Pedra de Toque - Sonho Meu
SONHO MEU…
O sono nem sempre é reparador.
O sonho acontece e interrompe-o.
O despertar é doloroso, aflitivo por vezes, quando o sonho vira pesadelo.
Noutros momentos, deixa um esgar feliz no rosto e permite saborear a noite que nos envolve, no silêncio e na penumbra.
Acordo lentamente, fico muito lúcido e o piano que tenho dentro de mim debita com suavidade as melodias que me arrepiam.
Esqueço, então, a vilania, a pulhice humana, a desonestidade que campeia, a política interesseira que me desanima, o desamor que dói e fico-me com os raros seres humanos ainda inocentes.
Por fim, descanso a cabeça no regaço da poesia.
Que não está só nos poemas, porque a sinto nos teus olhos, porque a espelhas no sorriso que me brindas e no corpo tão verde como o mistério do bosque em que te postas.
Também a toco nas tuas pernas quentes quando as dedilho, que me laçam e abraçam e nos teus pés lisos que acaricio.
O dia amanheceu cinzento e nublado.
Com a extraordinária Bethânia apetece-me cantar:
“Sonho meu, sonho meu, vai buscar quem mora longe, sonho meu…”
António Roque