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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

03
Nov17

Discursos Sobre a Cidade


SOUZA

 

A POLÍTICA AUTÁRQUICA E O DESENVOLVIMENTO FAZ-SE COM TODOS

 

Em termos autárquicos, e aqui pelo nosso burgo flaviense, acabou-se um ciclo político de se estar na política e fazer política. Pelo menos assim pensamos que tenha acontecido.

 

É um novo elenco, oriundo de uma outra família política, que atualmente ocupa as cadeiras do poder na nossa cidade e no nosso concelho – o PS.

 

Fazemos parte dessa família política. Mas, de acordo com uma nossa decisão já antiga, apenas demos a cara pela candidatura do PS, aparecendo numa ou noutra manifestação de rua, na campanha. Já cumprimos o nosso dever cívico. Foram 30 anos: 20 na oposição e 10 no poder! Bem ou mal – foi como pudemos e soubemos -, trabalhámos de uma forma honesta e empenhada. Mas não nos cansamos de repetir que a passagem dos homens pela política é uma atividade efémera, transitória.

 

Nestes últimos tempos, e nesta mesma rubrica, delineámos algumas ideias e princípios básicos que devem presidir aos processos políticos. Três ideias chave quisemos transmitir.

 

A primeira, mais do que a competência (que cada político individualmente deve ter) e a racionalidade das posições, propostas e decisões políticas, a emoção, o sentimento e os afetos devem sempre estar presentes (sem demagogia!). Já o nosso grande cientista António Damásio, na sua primeira obra «O erro de Descartes», afirma que foram os afetos e as emoções que levaram ao aparecimento do homo sapiens.

 

A segunda ideia prende-se com uma constatação histórica. Hoje, mais do que nunca, a era dos políticos e líderes providenciais acabou! Não há líderes providenciais. A política e o desenvolvimento das sociedades não se faz unicamente com personalidades individuais, por muito sábias ou carismáticas que sejam. Assenta nas instituições que se têm e na sua renovação.

 

A terceira ideia consiste na chamada de atenção que, numa sociedade tão globalizada, heterónima e heterárquica, tão diversa, e com tantas diferenças, independentemente das ideias e dos valores pelos quais cada um, ou em grupo, individualmente se bate, deve imperar o princípio, sempre, do bom senso, que implica a construção do diálogo e da partilha de opiniões, em ordem à construção de acordos.

 

Só entendemos a democracia no exato exercício desta postura. Sem ela, tudo o mais não passa de pura impostura!

 

É neste entendimento e nesta atitude que, esperamos, o trabalho dos nossos eleitos se desenvolva.

 

Não concordámos com a legislação que, desde há muitos anos, rege a vida e as instituições autárquicas; não concordamos com o enorme espartilho da gestão do nosso pequeno território em tantas autarquias, levando a que os nossos autarcas se transformem nos novos “caciques” do século XXI; não acreditamos que as mudanças de que o nosso território, e as suas gentes, precisam tenham como protagonistas principais, ou quase exclusivos, os senhores presidentes de câmara; acreditamos que a política e o desenvolvimento do nosso país faz-se com todos, com novas mentalidades, novo modelo de desenvolvimento, enfim, com novas posturas!

 

Por isso, aqui deixamos aos nossos leitores uma pequena reflexão de um politólogo (Daniel Innerarity), que tanto admiramos, quando nos fala do excesso de personalização da política. Passemos a citar:

A outra fonte de alheamento em relação aos processos de aprendizagem coletivos é a excessiva personalização da política. A relação entre processos e pessoas, instituições e indivíduos, já deu muitas voltas na história das nossas democracias. Oscilámos entre a tese de Marx, segundo a qual são as massas quem faz a história, e a contrária, segundo a qual é aos grandes líderes que devemos as principais transformações políticas. O século XX das patologias do carisma político (…). Finalmente, parece ter-se estabelecido um personalismo banal que substitui o forte perfil ideológico pela inflexão pessoal, que chama a atenção para os traços pessoais do líder como explicação da sua capacidade de sedução política.

 

Numa democracia de perceção, a competição política articula-se nas pessoas que incarnam ou simbolizam os projetos rivais. Daí a importância, seguramente excessiva, que atribuímos à eleição dos líderes ou à sua demissão, deixando para segundo plano tudo o resto. Passamos tanto tempo a lamentar-nos porque os políticos não se demitem quando deveriam que, no momento em que o fazem, desencadeiam-se umas expetativas exageradas, como se a mudança de pessoas produzisse efeitos mágicos nas organizações e na política em geral.

 

 

As instituições conhecem e exercitam diversas estratégias para mudar tudo de maneira a conseguir que nada mude. Uma das mais recorrentes consiste em substituir pessoas, como se os problemas tivessem sempre a sua causa numa incompetência pessoal e a sua solução dependesse da renovação daqueles que se encarregam delas [Que palavras tão certeiras, dado o momento por que passamos!]. Sendo a renovação de pessoas imprescindível em muitas ocasiões, a verdade é que nem todos os problemas políticos são causados pela permanência das pessoas nos cargos nem se deve esperar da sua saída todas as soluções para tudo. A renovação pode ser aparente ou tática; pode supor, inclusive, uma deterioração, pois qualquer mudança está ameaçada por essa possibilidade. Do mesmo modo, também a substituição geracional não constitui uma mudança de ideias e estilos; por vezes, o sucessor é uma versão mais bisonha do mesmo, com menos experiência e, portanto, mais propenso para a arrogância [E como nós, por cá, tivemos tão bom exemplo!].

 

Tratando-se de assuntos políticos, o argumento que coloca todo o peso na substituição de uma pessoa por outra tende a perder de vista o fundo do problema. As mudanças de fundo só podem ser levadas a cabo de maneira eficaz através de um longo processo de mudança nas organizações. As modificações políticas com algum alcance são sempre modificações institucionais, no estilo, no diagnóstico, na competência e nas regras do jogo que ficam plasmadas num modo generalizado de atuar [sublinhado nosso]. Aquilo que a política exige hoje é menos uma substituição de pessoal que uma mudança de mentalidade que se traduza em procedimentos institucionais mais de acordo com a nova realidade das nossas sociedades. O movimento de pessoas não assegura novidade alguma quando as atitudes de fundo se mantêm; os substitutos acabam por ficar prisioneiros das mesmas rotinas porque os costumes costumam ser mais poderosos que as boas intenções. (…) O que precisamos (…) [é ] de inovações políticas, algo que tem mais que ver com a configuração de um sistema político inteligente do que com um suposto governo dos melhores”.

 

Sistema político inteligente esse que conte mais com o exercício e a participação (tendencialmente generalizada) de todos os indivíduos, entendidos como cidadãos, empenhados na construção da sua polis, e de todas as instituições.

 

Sinceramente, muito gostaríamos que os nossos políticos – quer principalmente os que estão nas cadeiras do poder, quer os da oposição – e todos nós, (ou individualmente falando, ou integrados nas diferentes instituições da sociedade civil) tivéssemos em devida conta estas palavras e esta ponderada reflexão.

 

António de Souza e Silva

 

 

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