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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

31
Out12

Feira dos Santos 2012 - Segunda Volta


 

Santos são Santos e por aqui, enquanto duram, fazem passagem obrigatória nem que fosse e só pelos momentos felizes que ao longo dos anos de criança e adolescente por lá passei.




Mas os Santos são muito mais que as boas recordações de criança,  pois fazem parte da alma flaviense, tal como o Tâmega, a Ponte Romana, o Castelo, as ruas e vielas da velha cidade, o Brunheiro sempre presente ou até mesmo o nevoeiro. Os Santos também correm nas veias dos flavienses.




Polémico como sempre, é certo. Faz parte da sua tradição ser polémico e é bem certo que poderia ser muito melhor, ó se podia, mas para tal seria necessário pensar neles para além da feira que acontece sozinha por tradição, com programa ou sem programa, com cabeçudos ou sem eles e poisem onde poisem, desde que seja na cidade, ano após ano eles acontecem como a nossa festa flaviense, a única por sinal e também a única que, para além do Natal, consegue trazer a Chaves muitos flavienses ausentes.




Certo também que a fama e a tradição da Feira dos Santos poderiam estar aliadas a promoção e desenvolvimento da cidade, ou pelo menos contribuir para tal, mas para isso seria necessário um trabalho sério que teria de ir para além de vedar o trânsito automóvel nas ruas, da mudança constante de poiso, da marcação do lugar das barracas e da cobrança do espaço que ocupam, além de, de uma vez por todas fazerem dela a verdadeira festa da cidade, mas não basta dar-lhe o nome de Festas da Cidade, pois para ser festa, além da festa que já é, teria de ser uma verdadeira festa.




Assim, com a abolição do Feriado do dia 1 de novembro prometido a partir do próximo ano, vejo com alguma preocupação o futuro da Feira dos Santos, pois temo que a tradição seja fortemente abalada e, mesmo que passem o 1 de novembro a feriado municipal (em detrimento do 8 de julho como já por aí se vai falando), no restante Portugal continuará a ser dia de trabalho,  o que impedirá muita gente (incluindo flavienses ausentes) de vir por cá, e depois, penso que não será muito pacífico passar a  festa uma festa que já é nossa, embora o 8 de julho também seja contestado por muitos, continuará a faltar-nos a festa de verão e, não vejam na festa de verão apenas a festa, mas antes, isso sim, mais uma oportunidade para promover a cidade e a região em prol do seu desenvolvimento. Claro que primeiro seria necessário fazer os trabalhos de casa.




Mas agora o que interessa são mesmo os Santos deste ano que, embora com os nossos bolsos meio depenados, continuam a ser Santos e por isso hoje lá vamos à feira do gado ou ao concurso, às barracas onde várias culturas se cruzam, às novidades e modas deste ano, à festa da rua, ao cumprimentar de amigos que há muito não vemos, aos Santos, apenas aos Santos onde tudo continuará a acontecer.




E depois, claro, temos os aromas da feira, farturas e castanha assada e, já que não há presunto, temos o “pulpo” à galega.




Para amanhã teremos por aqui as fotografias da feira que hoje vai acontecer, que embora iguais às dos anos anteriores, são feitas de momentos diferentes e ao que parece, pelo menos para hoje, sem chuva.



30
Out12

Feira dos Santos 2012 - Primeira Volta


 

E cá estamos de novo em mais uma edição da Feira dos Santos, que segundo o programa, inicia hoje, já bem longe da tradição do dia da Feira da Lã que se realizava neste dia, onde as nossas mantas eram negociadas para o aconchego do inverno de muita gente… outros tempos.




Pois fica o programa, que este ano, por ser idêntico aos anteriores, me abstenho de comentar. Não me apetece, nem tenho tempo a perder com essas coisas e depois, se os responsáveis da feira estão satisfeitos com ele, que continuem…



Quanto às fotos de hoje, estas que aqui vos deixam, claro que não são da Feira que vai ou está a acontecer. Estas são de aquivo, do ano passado. As de hoje, penso que vão sair um bocadinho molhadas, pelo menos neste momento que debito estas palavras, lá fora chove a bom chover. Mas vamos esperar que pelo menos haja algumas abertas para hoje e que para a feira do gado e para o dia de Todos os Santos, o sol nos brinde com a sua presença.




Seja como for, a nossa voltinha é obrigatória, para ver e apreciar, pois para compras a coisa já está mais complicada. Mas pode ser que ainda chegue para um par ou dois de meias.

 

Encontrámo-nos por aí e espero, como todos os anos, encontrar alguns dos habituais flavienses ausentes que vêm sempre à festa da cidade.




Para amanhã, se possível, trago-vos algumas fotos fresquinhas.

 

 

29
Out12

Quem conta um ponto... Pérolas e diamantes (9): Mo Yan, não fales


 

Pérolas e diamantes (9): Mo Yan, não fales

 

Veio nos jornais que o novo Prémio Nobel da Literatura, quando, lá na sua distante cidade de Gaomi, no leste da China, foi informado da feliz novidade terá dito “fiquei radiante e assustado”.

 

Na justificação sucinta dos atributos do autor, o júri destacou o “realismo alucinatório” da sua escrita e a capacidade de fundir o imaginário dos contos populares com a História e a realidade contemporânea.

 

O nome com que assina os seus livros é Mo Yan, um pseudónimo que em português significa “não fales”. E foi isso o que mais me impressionou. Assim, à primeira vista, não encontrei razão explícita para o facto. Mas nem tudo tem um fundamento evidente para existir. A seu tempo a razão das coisas costuma vir à tona, tal e qual o azeite quando o misturam com a água.

 

Também a mim me vão chegando vários apelos para que não fale. Ou, pelo menos, para que não fale de determinadas coisas. Ou, ainda, para que fale, mas não da forma como o faço. E, como os estimados leitores são testemunhas, eu cá me vou tenteando como sei e posso. Por isso falo do P.P. Coelho para não falar do… mo yan. Por isso escrevo sobre o inenarrável Relvas para não dizer nada acerca de… mo yan.

 

É que a cidade é pequena e aqui as forças do poder, e os homens das decisões, pela calada dos gabinetes, sempre pela calada dos gabinetes, batem duro e forte. Castigam as pessoas, discriminam instituições, destituem adversários, perseguem concorrentes e indiferenciam as pessoas competentes e de qualidade. E sempre pela costas. Na sombra dos gabinetes. Sempre na sombra. E pelas costas. Na calada dos gabinetes.

 

Eu até podia, e queria, falar do presidente da comissão política do PSD de Chaves (sim, ainda é António Cabeleira) e da sua patética declaração de que, com a sua proposta de reorganização do território, ele pretende “salvar freguesias do concelho”.

 

Lá poder podia e querer também queria, mas, na realidade, não posso. É que a cidade é pequena e está sujeita a um torniquete político e ideológico que a torna sufocante. Apetecia-me dizer que as palavras do vice-presidente da Câmara são uma verdadeira provo…

 

Alto lá. Eu não devo falar de determinadas coisas. Ou, pelo menos, não devo fazê-lo da forma como o faço. Sendo quase insignificante, senão mesmo insignificante, em termos sociais e políticos, dizem que não sou controlável. Ora porra, e eu a pensar que sim. Então eu não fiz tudo o que devia fazer? Não disse tudo o que era conveniente dizer? Não sorri quando devia? Não condescendi na altura certa? Não me portei bem ao jantar? Não comi com os talheres adequados? Não fiz conversa de salão? Não disse aquilo que de mim exigiam e esperavam no momento certo e na altura adequada?

 

Ah, então foi isso! A verdade nem sempre interessa, ou, pelo menos, não interessa assim despida e nua, assim pura e cristalina. A verdade nem sempre é conveniente.

 

Pois, como vos ia dizendo, eu até podia falar do buraco, do enorme buraco, que persiste por detrás do Faustino e onde dizem que vão construir um parque de estacionamento. Mas… mo yan. Assim é melhor. O que não é falado não é lembrado e eu agora penso mais na vidinha.

 

Também com a crise que por aí vai, o melhor é comer e calar. O que é que adianta uma pessoa estar para aqui a chatear-se. Tudo está no seu devido lugar. Os impostos a subir e o poder de compra a baixar. Mas a quem é que isso interessa?

 

Por exemplo, leio no “Expresso” que para um jantar com os amigos (e eles são tantos e tão bons, não os jantares, claro está, mas os amigos), o seu especialista enólogo recomenda um belíssimo vinho tinto da região do Douro, ao módico preço de 28 euros, que deve ser apreciado, e passo a citar, “num repasto onde entrem carnes fortes, de caça de pena (perdizes, que estamos agora na época delas) ou de pelo (lebres e coelhos)”.

 

Ah, e por falar em Coelho, Miguel Sousa Tavares escreveu também no mesmo jornal que “já tivemos maus e muito maus governos, mas jamais tínhamos tido um Governo tão incompetente e tão mal preparado para governar”. O que me levou a fazer a analogia com o que se relaciona com a nossa autarquia, pois também já tivemos más Câmaras, mas nunca tivemos uma Câmara tão in… (olha os apelos para que não fales) com… (ou, pelo menos, para que não fales de determinadas coisas) pe… (ou, ainda, para que fales, mas não da forma que o fazes) ten… mo yan.

 

Lá tentar, tentaste, mas controlaste-te a tempo. Afinal és controlável. Com um bocadinho de jeito, também consegues. Bravo.

 

Com vossa licença, volto aos vinhos. João Paulo Martins, ainda no mesmo semanário, escreve que é um mito o queijo da Serra acompanhar-se com vinho tinto. Pois, apesar de estarmos na controversa zona dos gostos pessoais, e após provar este queijo com vinhos brancos estagiados em madeira, é provável que não se volte ao tinto. E a mesma ideia é válida para os outros queijos amanteigados, como o de Azeitão e o de Serpa.

 

No meio da polémica, pus-me a pensar que teimar na ideia de que um presidente da Câmara quando se vai embora tem de deixar o seu vice a governar é um mito. E dos maus. E um mito que já deu provas de ser meio caminho andado para o fracasso. Todos nos lembramos de Alexandre Chaves ter teimado em deixar na sua cadeira o seu delfim. E viu os seus intentos destroçados. (Olha os apelos para que não fales…) Também João Batista está a tentar seguir o mesmo caminho. (Ou, pelo menos, para que não fales de determinadas coisas...) Dizem na minha terra que só os… (ou ainda, para que fales, mas não da forma que o fazes…) só os… mo yan.

 

Eu sei que Altamiro Claro e António Cabeleira são pessoas distintas. No entanto também sei que escolher entre um e outro é entrar na controversa zona dos gostos pessoais. Mas eu não tenho receio nenhum em afirmar que gosto mais de vinho tinto a acompanhar o queijo da Serra.

 

Outra treta, relacionada com o vinho, claro está, é que à mesa o copo maior é para a água. Mas lá está João Paulo Martins para nos desfazer de novo o mito, ou melhor, o erro. A água não requer, nem beneficia, de um copo grande. O vinho, pelo contrário, pode melhorar enormemente. Por isso é que eu acho que a candidatura do António Cabeleira não beneficia nada em ser servida em copo grande. Reúne todas as condições para ser servida em copo pequeno. É que a água nem tem sabor, nem cheiro, nem cor. Além disso, quem é que ainda acredita no putati… mo yan.

 

Eu ainda não entendi em que momento foi que António Cabeleira julgou que tinha perfil para ser aquilo para que manifestamente não tem… (Olha os apelos para que não fales… ou, pelo menos, para que não fales de determinadas coisas... ou, ainda, para que fales, mas não da forma como o fazes…), nem nunca virá a… mo yan.

 

Na sua coluna habitual, já para o fim, o diretor do “Expresso” escreveu que “se há coisas que o país não perdoou a Sócrates foi a maquilhagem da verdade, o ‘empurrar com a barriga’, o dourar a pílula, a inconsciência otimista, as faturas adiadas.”

 

Também eu penso que os cidadãos do nosso concelho não vão perdoar a este executivo camarário a maquilhagem da ver… (olha os apelos para que não fales…), a inconsciência otimista das obras prometidas e irreali… (ou, pelo menos, para que não fales de determinadas coisas...), as faturas adiadas de uma década de desperdí… (ou ainda, para que fales, mas não da forma como o fazes…).

 

Apesar do sacrifício feito em me conter, não quero terminar sem partilhar uma sugestão do enólogo do “Expresso” sobre um vinho que devemos guardar na garrafeira. Das suas seis sugestões, eu fiquei-me pela garrafa de preço médio (apenas 30 euritos, ó crise vai-te embora, porra, e leva contigo o Relvas e põe-no a estudar e leva também o Coelho e põe-no em casa a descansar).

 

É um tinto do Douro com o nome de “Quinta do Passadouro” Reserva Tinto de 2009. E escolhi-o porque me fez lembrar António Cabeleira. E sempre por boas razões. Desde logo pelo nome que nos remete para o passado. Para um passado que queremos bem passado. Não numa referência à carne de bife, convenhamos, mas sim numa alusão à memória. Porque, bem vistas as coisas, a memória é o que fica depois de tudo.

 

Mas atentem sobretudo na telegráfica recensão. “Com base em vinhas velhas de castas misturadas, é algo agressivo enquanto novo mas evolui muito bem, tornando-se refinado passados alguns anos na garrafeira.”

 

Fora as castas misturadas, que para aqui não são chamadas, a sua “qualidade agressiva” enquanto novo não vos faz pensar em nada? Se sim, ótimo, se não amigos à mesma. Mas sempre vos digo que engendrar este texto tem-me dado uma imensa trabalheira.

 

É minha firme convicção que o vinho e o senhor vice-presidente da Câmara de Chaves possuem uma característica comum, é que se tornam refinados passados alguns anos na garrafeira. 

 

Eu, como quem não quer a coisa, já tenho a minha garrafa “Quinta do Passadouro” quietinha no lugar a refinar-se. Não sei se me entendem. O que eu quero dizer é que… (Olha os apelos para que não fales… ou, pelo menos, para que não fales de determinadas coisas... ou, ainda, para que fales, mas não da forma como o fazes…)

 

Ainda não entenderam. Pois eu quero dizer que, para a nossa terra ter futuro torna-se necessário que o putativo candidato do PSD seja colocado no… mo yan.

 

PS – A “Quinta do Passadouro”, está reservada para, daqui a uns anos, ser degustada acompanhando um queijo da Serra com o meu amigo Anselmo. E sei que nos vamos rir e apreciar o seu estágio.

 

Mas o que me levou a escrever este PS tem tudo a ver com as boas notícias. Isto para não me acusarem de bota abaixo. Finalmente Chaves ultrapassou Vila Real e é líder distrital.

 

Segundo o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), os concelhos que apresentaram maior número de desempregados em termos absolutos, são Vila Real e Chaves, 15% e 17% respetivamente. E isto no fim de Agosto, que é o mês do turismo. Ou seja o desemprego cresceu 2,46% em relação ao mês de Julho.

 

Finalmente, lideramos o distrito. E estamos à frente de Vila Real. É caso para celebramos. E pensar que devemos isto ao PSD nacional e, muito especialmente, ao PSD local, e à sua gestão autárquica, é um fator de alento e de esperança no futuro.

 

Definitivamente, João Batista e António Cabeleira merecem o nosso aplauso. E mais qualquer coisinha.

 

João Madureira

28
Out12

Castelo do Mau Vizinho - A Descoberta - Uma Agradável Desilusão


 

Pois cá estamos no post prometido, o tal que deveria ter sido publicado ontem para dar continuidade à primeira imagem de uma descoberta recente que me fez descer até ao mundo dos alfaiates, que agora já posso revelar, do Rio Mousse.

 

O post foi ligeiramente adiado porque com ele queria deixar algumas palavras referentes à agradável desilusão da tal descoberta, cuja história se conta em meia dúzia de palavras.



Quem acompanha este blog sabe que ao longo dos anos da sua existência já demos algumas voltas por todo o concelho, aldeias e lugares,  ou quase todo o concelho, pois há alguns locais que se têm apresentado de difícil acesso, embora sejam até muito conhecidos, ou falados, ou referenciados. Um desses locais é o do Castelo do Mau Vizinho que me trazia remoído de curiosidade, pois o difícil acesso e a dificuldade em encontrar gente disponível que lhe conhecesse o paradeiro, foi adiando a sua descoberta. Mas descobri-o recentemente com a tal agradável desilusão.



Mas falemos um pouco do Castelo do Mau Vizinho e daquilo que dele conhecia até há uns dias atrás, passando pelo que se diz dele em vários locais da especialidade, como por exemplo na página dos monumentos portugueses (www.monumentos.pt) onde se observa ser classificado como monumento nacional registado sob o nº PT0117003090014, onde no registo da descrição se pode ter acesso aos seguintes dados:


Categoria

Monumento

Descrição

Castelo roqueiro defendido por uma linha de muralha construída com blocos de xisto, unidos por argamassa, com grandes silhares de granito nos cunhais, encontrando-se o penedo que o coroa com a superfície desbastada e limitado por encaixes para assentamento da estrutura defensiva de um possível torreão central. Além da primeira muralha regista-se, exteriormente a esta, diversos encaixes na rocha, de assentamento de estruturas perecíveis relacionados com uma segunda linha defensiva.

Acessos

Estradão desde Cimo de Vila da Castanheira na EM Cimo de Bolideira - Roriz, a partir do km 186 da EN 103

Protecção

IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 1/86, DR, 1.ª série, n.º 2 de 03 janeiro 1986

Grau

2

Enquadramento

Rural, isolado, outeiro destacado coberto com carvalhos, de difícil acessibilidade, na zona terminal de encosta sobre o vale encaixado do Rio Mousse.

Utilização Inicial

Militar: castelo

Utilização Actual

Marco histórico-cultural: castelo

Propriedade

Pública: estatal



Afectação

Sem afectação

Época Construção

Idade Média

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

Idade Média - Construção.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.



Materiais

Muralha de blocos de xisto e granito, argamassa.

Bibliografia

AZEVEDO, Pedro A. de, Extractos archeologicos das Memorias Parochiaes de 1758, O Archeologo Português, 7 (2 - 3), Lisboa, 1902, p. 76; COSTA, António da Eira e, O Castelo do Mau Vizinho, Trabalhos de Antropologia e Etnologia, 22 (3), Porto, 1973, p. 345 - 351; MARTINS, João Baptista, Inventário de sítios com interesse arqueológico do concelho de Chaves, trabalho dactilografado, Chaves, 1984, nº 15; SANTOS JÚNIOR, Joaquim Rodrigues dos, FREITAS, Adérito Medeiros, COSTA, António da Eira e, Campanha de Trabalhos. Castelo do Mau Vizinho. Cimo de Vila da Castanheira - Chaves, Trabalhos de Antropologia e Etnologia, 24 (2), Porto, 1982, p. 293 - 320; IDEM, O Santuário do Castelo do Mau Vizinho, Revista de Guimarães, 99 (2), Guimarães, 1989, p. 368 - 410; SILVA, Armando C. F., A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal, Paços de Ferreira, 1986, p. 301; TEIXEIRA, Ricardo e AMARAL, Paulo, Levantamento Arqueológico do Concelho de Chaves, relatórios anuais de actividades, Chaves, 1985 - 1992.

Intervenção Realizada

1981 - Trabalhos de limpeza e esquematização, sob a orientação de J. R. dos Santos Júnior, Adérito Medeiros Freitas e António da Eira e Costa; 1988 - trabalhos de limpeza e esquematização, sob a orientação de J. R. dos Santos Júnior, Adérito Medeiros Freitas, António da Eira e Costa e Norberto dos Santos Júnior.

Observações

Tradicionalmente considerado como santuário pré-romano, não apresenta, contudo, o mesmo tipo de estruturas, caso dos recipientes rituais registados noutros locais de culto desta área, como os de Pias dos Mouros (Valpaços), Vilar de Perdizes (Montalegre) ou Panóias (Vila Real), embora os dados apresentados na publicação da intervenção arqueológica, não sejam elucidativos quanto à ocupação crono-funcional do local. O espólio desta estação é constituído por fragmentos de cerâmica medieval.

Autor e Data

Isabel Sereno e Paulo Amaral 1993

Além da informação e bibliografia atrás citada, se fizermos uma pesquisa na INTERNET veremos que desde o IGESPAR – Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico ao Instituto Português de Arqueologia, passando pela Wikipédia e outros 400 000 lugares (pesquisa Google),  há referencias ao Castelo do Mau Vizinho. Pois! E claro que contra tanta “literatura” não há argumentos, mas mesmo assim, e correndo o risco de não ser politicamente correto, cheguei ao tal local do Castelo do Mau Vizinho e, suponho que a minha ignorância,  não me permitiu ver  nenhum castelo, nem vestígios,  e daí, eu desde o início desde post dizer que esta descoberta  foi uma agradável desilusão. Explicada que está a desilusão passemos à parte do agradável.



Sempre que vou para terras de S.Vicente da Raia, depois de passar Travancas e Argemil, há por lá um alto onde paro sempre para contemplar o mar de montanhas que nasce aos nossos pés e se estende pelo horizonte adentro em direção a nascente. Um mar de montanhas que com os meios que tenho se torna proibido de navegar. Assim, são para mim terras virgens, ou quase. Depois de demorar uns anos a chegar a S.Gonçalo, onde o Rio Mousse termina a sua caminhada penetrando o Rio Mente, faltava-me subir  um pouco mais o Mousse para chegar  ao Castelo do Mau Vizinho. Sabia que ficava por alí junto ao Mousse, mas nunca o tinha conseguido localizar desde a praia do mar de montanhas. Imaginava o sítio interessante e de beleza igual ou superior à do S.Gonçalo e, não me enganei. O local é interessante e quanto a beleza, tem a sua beleza quase  selvagem onde a mão




 do homem ficou registada em alguns caminhos toscos e três moinhos que se esconde por entre o serpentear do Rio Mousse. O dito Castelo do Mau Vizinho  é um morro, outeiro ou cabeço que nasce quase perpendicularmente, deste serpentear do mousse, com “gigantes” lâminas de xisto como se fossem facas a desafiar o céu azul que,  desde o Mousse, de tão profundo que corre ali entre montanhas, faz que o azul do céu pareça muito mais azul.  Apetece ficar por lá, esquecido, abandonado, sem telemóveis, eletricidade, novas tecnologias. Apenas natureza e muita sombra resultante das montanhas que o sol não consegue atravessar.  Uma estranha paisagem engolida pelas montanhas onde o único horizonte alcançável é o céu e as lâminas de xisto do tal Castelo do Mau Vizinho, sem torres, ameias ou muralhas, apenas a natureza que se ergue como um castelo beijado por um pequeno rio que dá pelo nome de Mousse onde os alfaiates insistem em patinar contra a corrente.



28
Out12

Pecados e Picardias - Por Isabel Seixas


 

Partidos que nos deixam…

Partidos

 

Estava a pensar o quanto a filiação partidária liberta e aprisiona, ora tornando os filiados livres de suspeita de intenção de voto noutros partidos, gerando um circulo de pseudoamizades de partilha e comunhão de ideias charneira, ora tornando os filiados prisioneiros da mesma intenção de voto e condicionando pseudoamizades com afastamento dos filiados noutros partidos, aquando das épocas de campanha eleitoral e definição dos novos eleitos.

 

A par da verbalização constante  da importância do pluralismo politico subjacente a qualquer democracia, coabita a imparcialidade teórica, de que a maioria faz questão de ostentar, falando em critérios de inclusão de todos os cidadãos nas decisões.

 

Lembro-me dos critérios de moralidade atribuídos às ideologias que norteiam cada partido, sempre com a bandeira de marca povo como beneficiário, sempre com alusão a imparcialidades…

 

Até os independentes são partidos e embora tábuas de salvação e atenuantes das cores definidas, branqueiam, iludindo e iludindo-se, o destino traçado aumentando a ilusão de ótica de eventual mudança …

 

E, lembro-me da história, dos que conseguiram congruência no poder, entre o que dizem e o que fazem entre o que apregoavam e o que conseguiram pôr em prática…

 

Encolho os ombros, e penso na esperança que já perdi também em mim, quando me vejo tão igual e tão diferente e tão sem resultados, e quase me assusto com a possibilidade de contágio, o dos partidos, o  dos partidos dos  independentes, o da humildade necessária a considerar a possibilidade de ser igual a pensar na pertença aos diferentes…

 

De qualquer forma ainda sorrio com os “ingénuos”…

 

Mas acredito que cada vez mais em política os pecados estão a ganhar contornos de quem vai perder…

 

E de qualquer forma o sol ainda nasce…  Embora  continue a queimar  indefesos…

 

 

 

Pobres partidos que jamais se unem para ficar inteiros na razão…

 

Garantir  o bem-estar do povo.


 

 

Isabel Seixas



28
Out12

Sobre o último post...


Eu sei que prometi vir aqui com o resto da minha descoberta, pois prometi, mas vai ter de ficar para mais logo. Para já, de seguida, ficam os "Pecados e Picardias" de Isabel Seixas. Mais logo volto por aqui. Até já.

26
Out12

Discursos Sobre a Cidade - Por António de Souza e Silva


 

O primado da política

 

A política tem algum sentido?

Hanna Arendt

 

 

O actual tédio pela política não resulta

 da quebra de interesse pelo bem público,

 mas de ter-se perdido a esperança

 de poder fazer alguma coisa com a política tradicional”.

 

Daniel Innerarity, A Transformação da Política

 

 

Estamos passando por tempos difíceis.


E as dificuldades por que passamos também são da nossa responsabilidade. Não estão só do outro lado da barricada.


Obviamente que não se pretende aqui desculpar a classe política. Tem de modificar. E muito!


Mas nós, como cidadãos, não nos podemos pôr de fora. O estado lastimável a que chegamos é também da nossa responsabilidade.


Porque, ao vivermos numa democracia, e num regime republicano, este mesmo espírito republicano exige que também tenhamos deveres. E não só direitos. E o dever maior é o de sermos, e estarmos, vigilantes perante o evoluir constante, diário, do nosso devir colectivo, em ordem à nossa qualidade de vida e bem estar.


Por isso requer-se não só que, numa democracia representativa sejamos capazes de, com lucidez, escolher os nossos representantes, mas também que, no dia a dia, sejamos capazes de nos empenhar no aprofundamento e na qualidade da nossa vida democrática, participando mais como cidadãos.


Começando a nível local. Porque, na minha modesta opinião, é aqui que tudo começa. Pela nossa casa e pelo pátio que nos está contíguo.


Trago-vos hoje aqui um conjunto de reflexões sobre a política para os tempos que hão-de vir. Conjunto de reflexões que têm muito a ver com a obra de um autor – Daniel Innerarity .


Ei-las, pois, aqui também para vossa reflexão, e eventual discussão.


***


Há actualmente um profundo pessimismo a respeito da capacidade humana de configurar seja o que for, e muito menos por meio da política. O novo fatalismo reflecte o desvanecimento da esperança política despertada pelas utopias liberais e socialistas, herdeiras de grandes narrativas progressistas das Luzes.


Esta perda de energia antecipatória manifesta-se no facto de que as nossas democracias carecem de projectos utópicos, de missões ou concepções de justiça, de horizontes globais. Os grandes visionários foram substituídos por políticos que gerem as inevitáveis constrições do presente. E onde melhor se revela esta redução de esperança é no facto de a política se mobilizar mais pela rejeição do que pelo projecto, mais pela desconfiança do que pela adesão.


Todavia, a crise de uma determinada concepção do progresso não deveria implicar a crise do progresso como tal.


O mundo está a pedir que o reinterpretemos. Exige-nos que contemplemos a política de uma forma não convencional. Que abramos os olhos para uma realidade muito mais complexa.


Este mundo, que parece mais complexo e incompreensível que os anteriores, compreender é um bem escasso.


 Noutras épocas, interpretar a realidade era uma perda de tempo, uma distracção das exigências da praxis. Agora é um modo de actuar sobre a realidade, uma verdadeira actividade (Daniel Innnerarity, “A Transformação da política”).


As sociedades multiculturais não sobressaem pela sua unidade, mas pela sua dispersão.


E encontramo-nos hoje precisamente perante um esgotamento da hierarquia como princípio ordenador das sociedades. Em que a  deve passar da hierarquia para a heterarquia; da autoridade directa para a conexão comunicativa; da posição central para a composição policêntrica; da heteronomia para a autonomia; da regulação unilateral para a implicação policontextual.


E terá de estar em condições de gerar o saber necessário – de ideias, instrumentos, procedimentos – para moderar uma sociedade de conhecimento que opera de maneira reticular e transnacional (Daniel Innerarity, “A transformação da política”).


A tarefa fundamental da política e do estado na sociedade do conhecimento pós-capitalista e pós-territorial, como aquela para onde estamos a caminhar, é a coordenação e mediação dos sistemas sociais tão complexos, experientes e dinâmicos que excluem um comando estatal autoritário.


As tarefas do estado modificaram-se decisivamente numa sociedade que não permite um governo directo, centralizado, hierárquico e autoritário, mas contextual, heterárquico e discursivo (Daniel Innerarity, “A transformação da política”).


Temos, pois, de modificar em profundidade o nosso modo de conceber a política. Se a teoria clássica da política se preocupou com a ordem, a estabilidade, a integração e a planificação, hoje é mais necessário interessar-se pelo inverosímil, pelas diferenças e pelos processos dinâmicos. A política deve aprender a dar-se bem com um futuro que já não é objecto de adivinhação nem algo planificável, mas uma coisa fundamentalmente incerta que, apesar disso, temos de antecipar.


Segundo Daniel Innerarity, em “O Futuro e os seus inimigos:- uma defesa da esperança política”, vivemos num mundo sem épica ou, pelo menos, no qual as narrativas épicas perderam plausibilidade e capacidade de mobilizar. A política agora situa-se agora mais no espaço humano, demasiado humano, sem sublimidade, sem verticalidade, no qual nada está absolutamente protegido da crítica, da erosão do tempo ou da crescente complexidade social.


Não estamos perante a necessidade de reideologizar a política, mas de configurar projectos e decisões com base no reconhecimento de que dispomos de um saber limitado e falível.


 Se as ideologias fechadas pretendiam certezas absolutas, o nosso desafio consiste em estabelecer programas pós-ideológicos que sejam, ao mesmo tempo, normativos e conscientes da sua própria contingência (Daniel Innerarity, “O Futuro e os seus inimigos:- uma defesa da esperança política”).


Zygmunt Bauman diz que o único consenso que tem alguma possibilidade de êxito é o reconhecimento da heterogeneidade dos desacordos.


Com efeito, a pretensão de transformar a política em responsável pela obtenção de um consenso geral que supere as distinções ideológicas e sistémicas já não é sustentável em sociedades policontextuais, que não se articulam de maneira centralista ou hierárquica.


Da política não se deve esperar nem a solução definitiva de todos os problemas nem a salvação das nossas almas, mas qualquer coisa muito mais modesta mas não menos decisiva do que o que proporcionam outras profissões muito honradas.


Na transição de uma sociedade heróica para uma que já o não é, torna-se necessário elaborar uma nova cultura política que ensine tanto a apreciar a política como a não lhe pedir o que ela não pode garantir (Daniel Innerarity, em “O Futuro e os seus inimigos:- uma defesa da esperança política”).


Apesar de nunca ter estado tão limitada na sua margem de actuação, a política também nunca foi tão decisiva como hoje.

 

António de Souza e Silva

 

25
Out12

O Homem sem Memória (125) - Por João Madureira


 

O Homem Sem Memória

Texto de João Madureira

Blog terçOLHO 

Ficção

 

125 – Almoçaram como bons, sinceros e coerentes comunistas. Comeram a sopinha, a costeleta de porco, as batatas fritas e o arroz, debicaram a salada, beberam o vinho e “sobremesaram” pudim. Terminaram com um café, meio Croft e uma valente cigarrada que a todos pôs bem-dispostos.


Entraram no Centro de Trabalho a rir e a assobiar energicamente a Internacional. Mas afinados, como convinha. Honra lhes seja feita. E que do proveito não desmereçam. Por isso botaram nova cigarrada e, entrementes, deram por iniciada a segunda parte da reunião.


O camarada funcionário – funcionário uma vez funcionário para sempre –, fez questão em lembrar o ponto da situação. O Graça, por seu lado, sarrazinou em recordar o ponto da situação, qual estado da nação, e até o José se preparava também para botar pendência relativamente ao ponto da situação, para demonstrar, caso fosse necessário, que aprendia bem e depressa, quando o Mário “Camões” veio de novo à liça para propor que deviam seguir o procedimento suficientemente basto e revolucionário do camarada Talião: olho por olho e dente por dente.


O Graça, com a paciência da digestão, acendeu novo cigarro, deu duas chupas bem dadas, travou com efetiva e resoluta decisão revolucionária o fumo do seu SG filtro, fez três argolinhas muito parecidas com as da coligação comunista, e, virando-se para o Mário “Camões”, lembrou-lhe de novo que tirar olhos aos outros, mesmo que os outros sejam temíveis reacionários, não é uma atitude verdadeiramente marxista-leninista, que o tal Talião não era comunista, nem pouco mais ou menos, nunca o foi e não o poderia vir a ser porque já tinha morrido há muito, muito, mas mesmo muito tempo, que os comunistas não são vingativos, e se o fossem não seria nunca com o pretexto de uma guerra de cartazes que se punham a arrancar olhos a quem quer que seja. Nem dentes, quanto mais olhos. É que os dentes ainda se podem substituir, agora os olhos não. A não ser pelos de vidro, mas esses não têm valimento nenhum. Os dentes postiços são como os socialistas, estéreis auxiliares da construção democrática, o que politicamente é pouco. Já os olhos de vidro estão para a visão, como os reacionários para a revolução.


Além disso a cidade é pequena, aqui todos são ou conhecidos ou amigos. E mesmo os comunistas têm familiares distribuídos pelos distintos partidos da reação ou da contrarrevolução. Por isso deviam tentar enquadrar devidamente os acontecimentos.


Todo o verdadeiro comunista tem de saber colocar as coisas no seu devido lugar. Colar cartazes e arrancar cartazes são tarefas políticas de momento. Não é a revolução. A revolução é pegar em armas e tomar o poder ou outra atitude do mesmo estilo. Cada coisa no seu devido lugar.


Por exemplo, quando os comunistas colam cartazes estão a fazer uma tarefa política devidamente enquadrada, estão a comparecer ao jogo democrático. Mas não se ficam por aí. Por aí ficam-se os dentes postiços (perdão!), os socialistas.


Os comunistas não se iludem com o brilho das dentaduras postiças (perdão!), dos socialistas. Pois a democracia burguesa e parlamentar é uma ilusão, bem assim como os socialistas, as dentaduras postiças e os cartazes. Não sei se nos fazemos compreender.


O Mário “Camões” vendo que a conversa não ia dar a lado nenhum, contestou: “Quer dizer que os reacionários rasgam-nos os cartazes e nós vamos ficar quietos e calados como uns cobardes? É isso? Questiono! Vamos para aqui ficar a falar de dentaduras postiças, de socialistas e de olhos de vidro? É isso? Questiono!”


“Não, não é isso”, verbalizou calmamente o Graça. “Quer dizer que temos de discutir o assunto, denunciar a situação e agir em conformidade. Revolucionariamente quanto baste, mas não mais do que isso. E agir como um militante marxista-leninista é agir sempre em favor da revolução, mas também sempre devidamente enquadrado. Mesmo não parecendo. Hoje colamos cartazes, amanhã não sabemos se estamos a afixar cartazes ou de armas na mão a defender as mais amplas liberdades do nosso povo, entrincheirados na Serra do Brunheiro, como o Fidel e o Che estiveram na Sierra Maestra. Mas amanhã é muito tempo, por isso temos de nos concentrar nas tarefas imediatas.”


O Mário “Camões” tentou de novo pegar na palavra, como quem pega em armas, mas o camarada funcionário cortou cerce: “Agora quem fala sou eu. Vamos lá respeitar as hierarquias.” O Graça olhou para o luzeiro escorreito do Mário “Camões” e vendo-o a piscar como um semáforo na cor amarela, o que nele queria significar tormenta, tomou de novo a palavra e tentou temporizar: “Caro camarada funcionário, eu sei que as hierarquias são para ser respeitadas, mas também sei que o direito de cada camarada a expor a sua opinião é sagrado…”


Ao que o camarada funcionário, já visivelmente irritado, respondeu: “Aqui no Partido, a única coisa verdadeiramente sagrada é o centralismo democrático. E esta reunião tem todo o aspeto de ser um debate entre amigos, não uma reunião de intrépidos bolcheviques que honram o Partido acima de tudo, os seus órgãos, as suas orientações e decisões. E a verdade, verdadinha, é que o Partido já decidiu que a resposta a dar à provocação tem de passar pela redação de um comunicado ao nosso povo dando-lhe conta do sucedido, denunciando a provocação, apelando à unidade na ação entre as forças democráticas e de esquerda para combater a reação, o anticomunismo primário, o imperialismo, a exploração capitalista, os latifundiários, a burguesia contrarrevolucionária, denunciar o obscurantismo, o esquerdismo, o aventureirismo pequeno-burguês de fachada socialista e…”


“E o caralho que te foda”, disse o Mário “Camões” com o olho bem aberto e apontando o seu indicador direito como se fosse uma Mauser. “Então eles arrancam-nos os cartazes e nós limitamo-nos a redigir um comunicado a dizer para terem pena de nós? É isso? Vê-se logo que não te custaram a colar. Tu és bom a dar ordens. Mas nem um único cartaz te deste ao trabalho de colar. Limitaste-te a observar e a dizer se os devíamos inclinar mais para a direita ou para a esquerda.”


Ao que o camarada funcionário retorquiu com a verdade, pois só ela é verdadeiramente revolucionária: “E tu bem necessitaste da minha ajuda, senão os cartazes iam ficar todos tortos.” Ao que o Mário “Camões” respondeu: “E a quem é que isso interessava. Afinal era para serem arrancados!” E adiantou: “Além disso, posso ser zarolho mas não sou, nem consigo ser, cobarde.”


O Graça pôs-se então de pé e exigiu calma. Ele ainda era o controleiro. E exigia calma. E quando o Graça exigia calma o melhor a fazer era agir em conformidade. Todos o sabiam. Mesmo o Mário “Camões”, e inclusive o camarada funcionário. Quando a paz voltou ao espírito dos presentes, o Graça deu a palavra ao seu superior hierárquico.


“Sim, é isso. Eles arrancam-nos os cartazes, nós emitimos um comunicado e voltamos a colar os cartazes que nos rasgaram”, disse o camarada funcionário. “São essas as indicações do Partido. A paciência é uma virtude comunista. Uma grande virtude.”


“Tu chamas virtude à paciência. Eu chamo-lhe cobardia”, disse o Mário “Camões” com o peito repleto de coragem transmontana. No que foi coadjuvado pelo Carlos Chouriço que lembrou: “Não vês que para este banana até cagar e mijar são tarefas revolucionárias. Bonito comunista me saiu este funcionareco de província.”


“Razão têm os esquerdistas, este é um partido de revisionistas. Têm medo da reação. E o que é pior, têm medo da revolução. Para eles, a revolução faz-se a redigir comunicados que não interessam nem ao menino Jesus. E as armas? Quando se pega em armas para tomar o poder?”, disse em pose de Lenine o Mário “Camões”.


Logo de seguida, o Carlos Chouriço gritou: “Ou reação ou revolução. Caralho. Unidos venceremos. Nem mais um soldado para as colónias. O Povo está com o MFA. Abaixo a reação. Caralho. Abaixo a reação. Avante camarada, avante, junta…”


“Vamos lá por um ponto de ordem à mesa”, avisou o camarada funcionário. “Disciplina, ordem, respeito. Exijo respeito. E ordem. E disciplina. Não se esqueçam que estão no Centro de Trabalho, na casa dos comunistas. Aqui todos os militantes têm de respeitar os Estatutos do Partido. As decisões são tomadas em consenso. O coletivo é quem mais ordena.”


“Sim”, disse o Graça. “Vamos votar.” “Votar o quê?”, perguntou atrapalhado o funcionário. Ao que o José respondeu: “Votar ou na proposta de redigir um comunicado e de voltar a colar os cartazes ou…” Ao que o camarada funcionário replicou: “Que eu saiba não há mais nenhuma proposta em cima da mesa.” “Não há mais vai haver”, disse o Carlos Chouriço. “Proponho que devemos pegar em armas e ir para o Brunheiro, imediatamente e em toda a força.”


O Mário “Camões”, por seu lado, alvitrou: “Eu proponho que levemos à prática as diretrizes do camarada Talião, deixando cair, no entanto, a parte do “dente por dente”, para poupar os socialistas, mas respeitando na íntegra tudo o que diz respeito ao “olho por olho”, para foder a reação.


Desesperado, o camarada funcionário desabafou: “Não há pior cego do que aquele que não quer ver.” Ao que o Mário “Camões”, sentindo-se coagido, perseguido e gozado, respondeu: “Posso ser zarolho, mas não sou cego. Nem sou cobarde.” E já ia para ele de broxa em riste quando o Graça se interpôs e lhe deu um murro certo no sítio devido que o deitou ao chão. Depois de lhe pedir desculpa, ajudou-o a levantar-se e disse-lhe que ou acatava a decisão do Partido ou tinha de se ir embora.


“E qual é a decisão da Partido?”, perguntou o Carlos Chouriço, fazendo-se de ingénuo. Ao que o Graça objetou pesaroso: “Redigir um comunicado e voltar a colar os cartazes.”


“Com tarefas revolucionárias dessa envergadura, o povo português bem pode esperar sentado pela revolução”, avisou o Carlos Chouriço. Ao que o José juntou: “Só a verdade é revolucionária.”


E o Graça visivelmente desalentado: “Também tu, José. Também tu me atraiçoas.” O Mário “Camões”, visivelmente abalado, virando-se para o Carlos Chouriço, disse: “Vamos embora que esta revolução não é a nossa. Ninguém faz uma revolução a colar cartazes e a redigir comunicados. E fiquem sabendo os do Comité Central que a nossa revolução é mais bonita do que a vossa, ou a deles ou a de quem quer que seja e…”

 

126 – E a vida seguiu o seu caminho. O camarada funcionário foi ...

 

(continua)

 

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