Ocasionais
“Tugaleado tugalês”
De vez em quando, pode ler-se e ouvir-se, nos “media” (leia-se média! - a palavra é latina, não inglesa!) como, p. ex., num Semanário de nomeada (há já algum tempo), e que, com a devida vénia e sublinhados meus, transcrevo:
{“TROIKA
Governo esconde do FMI intenção de baixar IRS
TEXTO FILIPE SANTOS COSTA COM ÂNGELA SILVA
Versão final da carta de intenções não está fechada
Neste momento "ainda está a ser discutido o wording final", disse ao Expresso fonte governamental”}
“WORDING final”
Os medíocres, coitados, para disfarçarem o tamanho ridículo do seu conhecimento, usam e abusam do enfeite com penas de pavão de aviário: um «repórter desportivo» dissertava sobre a «BILHÉTICA»; outro, um «membro do governo» (qual Saramago a ralhar-nos por não sabermos pronunciar "NÒ-BÉL"!), vem «fazer-nos ver» que não se diz «redacção final», mas, sim, «WORDING final», ora essa!!!
Digo-vos uma coisa: mete-me muito nojo que os portugueses usem e abusem, a torto e a direito, dos estrangeirismos, muito especialmente das palavras em Inglês.
- Em Vila Nova de Foz Côa, um grupo de labregos, que nem leonês, nem mirandês, nem beirão, nem português sabem, para se dar ares de «gente da cultura» dá à sua Associação o nome de “Foz Côa FRIENDS”!
- Em Aveiro, um grupinho de pontapé-na-bola auto intitula-se A D R C – ALWAYS YOUNG!
- Numa aldeiazinha da Terra Quente, no meio de pinhais, fazem-se «workshops» para os aldeãos!
- Os de Lisboa anunciam, p. ex., o “Festival de S. Remo”.
Mas o seu, com um “Vem aí o Lisbon Music Fest”!...
- Em BOTICAS, é o «sunset do ...Lesenho»!... Até «nas» BOTICAS!....
Porra!
Não se consegue ver escritas duas linhas em Português sem que lá não esteja metida uma «inglesada» pindérica, pedantista e ridícula?!
Será assim tão pobre o nosso vocabulário?!
“Bem m’ou finto”!
Por este andar, logo vem aí um «Ultimatum» a pôr-nos a todos a torcer a beiça e a revirar os olhos à «Londonshire»!
Haja decoro …….e orgulho …. na Língua! PORTUGUESA!!!
E, como se não bastasse para mau trato do PORTUGUÊS, falado e escrito moxetam-no com modismos, adverbialices e disparates!
- Durante um Jogo de futebol, um locutor, para manter a boca sempre aberta, informa-nos: “….aparece aparentemente a perder definitivamente a paciência”.
- Outro esclarece os «telespectadores» que o «camisola trinta e três» “vai a jogo,, «acaba de entrar dentro das quatro linhas», “daqui a pouco”!
- Efectivamente, ao fazer AcÓrdos meteu a pata nas PÓças, pronto.
- Curi0samente, passados vinte minutos depois das vinte e uma, pronto, a equipa vestiu o fato macaco, pronto, arregaçou as mangas, pronto, com humildade respeitou o adversário, pronto, e pôs o preto no branco do Barreto.
- Portanto, o fenómeno, digamos que, raro e, na circunstância, não tão raro assim, coloriu a cermónia nas vertentes da serra, pronto.
- Um falso quarto defesa, pronto, avança pelo terreno, de trás para a frente, pronto, e quando faz bem a leitura do jogo, faz um golo de belo efeito, pronto.
- Na TV: -“”O clima está a alterar-se, já a seguir notícia “” – aparece uma nuvem e “veja o clima a alterar-se, já a seguir”.
O efectivamente (quase ) passou de moda e, então, surge o então é assim, segue-se-lhe o então e, neste momento, acompanha-o o de resto. Mas vem de imediato o «também».
Até o “Chagas das Bicicletas do Marco” não dá umas pedaladas à língua sem buzinar um «também».
E todas as etapas, curvas, descidas e subidas são «agressivas», tal como a pintura numa caixa de fósforos, o feitio de uns sapatos, o aspecto de uma montra, a distribuição de panfletos de Supermercados ou de cartazes a anunciar a festa do Bairro ou da Aldeia, ou da passeata a favor …da perda de peso são, por via de regra …e de …moda, «agressivas»!
E no discurso político, depois do «abrangente», há que impor o «absolutamente» e o «aprofundamento», pois as «geometrias variáveis» e o «paradigma» já quase desapareceram!
Porque leram uns livrecos ou umas páginas em «franciú», toca a copiar e a traduzir o «justement» para «justamente»…e mai nada! Toca a metê-lo em toda a frase, dita ou escrita!
Tal como um jogador de futebol é catalogado de «reforço» quando muda de clube, toda a mudança, seja aumento ou desconto, tem de levar com «uma mais-valia»!
Então quando um jogador, pela primeira vez, «vai a jogo», com que euforia delirante o enviado ou comentador «especial» repete tratar-se de uma «estreia absoluta»! E, quando toca na bola, «pontapeia NA frente»!
Vertente, estruturante, fracturante, acrescidas, então, recorrente, colateral, no limite, enlencar, alavancar, alavancagem, transversal, parabenizar são perdigotos constantes a sair pelo cano de escape da fala pedante dos enjoadamente vaidosos pelos cargos que ocupam e ainda mais «inchados» quando lhes põem um microfone à frente dos … olhos!
E repare-se na posição em bicos de pés, na postura da boca em forma de cu de galinha, no puxar do ombro para cima e para a frente, no alevantar das sobrancelhas de grandes figuras públicas a referirem-se aos «MEIOS DE COMUNICAÇÃO» (que não de INFORMAÇÃO - «quéto»! Que «informar» e «formar» é «outra louça»!) - dizem «mídia»”!!!
E, se mais não fosse preciso, aí está fresquinha a a moda do «claramente»!
- O « claramente » não podia faltar: é obrigatório!
É execrável modismo epidémico (qualquer farroupilha intelectual ou qualquer intelectual farroupilha aproveita o abrir a boca para exibir a ligeireza na idiota macaquice de imitação de um enfeite ridículo), que «dá classe» a quem tem pouca ou nenhuma!
Quando falta substância, corpo, autenticidade, valor ao blá-blá dos que pretendem insinuar-se «pensadores», visionários, entendidos e supra-sumos, se valem das adverbialices da moda, dos tiques intelectualóides e de trejeitos ridículos como certificados de qualidade do seu palavreado baboso, espúrio, que usado numa prova oral da 4ª classe lhes garantia o «REPROVADO»!
Para disfarçar a sua mediocridade, pindéricos e «armadores ao pingarelho» usam e abusam desses e de outros modismos descartáveis, badalando-os como salvo-conduto para a sua presunção, ignorância e incompetência.
Se as «adverbialices» e os modismos enjoativos pagassem portagem, a beiça desses pedantes renderia mais que todas as AE e SCUT’s, em cem anos!
Então, actualmente, nos painéis de comentadores desportivos, até parece existir um campeonato para ver qual deles usa mais vezes o «claramente»!
Para os “aziados” (azedados), o azedador, inspirando-se em Pascoais, diz-vos:
-.- A vós, o “Inglês” está na moda.
A mim, o PORTUGUÊS está no sangue!
M., vinte e três de Março de 2017
Luís Henrique Fernandes