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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

01
Nov17

Nós, os homens


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VI

 

A coisa até nem tinha corrido mal se eu não tivesse estado já daquele lado. Se eu ainda fosse para lá, tinha-me deixado deliciosamente ir, mas eu já vinha de lá!

 

Eu sabia exactamente o que ela sentia e o que ela não sentia e esta segunda parte doía. Mas isto ela não sabia e eu não dizia porque me protegia.

 

Aquela coisa do preciso de estar sozinha não era senão um apetece-me estar sem ti e ela dizia estas coisas sem perceber que eu as entendia exactamente como ela as sentia e pelas mesmas razões e achava aquilo uma vingança do destino, uma maldição, quase como uma justiça do além, embora eu achasse uma enorme injustiça aquilo que a providência estava a fazer comigo porque eu não tinha culpa nenhuma de, desta vez, eu estar apaixonado e da outra não! Ora agora quem não estava era ela e eu estava a apanhar pela medida grande!

 

E ela a perguntar-me se eu percebia e se aceitava isso e eu com uma consciência danada daquilo tudo, a comer e a não gostar e sem nenhuma hipótese de reverter a situação pois que isto dos sentimentos está dentro de nós e ou se têm ou não se têm e eu tinha e ela não.

 

E ela continuava a olhar para o relógio a horas certas enquanto eu perdia completamente a noção do tempo e dizia que já era tarde, quando a mim me parecia que tinha acabado de chegar!

 

E ia-se embora com uma facilidade, a do dever cumprido, que me deixava completamente indignado, a mim que me considerava preparado para estas relações adultas, em que cada um faz o que tem a fazer, sem qualquer compromisso e depois vai à sua vida!

 

E quando ela começava as frases por já não somos duas crianças, eu sentia um arrepio na espinha e pensava, mas que disparate é que ela agora vai dizer! E com esta introdução a conversa prosseguia e eu comportava-me como se fosse um verdadeiro adulto, embora muitas vezes o que me apetecesse era chorar no seu colo e pedir-lhe para não se ir embora.

 

Tinha-o feito uma vez e a coisa tinha corrido bastante mal, nem cheguei a perceber bem porquê, a menina sentiu a sua privacidade invadida e que eu, de alguma forma, estava a tentar dominar o tempo que era dela, como se o tempo ou o espaço fossem coisas ou grandezas que nos pertencessem, das quais nós, simplesmente seres humanos, nos pudéssemos apropriar, num acto de posse completamente desajustado, arrogante e altivo!

 

Tive que lhe pedir desculpa como se a tivesse insultado ou ofendido, pois que a reacção era muito próxima da tida nestas situações. E novamente nada disto me era estranho pois que já tinha feito exactamente as mesmas figurinhas e percebia agora, finalmente, porque motivo ou, melhor dizendo, porque falta dele! Se não fosse eu o sofredor, até achava piada a isto. Como as coisas se viram contra nós para que finalmente as possamos entender!

 

E era, não diria engraçado porque eu não achava piada nenhuma a isto, mas, peculiar talvez como ela não se apercebia disto! Ou, apercebendo-se do meu mal-estar e incomodando-se com isso, achava que não estava nas suas mãos fazer nada para o impedir. Em circunstâncias normais, eu diria que ela era tola, mas definitivamente não era disso que se tratava e era exactamente isso que me assustava: não sendo tola, ela não alterava um milímetro da sua vida ou do seu comportamento para me agradar, se isso não fosse uma coisa que lhe apetecesse particularmente. Não sei caracterizar esta atitude e isto incomoda-me, escapa-me ao controlo do meu entendimento, deixa-me inseguro, ansioso, angustiado e chateia-me profundamente nos dias em que preciso dela e não a posso ter!

 

O que me irritava mais era não saber lidar com isto! Na realidade eu sabia muito bem o nome que isto tinha, mas se o pronunciasse, tomava consciência dele e depois tinha de agir em conformidade, porque a um homem na minha idade e na minha condição não lhe é permitido outra coisa e como não queria arriscar, equacionava o problema de outra forma.

 

Tinha basicamente duas hipóteses: ou me afastava ou fazia de conta, fiz de conta.

 

Afinal era melhor tê-la assim do que não a ter e depois havia sempre a hipótese, estatisticamente possível, mas improvável, de eu estar enganado!

 

Cristina Pizarro

 

 

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