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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

31
Ago16

Quente e Frio!


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(...)

Um dos «TINOS» pagou a conta.

 

E os dois lá seguiram pela Rua Direita, a caminho de casa, com o coração mais amansado, mas as fontes ainda a latejarem.

 

VIII

As lições foram preparadas com mais serenidade e com mais entusiasmo.

 

Ambos se propuseram acrescentar ao seu currículo de apaixonados a excelência das suas qualidades académicas.

 

No Domingo, lá estavam os dois na esquina da “Brasileira”, à espera do lustro dos sapatos e do brilho no olhar daquelas duas lindas Raparigas, mal saíssem o portão da Sé!

 

O olhar breve que elas lhes dirigiram foram como dois luminosos raios de sol a anunciar a aurora, por entre as ameias do CASTELO de MONFORTE de RIO LIVRE.

 

As quatro amigas saíram à direita pelo passeio do Hotel Tocaio, Rua da Misericórdia, Largo da CAPELA NOVA. Mas hoje, decidiram ir ver as montras da Rua Direita.

 

E desta vez, eles não as seguiram.

 

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Subiram a Avenida, passaram em frente ao Seminário, viraram para o Pioledo. Desceram a rampa do “Jardim da Carreira” (Rua do Calvário) e continuaram pela Rua Alexandre Herculano.

 

Quando se preparavam para se despedirem, qual não foi o seu espanto ao tropeçarem o olhar com a Adília e a Adélia e as duas “Lindas” a dobrarem a esquina da Farmácia Barreira, para a Rua Cândido dos Reis.

 

Todas sorriram com ironia. A Adília e a Adélia piscaram os olhos com um ligeiro acento de cabeça.

 

Na 3ªfª e na 5ª fª., depois da aula de Filosofia, as Raparigas de Vilarinho de Freires e de Vilarinho do Tanha fugiram de dar conversa aos Rapazes da “Terra Quente” e da “Terra Fria”.

 

No Domingo, os estudantes da alínea F) repetiram a esquina da “Brasileira”, o lustro dos sapatos e as aventuras do «Roy Rogers».

 

No Domingo, as estudantes de “Românicas” e de “Germânicas”, na companhia das “Lindas”, «NORMALISTAS» repetiram o passeio do “Tocaio”, a “Rua da Misericórdia”, o “Largo da CAPELA NOVA” e subiram, do seu vagar, a Rua das Pedrinhas.

 

Depois do almoço, o Celestino e o Clementino encontraram-se ao princípio da Ponte e foram dar uma volta pelo “Jardim da Estação, pela “Meia-Laranja” e espreitar a “Senhora da Saúde”.

 

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Na 3ª fª, ansiosos por «novidades», a Aula de Filosofia pareceu demorar-lhes uma eternidade.

 

Fizeram por sair mais lesto que as Raparigas, e estas sentavam-se nos bancos da frente, para atalharem à frente das suas mensageiras.

 

Elas pareciam andar a brincar às escondidas com eles.

 

A Adília e a Adélia apresaram o passo pelo corredor fora, mas a tempo de dizerem em simultâneo:

 

- Domingo devemos ter notícias!

 

Que semana tão difícil de passar!

 

Chegou a 3ª fª seguinte ao esperado Domingo e ainda não havia «Românicas” nem “Germânicas notícias.

 

Os Rapazes da “Terra Quente” e da “Terra Fria”, estudantes da alínea F), no Liceu “Camilo Castelo Branco” andavam desolados.

 

Subiam e desciam a Rua das Pedrinhas e a “Cândido dos Reis”, davam volta ao Largo de S. Pedro e demoravam-se no Largo feito pelo fim da Rua Direita e o princípio da do Rossio, com a palpitante esperança de se encontrarem de frente com as duas lindas irmãs, quer na ida quer na vinda da ESCOLA NORMAL, situada Logo à entrada da Rua do Rossio.

 

À noite, o Celestino e o Clementino mal ceavam, tal a pressa de ocupar um lugar estratégico junto à entrada do Cinema “Avenida”, quando eram exibidos filmes como “A Colina da Saudade”, “Sissi, a jovem Imperatriz”, “Shane”, “O Ritmo do Século” (com os Platters), “A Leste do Paraíso”, “Mogambo” e outros, aos quais não podiam faltar os RAPAZES e RAPARIGAS daqueles tempos.

 

Mas os olhares continuavam sem ser trocados, mesmo quando da saída da Missa, nos últimos domingos.

 

 

IX

 

Aproximava-se o “REGADINHO”.

Talvez que nesse dia de convívio estudantil aparecesse a divina oportunidade de...

 

(continua)

 

 

 

31
Ago16

Fugas - Um dia no Porto


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Um dia no Porto

 

Agosto de 2014. A caminho de Chaves para uns dias de férias planeámos uma paragem de um dia no Porto para revisitar a cidade. O Palácio de Cristal, um dos mais emblemáticos e agradáveis espaços verdes do Porto, é o nosso primeiro ponto de paragem. Apesar de já aqui termos estado várias vezes, não deixamos nunca de nos surpreender com os jardins de estilo romântico e as deslumbrantes panorâmicas que se nos oferecem, desde a Ponte D. Luís, de um lado, até à Ponte da Arrábida e à Foz, do outro.

 

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Para o almoço deslocamo-nos até à zona das Antas e de lá iniciamos um agradável passeio que nos leva pela Rua da Boavista até à rotunda com o mesmo nome (na verdade, chama-se Praça Mouzinho de Albuquerque, mas será sempre a Rotunda da Boavista), seguindo depois pela avenida até à zona do Castelo do Queijo onde, perante a curiosidade das minhas filhas sobre esta designação, acabo por lhes explicar que o nome se deve ao facto do Forte de São Francisco Xavier ter sido construído sobre uma enorme rocha arredondada com um formato semelhante ao de um queijo. Percorremos depois toda a zona marginal de regresso à cidade e acabamos por estacionar em frente ao Palácio da Bolsa. A pé, seguimos até à zona da Alfândega do Porto para visitar o “World of Discoveries”, um moderno espaço temático que recria a odisseia dos Descobrimentos Portugueses, e assim que entramos, na parede mesmo em frente, deparamo-nos com a conhecida passagem da obra “Os Lusíadas”, na qual Luís de Camões relata a passagem dos navegadores portugueses pelo Cabo da Boa Esperança e o confronto com o Gigante Adamastor - “Aqui ao leme sou mais do que eu / Sou um povo que quer o mar que é teu”. Terminada a visita seguimos para a Ribeira e envolvemo-nos numa multidão de turistas. O passeio ainda poderia prosseguir para a outra margem do rio, para revisitar as caves do Vinho do Porto, ou voltar a subir à Serra do Pilar, por exemplo, mas deixamos essas visitas para uma próxima viagem...

 

Luís dos Anjos

 

 

30
Ago16

Intermitências


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O Arquipélago

 

 

Existe uma ilha onde devo chegar, mas desconheço-lhe o paradeiro. Sei da sua existência, mas nunca ninguém lá esteve para me indicar a direcção que devo seguir para encontrá-la. Desde que desconfio que ela seja o meu lugar neste mundo, procuro incessantemente o caminho para lá chegar.

 

Por enquanto, continuo a percorrer o arquipélago. Navego sem fim à vista, enfrento tempestades, sigo rotas erradas, por vezes naufrago e devo reconstruir outro barco, mas sei que não posso abandonar esta viagem e regressar ao porto seguro. À chegada, está o meu destino e a minha razão de ser.

 

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  Ilha Terceira, Açores, Janeiro 2016 - Foto de Sandra Pereira

Esta ilha está dentro de mim mesmo. Esta ilha sou eu. Esse território é um mundo, o meu mundo, aquele onde sou. Alguns chegaram muito longe nas suas explorações, muitos ficaram às suas portas, a maioria desconhece que existe um território assim. Eu vagueio pelo arquipélago, sulcando cada onda com paciência. Em cada naufrágio, a minha fé é a minha única tábua de salvação. Desconheço o paradeiro da ilha onde devo chegar, nem sei se algum dia a alcançarei, mas já ter chegado a este arquipélago é a minha bonança.

 

Sandra Pereira

 

 

30
Ago16

Chaves D'Aurora


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 9 - GÉNESE.

 

Acabara de fazer quinze anos. Como era de costume na época, sua boa Mamã, cuja bondade se refletia nos olhos azuis, dos quais Aurora também herdara os seus, estivera a lhe falar apenas (e, tão somente, um migalho de conselhos e frases feitas) sobre o amor cristão e os deveres conjugais. Não muito mais, entretanto, do que a solene lengalenga dos curas aos noivos, nas cerimónias de casamento. Também lhe dissera de alguns cuidados de mulher para quando, sob as bênçãos da Santa Sé, a menina deixasse de ser donzela (o que, em muitos casos, ocorria sob a forma de um abençoado e sacrossanto estupro físico, psicológico e moral).

 

O que mais sabia Aurora de sexo e dos homens era apenas o que colhia em suas fugidas ao borralho, nas conversas com a sua ama Zefa de Pitões, ou com os chistes e as risadas safadinhas de Maria de Tourém, a volumosa cozinheira com peito de pombo. Isso causava horror a Aldenora, sua irmã, que se punha a tentar fazer intrigas com a mãe – Reparas, Mamã, que a Aurita não se dá ao respeito com pessoas de outra classe? Que ela vive a se meter entre graçolas com as criadas? Que ela e ela e ela...? – mas a mui generosa Florinda só fazia responder – Ora deixa estar, menina, tua irmã sabe muito bem o que faz. Cuida de ti, que dela cuidamos nós, eu, o Reis e – apontou para o alto – o Grande Pai de todos nós.

 

Aurora era só nem te ouço, nem te vejo, nem te sei, ante a língua ferina da irmã, cuja implicância ela de pronto esquecia, a plantar amores-perfeitos no jardim da Quinta.

 

De várias cores.

 

Apetecia-lhe mesmo era estar na cozinha, ao calor do braseiro, entre caçarolas, tachos de cobre, alguidares e utensílios da conhecida cerâmica negra de Vilar de Nantes. Lá ficava a ouvir as inesgotáveis histórias das aldeias do Barrosão. Agradava-lhe saber da festa de Mordomos, em Salto, ou das figuras de Fulipeiros no carnaval de Tourém. Punha-se a rir, com falso pejo e discreta excitação, mas também com alguma ingenuidade, dos ditos e provérbios da Zefa ou das adivinhas de Maria – “A pele da moça é dura, mais duro é quem n’a fura, entra o teso lá no mole, ficam os dois na dependura” – ou – “Maria Branca está estendida, Zé Bernardo anda por cima, enquanto Zé Bernardo bai e bem, Maria Branca aberto lo tem” – ou ainda – “Qual, é a coisa, qual é ela, sejam grandes ou miudinhos, é pelinho com pelinho e um peladinho no meio?” – respostas que, afinal, eram dadas entre rubores da menina e os risos lúbricos das criadas: o brinco na orelha, o tear, os olhos entre os cílios...

 

 

Foi justamente em companhia dessas bobas e atrapalhadas fadas-madrinhas, que a princesinha do Raio X conheceu o seu sapo, digo, seu príncipe encantado.

 

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29
Ago16

Quem conta um ponto...


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304 - Pérolas e diamantes: o trabalho e a filantropia

 

Entardece devagar, devagarinho. Como quem se refresca em pleno verão com uma brisa vinda do Brunheiro, leio no jornal que o João Teixeira, o João Freitas e o João Alves, os três alunos do Agrupamento de Escolas António Granjo, tiraram vinte valores no exame nacional de matemática.

 

O segredo reside, segundo estes jovens, no muito trabalho que fazem ao longo do ano, no esforço e na dedicação. No entanto, continuaram a fazer o que faziam nos seus tempos livres.

 

Como se isto não fosse proeza bastante, leio noutra edição d’A Voz de Chaves que a Bruna, a Célia e a Laura, também alunas do Agrupamento de Escolas António Granjo, conseguiram a mesma proeza: alcançaram nota 20 no exame nacional de matemática.

 

Por vezes as coisas fazem sentido. Os mitos também se abatem e os preconceitos também se desfazem.

 

O sol esconde-se por detrás dos pinheiros e dos carvalhos. As sombras nos bosques estendem-se pelos caminhos. Por fim param e desaparecem. Os raios de luz penetram no arvoredo e são filtrados através da folhagem, inundando os troncos com uma luz morna. Por cima de nós ergue-se o céu azul já pálido do crepúsculo. Algumas aves voam alto. O vento parou por completo.

 

Beberrico o meu gim tónico Nordés (versão leve) com água tónica Nordic, muito gelo, bagas de zimbro, casca de lima e um pedaço de folha de louro.

 

Tudo isto é bonito. Eu continuo entregue aos meus devaneios, ora amargos e por vezes doces (daí eu apreciar gim), próprios, segundo os escritores românticos, dos espíritos solitários.

 

Por vezes gosto de sonhar com a vida no campo. Lembro-me bem de um tio meu que parecia saído de um romance de Ivan Turguéniev, pois possuía um olhar doce, tinha os lábios enrugados, amava a natureza, especialmente de verão, pois era muito friorento, e era homem para expressar-se com toda a vulgaridade do mundo, dizendo coisas como esta: “Adoro ver cada abelhinha a transportar no seu corpinho, de flor em flor, o seu grãozinho de pólen…”

 

Conhecia quase todas as frases bempostas com que se socializava na época. Por isso acompanhava, com alguma perseverança, a evolução da literatura. Quase toda de cordel, por certo.

 

Gostava, no entanto, de se mostrar um leitor prático. Ouvi-lhe muitas vezes dizer que não se consegue alimentar um pintassilgo com cançonetas.

 

Também eu, qual Vassíli Ivánovitch, me vejo a trabalhar no meu jardinzinho, com árvores plantadas por mim, com frutos e bagas e flores e ervas medicinais.

 

Não me hei de despedir por hoje sem vos citar o velho médico militar russo reformado que, virando-se para os senhores jovens, lhes dá conta das suas cogitações.

 

“Como sabeis, deixei a prática, mas duas vezes por semana tenho que recordar os velhos tempos. Vêm-me consultar e eu não os posso pôr na rua. Acontece que os pobres me vêm pedir ajuda. E por aqui não há médicos. Há um vizinho, um major reformado, imagina, que também dá consultas. Eu pergunto: estudou medicina? Respondem-me: não estudou, não, ele é mais por filantropia… Ah-ah, por filantropia! Hem? Vejam só. Ah-ah! Ah-ah!”

 

Para homenagear quem devo, aqui fica a expressão latina suum cuique, que em português de lei podemos traduzir por a cada um o seu. E voilà tout.

 João Madureira

29
Ago16

De regresso à cidade com gravuras...


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De regresso à cidade com uma sugestão – Visitar a 8ª Bienal Internacional de Gravura do Douro,  que nesta edição também tem sala em Chaves, mais propriamente no Sala Multiusos do Centro Cultural e uma pequena mostra na Biblioteca Municipal.

 

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Se não puder nos próximos dias, não há problema, pois a exposição estará patente ao público até 31 de outubro deste ano.

 

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28
Ago16

O Barroso aqui tão perto... Fervidelas


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Hoje vamos até à aldeia de Fervidelas, localizada na encosta do Monte Oural, quase no topo, implantando-se a aldeia entre os 900 e os 1000 de altitude, e entre os Rios Cávado e Rabagão, ou se preferirem, entre a albufeira do Rabagão (Pisões) e a albufeira de Paradela, mas apenas com vistas lançadas para a primeira. Fervidelas dista da sede de concelho, Montalegre, 19 quilómetros.

 

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Trata-se de uma pequena aldeia, sede de freguesia até 2013 e que hoje faz parte da União de Freguesias de Viade de Baixo e Fervidelas. A antiga freguesia até 1981 manteve a sua população acima dos 200 habitantes, tendo atingido o seu pico máximo de população em 1911 com 312 habitantes. A partir de 1981 verifica-se uma acentuada perda de população, com 152 habitantes em 1991, 116 habitantes em 2001 e apenas 87 habitantes em 2011. Os dados são do INE – CENSOS e refletem um pouco daquilo que se passa em todas as aldeias do Barroso, acontecendo o mesmo no concelho de Chaves e um pouco por todo o mundo rural de Trás-os-Montes.

 

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O Orago da aldeia é o S.Tiago  onde existe uma pequena e interessante aldeia levando-nos a crer que a aldeia fazia parte de um dos Caminhos de Santiago. Aliás a concha de Santiago era reproduzida no antigo brasão da freguesia  onde também constavam duas armações de moinhos de vento e um conjunto de rochas que é visível no monte junto à aldeia, cuja imagem fica na foto seguinte:

 

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Dio livro “Montalegre” sobre a aldeia retirámos os seguintes dados:

“Ao redor do altar onde veneram o Santinho que foi peregrino de bordão, chapéu e cabacinha, Fervidelas abriga-se por trás do Oural, do frígido vento castelhano. A par de Cambeses é a freguesia mais alta de toda a montanha inter-fluvial. Apesar de se ter tornado independente há vários séculos, andou sempre anexada à sua vizinha Santa Maria de Viade por ser demasiado pequena em território e populações. Vale a pena percorrer os seus caminhos de montanha para admirar a cascata e o “castelo” de penedos empoleirados bem como o Monte Oural que traz com ele o nome quanto à riqueza de paisagens que dali se vislumbram.”

 

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Não vimos a cascata mas acreditamos que exista na proximidade da aldeia. Também não vimos o “castelo” de penedos empoleirados mas também aqui acreditamos que sejam os mesmos que constam do brasão e da foto que atrás deixamos. Já no mapa turístico que se pode consultar na WEB na página oficial do Município de Montalegre aponta como único ponto de interesse a Igreja de S.Tiago.

 

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Da nossa parte encontrámos mais alguns pontos de interesse, tal como a paisagem que desde a aldeia se pode apreciar, o forno do povo e as fontes, os canastros, o casario em geral, os troços de rua cobertos por latadas de videiras e o conjunto das três cruzes localizadas na croa de uma pequena elevação. Cruzes que pensava eu serem do alto do Calvário mas que segundo informações recolhidas na aldeia, eram cruzes que existiam dispersas na aldeia e que a população decidiu colocá-las junta na atual localização.

 

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Hoje a aldeia está rodeada do verde das pastagens, e dissemos hoje porque supomos que em tempos, aquando a população era acima dos 200 habitantes, as mesmas pastagens eram terras de cultivo e pela certa fértil, pois tudo indica que as terras sejam férteis não só pela abundância de água mas também pelo testemunho da existência dos canastros para recolha e secagem do milho.   

 

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E por hoje é tudo, ficam as referências às consultas para a feitura deste post:

 

Bibliografia consultada: “Montalegre” de José Dias Baptista, edição do Município de Montalegre, 2006

Dados da população: INE/Censos

WEB consultada: www.cm-montalegre.pt/

 

E ficam também os links para as anterior abordagens deste blog ao Barroso e suas aldeias:

 

A Água - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-a-agua-1371257

Amiar - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-amiar-1395724

Cepeda - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-cepeda-1406958

Gralhas - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-gralhas-1374100

Meixedo - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-meixedo-1377262

O colorido selvagem da primavera http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-o-colorido-1390557

Olhando para e desde o Larouco - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-olhando-1426886

Padornelos - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-padornelos-1381152

Padroso - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-padroso-1384428

Pedrário - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-pedrario-1398344

Pomar da Rainha - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-pomar-da-1415405

Sendim -  http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-sendim-1387765

Solveira - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-solveira-1364977

Stº André - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-sto-andre-1368302

Tabuadela - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-tabuadela-1424376

Telhado - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-telhado-1403979

Travassos da Chã - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-travassos-1418417

Um olhar sobre o Larouco - http://chaves.blogs.sapo.pt/2016/06/19/

Vilar de Perdizes - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilar-de-1360900

Vilar de Perdizes /Padre Fontes - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilar-de-1358489

Vilarinho de Negrões - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilarinho-1393643

São Pedro - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-sao-pedro-1411974

Sendim -  http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-sendim-1387765

Solveira - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-solveira-1364977

Stº André - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-sto-andre-1368302

Vilar de Perdizes - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilar-de-1360900

Vilar de Perdizes /Padre Fontes - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilar-de-1358489

Vilarinho de Negrões - http://chaves.blogs.sapo.pt/o-barroso-aqui-tao-perto-vilarinho-1393643

27
Ago16

A Galiza aqui ao lado - Aldeias da Raia vizinhas de Soutelino da Raia


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Há dias iniciava aqui esta crónica de “A Galiza Aqui ao Lado”. Embora fosse o início da crónica já não era o início de algumas aldeias galegas e outras localidades virem aqui ao blog, principalmente as aldeias da raia.

 

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Em tempo anunciei também por aqui que um dia traria aqui todas as aldeias da raia portuguesa (do nosso concelho de Chaves) e a(s) suas congéneres galegas, mais propriamente a aldeias ou aldeias galegas mais próximas da nossa(s) aldeia(s) da raia. Um projeto que iniciei em tempos, iniciando a recolha de imagens do lado galego, com a ajuda de um amigo do outro lado da raia (o Pablo). Entretanto outras prioridades se impuseram e fui obrigado a suspender a recolha de imagens, contudo vai sendo tempo de retomar o projeto ou de, para já, ir trazendo aqui algumas das aldeias já fotografadas.

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 Soutelinho da raia

 

Iniciamos então hoje, conjugando o antigo projeto com a nova rúbrica de “A Galiza Aqui ao Lado”, esse tema das aldeias mais próximas de ambos os lados da raia,  com a nossa aldeia de Soutelinho da Raia e o Santuário do S.Caetano com as aldeias galegas da sua proximidade, e que são três, a saber: Videferre, Espiño e Bousés, de pouco importando ou sem ter em conta as fronteiras administrativas da raia ou das freguesias, pois o que interessa mesmo é a proximidades destes lugares, que no caso ficam todas dentro de um circulo cujo raio da circunferência é de apenas 1.500 metros (aproximadamente).

 

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 S.Caetano

 

Inicia-se assim também, aqui no blog, um relacionamento entre estas aldeias e lugares que na realidade sempre existiu e que nem mesmo a fronteira (desde que passou a existir) nunca conseguiu separar. O espirito da velha Galaécia nunca morreu e perdura ainda hoje na proximidade e identidade de uma cultura reforçada pela língua galega e portuguesa que acaba por ser uma só, com mais ou menos evoluções.

 

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 Videferre

 

Mas também no contexto da identidade da cultura e língua as aldeias da proximidade da raia aprofundam mais o relacionamento, a cumplicidade e até a promiscuidade que nenhuma lei ou fronteira algum dia conseguiria enfraquecer ou separar, com Soutelinho da Raia a ser um exemplo e uma referência na História da raia como aldeia promíscua que o foi até ao tratado das fronteiras entre o Reino de Portugal e de Espanha,  de 1864, ou seja, uma aldeia que até essa data era metade portuguesa e metade espanhola, dividida a meio pela fronteira.

 

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 Espiño

 

Claro que aqui no blog,  além da realidade atual e da História, também haveria lugar para as estórias, também elas reais, de contrabando e outros trabalhos partilhados, incluindo os do campo, de partilha de serviços quando eram necessários, de amores e desamores e tudo o mais que é possível passar-se entre vizinhos, sem esquecer os tempos da guerra civil espanhola .

 

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 Bousés

 

Estórias e muitas que existem, mas isso já é outra loiça que dariam muitas páginas e que nem todas se querem contadas, mas a principal razão é mesmo não termos tempo para esse trabalho que se quer sério e cuidado. Pode ser que um dia, no futuro, também caibam aqui as estórias da raia. Não quer isto dizer que não venham aqui algumas estórias, mas para já a prioridade é mesmo mostrar em imagem as aldeias da raia da nossa proximidade.

 

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 Soutelinho

 

Para já ficam pouco mais que duas imagens de cada uma desta aldeias, mas num futuro próximo das uma das aldeias galegas de hoje terá aqui um post mais alargado nesta rubrica de “A Galiza Aqui ao Lado”. Até já.

27
Ago16

Ocasionais - ... ao lado do coração


ocasionais

 

“… ao lado do coração!”

 

“A salvação ou a ruína de uma REGIÂO

(um império)

depende da maneira de ser

daqueles que o administram”.

- «Rafal Hitlodeu»-TH. Morus

 

 

Ai o que eu ando a perder da Vida!

 

Por mais que calcorreie a (MINHA) NORMANDIA TAMEGANA fico sempre a dever-lhe imensos reconhecimentos, inúmeras composições de hinos de louvor, mil agradecimentos.

 

Este BLOGUE lá me vai dando (aos pouquinhos, bem o sinto, mas todos somadinhos já fazem uma boa meda, tão altinha como o Larouco, tão viçosa como o Brunheiro, tão gostosa como um carolinho de FOLAR de CHAVES; uma fatia de BOLA de LASA; uma truta do Bessa, uma «pinga» dos MORTOS, de BOTICAS; uma cebola rilhada, de VILA POUCA; um cibo de cabrito, da serra de Macieira, de RIBEIRA de PENA; ou uma mancheia de Figos, de VALPASSOS!) momentos de consolação e de vaidoso orgulho por eu ser dessa NOSSA TERRA.

 

É assim que eu vejo a (MINHA) NORMANDIA TAMEGANA: CHAVES, MONTALEGRE, BOTICAS, VILA POUCA de AGUIAR, VALPASSOS e VERIN.

 

Se ZEUS, aquele meu amigo de peito de quem vos tenho contado algumas “CONVERSAS”, desse mais atenção ao que lhe digo, até já me tinha feito a vontade: inventava um tremor de terra, separava a NORMANDIA TAMEGANA, rodeando-a de rios e lagos com as águas mais límpidas e cristalinas, ligando-a com pontes de cristal às Terras Amigas, e, assim, deixaria instalada a República da Utopia!

 

Não, é verdade, não vi mais mundo que Ulisses. Mas o que já vi chega e sobra para ser perdido como sou pela NOSSA TERRA!

 

E, se de mim desconfiais, «atão» dizei-me como ficais diante daquilo que este BLOGUE vos vai mostrando semanalmente.

 

Hoje, com o “NANDO RIBEIRO”, até o Rafael Hitlodeu fica a perder no conto de tantas histórias!

 

E também eu, tal como Pedro Gilles por Rafael, tenho por intento que “Don Fernando, defensor de Chaves” continue a servir A NOSSA TERRA como ministro.

 

A dignidade real não consiste em reinar sobre mendigos, mas sobre homens livres e felizes”, apetece-me lembrar, aqui e agora, aos eventuais leitores dos meus “Pitigramas”, e, especialmente, aos «lalões», «lalõezinhos» e «poneyzinhos-de-Tróia» que se passeiam por aí!

 

Estou contente por este novo “Canto”:

 

- ‘A GALIZA aqui ao lado’!

 

Sim, bem sei! “Celebrar os merecimentos» de “Don Fernando da Casa Azul” e os encantos da GALIZA será como «abrir uma porta aberta».

 

Mas eu sou assim: mesmo que trateis os meus textos como «tolices», acabareis por reconhecer que sempre terminei «por dizer alguma coisa de bom»!

 

M., dezassete de Agosto de 2016

Luís Henrique Fernandes

 

26
Ago16

Discursos Sobre a Cidade - Por Gil Santos


GIL

 

Barbos de escabeche

 

Rais te parta o peixe que está cheio de arganas – queixava-se o pequeno Tibério muito zangado.

– Come d’amodinho mou filho, não se te entrasgue algua espinha e te afogue! – aconselhava a mãe com o mesmo carinho com que tratava o Pécora, o outro mais velho, depois que ficou manquinho de uma perna.

Comiam barbos de escabeche. Foram apanhados nas cordas que o Tibúrcio estendera à socapa no Tâmega. Ele bem sabia que era proibido e que se fosse apanhado iria parar à choldra de S. Neutel a ver o sol aos quadradinhos e com umas arrochadas no lombo. Mas que fosse por Deus e pelos filhos da amásia. A lazeira superava o medo e valia a pena prevaricar só para ter os enteados de tripa forra.

Não havia pai para o Tibúrcio nesta arte de apanhar peixe à corda. Mas só no inverno, porque no verão praticava outra das suas especialidades o peixe ao buraco! Madrugada, ainda o sol se espreguiçava para lá das encostas do Brunheiro e já ele metia pés a caminho para a primeira presa. Chegava, lia o rio que quase sempre corria fraco por estre penedos e ougas floridas. Despia-se até ao pescoço, atava uma saca de rede à cinta, pegava numa vergasta de amieiro e rio acima fustigava a tona da água. Os peixes, ainda endorminhados, encafuavam-se nas luras por baixo das pedras. O Tibúrcio mergulhava, metia a mão e quase sempre apanhava peixe graúdo. Por vezes lá lhe calhava uma cobra de água taluda cuja cabeça esmagava contra um penedo. Outras, algum leiranco de água, perdurado pelas cavilhas no polegar. Mas, tirando isso, era peixe à farta.

A arte da pesca à corda, mais usada no inverno e de preferência quando o rio fosse grosso, era mais cómoda. Ajeitava um decâmetro de corda fina, de braçada em braçada atava-lhe umas pontas de metro de sediela forte. Em cada uma dessas extensões empatava um anzol bico de papagaio. Iscava com minhocas que apanhava na estrumeira do Maneta. Pela noitinha levava o arcanho para o Poço do Leite, um fundão a jusante da Ponte Nova. Atava um calhau na ponta da corda, arrimava-o para a outra margem em diagonal. Esperava que a corrente a esticasse e quando a topasse tensa, atava a outra ponta nas raízes de uma figueira que abraçava a parede sobranceira ao dito poço. Despois, era só esperar que a noite e a voracidade dos ciprinídeos fizesse o resto. Pela matina, antes mesmo que o galo da Pônas acordasse, ia recolher o aparelho. Rara era a vez que não tirasse pelo menos meia dúzia de barbos. Uma farturinha preciosa em tempo de racionamento!

O Tibúrcio era viúvo e sem descendência. Uma tuberculose galopante tirou-lhe a Carminda aos trinta anos, antes mesmo que pudesse conceber. Como soi dizer-se, rei morto rei posto. Não perdeu tempo, aos trinta e um aputou-se com a Chambra, mãe solteira, com dois filhos já espigadotes, o Tibério e o Pécora.

A relação alimentava-se de uma paixão forte, quotidiana. Contudo, a coisa começou a esfriar e veio um tempo em que o Tibúrcio ralas vezes visitava a sua amante. A Chambra estava cada vez menos disponível para o amante no tugúrio onde vivia, após a desgraça de que foi vítima o seu filho mais velho. A infelicidade do Pécora conta-se em duas penadas.

Teria uns seis anos quando numa manhã de janeiro o Chico da Soutília, seu padrinho de batismo, aricava uma campina de centeio, contígua à linha do comboio, ali para a Fonte Nova. Fazia-o com um arado de relha de ferro que uma mula, assustadiça, puxava aos repelões. O rapazeco, que fosse com o cheiro na merenda do padrinho, ou em andar emplouricado no arado, foi atrás dele para a lavra. Gostava que o sentasse abaixo da rabiça, com os pés sobre o timón para andar de landó rego fora. Assim estava a acontecer quando o comboio, na aproximação ao apeadeiro da Fonte Nova, abriu a goelas num estridente silvo. A mula, apavorada, desinvestiu campo afora. O Chico não teve mão nela e o mocinho caiu, entalando a perna esquerda entre a abieca e a lavrada. No movimento tresloucado, um rebo mais aguçado apanhou-lhe a pernita e amputou-a redondinha pelo tornozelo deixando-o manco para o resto da vida.

O que haveria de ser da vida desse rapaz sem uma gâmbia, num tempo em que mesmo com as duas sabe Deus?

Em ordem ao futuro do filho manco, a Chambra, precisava de trocar a paixão do Tibúrcio por alguma outra coisa que desse mais do que barbos de escabeche!

Ora, um amanhado dia do mês dos cucos, quando atravessava a linha do caminho-de-ferro com um jiga de labrestos à cabeça, colhidos na mesma leira onde o seu Pécora perdera o pé, a Chambra ia sendo apanhada pelo comboio. Não fora a mão amiga de um guarda-linha a tê-la salvo e seria morte certa. Ficou-lhe tão reconhecida que no dia seguinte, o tal, já merendava em sua casa. Dali avezaria um dinheirinho certo. Com ele poderia atenuar as dores da família, particularmente assegurar um futuro para o filho manco.

Não esteve com meias medidas, comassim! Deu-lhe a provar o licor de Vénus e fisgou-o pelo beicinho como o outro fazia aos barbos!

Tratava-se de um homem de meia-idade, solteirão, vindo do Douro. Por desgosto, quiçá de amor, pediu para vir trabalhar na linha do Tâmega, aqui para Chaves. Roupa lavada e cama quente levaram-no a viver de porta cerrada com a Chambra e os seus dois filhos.

Com aquele desgosto não pôde o Tibúrcio. Na primeira oportunidade contratou os serviços do Neves o Passador e emigrou a salto para a França. Teve tanta sorte que em pouco mais de cinco anos fez fortuna capaz de lhe alimentar uma velhice sem sobressaltos.

Durante esse tempo a Chambra vivia na fresca ribeira com o duriense e não mais se lembrou do Tibúrcio. Contudo, uma bela manhã do primeiro de agosto, o guarda-linha avisou que entrava de férias no dia seguinte, tomaria o comboio para a sua terra. Visita aos familiares. Assim foi. Evidentemente que se esqueceu de voltar no final das ditas.

Adivinhando a mandingança e achando-se de novo desamparada, a Chambra não perdeu tempo, foi pedir ao Beiças que lhe redigisse uma carta para a França.

Rezaria mais ou menos assim:

 

Crido Tibúrcio:

Espero qestas duas letras te bão topar de boa saúde. Nós por cá estemos bem graças a Nosso Senhor.

Escrebo-te esta p’ra te dezer que não me astrebo a aturar o Tibério e o Pécora. Desde que fostes p’rá França que me relam os dias a pedir barbinhos de escabeche. Eu bem los fazia mas num tenho quem nos pesque. Faltasme tu qeras o pitroil da minha candeia e o luzeiro dos meu olhos. Nunca na bida heide ter home tão asado qemo tu. Dabasme carinho, açaramoabasme os rapazes quando mijavam fora do penico, afagabasme a palha do xaragão quando oupava e olhabasme a pita todos os santos dias para que não pusesse fora. Fostes e hades ser sempre o home da minha bida e o pai que os meus filhos nunca tiberam.

Bolta Tibúrcio da minha peituga, serei o teu aconchego na belhice.

Sem mais que te diga, recebe o afago deste coração empedernido e a promessa de um cibo ardente que te deseja!

Por ti anseio.

Desta que muito to quer!

Chambra

 

A missiva lá seguiu para terras de Bonaparte.

Ainda não era Natal e já à sua porta, na canelha das Caldas, parava um carro de praça a descarregar duas malas de cartão anchas e um pimpão de fato e gravata. Era o Tibúrcio que retornava, agora carregadinho de francos, aos braços da sua amada.

Daí em diante nunca mais faltou o escabeche de barbos naquela mesa. Bem entendido que já não era acompanhado apenas com carolos recessos de centeio escuro, mas com cantos de trigo e outras iguarias que a Chambra trazia, vaidosa, da praça todas os dias de feira.

Viveram felizes. Tão felizes, que até o Pécora teve direito a um pé novo, suponho que de pau de amieiro, que o doutor Fernandes mandou vir de Barcelona. Mancava um pouquinho, mas foi apenas enquanto não se habituou.

O Pécora passou o resto dos seus dias rua Direita acima, rua de Santo António abaixo, a vender cautelas para seu sustento. Não sei se algum dia teria vendido a sorte grande, mas merecia que isso tivesse acontecido.

O Tibério foi chauffer de praça no Arrabalde.

A Chambra e o seu Tibério morreram velhinhos.

Do guarda-linha nunca mais ninguém ouviu falar.

 

Gil Santos

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