- CINEMATÓGRAPHO.
A Florinda, dentre os “films” que mais lhe encantaram, foram as cenas dramáticas de “O Contrabandista do Álcool” ou “Alma Mater”, as peripécias cómicas da “Noite de Núpcias de um médico” ou as “Aventuras do professor” e mais os flashes da vida real, como os animais no Jardim Zoológico. Já no início da sessão, um comboio, que parecia vir na direção dos espetadores, fizera a todos abismar. Alguns até recuaram de medo, sobretudo os miúdos, a causar frouxos de riso na plateia.
Como iria fazer, posteriormente, de acordo com o já narrado, em relação aos frequentadores habituais de teatro, João Reis, àquela altura, ficou a reclamar daquilo que, ao seu modo de ver, fazia necessária alguma repressão. Tratava-se de certa parcela do público, cujo comportamento deixava muito a desejar. Outro cronista já estivera mesmo a comentar, em um dos jornais flavienses: “Um forasteiro que vá ao Cinematógrapho, poderá julgar que está ao sertão d’ África e não numa terra civilizada. A troco dos poucos vinténs com que pagam os bilhetes, os espectadores julgam-se no direito de praticar toda espécie de desmandos, desde a piada grosseira e soez, até ao batuque dos pés, a revelar uma tendência asinina muito a lamentar. Se o piano deixa de soar, um segundo que seja, logo uma gritaria se levanta - ‘Sanfonia! Sanfonia!’- Cafreal de estupidez e ignorância! Se às vezes a fita escurece um pouco, porque na cena se apagou uma luz, ou porque um comboio vai passando n´um túnel, surgem logo os protestos – “Mais claro! Mais claro!” – incompreensão de verdadeiros selvagens. As mais pueris cenas de amor são sempre sublinhadas com dichotes de uma crueza que revolta. A Polícia e as autoridades estão lá, mas assistem impassíveis a esse espectáculo vergonhoso. Bastaria que dois ou três daqueles selvagens terminassem a noitada no metro quadrado da esquadra policial”.
A última sugestão estava bem ao gosto de Papá que, já nos alvores do século XX, fazia questão de lembrar também que, embora fosse considerado chique em sociedade o ato de fumar – Ora pois, pois, pelo bom Deus! Há que dizer aos parvos que não é elegante e, sem dúvida, muito desagradável fumar em sala fechada!
À saída, a mencionar a divisão dos filmes de acordo com os rolos guardados em latas apropriadas, um reclamo anunciava o programa da semana seguinte: “1º. “O vinho” (natural); 2º.“Astúcias de montanhês”; 3º, 4º. e 5º; “Vinganças da Bailadeira”; 6º; “Cruel dilema” (drama); e, 7º. “A máquina”, (cómica). Em breve novas e magníficas películas, ainda não vistas pela plateia de Chaves, inclusive a projecção de um film que é a maior sensação da actualidade”. (Tal filme era “ O Nascimento de uma Nação”, de D. W. Griffith).
Após a sessão do Cinematógrapho, foram todos saborear alguns gelados na Confeitaria Trajano, que ficava na Rua Direita, próximo ao Arrabalde. Eis então que lá na Trajano, sentados à mesa com os miúdos, Papá segurou as mãos da esposa entre as suas e disse – Ah, minha menina, minha linda Menina Flor! Sei que tens muitas saudades da tua terra, mas verás que tu e eu, cá na minha, ainda seremos muito felizes!
Largo do Arrabalde. Chaves antiga(PT). Postal Foto Alves