Chaves D'Aurora
- GRANDE GUERRA.
O mundo todo acompanhava, estarrecido, a guerra que as elites carniceiras da Europa fizeram eclodir, dos anos 14 a 18 do século XX, em talhos onde se expunham cadáveres esquartejados e os soldados, nas trincheiras, grande parte dos quais advindos como voluntários, viam-se diante de inimigos que, em igual condição à deles, também estavam à mercê da chuva, do frio, dos lamaçais e, com mais constância, dos piolhos, ratos e carraças. Acabavam quase todos vitimados pelas balas ou gases venenosos, por enfermidades como o tifo e a febre quintã ou, pior ainda, pelas septicemias oriundas de ferimentos mal cuidados, ante a falta de certos procedimentos sanitários e de medicamentos ainda não existentes, como antibióticos, vacinas e outros mais.
O maior legado que os marechais dessa guerra deixaram à Europa, após ficarem brincando, insanos e entediados, com os jogos de matar soldadinhos, não de chumbo, mas de carne e osso, foi mergulhar o continente em uma tríplice aliança, a dos três efes: fome, fraqueza, falência. A indigência aumentara, na maior parte dos países, com a falta de recursos médicos e de géneros alimentícios que pudessem servir de trincheiras ou fortalezas inacessíveis a outros embates, bem diversos e mais genocidas e que, tal como aquela guerra, seriam travados contra as forças de Tânatos, o deus da Morte.
Nessa batalha, que logo estaria a se anunciar, por toda parte, como guerra não declarada, até mesmo os arquiduques Ferdinandos d’Áustria-Hungria estariam à mercê de serem abatidos, não por estudantes bósnios de nome Gavrilo Princip, mas por batalhões de germes mortíferos, criados pela Natureza, nos seus imprevisíveis desígnios de ora mãe, ora madrasta.