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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

31
Out13

O Homem Sem Memória - 175


 

O Homem Sem Memória

Texto de João Madureira

Blog terçOLHO 

 

175 – Todos ficaram incrédulos e num silêncio profundo a olhar para o José. Deitado no catre parecia Cristo estendido no santo sepulcro, mas ainda por limpar e cheio de sangue e equimoses. O Graça começou a chorar baixinho e a perguntar: “Porquê, porquê, meu Deus. O que fez ele de mal.” O camarada funcionário tentou racionalizar: “A sua traição parece-me agora evidente. O apóstolo da dúvida e da incerteza, finalmente encontrou o seu calvário.” O Graça dirigiu-se para a beira do amigo e pediu água para lhe lavar as feridas. Ninguém lha deu. Os guardas limitaram-se a cantarolar umas incongruências.


“Pai, pai, porque me abandonaste?”, perguntou o José. “Mãe, mãe, porque me abandonaste?”, voltou a perguntar o José. De seguida entrou em delírio. Por fim adormeceu. Ou desfaleceu, ainda não apurámos ao certo. Quando acordou e reparou que o Graça estava a seu lado, tratou-o por Pedro, mas injustamente, como todos sabemos. Entretanto voltou a desfalecer, ou a adormecer, ainda não apurámos ao certo. Quando acordou de novo pôs-se a falar com a mãe.


“Disseste-me que falei dentro da tua barriga, agora falo dentro da tua cabeça. Eles vão-me matar. Vão-nos matar. Fizeram-me confessar tudo. Tudo. E eu não tinha nada para confessar. Mas confessei tudo. Tudo o que eles exigiram.”


O Graça voltou a chorar. O José, tratando-o novamente por Pedro, disse para poupar as lágrimas, pois acreditava na sua amizade, apesar de o ter negado três, trinta, ou trezentas vezes: “O seguinte és tu.”


Todos os camaradas estavam encostados às paredes, hirtos e brancos como a cal. Apenas o camarada funcionário palrava: “Não tenhais medo camaradas. O Partido apenas quer apurar a verdade. Quem não é culpado não deve temer represálias. Vão ver como tudo se resolve por bem. Agora que descobriram o traidor, vão-nos libertar.”


O Graça pôs-se então de pé e correu caras a ele: “Meu grande sacana. Como és capaz de dizer uma coisa dessas de uma pessoa como o José. Ele traiu o quê? A verdade é que não, todos somos testemunhas. E muito menos a sua consciência de homem livre. Tu é que te trais a ti próprio quando pensas pela cabeça dos outros.”


Quando ia para lhe assentar uns murros nas ventas, foi impedido pelos outros camaradas que lhe disseram que não devia fazer o que outros fariam por ele. 


De novo se abriu a porta da cela, desta vez para chamarem pelo Graça. Ele recusou-se. A haver porrada que começasse o mais cedo possível. Além disso não tinha nada para confessar. E foi isso que gritou bem alto durante todo o trajeto.


No catre o José gemia e delirava. Os outros camaradas pareciam rezar. Apenas o funcionário continuava a tentar justificar a situação do ponto de vista marxista-leninista: “Só a verdade é revolucionária. Por isso temos de tentar sempre encontrá-la. Mesmo que o processo seja doloroso.” E lá continuou a debitar outras idiotices do género. Alguém perguntou: “Achas que o Graça também é traidor? Algum dia viste ou soubeste algo que o possa incriminar?” Ao que o camarada funcionário respondeu: “Eu assim diretamente não. Mas nunca se sabe. Quem tem amigos traidores é potencialmente um traidor também.” “Então todos somos traidores.” “Todos não. Eu não sou amigo do Graça e muito menos do José. Tratei-os durante algum tempo por camaradas, pois pensei que o eram. Mas nada mais do que isso. Limitei-me a cumprir com as ordens do Partido. Quando soube da dissidência do José fiz aquilo que qualquer dirigente pode e deve fazer, transmiti essa informação aos organismos dirigentes. Eles depois lá fizeram o resto. E acertadamente, como se vê.”


A pesada porta voltou a gemer nos gonzos. Por ela entrou outro cristo ensanguentado e cheio de chagas. Nisso os camaradas tinham sido exemplares, ninguém conseguia distinguir um cristo do outro, de tão maltratados que estavam.


“Afinal o Graça também é traidor. Veem camaradas, como tinha razão”, gritou o camarada funcionário apontando na direção do segundo cristo. Os restantes camaradas já não lhe passaram cartão nenhum, dirigiram-se ao Graça e trataram de o amparar e de o estender no catre. Alguém pediu água para lhe lavarem as feridas. Responderam-lhe que o fizesse com a saliva, pois a água no Alentejo é um bem muito escasso.


Também o Graça gemeu e delirou. Quando se abeirou de si o camarada funcionário para tirar alguma informação, ele apelidou-o, e com razão, de Judas e cuspiu-lhe na cara um jato de sangue. Depois chamou os outros camaradas e confessou-lhes com as lágrimas nos olhos: “Também eu confessei tudo.” “Tudo o quê?”, perguntaram-lhe incrédulos. “Tudo o que eles queriam. Agora todos somos traidores.” “Mas nós não traímos nada, nem ninguém.” “Por isso mesmo. Quando lhes disse isso, responderam-me que estava a esconder algo de muito grave. Por isso é que estávamos presos. O Partido, argumentaram eles, nunca se engana. Por isso ou confessamos os crimes ou a tortura continua até obterem a reconhecimento da verdade. Dali não saem. O melhor é confessar o mais depressa possível o que eles querem. No entanto subsiste um problema, é conseguirmos acertar com aquilo que eles pretendem que a gente confesse. Quando existe culpa, não é difícil acertar com a resposta. O problema é quando se está inocente e nos culpam de algo que não sabemos bem aquilo que é.”


Alguém confidenciou: “Isto é bem mais complicado do que eu pensava.” “Pois. Se confessas rápido desconfiam que lhes estás a mentir. Se nada lhes confessas, suspeitam que lhes estás a encobrir a verdade. Pois para eles nenhum de nós é inocente. Se todos dizemos o mesmo imaginam que estamos todos combinados na mesma mentira. Se cada um diz coisa diferente, desconfiam que estamos todos a mentir com o propósito de lhes indicar pistas falsas, o que ainda os põe mais furiosos.”


Alguém mais impaciente perguntou-lhe como tinha ele acertado com a confissão. Ao que ele respondeu que foi por tentativa e erro. Quando depois de uma resposta sua lhe batiam ainda mais, deduzia, e bem, pensamos nós, que ia no caminho errado. Então tentava nova resposta. Se a porrada continuava com grande intensidade, tentava inventar outro tipo de resposta. Se a bordoada diminuía seguia esse caminho e assim sucessivamente até a porrada cessar e eles se darem por satisfeitos.


Perguntaram-lhe então que tipo de resposta é que eles deviam dar para não levarem tanta cacetada. O Graça, como bom camarada, disse-lhes que se lhes explicasse o que ele tinha confessado era certo e sabido que levavam tanta porrada ou ainda mais do que ele e do que o José. A melhor estratégia era mesmo irem tenteando as respostas pela intensidade da sova. Muita sova queria significar que se tinha de mudar de rumo. Porrada de criar bicho, todos tinham de levar. O estratagema era não morrer no interrogatório ou ficar paralisado para a vida inteira.”


Abriu-se de novo a porta e foi gritado novo nome. O camarada respondeu presente. E lá foi cumprir com o castigo. Apurar a verdade é, como estamos a tentar provar, uma tarefa dificílima. 

 

176 – Depois de mais alguns ...

 

(continuar)

 

30
Out13

Chá de Urze com Flores de Torga - 11


 

TRÁS-OS-MONTES

Um paraíso perdido e reencontrado por Torga e as lições que dele devemos retirar

 

Maria da Assunção Fernandes Morais Monteiro, Professora Catedrática da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, docente do Departamento de Letras daquela Universidade, é uma das autoras que muito se tem debruçado sobre a obra torguiana.


Hoje vamos aqui deixar ligeiros apontamentos, ínsitos no escrito desta autora sob a designação «Trás-os-Montes: um paraíso perdido e reencontrado por Torga».


Trás-os-Montes, o «Reino Maravilhoso» é um reino que todos podem ver, desde que

 

"os olhos não percam a virgindade original diante da realidade e o coração, depois, não hesite.” (Portugal).

 

Que "fica no cimo de Portugal, como os ninhos ficam no cimo das árvores para que a distância os tome mais impossíveis e apetecidos.” (Portugal).

 

Adolfo Rocha, segundo Maria da Assunção Monteiro, “nunca esqueceu a sua origem transmontana e humilde, de filho de gente do povo. Marcado pelas dificuldades que passou na infância e na adolescência e pela vida dura que via à sua volta, em grande parte das pessoas da sua região, e serviu-se da pena para lutar e defender os direitos e a melhoria das condições de vida do homem, chamando a atenção para o que de errado lhe parecia existir à sua volta, situando espacialmente muitas das suas criações na região transmontana”.


E, ainda para aquela autora, a São Martinho de Anta e à região transmontana, ficaram associadas vivências da infância e da adolescência em liberdade, recordações de uma felicidade passada, apesar da rudeza de vida, que se mantiveram ao longo dos anos, transformando Trás-os-Montes num paraíso perdido nos longes da memória, associando-lhe sempre momentos de felicidade infantil e originando uma recordação saudosa de um espaço ao qual atribuiu a designação de «Reino Maravilhoso».


Para Maria de Assunção Monteiro, a memória saudosa e nostálgica de São Martinho de Anta, que o acompanhou ao longo de toda a sua vida e que pode ser testemunhada em muitas passagens da sua obra, fez com que, num registo do Diário XII, de Londres, 10 de Junho de 1977, exprimisse o desejo de morrer na sua terra:

 

"É lá, no meu [ninho] que sempre quis viver e quero morrer. Infeliz de o sentir de tojos, e feliz de o sonhar de penas.".

 

Numa nota do seu Diário, de 8 de Setembro de 1992, pode-se aí ver a importância da terra natal para Torga. “Foi nesta aldeia que o seu carácter se formou, foi neste espaço que aprendeu os valores morais da vida, numa fase do percurso humano, a infância, que é marcante e condicionadora de comportamentos futuros. É, por Isso, que Torga confere a São Martinho de Anta o valor metafórico de marco de orientação, quase de bússola indicadora, do caminho a seguir” (Maria da Assunção Monteiro):

 

"Mesmo a cair aos bocados, teimei em passar por aqui. E que nenhuma hora da minha vida tem significação sem esta referência. São Martinho é um marco de orientação e segurança que vejo em todas as horas de perplexidade e angústia e de todos os quadrantes do mundo." (Diário XVI).

 

Outro marco de orientação, referido por aquela autora, “nessa paisagem de rochas e montanhas, é a serra do Marão, sobranceira a uma boa parte da região transmontana (...)”.

O Marão para Torga representa o símbolo de toda a região. Por isso, vale a pena transcrever o poema “Marão” para se aquilatar do significado materno que, esta serra, para Torga, tinha:

 

“Serra, seio de pedra

Onde mamei a infância

Amor de mãe, que medra

Quando medra a distância.” (Diário III).

 

Trás-os-Montes, a sua terra transmontana, ficou gravada no espírito do escritor para sempre, inspirando-lhe um carinho sempre muito especial.



 

Monumento erguido em honra de Miguel Torga no largo principal de S.Martinho de Anta, junto ao tronco do negrilho a que Torga se refere em alguns dos seus escritos, e várias placas de várias entidades em homenagem a Torga


Vale a pena transcrever um pequeno excerto extraído de «Traço de união» para se aperceber deste profundo sentimento que Torga tinha pela terra que foi o seu berço:

 

"Lá, naquela rudeza sem conforto, é que sentimos a cama macia, a alma aconchegada! de lá, daqueles agressivos penhascos, é que nos vem ternura e calor!".

 

É, pois, na região transmontana, tal como no-lo afirma Maria da Assunção Monteiro, “no paraíso perdido da sua infância, que se movimentam grande parte 'dos heróis e personagens da sua ficção, quer sejam seres humanos, quer bichos antropomorfizados, todo um conjunto de personagens possuidoras de virtudes e defeitos, caracterizadas em moldes eufóricos ou disfóricos, das quais podemos destacar figuras como o pícaro pardal do conto "Ladino", o galo Don Juan do conto "Tenório", o gato acomodado de "Mago", o corvo rebelde e insubmisso de "Vicente", todos da antologia Bichos, ou outras personagens como a Maria Lionça dos Contos da Montanha e o Alma Grande dos Novos Contos da Montanha. São figuras que fazem parte da mundividência e do imaginário de Trás-os-Montes, que Torga tão bem conheceu e soube recriar na sua ficção narrativa”.

Se analisarmos bem todos aqueles ”heróis”, pessoas e bichos antropomorfizados, neles podemos ver “heróis altivos” para os quais não havia muros.


Da mesma foram se passa (passou) com Adolfo Rocha.


Segundo a autora que vimos citando, “a defesa da liberdade individual, a rebeldia e o carácter resoluto de Torga face à opressão por parte dos mais fortes, está patente em muitos outros dos seus trechos. Vejamos apenas um extrato do poema "Prece":

 

Senhor, ergo-me do fim

Desta minha condição:

Onde era sim, digo não,

Mas não calo a voz do chão

Que grita dentro de mim.” (Diário I).

 

E continua a autora: “a defesa da liberdade constitui um dos temas obsidiantes na obra de Miguel Torga, não uma liberdade que está no céu ou nas mãos dos homens, mas que está sobretudo em cada um de nós. A este respeito é muito sugestivo o poema "Liberdade", no qual o sujeito poético, num ato precatório, recorrendo à apóstrofe e a uma relação primeira segunda pessoa, revela que a procura da liberdade, quer no céu quer na terra, de nada lhe serviu. Todavia, mudando de estratégia, acaba por concluir”:

 

"Até que um dia, corajosamente,

Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,

Saborear, enfim,

O pão da minha fome.

– Liberdade, que estais em mim,

Santificado seja o vosso nome." (Diário XII).

 

A necessidade de se sentir interiormente livre, para Torga, era fundamental, contudo, a liberdade exterior deve igualmente existir, pois, uma vez o homem privado dela, não se sente bem:

 

Liberdade interior... Sim, essa ao menos. Mas que falta nos faz a outra, a de fora! O pensamento é dialético, necessita de dialogar, de agir. Só assim medra, caminha, progride.” (Diário VII).

 

Contudo, veja-se agora a nota constante do seu Diário XVI:

 

Liberdade. Passei a vida a cantá-la, mas sempre com a identidade no pensamento, ciente de que é ela o supremo bem do homem. Nunca podemos ser plenamente livres, mas podemos em todas as circunstâncias ser inteiramente idênticos. Só que, se o preço da liberdade é pesado, o da identidade dobra. A primeira, pode-nos ser outorgada até por decreto; a outra, é sempre da nossa inteira responsabilidade.".

 

O seu desejo de intervenção, ainda segundo Maria da Assunção Morais Monteiro, “o seu constante grito de luta, o anticonformismo estão patentes no poema "S.O.S.", de Cântico do Homem, no qual o poeta escreve”:

 

"Vai ao fundo o navio,

Mas eu sou o homem da telegrafia.

O que lança nas asas do vazio

O adeus da agonia..." .

 

Na verdade, “Torga sempre lutou pela independência, liberdade e dignidade humanas, ao longo da sua vida de escritor, e foram mais de sessenta anos de atividade literária. O seu combate revela uma personalidade dotada de uma capacidade de resistência irredutível e solitária. Foi um exemplo de coragem, de força anímica, o paradigma do homem capaz de lutar até ao fim com toda a verticalidade de carácter”. Numa nota do Diário XVI, a propósito da escrita deste último volume, escreveu”:

                      

"Coimbra, 9 de Dezembro de 1993E chega ao fim, com este volume, um livro que comecei a escrever um pouco estouvadamente há sessenta anos, e acabo agora com mais assento. [...] Mais do que páginas de meditação, são gritos de alma irreprimíveis dum mortal que torceu mas não quebrou, que, sem poder, pôde até à exaustão. E se despede dos seus semelhantes sem azedume e sem ressentimentos, na paz de ter procurado vê-los e compreendê-los na exata medida. E que confia no juízo da posteridade, que certamente lhe vai revelar os muitos defeitos e ter em conta as poucas virtudes. De alguma coisa me hão-de valer as cicatrizes de defensor incansável do amor, da verdade e da liberdade, a tríade bendita que justifica a passagem de qualquer homem por este mundo.".

 

Tudo quanto correu pela pena de Torga teve o dedo fundamental da terra que o viu nascer. Por isso, devemo-nos debruçar sobre o valor semântico de certos vocábulos na sua obra como «paraíso», «sagrada», quando qualifica a herança, e o «berço».


Vocábulos que traduzem toda a emoção, sensação agradável, de fruição, o valor afetivo dos espaços para os quais os vocábulos «paraíso» e «berço» remetem.


Que trazem a eles associados o sentido de alegria, felicidade, enfim, de liberdade total que todos nós sentimos na nossa infância.


Todo esse mundo se pode resumir nesta seguinte passagem do Diário XVI:

 

memória dos ninhos procurados e achados, do pião, dos primeiros frutos cobiçados nos quintais vizinhos, dos amores inocentes, das feiras tumultuosas, das procissões solenes, das fainas afadigadas, do paraíso perdido.".

 

Maria da Assunção Monteiro conclui: “O passado, a infância, decorridos no espaço transmontano, mesmo em dificuldades, tomaram-se, como se pôde constatar, um paraíso perdido na memória de Torga”.


Finalizamos, citando Luciana Stegagno Picchio, quando esta autora, pela segunda vez, visita Coimbra e diz: “visitar os dois monumentos da cidade: a Universidade e Miguel Torga" («Entre Douro e Mondego: a Metáfora Fluvial em Miguel Torga», in Aqui, neste lugar e nesta Hora. Atas do Primeiro Congresso Internacional sobre Miguel Torga, Porto, Edições Universidade Fernando Pessoa, 1994, pp. 413-419).

 

Concordando com Maria de Assunção Monteiro, diríamos que Torga não é só um «monumento» de Coimbra; é principalmente um «monumento» de Trás-os-Montes. O seu nome aparece associado sobretudo a dois espaços: Coimbra, onde residiu e exerceu Medicina, e Trás-os-Montes, o espaço físico das suas origens, mas também um espaço mítico de ficção, ao qual se manteve sempre fiel, e que imortalizou metonimicamente como «Um Reino Maravilhoso».


Campa rasa no cemitério de S.Martinho de Anta

onde Miguel Torga repousa na companhia da

sua mulher Andree Rocha, ao lado de uma urze (torga)


Trás-os-Montes, nas palavras da mesma autora, “esse «Reino Maravilhoso» do qual se afastou por necessidade, mas ao qual se manteve sempre ligado afetivamente, representa, em simultâneo, um paraíso perdido e reencontrado por Torga; perdido porque deixado na adolescência, e achado porque, de acordo com a sua vontade, a ele regressou e nele repousa para sempre”.


Pela minha parte gostaria de deixar aqui duas singelas notas, a jeito de grandes lições que o nosso Maior nos legou: o profundo amor ao berço do qual, um dia, abrimos os olhos para a vida e o de um autêntico sentido de amor, verdade e liberdade que esse berço nos incutiu. Que todos devemos ter em conta como exemplo.


Independentemente do grande legado que, como escritor, Miguel Torga nos deixou, este, para mim, é o mais profundo, porque mais significativamente humano. E que, nos tempos que correm, tanta falta nos faz!...

 

 António de Souza e Silva

29
Out13

O Vídeo de Chaves Rural, comemorativo dos 2.000.000 de visitas


Para os flavienses ausentes que acompanham este blog e vão estar cá na feira dos Santos, relembro que a exposição de fotografia comemorativa dos 2.000.000 de visitas ao blog vai estar patente ao público até ao próximo dia 2 de novembro, na Sala Multiusos do Centro Cultural de Chaves, junto à antiga estação da CP. Entretanto para quem não esteve presente na inauguração da referida exposição, deixo hoje aqui o filme que fez a abertura da exposição, isto se ainda não o viu, pois ele já circula pela INTERNET há mais de uma semana.


O filme dura 25 minutos e nele está retratado, nem que seja por uma montanha, todas as aldeias do nosso mundo rural e, ainda passa um bocadinho pelo Barroso aqui ao lado. A música, também de origem transmontana, é do Grupo LACRE, pela certa um grupo que pela sua qualidade ainda vai dar muito que falar.

 

Espero que gostem do filme. Eu, embora muito suspeito, não me canso de o ver e ouvir a excelente música dos LACRE.

 

Para quem tem MEO, pode ver o vídeo na televisão, no canal 500520, disponibilizado pela SinalTV.

 

Como sempre, para ver e ouvir o vídeo, desligue o rádio na barra lateral direita deste blog, onde diz Cotonete.

 

29
Out13

Estratos


 

Prendas do Outono


Saem com forma de círculo. Dão-lhe princípio e fim para que ganhem vida. Morrem por um dos sete. (Pela boca morre o peixe.)


Ainda que sem o obrigada, voltam sempre.


O carrossel também completa o círculo. No calendário e nas voltinhas. E tem taças que também rodam. (A roda não gira sempre para o mesmo lado.)


Contou-me a mãe que os Santos chegaram. Ser de Chaves também é isto. Viver os Santos duas vezes num ano.


Sinto cheiro (e saudade) de churros e farturas. Vejo da ponte as cores dos carrosséis. Oiço os pregões e os regateios.

 

 

O Outono leva as folhas, mas traz os Santos. 

 

Rita







28
Out13

Quem conta um ponto...


 

Pérolas e diamantes (61): intelectuais e… intelectuais

 

 

Todos o sabemos, Portugal não é um bom país para intelectuais. Por isso é que eles não abundam por cá. E os que existem são olhados de soslaio ou são mesmo vítimas da má-língua e do escárnio.

 

A palavra “intelectual” é utilizada em Portugal sobretudo para denegrir e quase nunca para elogiar. Chamar intelectual a alguém é uma forma de insulto. Um intelectual é alguém que tem a mania que lê, que escreve e que pensa pela sua cabeça. Além disso, um intelectual é sempre alguém que gosta de se armar em… intelectual.

 

O intelectual é o tipo de pessoa que se deve evitar porque é determinado, obstinado e muito dado à reflexão. E como refletir leva muitas vezes a colocar tudo em causa, o intelectual é, por definição, um agitador.

 

E um agitador desestabiliza, pergunta, responde, inquieta e assusta.

 

E Portugal, sobretudo o Portugal provinciano, assusta-se com a desestabilização, com a inquietação, com as perguntas, com a cultura, com os livros, com a escrita, com as ideias.

 

A excelsa província inquieta-se com a cultura e com os intelectuais, que, por definição, são aqueles que a produzem.

 

Por isso os políticos provincianos utilizam os intelectuais, e a cultura, como arranjos florais para de vez em quando os exibirem em festas e comemorações. Depois aconselham-nos a ir para casa ler e escrever, pois é aí que devem estar, em reflexão, em meditação, escrevendo para a gaveta, esgotando-se no remanso do lar, definhando como bibelôs de estante. 

 

De facto, os designados como intelectuais são bichos estranhos, pouco dados a carreirismos, a subserviências, por isso são tão mal-amados ou mesmo vilipendiados. Eu, em vez de os ver pelo prisma da intrujice e da maledicência, prefiro entendê-los como estão descritos nos dicionários. No da Academia das Ciências de Lisboa, intelectual vem definido como “pessoa que cultiva preferencialmente as coisas do espírito e do entendimento”.

 

O intelectual de gaiola dourada, Vasco Graça Moura, em Agosto deste ano, talvez por causa do calor que se fazia sentir lá por Lisboa, disse uma coisa que me deixou deveras preocupado: “Os intelectuais estão em vias de extinção.”

 

Então agora depois do lince da Malcata e do burro mirandês só nos faltava mesmo os intelectuais portugueses estarem à beira da extinção.

 

E ainda mais preocupado fiquei quando na sua entrevista afirmou textualmente: “Sinto-me próximo do Presidente Cavaco Silva. Apoio-o desde 1986 e acho-o o maior político português desde 74.”

 

Não só os intelectuais portugueses estão à beira da extinção como um dos seus mais dignos representantes na pátria de Camões foi atacado por uma doença rara, pois considerar Cavaco Silva como o melhor político português depois de 1974 só é possível em pleno estado alucinatório ou de loucura galopante.

 

Talvez seja por isso que foi escolhido para presidente do Centro Cultural de Belém. Cá se fazem cá se pagam. 

 

Afinal Vasco Graça Moura só é um verdadeiro intelectual quando o Partido Socialista está no poder. Nessas alturas enche-se de razões e zurze neles com a determinação dos visionários. Quando o PSD chega ao poder, lá vai ele lampeiro sentar-se numa cadeira dourada e, a partir daí, tecer loas a tudo quanto é figura laranja destacada no aparelho do Estado. Podemos dizer que Vasco Graça Moura é o verdadeiro intelectual do PSD.

 

Mas deixem-me passar a uma intelectual muito em voga nos dias de hoje, Clara Ferreira Alves. Na revista do Expresso, revoltando-se, e bem, contra os escritores injustamente esquecidos pela inteligência portuguesa, escreveu que os novíssimos autores são todos sobrevalorizados. Tanto os que publicaram, como os que publicam e até os que publicarão ou nunca pensaram publicar.

 

A seguir vai atrás dos culpados. Na sua opinião em Portugal não existe massa crítica e muito menos discórdia, pois a única revista literária que se publica em Portugal, a “Ler”, que ela define como um produto do lobby de Francisco José Viegas (com o seu índex de inimigos e desagrados), e um meio pequeníssimo corrompido pela recusa da polémica, “pois toda a gente se conhece e todos dependem uns dos outros, faz com que os autores nunca sejam sujeitos a um juízo literário liberto de constrangimentos e cumplicidades. Que alguns mereciam. A “Ler” institui uma ditadura do gosto e do marketing e exerce um poder de canibalização que ninguém ousa contrariar. No corredor, pratica-se o escárnio e maldizer. E lá vamos andando.”

 

Um intelectual à maneira antiga – daqueles que eu aprecio e venero, Vassili Grossman, cujo livro “Vida e Destino” foi considerado tão perigoso na União Soviética que não só o manuscrito como também as fitas com que foi digitado foram confiscados pelo KGB, permanecendo desaparecido durante vinte anos – escreveu no seu romance “Tudo Passa” este fragmento épico que a todos nos deve pôr a pensar: “A quantidade geral da violência mantém-se sempre igual na terra, enquanto os pensadores tomam o caos das suas metamorfoses por uma evolução.”

 

E ainda mais esta: “As fontes da mansidão correspondem às do fanatismo e da intolerância.”

 

Vassili Grossman, com a ajuda da sua máquina de escrever, pois era também repórter de guerra, foi capaz de colocar em questão não só a violência nazi como também a institucionalização progressiva do nacionalismo, chauvinismo e antissemitismo pelo regime estalinista. Morreu três anos após ter entregado o seu livro e de o ver apreendido pelas autoridades.

 

João Madureira

27
Out13

Pecados e Picardias


 

Muda a hora

 

Muda a hora , mas não muda o tempo

Nem a história nem o desalento…

 

Muda a hora , mas não muda a pressa

Nem   o povo  chora  já não há  promessa…

 

Muda a hora mas não muda a espera

Nem  a ilusão nos ampara na queda

 

Muda a hora mas não muda o presente

Nem mesmo na desforra a raiva que se sente

 

Muda a hora mas não o desespero

Nem a dor nem a pena nem o degredo

 

Muda a hora mas não muda a saudade

Nem a prisão que sinto nesta liberdade

 

Muda a hora mas não mudamos nós

Nem este inverno em que estamos sós

 

Muda a hora mas não mudam eles

Nem a vergonha cora as suas peles

Muda a hora mas não os silêncios

Nem a voz de outrora nos  pensamentos…

 

Muda a hora mas não mudam os pecados

Sem medo à justiça ou a ser julgados…

 

Muda a Hora


Isabel seixas



26
Out13

As Coisas Boas da Vida


 

Ir ao cinema e ver um bom filme

 

Há quanto tempo não vai ao cinema? Ou, perguntando de uma outra forma, ainda se lembra do último filme que viu? É provável que já tenha passado algum tempo, ou se calhar, muito tempo mesmo.


É verdade que o ritmo vertiginoso do dia-a-dia nos deixa cada vez menos tempo para as coisas boas da vida, como, por exemplo, uma ida ao cinema. Por outro lado, temos hoje várias outras formas de ver filmes no conforto de nossa casa. É, sem dúvida, mais prático, podemos fazê-lo a qualquer hora, podemos acabar de ver o filme no dia seguinte, se entretanto o sono nos vencer, e até podemos avançar logo para o fim se a história nos estiver a aborrecer... Mas o encanto não é decididamente o mesmo do de uma ida ao cinema. E a verdade é que sem nos apercebermos estamos uma vez mais a trocar o convívio e o contacto com os outros pelo isolamento e pela solidão... Ali ficamos nós, enfiados em casa, impávidos e serenos, afundados num sofá, a olhar para o pequeno écran da televisão.


Aceite o meu conselho. Um dia destes ofereça-se a si mesmo um programa diferente; saia de casa para um agradável jantar, em boa companhia, e depois termine a noite com uma ida ao cinema. Percorra os cartazes, escolha um filme que lhe agrade e compre os bilhetes. Depois, instale-se confortavelmente à espera do momento mágico... Finalmente, a escuridão toma conta da sala... um feixe de luz atravessa o espaço... e na tela branca à nossa frente projetam-se imagens em movimento que nos transportam para uma outra realidade/fantasia e nos fazem sonhar acordados...

 

É a magia do cinema...

E já agora não se esqueça das pipocas...

Experimente e depois diga-me qualquer coisa...

 

Luís dos Anjos

25
Out13

Discursos sobre a cidade - Por António de Souza e Silva


 

NOVOS AUTARCAS, NOVA POSTURA, PRECISA-SE!...

 

I

Quando, no passado sábado, celebrávamos os dois milhões de visitantes a este blog, com o lançamento do livro «Chaves - olhares sobre a cidade», contendo imagens, a preto e branco, de Fernando DC Ribeiro, e textos, a propósito dessas mesmas imagens, dos seus antigos e atuais colaboradores, seguido de um sarau cultural e de um «Chaves de honra», na apresentação daquele livro, a certa altura, opinávamos quanto à necessidade deste blog passar a ter uma outra fase: abrir-se mais à cidadania, a uma maior participação cidadã. Não transformando-se num palco político-partidário ou de qualquer movimento com pretensões de ascendência ao poder, mas num verdadeiro fórum da sociedade flaviense. O seu número de visitantes, cremos, assim o exige.


E argumentávamos que Chaves é uma cidade cheia de pergaminhos. Com História e com histórias. Com uma história milenar e um rico património que as suas gentes bem merecem que não seja descurado.


Contudo, a par deste rico, histórico e milenar, mundo, um outro, paredes meias com este, existe. Chamei-lhe de «antigo» a este mundo rural flaviense. Cheio de belas paisagens, mas no qual habita uma outra «paisagem», a maior parte dela, já de janelas e portas fechadas. E, quando, de longe em longe, se abrem - poucas infelizmente -, exibem rostos velhos, mirrados por anos de sofrimento, solidão, nos quais só apenas afloram lembranças. Um mundo onde abunda a ausência, o abandono. Cheio de silêncios. De partidas e chegadas. Chegadas poucas. Quase sempre fugidias. Mas no qual, todavia, se sente que ali a esperança ainda não morreu...

 

II

 

No rescaldo das últimas eleições autárquicas, na minha página pessoal do Facebook - António Souza Silva - apelava aos novos autarcas eleitos, principalmente àqueles que têm assento na Câmara e na Assembleia Municipal, que a presente hora que atravessamos leva-nos a que levemos por diante três tarefas prioritárias.


A primeira vai no sentido de se pagar urgentemente o que se deve. Não só porque devemos ter uma postura honrada para com os nossos devedores, como também para sairmos deste sufoco financeiro em que estamos metidos.


A segunda prioridade tem a ver com o parar com novos investimentos - a não ser aqueles que já estão legalmente compromissados - e simplesmente gerir os sistemas autárquicos que têm a ver com a satisfação das necessidades básicas dos cidadãos.


Aproveitando, desta feita, - e esta é a terceira prioridade -, esta pausa, para pensarmos, de uma forma séria e participada, no futuro do nosso concelho e numa estratégia de desenvolvimento consentânea com os tempos modernos, deixando de lado os programas eleitorais de cada partido ou movimento que todos nós sabemos (e, pelo vistos, só os partidos e movimentos é que não percebem) que não servem para nada!


Quanto às duas prioridades, pouco ou nada posso fazer para que tais desideratos sejam prosseguidos.


Meu contributo pode - e deve ser feito - enquanto cidadão e flaviense, a nível da terceira prioridade.

É necessário pensarmos o mundo rural. Que está em agonia. E termos suficiente engenho e arte para encontrarmos uma estratégia que concita um regresso à terra. Tornando-a habitável, porventura noutros moldes. Evitando o sufoco e o inferno a que, invariavelmente, todos os anos somos submetidos, no verão, numa situação que, só não vê quem não quer, reflexo de uma má gestão do nosso território. Que não só o florestal.


A propriedade privada não deve ser um direito absoluto, quase sagrado. Tem, deve desempenhar, uma função social. Urge que surja uma nova mentalidade, uma nova cultura. De um modo especial no que respeita ao direito sucessório e à forma como a gestão das heranças são feitas.


Fala-se muito de reformas. Vindas de quem vêm, sabemos já o que querem e para onde nos levam... Mas é mais que evidente que necessitamos de uma verdadeira reforma agrária (não aquela saída da Revolução de Abril!) mas a de que necessitamos para que os nossos recursos agrícolas, florestais, silvícolas e hortícolas tenham significado em termos de riqueza para o país. Reforma essa que precisa de ser feita a montante no que respeita às heranças e ao emparcelamento, entre outros, como a jusante, no que diz respeito à racionalização e gestão das culturas como aos canais de escoamento, para que, quem produz, não seja explorado pelos grandes monopólios da distribuição.


Infelizmente ninguém tem coragem de a enfrentar! Porque, obviamente, tem os seus custos...


Porque, infelizmente, ninguém quer arregaçar as mangas e, discutindo e trabalhando, lado a lado, com o agricultor, o lavrador, o proprietário ou o assalariado, seja capaz de suscitar mudanças, sinergias que levem à alteração deste «status quo» obsoleto. E, assim, o nosso território, nesta vertente, ao ser desta maneira gerido, não cria naturalmente riqueza, porque baseado num modelo ultrapassado! É questão para perguntar para que temos um Ministro-adjunto do Desenvolvimento Regional, um Ministério da Agricultura e do Mar e um Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia. E onde estão os técnicos desses ministérios?


É evidente que já não temos gente nas nossas aldeias para encher os lares que, mercê do abandono, estão já em ruínas. Aldeias fantasmas, portanto. Que metem pena!


E mete pena o estado lastimável em que temos a maior parte, se não a totalidade, da nossa arquitetura tradicional!


Mas podemos criar outras valências para as nossas aldeias. Dando-lhe vida. Uma outra vida! Recuperando, em grande parte delas, a sua arquitetura tradicional e motivando outros atores para as ocuparem, incentivando-os, com medidas de descriminação positiva, a viverem, e a explorarem a terra, num ambiente limpo, saudável e sustentável.


Isto não é utopia! Pode ser realidade. Mas, para que esta realidade seja possível, é necessário que se fale destas coisas. Sem «mas». Com vontade de mudança. Despindo a pele do «velho do restelo»!


Vou repetir, uma vez mais, uma frase que já há anos ando pregando: ninguém desenvolve ninguém, a não ser nós próprios. Daí que, compete a todos nós, sublinho, todos nós, e não apenas aos autarcas que elegemos e aos políticos de carreira, dizermos que mundo rural queremos para o século XXI que aí está.


E se o mundo rural precisa de ser pensado, redefinido e reconstruído, outro tanto se passa com a cidade.


Que cidade de Chaves queremos para o futuro, tendo por base a nossa história milenar, o nosso património, os nossos recursos e o nosso posicionamento geográfico?


Quais os desígnios que queremos enfrentar, levar por diante, tendo em linha de conta aqueles pressupostos e recursos?


Nós, todos nós, repito, e não apenas os autarcas eleitos, temos uma palavra importante, fundamental, decisiva a dizer quanto ao nosso futuro comum. Porque nós, flavienses, somos o maior e mais importante recurso à sombra do qual todos os outros giram, medram.


Queremos uma «Cidade da Saúde, do Lazer Termal e da Cultura, em harmonia e contato com a Natureza»?


Que projetos, que atores, que meios para levar este desígnio por diante?

 

III

 

Os leitores que acompanham os meus escritos sabem que estou em total desacordo quanto ao modelo, ao figurino autárquico que nos governa e, por tal circunstância, depois da minha experiência nos anos 90, deixei de integrar qualquer órgão autárquico no concelho.


Toda a gente reconhece que este modelo teve o seu tempo e as suas virtualidades. Mas que, nos tempos que correm, já está caduco. E que tem de mudar! Contudo, o «centrão» que nos governa, é incapaz de o modificar. Porque muito haveria que mudar! E, porventura, os interesses instalados e, quiçá, a corrupção, falam mais alto!...


Por outro lado, o nível autárquico, nos tempos que correm, já é uma escala demasiado pequena para poder levar por diante os desafios do desenvolvimento dos territórios.


Daí que pensar o mundo rural flaviense e o(s) desígnio(s) para a sua cidade requere que pensemos a uma outra escala. E, neste pressuposto, exige-se autarcas que tenham espirito suficientemente aberto, ágeis, menos caciques, capazes de entenderem que uma nova era se abriu para fazer política. Uma nova era que deve deitar por terra o «chico espertismo» de cada presidente de câmara, a política do campanário, «o venha a nós o nosso reino», «lixando-se» para os demais. E termos uma visão mais abrangente, de conjunto, e de solidariedade (pessoal, institucional e territorial). Em que cada território deve trabalhar em conjunto, valorizando os seus recursos endógenos, em função de uma estratégia de desenvolvimento assumida em termos solidários, porque discutida, aceite, sufragada, a partir de uma escala supra municipal, e trabalhada, tanto quanto possível, em «cluster».


Daqui o meu apelo ativo à participação ativa de todos os cidadãos.


Daí a minha esperança que esta nova geração de autarcas sejam capazes de serem eles a locomotiva do desenvolvimento das suas terras, do seu território no conjunto, corporizada, no dia-a-dia, pelo apelo à participação e ao debate à volta dos problemas e do futuro que queremos não só para Chaves mas também para todo o Alto Tâmega e Barroso. Porque é esta a escala razoável e a condição «sine qua non» que, «a priori», nos oferece algum grau de sucesso para o desenvolvimento e qualidade de vida das gentes deste território que todos nós partilhamos.


Doutra forma, não nos resta se não tirar a lição da parábola dos vimes: juntos, poderemos conseguir muito, ou quase tudo, enfim, sermos inquebráveis; sozinhos, e como tem acontecido até aqui, não conseguiremos nada!


Pela minha parte, tudo farei, nomeadamente nesta rubrica, para, como cidadão, e flaviense, apresentar os meus pontos de vista e opinar sobre os demais que surjam na opinião pública flaviense, alto-tameguense e barrosã.


E, enquanto minha vida e saúde o permitirem, estarei disponível para participar em tudo quanto aos desígnios, aos desafios e ao futuro da nossa cidade, e do território do Alto Tâmega e Barroso, diga respeito. Porque é este o dever que a minha consciência de cidadão me dita.

 

António de Souza e Silva

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