe cobiçar a mulher do próximo dentro das regras definidas pela boa educação, sabe olhar sem ver, sabe observar sem olhar, sabe mesmo chorar sem sofrer, ou falar sem nada dizer…


Um dia enchi-me de coragem e pedi-lhe para me acompanhar no jantar de celebração do aniversário da minha boda. A sua presença era a modos que metade da prenda que resolvi oferecer à minha mulher. Pagava-lhe o jantar num dos melhores restaurantes do país se ele se dignasse acompanhar-me e assessorar-me em todos os aspectos relacionados com a etiqueta, o protocolo e as boas maneiras. Ele assim fez. Até lhe arranjei companhia: a sua mulher, que ele poucas vezes se aventura a tirar de casa. Tudo por causa da sua irrepreensível boa educação e etc.


Para não fastidiar os estimados leitores, passo, com vossa licença, por cima do especial pormenor da roupagem, não sem antes dizer que trajámos do bom e calçámos do melhor. Mas a qualidade esteve toda concentrada no repasto. Foi muito caro, mas, até por isso, inesquecível. Fomos a um restaurante da capital, de influência anglo-saxónica. Fora o pequeno detalhe do preço, a comida foi escolhida com o saber requintado do meu amigo F. Amigos destes há poucos. A sua erudição é fruto de quase uma vida inteira de perseverante estudo e de monitorização persistente dos conhecimentos adquiridos, quer através dos livros, quer através de filmes, quer através da internet, quer através da intuição. De facto, o meu amigo F. é muito intuitivo.


Depois de olhar para a carta, disse que ia pedir um prato diferente para cada um de nós. Assim éramos superiormente servidos e sempre podíamos, à falta de melhor tema para conversar, dissertarmos sobre a comida. “E a bebida”, lembrei eu. “E a também a bebida”, concordou ele. “Sim”, concordaram igualmente as nossas queridas e estimadas esposas. E se a água escolhida para a sua esposa foi tema de conversa por causa do interessantíssimo preço, então o vinho deu para conversarmos cerca de uma hora (que foi o tempo que esperámos pela comida) sobre a qualidade manifesta do seu odor, paladar, textura e cor. Sobre o preço nada dissemos, por pensar, eu, que era manifestação de mau gosto e ele para tornar evidente que a qualidade está invariavelmente ligada ao custo. E ali não havia especulação. O que se pagava pelo precioso néctar era o real valor e nada mais do que isso.


Para mim encomendou peixe-anjo e lulas ceviche com caviar dourado e empada de arenque fumado com molho de tomates verdes. Para beber como aperitivo encomendou Bellini rosé numa flute de espumante. Para a minha mulher pediu tapas de presunto pata-negra e veado com molho de iogurte, vegetais e pedaços de manga. Para acompanhar exigiu uma garrafa de tinto Caro, um vinho argentino que, nas suas doutas palavras de expert “oferece uma adorável profundidade de fruta e é altamente focado, detalhista e elegante". “Nem mais”, disse eu. “Concordo”, concordou a minha mulher. É por essas e por outras que a minha mulher se parece muito com o meu amigo. Os seus níveis de adesão com a opinião dos especialistas é assombrosa. Mas adiante. Para a sua mulher, e é nestes pormenores que se aquilata do amor e do carinho que o meu amigo dedica à sua esposa, pediu sashimi com queijo de cabra (e podem pensar que a razão que levou o meu amigo a pedir esse prato para a sua esposa foi a evidencia de ela, como transmontana, apreciar o queijo de cabra, mas estão enganados, ela é doida por sashimi, e olhem que estas coisas não se topam logo nos primeiros vinte e cinco anos de casados, só lá para as bodas de ouro, e isso apenas os mais argutos e documentados, como é o caso do meu amigo F.) e pato fumado com endívia e xarope de ácer. Para ele rogou, por causa do regime, vieira recheada e salmão selvagem grelhado com vinagre de framboesa e pêra-abacate. Para acompanhar os pratos da nossa dieta solicitou ao empregado uma garrafa de Sauvignon Blanc de 2005. No final encomendou um bolo, pequeno no tamanho, enorme na qualidade e colossal no preço. E para o acompanhar Perriet-Jouët reserva servido em Flutes Fantasy Cristal Atlantis.

Sabem, eu fui educado (enganado?) nos finais dos anos sessenta, uma altura em que o movimento naturalista, muito ao estilo de Rousseau, perguntava: “Porque não havemos de dizer aquilo que pensamos?” Mas numa sociedade civilizada têm de existir algumas restrições. Se seguíssemos todos os nossos impulsos, matávamo-nos uns aos outros.


E foi por essa razão que, quando me trouxeram a conta, paguei com o cartão MasterCard Platinum e comecei a implodir. Mas sempre com um sorriso nos lábios. A convivência com o meu amigo F. tem-me ajudado imenso na hora de expor os meus impulsos. Apesar de o querer matar (metaforicamente, é claro), cumprimentei-o efusivamente (também metaforicamente, claro está) na hora da despedida. Pespeguei dois beijos à esposa do meu amigo pensando que se ela fosse um porquinho mealheiro (alegoricamente, é claro) e visse transformada a comida que levava no estômago em dobrões de ouro (simbolicamente, claro está) era mulher para tilintar como uma slot machine quando dá o prémio máximo.


Quando cheguei à suite do hotel encomendei morangos e um champanhe mais em conta do que o servido no restaurante e fomos (eu mais a minha mulher) para os nossos aposentos. Quando chegou a hora de prestar o exame de aniversário, olhei para ela e disse-lhe que a amava cada vez mais. Ela perguntou-me, cuningulus aparte, se havia nas minhas palavras alguma ironia. Eu disse-lhe que não. Mas nós não devemos dizer sempre aquilo que pensamos. Metaforicamente, é claro.

 


 

PS – Dedicado especialmente a todos os maridos que, na companhia das suas queridas e estimadas esposas, vão comemorar no próximo Inverno as bodas de prata, ouro ou diamante.


Um presente requintado é sempre uma mais-valia para a vida a dois.


Este ano o que está a dar são as peças com pêlo e peles. Todos os criadores, por causa do aquecimento global, apresentaram também as suas criações em tecidos sintéticos. Mas se não é ecologista (alegoricamente, claro está), pode decidir-se por malas e sapatos, casacos e até vestidos com aplicações de pêlo natural. Pode ainda optar por cabedal em casacos e vestidos.


Por favor assente o nome dos criadores, pois é aí que reside o toque de classe. Para as peças com pêlo: Channel, Dolce&Gabanna, Lanvin, Vivienne, Westwood, Kenzo e Marc Jacobs. Para as peças em pele: Hermès, DKNY, Bottega; Venetta, Dior e Céline.

 

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