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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

06
Mar17

Quem conta um ponto...


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331 - Pérolas e diamantes: Conluio de malvados

 

 

Começo a ficar um pouco farto daquelas pessoas que se vangloriam de fazerem as coisas bem. Sempre com um dedo apontado ao céu e outro ao seu próprio umbigo. Concordo com a sua trupe de bajuladores. De facto eles fazem muito bem todas as coisas sem importância.

 

Vivemos numa fase atípica da nossa democracia. Provavelmente perigosa. Temos liberdade, mais de quarenta anos dela. Continuamos a dizer aquilo que queremos. Mas eles, os que mandam, fazem invariavelmente o que planeiam. 

 

No fundo devemos tentar encontrar o nosso ponto de gravidade. Devemos insistir na procura da coragem, da força e da determinação. Não nos devemos limitar a fazer lixo. As nossas vidas são tão insignificantes. Até os nossos inimigos são insignificantes. Nem sequer vale a pena desperdiçar as nossas forças com eles. 

 

Eu procuro ir de encontro às palavras para inventar a realidade. Se formos bons, as histórias narram-se sozinhas. A nós cabe-nos repeti-las e transmiti-las. Temos de tentar fazer ver o mundo para além das nossas convicções.

 

Tento afastar a fadiga e reaprender a humildade de quem sabe saber pouco.

 

Aprendi com Cervantes que o sorriso e a ironia nascem do desencanto e da consciência de tudo aquilo que é trágico. É através da desilusão que se chega à fraternidade e ao amor. Tal como Dostoiévski, acredito que o Dom Quixote basta para justificar a Humanidade.

 

Deus nos livre de todos aqueles que – e cito Aristóteles – se apressam a executar uma ordem antes de ouvi-la por inteiro, pois assim só podem errar.

 

Por vezes chego a pensar – e a sentir, valha-me Deus – que não existe cidade à qual voltaríamos de tão bom grado as costas, quando nela habitamos, como Chaves. Mas também não existe nenhuma outra à qual se deseja tanto voltar, mal a deixamos.

 

É uma maldição esta contínua oscilação entre a ideia fixa de partir e a mania de voltar, entre a impossibilidade de suportá-la e, ao mesmo tempo, de passar sem ela.

 

Por vezes sinto-me como o judeu descrito por Kafka: “Eu escrevo diversamente do que falo, falo diversamente de como penso, penso diversamente de como devo pensar, e assim por diante até à mais profunda obscuridade.”

 

O grande escritor romeno Norman Manea resumiu de forma magistral o mundo em que vivemos: “No grande mercado livre e carnavalesco do mundo de hoje nada mais parece audível se não for escandaloso, mas nada é suficientemente escandaloso para se tornar memorável.”

 

Acho que foi Kapuscinski quem escreveu que uma árvore encantadora também pode proporcionar um duro bastão para zurzir.

 

Afinal, apenas a cultura permite separarmo-nos das nossas raízes e assumir um comportamento cosmopolita.

 

E não vale a pena pensar que os nefelibatas, os bajuladores e os carreiristas escrevem sem conhecimento de causa, dizendo muitas vezes que não aconteceu nada. Quando isso acontece lembro-me sempre da anedota daquela freira jovem e bonita que quando lhe perguntaram qual a razão de ter sido a única que escapou à violação de um grupo de delinquentes que tinham assaltado o seu convento, respondeu: Não sei… eu só disse «Não».

 

Eu sou um homem com defeitos, não com “defeitozinhos”. Platão ensinou-nos que “lá onde um homem se expõe livremente, nasce espontâneo o conluio dos malvados”.

 

Todos sabemos que um génio pode escrever coisas insignificantes, que não merecem ser lidas, mas se nos informarem que esta página ou aquela obra é de um génio somos forçados a atribuir-lhe significados que na realidade não se encontram lá. E isso não se aplica apenas aos génios, mas a todo aquele que goze de uma certa notoriedade.

 

Mesmo na educação, apenas é eficaz a evidência dos valores, não a sua predicação.

 

João Madureira

 

 

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