Quente e Frio!
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Mal eles sabiam que ali morava o Doutor Tavares, Professor do Colégio das Meninas, e que, em casa ajudava as candidatas ao Exame para a ESCOLA NORMAL a prepararem-se para a «Aprovação».
V
Os dias foram passando entre corridas matinais pela Rua Direita a garantir a chegada atempada à primeira aula - não que a disciplina horária e de comportamento do reitor Martinho Vaz Pires não era para brincadeiras!
O regresso a casa, o “Rapaz da Terra Quente” e o “Rapaz da Terra Fria” faziam-no sempre pela Rua das Pedrinhas, com a secreta esperança de verem sair da CAPELA NOVA as duas fadas ou de verem entrar pela porta do mistério as duas feiticeiras.
Aos domingos, de manhã, lá seguiam os dois amigos para a esquina da ” GOMES NOVA” ou da “Brasileira” para assistirem ao «santo sacrifício da saída da missa», da Sé com a sempiterna esperança de pousarem os olhos no andar das suas apaixonadas.
O “Rapaz da Terra Fria”, mal viu as primeiras beatas a sair para o adro, pôs o pé sobre a caixa do engraxador e deu ordem para que os sapatos ficassem lustrosos.
O “Rapaz da Terra Quente” foi ao Quiosque ali ao lado, encostado à “Pensão Avenida”, e comprou o «Mosquito» com as aventuras do “Roy Rogers”.
O «polidor técnico de calçado» já estava a puxar o lustro ao calcanhar do segundo sapato, quando o coração dos estudantes quase lhes saía do peito: as Lindas saiam pela porta do adro.
Nem queriam acreditar que com as Lindas vinham duas colegas da Aula de Filosofia.
Ao verem a Adília e a Adélia na companhia das princesas dos seus sonhos, o coração do “Celestino da Terra Quente” e o coração do “Clementino da Terra Fria” pularam mais do que o coração do Bartolomeu Dias quando transpôs o “Cabo das Tormentas”, e ficaram cheiinhos de Esperança!
As quatro amigas viraram para o passeio do Hotel Tocaio. Chegadas à Farmácia Almeida, atravessaram a Avenida para a Farmácia Galeno. Seguiram pela Rua da Misericórdia e arribaram ao Largo da CAPELA NOVA.
O “Rapaz da Terra Quente” e o “Rapaz da Terra Fria”, entenderam o desvio: por modéstia e por pudor, elas não quiseram sujeitar-se aos olhares dos mirones do Pelourinho, do “Excelsior” e da “Rosas”.
Eles seguiram-nas com cuidado e discrição.
Para não levantarem suspeitas, pararam na foto “Marius” a fazer que apreciavam as fotografias da montra, ao mesmo tempo que pelo canto do olho viam as cachopas subir a Rua das Pedrinhas.
A meio da tarde daquele domingo, os dois estudantes da alínea F) juntaram-se no quarto da Casa da “Rua do Rossio”, por lhes parecer mais resguardado para as suas conversas.
Embora mal tivessem «proβado» o almoço, estavam entusiasmados com a oportunidade que lhes …. saiu da SÉ!
A Adília e a Adélia, eram duas Raparigas alegres e bem-dispostas, cujas intervenções nas Aulas de Psicologia - o 6º Ano de Filosofia tratava só de Psicologia, o “Bonifácio” era Livro Único!
A Adília era natural de Vilarinho de Freires.
A Adélia, de Vilarinho do Tanha.
A Adília frequenta “Românicas”.
A Adélia, “Germânicas”.
Andavam no Liceu desde o 1º Ano. Conheciam bem a cidade, os usos e costumes de todas as classes sociais da «Bila».
VI
No quarto vizinho do “Macário”, o “TINO da Terra Quente” e o “TINO da Terra Fria” depois de repetidos discursos a saborear as emoções do dia, combinaram (...).
(continua)