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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

31
Ago15

Quem conta um ponto...


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254 - Pérolas e diamantes: uma mão lava a outra e a sujidade não há meio de sair…

 

A rábula dos cartazes do PS e do PSD/CDS, diretores de campanha incluídos, fez-me lembrar aqueles mexicanos pobres que pintam os burros com listas pretas e brancas para os turistas ocidentais os fotografarem como se fossem zebras; ou os sócios do Bollinger Club, referidos por Evelyn Waugh, que num jantar anual de comemoração trouxeram uma raposa numa jaula para a matarem atirando-lhe garrafas de champanhe. E não há óculos modernaços, sorrisos pepsodente e jantares grátis que o disfarcem. Ou os desculpe. A cada um o seu falhanço. Tarantino já provou que é capaz de fazer um filme por bem menos, pois o sucesso de bilheteira é garantido. O espetáculo serve-se quente e delirante, como a mentira. A história dos enganos tradicionais dos partidos dos tachos, panelas e potes mantém-se até à náusea. Até ao vómito. Até à farsa. Até um dia.

 

Num dia qualquer de agosto refresquei-me, primeiro na casa do Alentejo em Lisboa, que me pareceu uma homenagem à cultura árabe, com uma cidra bem fresquinha e mais tarde, mesmo em frente do Palácio de Belém, lendo uma apetitosa entrevista do escritor J. Rentes de Carvalho ao DN.

 

Tal como este senhor das letras portuguesas, que vive Com os Holandeses há mais de quarenta anos, também eu “perdi muito cedo a ingenuidade porque comecei a ler”.

 

Tal como o autor de Ernestina, já votei várias vezes mas continuo a ter uma certa aversão à política lusa baseada em dois partidos, “em que ora manda um ora manda outro e, ao fim e ao cabo, mandam sempre as mesmas pessoas. Esta bipolarização desgosta-me bastante porque se na aparência são inimigos, a verdade é que uma mão lava a outra” e, acrescento eu, a sujidade não lhes sai da pele.

 

Rentes de carvalho conta no seu livro Portugal, a Flor e a Foice, que mesmo antes do 25 de Abril, observou toda aquela gente da oposição democrática e reparou na “naturalidade com que mostravam os interesses e as alianças que faziam”, concluindo que tal gente não era séria.

 

Ou seja, e até nisso estamos de acordo, em Portugal não houve revolução nenhuma. “Os militares foram simplesmente joguetes e sem se darem conta”. O golpe militar que instituiu a democracia em Portugal deu-se porque, na sua opinião, que igualmente partilho, “houve forças importantes que aproveitaram a mentalidade dos militares, o aborrecimento por não poderem ser promovidos e o medo de que os milicianos lhes roubassem o lugar. Psicologicamente isso foi extremamente bem aproveitado dando a todos – a eles próprios e ao povo – a ilusão de que ia haver uma mudança no país.

 

Um dia, em plena estação de São Bento, no Porto – JRC nasceu em 1930 em Vila Nova de Gaia –, uma vendedeira de jornais disse-lhe a “grande verdade”: “Ó menino, a merda é a mesma, as moscas é que são outras.”

 

Sem papas na língua, J. Rentes de Carvalho, aproveitou para se referir à crítica literária lusa. Aquando da saída do seu romance Rebate, os críticos lá de Lisboa dispararam logo vários tiros de canhão afirmando que “esse sujeito não sabe conjugar verbos, não conhece a gramática, não é capaz de contar uma história”. Passados oito anos, o livro foi editado na Holanda e logo todos disseram: “«Uma obra-prima». Ou seja, é tudo um bocadinho tristonho.”

 

Não gosta da escrita de António Lobo Antunes, que abandonou após ler Memória de Elefante; não leu O Pêndulo de Foucault, de Umberto Eco, porque se ficou pelo Nome da Rosa, confessando: “Há temas que me ultrapassam porque não sou muito inteligente.”

 

Afirmou-se um apreciador de Eça e Camilo e de João Guimarães Rosa. “Quem não sabe quem é Guimarães Rosa está muito mal.”

 

Confessou-se um admirador de Céline, chegando a defini-lo como um “grande homem”. “As pessoas enchem a boca de Proust e James Joyce mas o Sr. Céline está acima dessa gente toda.”

 

Numa coisa discordamos, mas até por isso o fiquei a admirar ainda mais um pouco. Eu sou fã de Aquilino Ribeiro, especialmente do seu genial livro Malhadinhas. Rentes de Carvalho considera que o autor de Andam Faunos pelos Bosques “andou a pintar uma gente toda florida”, que é um produto fabricado, “uma espécie de louça das Caldas”.

 

Perguntaram-lhe o que pensa de Torga. A resposta foi crua: “Como pessoa era um horror. Um sujeito mau, peneirento e chato. Como escritor era bom, mas limitou-se na sua escrita. Tinha um nome fácil de memorizar.”

 

Choca-o, e também a mim, diga-se de passagem, que o Eusébio esteja no Panteão. “Pelo amor de Deus. É uma bacoquice, é uma pelintrice.” E a Amália “também não. Tenham paciência”.

 

“É uma vergonha dizer em qualquer parte do mundo que temos um futebolista no Panteão Nacional.”

 

Por estas e por outras é que quando uns “maduros” lhe quiseram fazer uma homenagem e se dirigiram à Câmara da sua aldeia de adoção (Estevais – Mogadouro, terra dos seus pais), o presidente disse logo: “Não! Ele não é de cá.”

 

A terminar revelou, referindo-se às suas traduções para o neerlandês, feitas do original português, que, tal como o jargão do politiquês utilizado pelo PSD/CDS/PS, “o holandês é uma língua boa para falar de porcas e parafusos”.

 

Esta entrevista fez-me lembrar o lema do fugitivo pai de David Bartra, o menino triste e herói do romance de Juan Marsé, Rabos de Lagartixa: “A puta da verdade há de ensinar-te a duvidar de tudo”.

 

João Madureira

 

 

30
Ago15

Pecados e picardias


pecados e picardias copy

 

A taverna 


A taverna silenciosa
Ávida  pela noite
Que descanse cautelosa
Ensombrada pernoite
Ingenuidade pecaminosa  
 
Que magnetismo irradia
Que química desafia
Interacção contundente
Influência na vida de gente
Compulsão vadia errante
 
O misto aliciante marginal
Decadente na noite
De manhã expurga o mal
Expia com cefaleia matinal
Pecados do anoitecer trivial
 
Alheada dos fluidos
Que entranha no seu corpo
Etéreos gemidos
Vendidos  transfundidos a copo
Insólitos comprimidos
Analgésicos acessíveis ao povo
Um poder num mausoléu oco
 
Ainda há quem a subestima
Ah! Que vulgar heresia
A taverna Ela  a que prima
Capturar toda a primazia
De toda a emoção, da  que rima
 Do Teatral em demasia
Da sua expressiva auto estima
 
Merece um repouso peculiar
O da maratona do descansar
Poucas horas para recuperar
O encanto do desencantar
Mágoas resilientes limpar
 
Adormece no ombro da madrugada
Escondendo  uma face extenuada
Disfarçada de indiferença no nada
Alvorece do crepúsculo da noitada
Rejuvenescida acorda revigorada

 Isabel Seixas

29
Ago15

Agrela - Chaves - Portugal


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Hoje vamos fazer uma breve passagem pela Agrela, uma daquelas aldeias que para se conhecer temos que entrar dentro dela.

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Depois de entrarmos, primeiro invadem-nos os sentimentos de agrado por entramos numa das nossas aldeias que vai mantendo as suas características de aldeia tradicional transmontana de ruas estreitas, casario maioritariamente em pedra e poucos atentados que firam a sua integridade e, é aí que outros sentimentos nos começam a invadir.

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Sentimentos controversos. Por um lado apreciamos coisas de que gostamos, por outro, o ver casas abandonadas, algumas em ruinas, a ausência de crianças e gente jovem nas ruas, faz com que a revolta e os porquês nos invadam. Porquê estamos a perder as nossas aldeias e ninguém faz nada para travar o seu despovoamento? — E não preciso de respostas, pois infelizmente sei quais são. E isso é o que revolta!

 

 

29
Ago15

Ocasionais - Ele há cada um!


ocasionais

 

”Ele há cada um!”

 

“Há dias alguém me dizia que

Chaves tinha de se afirmar

como um concelho urbano que é”.

F.R.

 

Eu, que sou tão avesso ao uso de estrangeirismos baratos quanto pedantes, respondo a esse idiota petulante que lhe afirmou tal disparate com a expressão cunhada por um «artista de circo»:

 

"There's a sucker born every minute".

 

Hoje, ser Flaviense é viver com mágoa.

 

O lamento que melhor a esconde ou disfarça é aquele que se escuta a toda a hora e momento a chorar a traição e o crime feitos às “Freiras”!

 

O Jardim das Freiras era a coroa de glória de uma Cidade, de um Concelho e de uma Região que vivia com alegria, estava em desenvolvimento.

 

A pujança da Cidade aí se manifestava na exuberância das brincadeiras dos estudantes, no movimento apaladado do “Aurora”, humorístico do Lopes, «construtor» do “Xavier”, financeiro da “Caixa” e de mensagens e segredos dos Correios.

 

E as Ruas e os Largos da cidade estavam sempre cheios de gente!

 

E havia cinema, Verbenas, música no Jardim do Tabulado … e a Srª das Brotas!

 

CHAVES era o celeiro e o alpendre de toda a Região.

 

No centro da cidade tirava-se o retrato, compravam-se as sementes e os adubos; as albardas, as sogas e as campainhas para o gado; o Mercado, amparado pela muralha da Rua do Olival, era um dos campos de batalhas floridas das donas de casa … e de algumas maroteiras de estudantes mais espevitados.

 

Na Lapa, naquela terra batida e pedregosa, germinavam futuros «pontas de lança», «defesas» e defensor do Desportivo!

 

Nos Bombeiros aprendia-se a apagar incêndios nas carvalheiras, nos restolhos e nos pinhais, e aprendia-se a incendiar o olhar e os corações.

 

No Arrabalde, bastava um único sinaleiro para que o trânsito na cidade fosse seguro.

 

Na Madalena havia o Posto da “PVT” -   e chegava para não se pisar a linha, fazer pisca à direita e à esquerda; havia o da Guarda Fiscal, que mal chegava para assustar os contrabandistas; havia a Feira dos Recos, que dava garantia ao «Presunto de Chaves»; e havia a “Casa Azul”, ponto de partida para a recta da fronteira, da subida da Montanha, e cruzamento de afectos, sonhos e paixões.

 

Pela recta de Outeiro Juzão chegavam as nozes e o «branco» de Vidago … e as «trovoadas de “Stª Barbѽra”.

 

No rio lavava-se roupa, tomava-se banho, pescavam-se bogas, barbos, escalos, enguias …e trutas!

 

Nele havia fartura de lontras e de galinhas-d’água.

 

O Liceu aumentou os “Ciclos”; a Escola Comercial e Industrial, as instalações.

 

Surgiu a Escola Normal.

 

Construiu-se um Hospital Moderno.

 

No Campo da Roda pousavam avionetas.

 

As Telhas e as caçoulas de Barro, de NANTES, eram famosas e procuradas.

 

A Veiga dava os melhores melões do mundo.

 

Faiões tinha enchentes de tordos e um delicioso «Trigo de quatro cantos»!

 

Em Valdanta sobravam caçadores.

 

Os «Pimentos do Cambedo» faziam um lindo par com «Os de Lebução»!

 

As «bicas de manteiga» chegavam das terras altas do Barroso.

 

As «Águas de Salus e de Vidago” davam fama e traziam gente.

 

Jogava-se «à macaca», ao «eixo-baleixo», à «bisca dos nove» ou «à delambida», à «sueca» ou ao «xincalhão», ao «fito» ou ao «sapo»; saltava-se «à corda» ou fazia-se «rappel» no Forte S. Francisco, e jogava-se futebol na Lapa!

 

“ ‘Stouque” em terra alguma o comboio tinha tanto significado e tanta ligação com as gentes como em Chaves!

 

Vi-o sempre cheiinho de pessoas e carregadinho de saudades!

 

Nele transportei muitas vezes, na ida e na vinda, cestinhas de lembranças.

 

O seu apito marcava horas com importância.

 

E até nos dava oportunidade para lhe concedermos a ele, porque ele nos concedia a nós, uma consideração maior distinguindo-o ora como «comboio-correio ora como comboio-batateiro!

 

Mais tarde, quando a Rádio propagou o “Angola é Nossa”, além da batata, do correio, e da Saudade passou a transportar a angústia.

 

Até ele serviu para decorar o abastecimento de carqueja e carvão à cidade, com o gracioso e histórico «comboio de Seara Velha»!

 

Por mais alcatrão que lhe espalhem, por mais pórticos e portagens com que a enfeitem, por mais cimento armado que lhe atirem, por mais pantominas festivaleiras que nela realizem, CHAVES jamais deixara de ser um concelho rural, “O CONCELHO RURAL QUE É” - e com muita honra!

 

O decaimento de Serviços e de população, dia a dia mais notório em Chaves, como pode inspirar tal disparate a esse idiota?!

 

Foi por ter subido ao cimo do mamarracho que tira as vistas à Torre de Menagem?!

 

Ou será por estar convencido de que ele e os seus pares, «lalões, «lalõezinhos» e «poneyzinhos de Tróia» já conseguiram infectar todos os Flavienses com a sua mentalidade enviesada, impostora, ridícula e idiota?!

 

CHAVES tem, mesmo dentro de portas, mais cortinhas, quintais e hortas que Serviços, comércios e indústrias.

 

Nem de uma estrutura turística mínima e decente dispõe!

 

E embora a cabeça dos seus mais proeminentes, luzidios e exibicionistas iluminados não crie piolhos tem lá dentro tanta porcaria e imundície que até transvasa para o Ribelas e o Tâmega, tal qual mostram as imagens que frequentemente são divulgadas, para nojo, vergonha e desgosto dos verdadeiros Flavienses.

 

CHAVES está uma cidade e um CONCELHO RURAL entregue ao deus-dará.

 

Enquanto não excomungarem o padre falso e os seus diáconos; enquanto não fizerem uma «cabidela de pavão» e com ela envenenarem os «lalões», «lalõezinhos», «pavões», pavõezinhos», «pa(ᴚ)vinhos» e «poneyzinhos de Tróia» desse seu «jardim zoológico politicastra e politiconeiro», os Flavienses autênticos e «retintos» não vão a lado nenhum!

 

Um CONCELHO da BATATA, da COUVE, do AZEITE, da “PINGA”, das “CALDAS”, dos “PASTÈIS”, do “FOLAR”, das PAVIAS, do “CALDO de CHÍCHARROS”, da «MATANÇA DO RECO», da “FEIRA dos SANTOS”, do “S. CAETANO, da “Srª da SAÚDE” e da «falecida» Srª das BROTAS, como diabo pode ser um “concelhito urbano»?!

 

CHAVES é, mas é, e TEM de SER, um IMPORTANTE CONCELHO RURAL!

 

“Urbano”?!

“Bem m’ou finto”!!!

 

M., 23 de Agosto de 2015

Luís Henrique Fernandes, flaviense

 

 

28
Ago15

Discursos Sobre a Cidade - Por Francisco Chaves de Melo


discursos-chico

 

Os treze anos que puseram a cidade a perder!

 

O verbo perder entrou nas conversas do dia-a-dia em Chaves!

 

Perdemos o Tribunal, perdemos população, perdemos serviços no hospital, perdemos a PJ, perdemos a isenção de portagens, perdemos no final de cada mês porque a Câmara aumentou a água e a recolha de lixo, perdemos no fim do ano porque o imposto sobre as casas (IMI) também foi aumentado pelo governo e pela Câmara, perdemos no IRS, porque a Câmara fica com todo o valor dos 5% disponíveis que podia descontar a favor dos que cá vivemos.

 

Perdemos o comércio tradicional, principalmente no centro histórico, perdemos o Polo da UTAD, perdemos os aquistas nas termas, por terem estado incompreensivelmente fechadas um ano inteiro, e sei lá mais o quê! Até perdemos a subida do Chaves à 1 divisão.

 

O que ganhamos em troca foi uma dívida de dezenas de milhões de euros na Câmara, o abandono do mercado e feira, o poço sem fundo da Fundação Nadir Afonso, as obras sem fim nem proveito do Museu Romano, um parque de estacionamento desocupado, uma avenida do Casino ao Bairro do Telhado, com estacionamentos para ninguém, que custou milhões por megalomania e desmesura.

 

Assim não admira que as instituições da cidade estejam agora confrontadas com o garrote da dívida e sem ninguém que lhe possa dar uma mão. São as instituições de solidariedade social continuamente esganadas financeiramente, são as instituições educativas que andam em sobressalto por falta de alunos, são as instituições de apoio à atividade produtiva que se deparam com os credores aflitos em recuperar o seu dinheiro, são as empresas comerciais sem clientes, as de construção sem obras, e sei lá mais o quê!

 

O PSD local nada teve a ver com este estado de situação. Para esse partido nem tal situação existe. O que foi dito é pura ficção! Os do PSD estão bem!

 

Só é pena não estarmos todos bem!

 

Nem a hecatombe que tiveram no número de votos nas últimas eleições os demoveu do caminho que nos conduziu ao garrote da dívida. Inventaram uma dissidência interna e fomentaram o MAI, para apanharem incautos (que sempre os há) e assim, mantiveram o poder. Tudo sacrificaram para isso. Cada voto foi angariado com dívidas acumuladas, dívidas geradas para se vangloriarem e apresentarem obra aos flavienses. Agora sabemos que os terrenos do Pólis ainda não foram pagos, que os terrenos da fundação Nadir Afonso também não tinham sido pagos, que não pagavam a água aos fornecedor e que utilizavam o dinheiro que nos cobravam a nós pela água para lançar obra que não faz falta. Tramaram-nos a todos. Vamos ficar décadas a pagar tudo mais caro por causa deste modo inconsciente de gerir os destinos municipais.

 

Agora sabemos que a obra não foi paga. Agora pesa-nos no bolso a todos. A mim só me custa ter de pagar também!

 

Eu não votei neles!

 

Francisco Chaves de Melo

 

 

27
Ago15

Flavienses por outras Terras - Amaro Frutuoso


Banner Flavienses por outras terras

 

Amaro Frutuoso

 

Nesta crónica do espaço “Flavienses por outras terras” vamos até ao Minho, mais concretamente até à Póvoa de Varzim, uma cidade conhecida pelas suas praias, mas também por uma importante dinâmica cultural e literária, destacando-se o Festival Literário “Correntes d’Escritas”, que anualmente reúne escritores de língua portuguesa e espanhola.

 

É lá que vamos encontrar Amaro Frutuoso, um Flaviense ausente desde 1952.

 

Mapa Google + foto - Amaro Frutuoso.png

 

Onde nasceu, concretamente?

Nasci em Chaves.

 

Nos tempos de estudante, em Chaves, que escolas frequentou?

Frequentei a Escola Primária, na Rua de Santa Maria (onde foi a Casa de Saúde do Dr. Mário Carneiro) e a Escola Industrial e Comercial, hoje Escola Secundária Dr. Júlio Martins, nas antigas instalações, na Lapa.

 

Em que ano e por que motivo saiu de Chaves?

Saí em 1952, por falta de trabalho.

 

Em que locais já viveu ou trabalhou?

Já vivi e trabalhei em Malanje (Angola) e na Póvoa de Varzim.

 

Diga-nos duas recordações dos tempos passados em Chaves:

A infância e adolescência passadas na Rua Santa Maria.

 

Proponha duas sugestões para um turista de visita a Chaves:

As termas e a beleza paisagística.

1600-povoa-varzim (126).jpg Porto da Póvoa de Varzim

Estando longe de Chaves, do que é que sente mais saudades?

Tenho saudades de jogar futebol no postigo e no tabulado, de jogar a bilharda e ao peão, de ir às caldas ver as "sopeiras" no transporte de água nos cântaros de folha de flandres, magistralmente equilibrados na cabeça.

 

Com que frequência regressa a Chaves?

Muito raramente. A última foi há dois anos.

 

 

O espaço “Flavienses por outras terras” é feito por todos aqueles que um dia deixaram a sua cidade para prosseguir vida noutras terras, mas que não esqueceram as suas raízes.

 

Se está interessado em apresentar o seu testemunho ou contar a sua história envie um e-mail para flavienses@outlook.pt e será contactado.

Fotografias com fundo branco.png

 

 

 

 

26
Ago15

O Barroso aqui tão perto... de luto


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Ainda ontem tivemos aqui o Barroso com algumas “Histórias da Vermelhinha” de Bento da Cruz. Hoje é de novo o Barroso e Bento da Cruz que nos traz aqui , mas um Barroso mais pobre e de luto pela morte, hoje, do escritor e ilustre barrosão Dr. Bento da Cruz. O Barroso está de luto e todos estamos mais pobres com a partida de um grande escritor que sobretudo escrevia sobre nós, sobre a nossa gente de Trás-os-Montes, sobretudo a do Barroso. Parte o Homem Bento da Cruz, parte o seu corpo mas ficará para todo o sempre a sua presença e sabedoria na inúmera obra que publicou e com a qual nos continuaremos a deleitar.

 

E sobre o Bento da Cruz, em jeito de repositório, deixo aqui aquilo que foi publicado no blog no dia 24 de março de 2010, aquando do lançamento do seu livro «A Fárria» em Chaves.

 

+++++++++++++++++

 

 

PROLEGÓMENO 30 de Agosto de 2009.

 

Caia a tarde e eu regressava das Caldas de Chaves onde tenho estado em tratamento de águas quando, ao desembocar na Rua Direita, ouvi um violino. Ou seria um violoncelo? Por esta hesitação se podem avaliar os meus conhecimentos musicais. Para além do realejo e do bombo, não sou homem de distinguir um violino Stradivarius de uma viola chuleira. Mas lá por não perceber nada de música, não quer dizer que a não saiba apreciar. E aquela que enchia a Rua Direita era aquilo que os poetas julgam que é o canto da sereia.

 

Quedei logo de nariz no ar e ver de onde é que aquilo vinha. Alguma escola de música? Não. Aquilo não era de principiante. Alguma jovem apaixonada e triste? Mas onde é que hoje se encontra uma jovem triste? Andam todas alegres e despreocupadas como andorinhas. Alguma velha saudosa de amores antigos? Como se as velhas não tivessem mais em que pensar.

 

Nisto especulava eu quando descobri, à esquina da “Sociedade Flaviense”, um pequeno grupo de mirones. Aproximei-me. Um indivíduo ainda novo montara ali o seu guinhol de feira: uma figura feminina, delicada, gentil, vestida de princezinha da Baviera, a fingir que tocava violino. Um trecho de Mozart, assim me pareceu, executado na perfeição. Pérolas a porcos. A maioria dos transeuntes passava indiferente. Que o digam três moedas de cobre a reluzir aos pés da grácil e aristocrática violinista.

 

Eu também me não detive nem descosi, com vergonha o confesso. Mas indiferente não fiquei. Aquela suave melodia acompanhou-me até ao cimo da rua. Mesmo depois de ter deixado de a ouvir, ela persistiu no meu ouvido durante muito tempo e fez-me saudades. Da flauta do Virgílio, para não ir mais longe.

 

Que ninguém fique a pensar que me estou a referir ao poeta latino do mesmo nome, o melhor tocador de avena de todos os tempos. Não. O Virgílio de que falo era um adolescente dos seus catorze ou quinze anos, servia em casa do meu vizinho Pitrasca e tinha uma flauta de cana.

 

Não estou em condições de dizer se o Virgílio era bom ou mau executante. O que sei é que, quando ele ia com o rebanho e se punha a tocar flauta na solidão dos montes, eu quedava pensativo. É caso para dizer que a minha inclinação para a poesia bucólica vem de longe. Dos meus seis ou sete anos, idade em que, influenciado pelo Virgílio, pedi uma flauta à minha mãe.

 

Ela foi à feira, vendeu uma dúzia de ovos e comprou-me um pífaro de barro. Comecei logo a ensaiar. E ao cabo de um mês já tocava o tiroliro razoavelmente.

 

Principiava eu a ensaiar o malhão, quando a desgraça aconteceu. Fui com as vacas lá para um prado ribeirinho, sentei-me numa pedra, à sombra de um salgueiro, e agarrei-me à flauta. Tão fora de mim e do mundo, que não dei conta de que as vacas me tinham ido para o lameiro do Pitrasca. Este surdiu detrás de uma parede, correu a mim como um lobo, e perpetrou dois crimes qual deles o mais execrável. Primeiro, desfez-me a flauta no cangote. Depois suspendeu-me pelas orelhas. Deu-me cabo do ouvido para o resto da vida, o bruto…

 

Esta a razão pela qual cheguei a velho sem perceber nada de música. Mas isso não tira que eu a saiba apreciar. Como aconteceu hoje, no regresso das Caldas, ao cair da tarde.

 

VIVA BARROSO!

 

Bento da Cruz

 

.

 

Estas foram algumas das palavras que o Dr. Bento da Cruz partilhou com quem assistiu ao lançamento em Chaves do seu último livro « A Fárria ». Livro que aliás tive o gosto de anunciar aqui o seu lançamento, e tive esse gosto, pelas mais variadas razões, como ser apreciador da obra de Bento da Cruz, mas também porque este blog já bebeu muito daquilo que o autor escreveu em alguns dos seus livros, principalmente na feitura dos posts do Cambedo Maquis que viria a dar origem a outro blog, mas também, porque Bento da Cruz, barrosão, é um dos nossos, que tão bem tem sabido contar e enaltecer o Barroso e a região, fazendo a nossa história de uma forma universal, ou seja, em estória e romances.

 

 

Pois embora este blog já muitas vezes tenha bebido nas obras de Bento da Cruz e dezenas de vezes ele tivesse sido referido ou mencionado, nunca falei de Bento da Cruz, do homem e a sua obra. É tempo de o fazer, pois este blog há muito que está em dívida com ele e com o escritor que já fez 50 de vida literária.

 

 

Bento Gonçalves da Cruz

 

Filho e neto de lavradores, nasceu em 22 de Fevereiro de 1925 na aldeia de Peireses, concelho de Montalegre.

Até 1940 trabalhou na lavoura. Nesse ano ingressou na Escola Claustral de Singeverga, dirigida por monges beneditinos.

Em 1946, após noviciado, abandonou, de moto próprio, a vida religiosa.

Em 1948 matriculou-se na faculdade de Medicina de Coimbra.

De 1956 a 1970 trabalhou em Barroso, acumulando a clínica geral com a estomatologia.

Em 1971 fixou-se no Porto.

Foi deputado à Assembleia da República, distinguido com a medalha de honra (oiro) da Câmara Municipal de Montalegre e é patrono da Escola Secundária da mesma vila.

Logo após o 25 de Abril, fundou o quinzenário regionalista Correio do Planalto que ainda hoje dirige.

 

 

Bento da Cruz Jornalista, Médico, Deputado, “Monge”, Lavrador, todo um percurso de vida, no entanto, será como contador de estórias e escritor que registará, ou melhor, já tem registado o seu nome na história e para a posteridade.

 

Publicou o seu primeiro livro em 1959. Chamava-se Hemoptise e era de versos. É, como ele diz, um livro do qual não fala nem menciona na sua bibliografia, mas também não enjeita, como um pai nunca enjeita um filho.

 

Da sua bibliografia constam:

 

PLANATO EM CHAMAS – romance, 1963

 

AO LONGO DA FRONTEIRA – romance, 1964

 

FILHAS DE LOTH – romance, 1967 (4 edições, a última em 1993 – Circulo de Leitores)

 

CONTOS DE GOSTOFRIO – 1973 – Prémio “Fialho de Almeida” (2ª edição – 1993)

 

HISTÓRIAS DA VERMELHINHA – Contos de tradição oral de Barroso – 1991 (2ª Edição – 2000)

 

PLANATO DE GOSTOFRIO – romance – 1982 – (2ª edição – 1992)

 

.

.

 

O LOBO GUERRILHEIRO – romance – Prémio Literário “Diário de Notícias”, Prémio de literatura (Ficção) da Sociedade Portuguesa de Escritores Médicos. Traduzido para galego: Edicións Xerais de Galícia, 1996. (2ª Edição – 2001).

 

VICTOR BRANCO – Escritor Barrosão – Vida e Obra, Prémio Literário de Investigação da Câmara Municipal de Montalegre, 1995.

 

O RETÁBULO DAS VIRGENS LOUCAS – romance – Prémio Literário (Ficção) da Câmara Municipal de Montalegre – 1996.

 

HISTÓRIAS DE LANA-CAPRINA – contos – 1998 (2ª edição – 1999)

 

A LOBA – romance. “Prémio Eixo Atlântico de Narrativa Galega e Portuguesa” de 1999 e “Prémio Arzobispo Juan de San Clemente” na modalidade “ A melhor novela em galego do ano 2000” 1ª Edição – 2000. 2ª Edição – 2000. 3ª Edição – 2001.

 

.

.

 

GUERRILHEIROS ANTIFRANQUISTAS EM TRÁS-OS-MONTES – história – 1ª Edição – 2003. 2ª Edição – 2005.

 

EIXO ATLÂNTICO – Um mundo a descobrir. Co-autoria - 2004.

 

A LENDA DE HIRÃN E BELKISS – Novela, 2005.

 

PROLEGÓMENOS – Crónicas de Barroso, 2007. 2ª Edição – 2008.

 

PROLEGÓMENOS II – 2009.

 

A FÁRRIA – romance – 2009.

 

Para já é esta a sua obra publicada.

 

Pela minha parte, confesso-me um devoto leitor de Bento da Cruz desde que o descobri com o “Lobo Guerrilheiro”.

 

Fica a minha pequena homenagem a este Homem grande do Barroso que tão bem escreve e descreve nos seus escritos e romances. Escritos que muitas vezes também passam por Chaves e que faz grande parte da história dos acontecimentos de Dezembro de 1946 no Cambedo da Raia, com o relato dos acontecimentos no seu livro «Guerrilheiros Antifranquistas em Trás-os-Montes».

 

Para saber mais sobre Bento da Cruz:

 

http://www.bentodacruz.com/

 

 

 

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