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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

31
Dez10

Crónicas Ocasionais - Fim de Ano


 

 

 

“Fim de Ano”

 

O fim do ano está aí.


Demora sempre trezentos e sessenta e cinco dias, com algumas vírgulas.


De vez em quando acrescenta-se-lhe um ponto e vírgula.


O fim da vida também está aí, a toda a hora e momento.


Aos que sofrem, aos que mais sofrem, parece, a uns, estar a bater à porta; a outros, demasiado demorado.


Não tem tempo certo   -   é um ponto final.


Sem parágrafo.


O fim do ano nem mudança de linha chega a ser.


Ano Novo, Vida Nova!   -  exclama-se.


Pobre suspiro,  que nem uma pintinha do «i» vale.


A Vida, desigual, seguirá sempre igual.


Poucos se darão conta de pouco mais passarem de marionetas na feira das ganâncias dos poderosos sem escrúpulos   -   príncipes da hipocrisia e ministros plenipotenciários da mentira.


“Ninguém se diverte tanto a imitar Deus» quanto os “diabos em figura de gente”!

Só o rebelde consegue dar grandeza à condição humana!

 

 

Luís Fernandes

 


 

31
Dez10

Discursos Sobre a Cidade - Por António Tâmara Júnior


 

Foto de Tâmara Júnior

 

 

 

NONA

 

 

Com catorze anos veio de uma recôndita aldeia do sul do distrito para as terras mais frias e, ditas ricas, do norte. Acompanhava sua mãe, sua irmã mais nova e seu irmão, deslocado em múnus pastoral.


Traziam a esperança de uma vida melhor e mais próspera.


E horizontes mais largos que as fragas do Marão não lhes davam, apesar da beleza agreste das suas vistas e dos enormes e policromados vinhedos que, à sua volta, todos os anos se lhes ofereciam em horto de canseiras.


Fizeram, nas faldas das fartas terras da Veiga, o seu lar, construindo sua casa.


Neste terrunho decidiram levar para a frente suas vidas.


As terras da Veiga tinham fama.


Fama que lhe vinha da história. Da situação geográfica privilegiada. Das suas gentes.


Terra de fronteira, o comércio e relacionamento entre povos era a sua especialidade.


Pelas histórias que se contavam e contam, assim era, ou parecia ser.


Nos anos 60 e 70, as terras da Veiga tinham aura, encanto e encantamentos. E comércio próspero. E fronteira cheia de “peliqueiros” endinheirados pela imigração clandestina. E pelo contrabando. E agricultura, suporte da maioria das actividades das gentes do mundo rural, ainda pujante. E bancos gordos das remessas das divisas das suas gentes, pobres de terras, à procura também de melhor vida. E meio urbano fervilhando de estudantes e militares (Caçadores 10 e Liceu), propiciando uma “movida” de fazer inveja a muitas cidades com pergaminhos, gabarito e fama na área da diversão e da animação.


Enfim, via-se que a terra tinha futuro. Que era uma esperança. E que havia que apostar.


Daí, em alguns espíritos, um certo ar de superioridade, de indiferença, quiçá até de desprezo, para com as gentes do sul. Clima este, mais patente e visível, nas instituições da Vila, capital do distrito.


Toda esta envolvente, era meio para cativar, seduzir. O amor próprio andava alto.


Com toda esta vivência, de auto-estima positiva, Nona, que, de tempos a tempos, vinha a norte passar férias com os seus parentes, foi seduzido. Também conquistado. Apesar de, no fundo, andar desconfiado. Pois sentia que tanta “fartura” não podia durar sempre. Porque não sentia ali o dedo do engenho, da arte, do esforço, do trabalho, da criatividade. Somente o usufruto fácil de situações facilitadoras. Portanto, fáceis.


Mas acabou por ficar também. O coração falou mais alto que a razão. E fez também neste cantinho o seu lar.


E, durante mais de trinta anos, deu o melhor que soube e tinha da sua juventude à terra onde repousam os restos dos seus entes mais queridos.


Hoje, Nona, já tio, entrando naquela idade que apelidamos de velhice, olhando de frente para o passado, resmunga consigo próprio e com os seus conterrâneos que não souberam, a tempo, usar da tradição e da história, da situação geográfica privilegiada, dos seus recursos agro-florestais e do subsolo e, fundamentalmente, das suas gentes, para se desenvolverem.


Porque ninguém desenvolve ninguém a não ser nós próprios.


Porque vivemos quase sempre na miragem de uma imagem fossilizada do que éramos, enquanto outros prosperavam. E passámos a vida a culpabilizar os outros e a pedir ajuda a terceiros.


Esquecemo-nos de olhar para o fundo de nós próprios e tentarmos descobrir que, numa quadra em que tanto se fala de nascimento e novo, urge sabermos investir num renascer e um novo homem flaviense. Que seja capaz de sair da mentalidade miserabilista, da apatia e do acanhamento. E que saiba estar mais à frente, para além da fronteira, investindo mais em si próprio e potencializando, pela inovação e criatividade, todos os seus recursos.


Eis, em suma, o resumo da conversa ontem mantida com o Tio Nona quando ontem me dirigi a sua casa para lhe desejar um Bom Ano 2011.


Bom Ano 2011 a todos!

 

 

António Tâmara Júnior

 

 

 

 

30
Dez10

O Homem sem Memória (26) - Por João Madureira


 

 

 

 

Texto de João Madureira

Blog terçOLHO

 

 

26 – O guarda Ferreira, cheio de fome, ou, melhor dizendo, sedento de um copito de vinho, levantou-se do degrau onde estava sentado, sacou do sabre e pôs-se a escarafunchar a fechadura da porta. Mas ela nada de ceder. Experimentou as janelas, mas também elas se recusavam a abrir. Começou então a suar e a dizer asneiras. Depois pôs-se aos pontapés à porta. E só não a deitou a baixo porque o José lhe lembrou que estava fardado de GNR e um agente da autoridade não arromba portas, principalmente a de sua casa.


Estava ele a tentar enfiar novamente o sabre na frincha da fechadura quando apareceu a Dona Rosa que começou logo ali nas escadas a insultar o marido por causa da violência dos actos que o encontrou a praticar. Os filhos pequenos que a acompanhavam começaram a chorar, menos o João, que era o mais valente, pois mal a viu a tratar mal o pai e o irmão mais velho desatou a arranhá-la como um gato enraivecido. A Dona Rosa tentou defender-se enfiando o seu filho de um ano no colo do pai que, não tendo tempo de guardar a arma branca, a deixou cair ao chão. O José, solícito, apanhou a arma do pai e tentou enfiá-la na bainha. A mãe, não tendo em quem descarregar a fúria, pregou duas chapadas no filho mais velho, avisando-o que não lhe permitia que se aproveitasse da presença do pai para a ameaçar com o sabre, ao que o guarda Ferreira retorquiu dizendo que a intenção do filho tinha sido a de guardar a arma para que não se danificasse ou não ferisse alguém, pois se a arma era sua o culpado por qualquer ferimento por ela provocado era o legítimo proprietário que, no caso, era ele mesmo, quer a utilizasse o próprio ou alguém por ele e que sendo assim o José tinha procedido como o menino avisado que era e que ela é que tinha prevaricado pois não estava em casa a tempo e horas de fazer o almoço para o marido e para os filhos, que era a sua obrigação de dona de casa.


Armou-se logo ali uma discussão nada abonatória para o bom nome de uma família de um GNR, onde até as galinhas que debicavam alguns restos de comida no quintal foram molestadas com os pontapés do José, que se viu privado do almoço, bem assim como o seu pai, que teve de ir para a patrulha da tarde com o estômago vazio.


À falta de melhor, e porque os filhos ainda eram bem pequenos, a Dona Rosa insultou o vizinho Virtudes, o seu escravo adoptivo, e deu porrada no Leão, que gemeu como um ser humano. Por fim, a sensível Dona Rosa pôs-se a chorar, perante a indiferença um pouco fingida do Virtudes, a insensibilidade premonitória dos filhos e a verdadeira aflição do cão, que não deixou de lhe lamber as mãos enquanto a sensível Dona Rosa destilava lágrimas tão sentidas como as que viu chorar a Mariana, a filha do ferreiro que se lançou ao mar abraçada ao cadáver do seu amado Simão que só tinha olhos para a Teresa, no filme Amor de Perdição exibido no Café Terra Fria.

 

27 – Mas se o dia foi patético para a família Ferreira, a noite revestiu-se de dramatismo.


O guarda Ferreira chegou a casa já tarde, cansado, esfomeado e, pior do que isso, sedento de vinho. Toda a tarde a passou a água, ele que era criatura para beber dois litros ou mais de tintol, e apenas fumou dois cigarros, ele que era homem (...)

 

(Continua)

29
Dez10

A ultima feijoada de 2010


 

 

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Dia 29 de Dezembro de 2010, dia de S.Tomás Becket e de feijoada em Chaves. Dia da última crónica de feijoadas do ano de 2010. Seria tempo de fazer por aqui a análise do ano que termina e de preparar a entrada para o ano que se aproxima, mas há pouca vontade de fazer análises a um ano que se quer esquecido e distante e muito menos vontade para prever os maus dias que aí vão vir, pois é com todo o pessimismo do mundo que adivinho ou prevejo o ano de 2011…mas, enfim, há sempre um restinho de esperança.

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Cada vez mais estou convencido que a verdadeira escola da nossa aprendizagem é a escola da vida e dos anos de vivência. Fui educado da maneira que os meus pais e os professores sabiam educar. Não foi a educação perfeita, mas mesmo sem o ser, foi uma educação à qual estou grato. Uma educação baseada nos valores, no valor da palavra, da verdade, do respeito, da disciplina. Não foi muita rigorosa em coisa de livros e dos seus conteúdos mas foi em valores e saberes e sabores da terra e da vida,  em que o pão que se comia à mesa tinha o especial sabor de lhe conhecermos o amanho da terra,  a sementeira, de assistirmos ao seu crescimento, de esperar pelo seu amadurecer, do árduo trabalho de colher e escolher as sementes, da sua moagem, da sua mistura e amassar à mão, do aquecer do forno, das rezas e bênçãos, do sabor da bica, do cheiro (aroma) do fumo e cozedura…todo um ritual e trabalho que fazia com que o pão à mesa merecesse a vénia de quem o merecia e saboreava como uma dádiva de Deus… São coisas difíceis de explicar aos putos de hoje ou a quem sofre de amnésia para quem o pão nasce nas padarias tal como a água nasce na torneira lá de casa…

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Pensamentos e valores da vida caídos em desuso, principalmente o do valor da palavra (dita ou dada) e o da verdade, valores que os políticos actuais desconhecem ou que conhecendo, (porque são da mesma geração que a minha) fazem tábua rasa sobre eles e recorrem à mentira para ser eleitos, sendo a mentira um mal necessário que nunca deve ser posta em causa e antes deve ser ignorada e perdoada, que se vitimizam com a verdade e realidade,  orquestrando-lhes engenharias de contra-poder, ingratidão e ignorância onde o justo é pecador, é abusador, é culpado…

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Enfim, se a minha educação o permitisse, mandava à merda toda esta cambada de políticos, mentirosos e crápulas sem valores, mas como fui bem educado e respeito os valores que me incutiram, não os posso mandar à merda, mas também não vou com eles à missa…

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Enfim, não há análise possível a um ano de 2010 que se quer esquecido e muito menos previsões para um ano de 2011 que se quer que passe bem depressa. Mas, tal como disse no início, há sempre um restinho de esperança. Esperança na memória das pessoas de bem, esperança em que as pessoas deixem de vez as palas que os acompanham e deixem de seguir o carreiro dos maus pastores, esperança que a verdade seja valorizada, esperança por um futuro que nem sequer desejo melhor, apenas esperança por um futuro. E que fique aqui registado para memória futura, para os meus netos e outros netos (se é que os meus e nossos filhos vão ter condições de ter filhos) que nem todos ajoelham ao passar da procissão da geração rasca dos actuais políticos e dos seus seguidores que comungam com o punho no peito e dizem ámen! Que fique registado que eu não vou por aí, não quero ir por aí, que prefiro seguir só que mal acompanhado.

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Mesmo assim, um bom ano de 2011 e prometo-vos continuar com as feijoadas das quartas-feiras, mesmo que sem carnes e tripas, mesmo que apenas feita de feijão, prometo guardar os temperos da horta para que nunca lhe faltem.

 

 

 

 

 

29
Dez10

Mudar de Passeio


 

 

 

Mudar de passeio


 

 

O José não gosta nada de mudar de passeio. Diz que tem medo de atravessar a rua. Que lhe desestabiliza o sistema nervoso e lhe mexe com a libido. Ele tem a libido um pouco estragada. Coisas da juventude. O José foi à guerra e quem vai à guerra dá e leva. E ele levou mais do que deu. Por vezes fica com os olhos turvos e começa a chorar. Nesses dias não sai de casa. Nem do quarto. Nem da cama. Desenha fios de metal e aranhas muito coloridas. Pode passar assim dias e dias alimentando-se apenas de iogurtes naturais e fruta cristalizada. Também lê revistas científicas, mas lê os artigos do fim para o princípio. Depois traduz alguns para o árabe e no fim rasga-os. Sabe tocar piano, andar de bicicleta e assobiar com os dedos. Toca piano só a partir das cinco da manhã e apenas até ao amanhecer. Nunca o faz fora deste intervalo de tempo. Tira muitas fotografias às suas mãos e depois amplia-as muitíssimo para observar os poros e os pêlos da epiderme. Nos dias de chuva mia muito. Nos dias de sol muge como os bois do barroso. Na sua quinta da aldeia tem uma zebra manca que comprou a um circo. Escova-a todas as semanas e passeia-a pela aldeia. Também toca muito bem cítara. Mas os amigos não gostam deste tipo de música. Coisa que o irrita muitíssimo e o faz estalar os dedos. Costuma sair nas noites de geada e passear um galo de briga cego que comprou a um mexicano de férias em Espanha. Costuma dar-lhe pipocas picantes e levá-lo ao Miradouro de S. Lourenço para lhe mostrar a cidade de C. Nesses dias o galo canta que se farta e ele acompanha-o à guitarra. O José é muito habilidoso com as mãos.

 

 

 

 

 

Aprendeu a fazer croché e confecciona lindos carapuços para árabes e judeus. Escreve-me cartas enormes com letras desenhadas a rigor e isto vivendo nós apenas a cem metros um do outro. E envia-mas sempre em correio azul. São cartas que falam do seu amor pelos passeios, pelos candeeiros, pelos bancos de granito, pela poesia chinesa antiga, pelas flores da urze e da carqueja, pelo musgo dos muros e pelos reflexos do céu nas águas do T. Ontem compôs uma música muito bonita para o seu galo cego.Hoje tocou-a para mim. Eu até chorei. Depois fomos os dois, sempre pelo mesmo passeio, até ao rio, descalçámo-nos e molhámos os pés nas suas águas tranquilas. Então ele tirou um grilo do bolso e pediu-lhe que cantasse uma ária de Mozart. O grilo não se fez rogado e deslumbrou todos os presentes. O mundo é, por vezes, um lugar estranho, mas encantador.

 

João Madureira

Blog terçOLHO

 

28
Dez10

Pedra de Toque - Carlos Pinto Coelho


 

 

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Carlos Pinto Coelho

 

 

Foi um grande jornalista.


Nos tempos que correm não é fácil encontrá-los.


Sobretudo com a independência, com a isenção e com o elevado nível cultural que ele possuía.


Lembro-me dos anos conturbados do post 25 de Abril e desde esse tempo recordo a forma isenta como ele intervinha, como ele noticiava, como ele entrevistava.


Durante cerca de 10 anos manteve em antena, mais precisamente na RTP2, o programa ACONTECE.

 

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Pela primeira vez em Portugal, os livros, as artes e a cultura em geral, tiveram um programa diário perceptível por toda a gente.


O fim do formato em 2003 provocou enorme polémica.


Amargurado, injustiçado, não desistiu do projecto que manteve ás suas custas na rádio, através de uma cadeia de rádios locais.


Ultimamente entrevistava na RTP Memória.


Por curiosidade, com o brilho e a clarividência habituais, na sua última aparição televisiva, entrevistou o nosso conterrâneo, o ilustre pintor Nadir Afonso.


O desaparecimento de Carlos Pinto Coelho no passado dia 15 de Dezembro, foi uma grande perda para o jornalismo e para a cultura em Portugal.


É sempre triste e doloroso, vermos os bons partirem.


Mas, ACONTECE

 

António Roque

 

 

 

 

Nota:

 

Sobre Carlos Pinto Coelho

 

http://www.acontece.net/2/index.htm

 

http://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Pinto_Coelho

 

 

 

27
Dez10

Quem conta um ponto... O mictório e a matança


 

 

 

 

O mictório e a matança



Texto de João Madureira

Blog terçOLHO

 

 

Fui para a matança com a preocupação estampada no rosto. Até o F. deu conta. “O que é que te desassossega tanto?”, perguntou ele a sorrir. Mandei-o passear, está claro. Pus-me a olhar para a máquina fotográfica como se lhe faltasse alguma peça. Mas não faltava lá nada. Era só impressão. Por vezes dá-me para estas coisas. Por exemplo, o mictório direito da casa de banho masculina do Modelo está avariado vai para uns meses. E aquilo incomoda-me. Não é que o terceiro mictório seja assim tão necessário, ou importante, na hora de aliviar a bexiga. Com os dois restantes, os cavalheiros que lá se deslocam para fazerem as suas micções conseguem despachar-se sem que se formem bichas. Mas o que me inquieta é que seja o terceiro mictório do Modelo. Se fosse o segundo mictório de um tribunal, o quarto de um centro de saúde, ou o primeiro de uma escola, vá que não. São instituições de serviço público, pagas com os nossos impostos e onde o dinheiro não abunda e a gestão financeira é rigorosa. Mas o Modelo, meu Deus, o Modelo não tem essa desculpa. O Modelo é uma referência comercial, económica e social de cariz privado com prestígio nacional e internacional, com lucros fabulosos. Será que não consegue arranjar alguém para consertar o mictório direito da sua superfície em Chaves? Eu não acredito. Estou em crer que o lucro da venda de vinte cadernetas da Popota dá e sobra para pagar o conserto do já anteriormente referenciado mictório. Por amor de Deus, consertem-no. Esse pequeno sinal de desleixo e incompetência pode deitar por terra a boa imagem que possuem na nossa comunidade. Eu sei que as casas de banho estão sempre limpas, que os produtos estão sempre bem expostos, que as prateleiras se encontram quase sempre repletas de promoções, de boas promoções, que têm descontos em cartão, que oferecem descontos sem ser em cartão, que vendem três pela importância de dois, que vendem polvo de qualidade por quinze euros o quilo, que vendem bacalhau com uma razoável relação entre a sua qualidade e o seu valor, que vendem o quilo da carne a preços difíceis de encontrar no comércio tradicional, que vendem brinquedos pelo preço de chupa-chupas e que oferecem vales de desconto aos clientes. Sei que limpam constantemente o chão do edifício, que trocam qualquer produto que esteja deteriorado, que alguns produtos quase os dão para as pessoas aí se deslocarem frequentemente, pois o que o Modelo mais aprecia e privilegia são as visitas dos seus estimados clientes, nem que seja apenas para ir tomar um café e comer uma nata, que fazem parte de uma outra promoção e que também ela pode ser acumulada em cartão. Sei que fazem feiras do vinho, do queijo, da chouriça, do presunto e do peixe onde só não compra quem for parvo ou então adepto do comércio tradicional. Sei que o pessoal é competente, simpático, trabalhador e pago a horas. Sei que os sindicalistas se queixam dos baixos salários praticados pela Sonae, mas os sindicalistas também se queixam por tudo e por nada. Sei que o parque de estacionamento é bom, que os carrinhos das compras são robustos, que os senhores da segurança dispensam muito bem a polícia. Sei que a loja book it tem bons livros com um desconto permanente de 10%, que disponibiliza gratuitamente jornais e revistas aos seus clientes mais assíduos, vizinhos ou reformados, publicações que as pessoas lêem em pé ou mesmo sentados em cadeiras confortáveis. Sei que a Modalfa faz promoções que metem as dos ciganos e as dos chineses num chinelo. Sei de tudo isto. Mas o pormenor do mictório não me sai da cabeça. Ali está ele para lembrar às pessoas que até a maior superfície comercial pode ter os seus defeitos. Dizem que a arte está nos pormenores. E que a qualidade nos detalhes. Quem persegue a perfeição não pode esquecer que um simples mictório avariado pode deitar por terra todo prestígio acumulado ao longo de anos a bem servir os consumidores portugueses. Então a Sonae consegue alimentar quase metade da população portuguesa, consegue organizar concertos e mega piqueniques com o Tony Carreira e é incapaz de consertar em tempo útil um mictório de um seu estabelecimento em Chaves? Eu sei que estamos em crise, mas não acredito que ela seja tão grave que não permita disponibilizar algumas verbas para o conserto de um mictório em terras de Aquae Flaviae. E a desculpa de que a mão-de-obra escasseia em Portugal é mais um mito a juntar ao do D. Sebastião. Dados oficiais dão conta que 550.846 é o número de desempregados em Portugal e quase 60% são do sector terciário, sobretudo das áreas das actividades imobiliárias, administrativas e serviços de apoio. Mas 18.929 foram as ofertas de emprego por preencher no final do mês de Outubro de 2010. A maioria das ofertas registadas nesse mês relaciona-se com postos de trabalho na área das actividades e serviços a retalho de hotelaria e restauração e construção civil. O problema é que anda aqui falta de informação. Há mictórios avariados, existem desempregados e há ofertas de emprego que ficam por preencher. Na opinião do senhor secretário de Estado, Valter Lemos, isto é possível devido a um desfasamento geográfico muito complicado. Pois há regiões que não têm gente suficiente para as necessidades. Ora como Portugal, mesmo não parecendo, é enorme, as pessoas não se podem deslocar. Por isso as ofertas de emprego ficam por preencher. São os custos da nossa dimensão. Os custos do desenvolvimento. Estou em crer que se o conserto do mictório do Modelo pudesse ser feito por computador e via internet, ele já lá estava a cumprir com o seu destino. Assim não. Fica mais uma vez provado que a informática e as novas tecnologias não resolvem tudo.


Agora que já desabafei posso finalmente descrever (fotografar) a matança do porco da Abobeleira. O porco ali vem, fazem-lhe uma pega. (Fotografias). Ele berra, foge, berra, foge. (Fotografias). Os homens vão atrás dele, pegam-lhe nas patas, prendem-lhe o focinho com uma corda e levam-no para o banco. (Fotografias). Ele berra, berra cada vez mais. (Fotografias). Os homens riem e deitam-no no assento. (Fotografias). A senhora do alguidar aproxima-se, o matador faz um pequeno corte experimental, aponta a faca e faz força. (Fotografias). A faca entra pela carne adentro em direcção ao coração. (Fotografias). Os homens riem, o porco berra, o sangue brota da garganta do animal com força, parece uma torneira aberta. (Fotografias).  Um pouco mais de energia na faca e o animal começa a dar sinais de fraqueza. (Fotografias).  Berra mais um pouco e o sangue continua a brotar com intensidade. (Fotografias).  O alguidar grande fica meado. Dali vai para o pote que já ferve. (Fotografias). O porco é agora chamuscado, raspado e lavado. (Fotografia). Depois de bem barbeado, é aberto, estripado e pendurado. (Fotografias). Corta-se a cabeça e os pés e ali fica até ser desmanchado. (Fotografias).  Os Lumbudus vão agora dar um passeio, passam pela barragem romana, pelo moinho, pela ribeira. Regressamos. Prepara-se o sangue, os rins e o fígado. (Fotografias). É o almoço. Come-se, bebe-se, fala-se, convive-se. Fotografa-se ainda mais. Vamos tomar café e passamos pela casa do Nel onde comemos uma sopa. (Fotografias). Passamos a tarde a falar e a fotografar. Logo mais aparece a vereação Municipal e vários presidentes de junta. (Fotografias). Come-se a feijoada e as febras assadas e bebe-se mais um pouco. (Fotografias). Posteriormente entram em cena os músicos. Mais fotografias, risos, conversa, mais fotografias, música, conversa. Está na hora de ir. Cá fora ainda nos entretemos mais um pouco a fotografar nuvens de fogo produzidas por alguém que lança no ar as brasas da fogueira que arde desde a manhã. Tudo está bem quando acaba em bem.


 

PS – Agora que aí vem 2011, compre para si ou para oferecer, isso fica à sua inteira responsabilidade, para homem, o livro “Golfe”, um cachecol Fred Perry, umas luvas Camel, um fato Ermenegildo Zegna, um colete Ermenegildo Zegna, uma gravata Ermenegildo Zegna, uma camisa Ermenegildo Zegna, o livro “Tudo Isto é Fado”, uns óculos Dolce & Gabanna e uns botões de punho Dunhill.

 

Para as senhoras aconselhamos: babydoll Ebony&Ivory, mala Louis Vuitton, óculos Funny da Alain Afflelou, vestido Deprés Nuno Baltazar, perfume Nina Ricci, lingerie Triumph Merry Sparkle e sapatos Pedro Garcia.

 

26
Dez10

Aldeias de Xisto - Chaves Portugal


 

 

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Claro que aqui pelo nosso concelho de Chaves o granito é rei e senhor e, não fosse o raio da modernidade e introdução de novos materiais na construção civil, ele ainda continuaria a imperar como uma imagem de marca das nossas construções, quer nas rurais com o pedreiro a mostrar também a sua arte, quer urbanas onde o canteiro se mostrava como um verdadeiro artista.

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Vale de Zirma - Vilar de Nantes

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Nada tenho contra os novos materiais, antes pelo contrário, pois se bem aplicados, quer esteticamente quer construtivamente,  nas casas, prédios e cidades, todos temos a ganhar, em conforto, qualidade e beleza, mas também para que tal aconteça, têm de ser aplicados e conjugados com arte, com a mesma arte que um canteiro esculpia as suas peças que ainda hoje e sempre, nos deixam espantados em apreciação. Nada tenho contra os novos materiais desde que aplicados com arte e conciliados com os materiais tradicionais, principalmente no meio rural onde além da estética e todos os novos modernismos há que respeitar e preservar também uma identidade, uma passado e todos os valores rurais. Mas isto poderá ser tema de conversa mais demorada, pois hoje até nem quero falar de novos materiais, nem de granito, pois é de xisto que vos quero falar.

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Aveleda - S.Vicente da Raia

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Já algumas vezes tenho referido aqui as aldeias de xisto e, geralmente quando se fala em aldeias de xisto, o nosso pensamento e imagens voam para bem longe do concelho de Chaves, pois por cá, tal como dizia no início do post, é o granito que se impõe. Mas, tal como por Chaves temos aldeias tipicamente barrosãs, também temos algumas aldeias de xisto, ou toda uma freguesia, como é o caso da freguesia de  S.Vicente da Raia onde todas as suas aldeias, Aveleda, Orjais, Segirei e a própria sede, mostram ainda as suas casas de xisto, principalmente em Aveleda ou a parte antiga de Orjais e de S.Vincente, excepção só para Segirei onde, embora as casas de xisto ainda existam, não são as mais representativas.

 

Poderá parecer estranho que o xisto tivesse assim invadido a freguesia de S.Vicente, mas conhecendo a freguesia e os seus vizinhos além do nosso concelho, a estranheza desvanece.

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Vale de Zirma - Vilar de Nantes

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Já em Vale de Zirma, aqui, quase a entrar pela cidade adentro e quase no seio de Vilar de Nantes, já é de estranhar que a quase totalidade das suas construções sejam em xisto, mas aplicação diferente em relação a S.Vicente da Raia, e se atentarmos a um segundo elemento que entra como complemento ao xisto e na construção das casas, a argila, também aqui aquilo que inicialmente se apresentava como estranheza, começa a ter explicação, não fosse Vilar de Nantes a terra do barro. Fica no entanto sem explicação a aplicação do xisto, pois também com o granito a argila poderia ser aplicada.

 

Pois são estas curiosas e belíssimas casas de xisto que hoje vos deixo por aqui.

 

 

26
Dez10

Concerto de Natal pelo Coral de Chaves


 

 

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Se o Domingo de hoje pode ser aproveitado como mais um dia em família ou para regressar nas calmas a casa, para os que ficam cá pela cidade também pode ser aproveitado para outras coisas, como mais logo pelas 21h00 assistir ao Concerto de Natal que o Coral de Chaves, como já vem sendo tradição,  promove todos os anos na Igreja de Santa Maria Maior de Chaves (Matriz), no qual, sob a direcção do maestro Nuno Costa, entre outras obras, serão interpretadas canções tradicionais de Natal, com arranjos para coro de Fernando Lapa e de Fernando Valente e a Messe nº 6 "aux cathédrales" de Charles Gounod.

 

Fica a sugestão para a noite de hoje.

 

 

24
Dez10

Discursos Sobre a Cidade - Por Tupamaro


 

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“…FILHOZINHA de GERIMUM!”

 

 

Hoje é Dia de Consoada.


Não há tempo para serdes interrompidos com saudosas conversas, quanto mais com «Discursos»!


Andais todos «a mata – cavalos», para que, logo à noite, nada falte na vossa mesa, nem no íntimo do peito (e nos sapatinhos) daqueles a quem quereis bem, de todo o coração.


O «Discurso» que hoje nos compete deixamo-lo-vos nos nossos votos de BOAS BESTAS, apenas, e no último poema, inédito (feito há dias), pelo longevo e distinto Flaviense EDGAR CARNEIRO:


 

N A T A L

 

Todos os dias nascem

Neste mundo

Meninos e meninas

Que passados os tempos

Nunca serão lembrados

Salvo rara excepção

De génio humano.

Mas no santo Natal

É outra a natureza,

Pois trata-se de Alguém

Que morre em cada ano

E renasce mais próximo

Em Belém.

 

Edgar Carneiro – Dezembro de 2010

 

 

 

Ah! E se não é pedir-vos muito, trincai uma filhozinha de gerimum (que saudade!) por nós!

 

 

 

Tupamaro


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