Intermitências
Último Post
"Caríssimo,
Desde que foste embora que ouço a 'nossa' música. Há quem diga que as músicas de antes versavam sobre as profundezas humanas, e que as de hoje reflectem mais o medo da emoção. Medo de dar-se, entregar-se, ficar a mercê da mudança e do eférmero, medo de não controlar-se a si próprio e aos sentimentos, e sobretudo de sofrer.
Quisemos fechar-nos dentro de nós próprios, dentro das nossas expectativas e ilusões. Quisemos continuar a procurar. Porque a felicidade não pode estar tão próxima. Não, a felicidade está certamente noutro lugar, não à mão de semear, é demasiado fácil para a complexa mente humana. Quisemos continuar a procurar. Temos agora demasiado por onde escolher.
Saint-Raphaël, França, Agosto 2014 - Fotografia de Sandra Pereira
Não te vou maçar mais com as minhas histórias, supostamente originais, supostamente singulares, já te inventei muitas para que nunca me fosses embora. Mesmo assim preferiste partir em busca do frio lá fora com medo de queimar-te junto à nossa lareira.
Talvez voltes um dia. Porque o tempo apaga muita coisa, mas não apaga as marcas do coração. Talvez seja melhor, talvez seja a única forma de dar sentido à vida nestes tempos que correm. Para que se recuperem valores que já cremos perdidos para todo o sempre no 'antigamente'.
Quero ficar bem. Também quero continuar a procurar. Temos agora demasiado por onde escolher.
Vai dando notícias. Se puderes, se quiseres.
Um beijo"
Sandra Pereira