Quem conta um ponto...
225 - Pérolas e diamantes: está na hora
Vivemos num país onde um ministro das finanças fez uma lei para seu benefício próprio, onde numa legislatura os deputados aumentaram cem por cento os seus ordenados (com efeitos retroativos), onde um secretário de Estado meteu ao bolso verbas destinadas à publicidade e às obras dos hospitais, onde alguns ex-deputados recebem reformas chorudas e onde os subsídios da União Europeia desapareceram sem deixarem rasto.
Agora até temos um ex-primeiro ministro preso preventivamente por suspeita de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal.
Todos sabemos que na nossa sociedade existe uma forma de criminalidade cuja amplitude desconhecemos, mas que intuímos que nos assustaríamos se viéssemos a descobrir quem nela toma parte.
Chegámos a um ponto onde o reduto da privacidade não é o recôndito da alma e do lar, mas sim a conta do banco.
Nos tempos que correm já não há certezas simples. Atualmente ninguém é capaz de distinguir entre bons e maus, corruptos e honestos, entre vencedores e vencidos.
Daí eu pensar que Portugal funciona segundo as leis da teoria do caos, pois por cá tudo acaba por criar o seu próprio e eficiente sistema de funcionamento.
Os nossos políticos gostam que os perpetuem em pedra ou bronze. Para muitos, a inauguração de um repuxo numa praça é o momento alto da sua carreira.
São essencialmente uma fraude moral. As suas promessas eleitorais baseiam-se sempre em estatísticas que contradizem os números e a própria realidade.
Cuidam sempre primeiro dos seus interesses pessoais, depois divertem-se, gozam connosco e finalmente fingem tomar a peito os cuidados da coisa pública.
Tudo isso é teatro. Os seus momentos de disputa e debate político com os opositores são feitos a horas certas e em palcos específicos próprios para a opereta.
E da mesma forma como os atores se zangam, discutem e se agridem em palco, também os nossos políticos se insultam sob as luzes da ribalta, mas por fim felicitam-se com fervor nos corredores do poder. Pois sabem que todos eles verão chegar a sua vez de se locupletarem com o orçamento de Estado ou com as leis que confecionam em benefício da classe a que pertencem.
As pessoas dos partidos tornaram-se tão inconscientemente perigosas que quando andam em campanha eleitoral, as pessoas ao vê-los chegar, dizem com o mesmo ar preocupado dos agricultores perante as pragas que ameaçam as suas colheitas: “Vêm aí os políticos.”
Está na hora de dar volta a isto.
João Madureira
PS – Afinal o que seria a nossa vida sem o inalterável fluxo de obrigações desagradáveis, de compromissos vagos e de vocações frustradas.
Um personagem do livro de Alberto Manguel, Todos os Homens São Mentirosos, distinguia entre o falso verdadeiro e o verdadeiro falso, sendo que o primeiro lhe parecia mais real.
Da pluma de Berens, outro personagem do livro de Manguel, presenteamos o senhor presidente da CMC, mais a sua distinta vereação, com esta «citação grátis»: “Sempre pode haver um trevo / entre a erva selvagem / que embora igual na terra / difere pela sua coragem.”
Certos de sermos compreendidos nesta nossa mensagem, mais uma vez reiteramos o pedido de aprovação de uma auditoria externa às contas da nossa autarquia, pois quem não deve não teme e etc.
PS 2 – E, já agora senhor presidente, talvez fosse boa ideia aprovar conjuntamente uma auditoria externa às contas da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, da qual foi digno presidente, até 2013, o agora vereador João Neves (ex-MAI e presentemente do PSD), pois quem não deve não teme; certos de que aquele que tão garbosamente reclamou, durante toda a campanha eleitoral, uma auditoria às contas da Câmara de Chaves, com toda a certeza verá com bons olhos, e até aclamará de pé, uma auditoria realizada às contas do seu próprio mandato. A transparência política e financeira de que fez público alarde, assim o exige.