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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

09
Nov17

Nós, os homens


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VII

 

Na verdade, eu até nem me podia queixar! Ela estava quietinha no seu canto, tinha sido eu a ir ter com ela, eu é que armado em parvo tinha dito o que não devia e feito o que não podia!

 

Ela tinha a cabeça toda arrumadinha, exceptuando o facto de não saber o que sentia por mim e não o conseguir dizer nem assumir. Eu, ao contrário, tinha tudo num caos, exceptuando o facto de a amar perdidamente e querer estar com ela todo o tempo do mundo.

 

Dizem os livros que o amor é uma complementaridade, uma treta é o que é! Aquilo cada vez funcionava pior, tinha começado num processo de sedução que eu tinha iniciado e que funciona sempre bem, por definição, e a partir daí era uma no cravo e outra na ferradura!

Quando as coisas corriam bem, a mim parecia-me a última refeição dos condenados à morte!

 

Eu tinha vários problemas!

Um deles identifiquei-o quando fui ao sapateiro levar uns sapatos que tinha há dez anos e de que gostava tanto que não os conseguia pôr no lixo, embora estivessem rotos.

Um dia descobri um artista de sapatos que transformava velhos em novos e quando lá cheguei disse-lhe:

- O senhor já alguma vez se apaixonou por uns sapatos?

- Não, eu quero é que sejam confortáveis!

Ora aí estava o que a mim não me bastava. Os que lhe levava também eram confortáveis, mas não era só por isso que eu os tinha guardado. Era fundamentalmente, ao menos também, por serem bonitos.

Deixei-os lá e ele transformou-me os sapatos confortáveis nuns bonitos e que também eram confortáveis.

Pensei então que não sofreria tanto se procurasse nas pessoas o que ele procurava nos sapatos: que fossem confortáveis.

Era isto que me faltava: ser prático e era isto que a menina tinha!

Eu devia pensar, em relação às pessoas, para que é que me servem? e responder simplesmente para me serem confortáveis, porque é com elas que eu ando.

Não temos que nos apaixonar pelo que é confortável! São características diferentes que podem e devem existir em grandezas ou conceitos diferentes.

Podemos apaixonar-nos por uma ideia, um projecto, um pensamento, qualquer coisa que dependa de nós. Isto é saudável! Já é doentio quando nos apaixonamos por qualquer coisa que não depende de nós, que não está nas nossas mãos controlar, pois que se os outros não quiserem, como é que ficamos? Passemos à frente o palavrão, mas não é agradável, nem confortável.

 

Os nossos pés vão andar quilómetros e acabarão por ficar cansados, desgastados, calejados, provavelmente com algumas feridas. Em determinados pontos vai-nos sair a pele, vão sangrar, as unhas dos pés vão partir. E depois, quem é que nos vai tratar deles? Não podemos levar os pés ao sapateiro, não há nenhum artista de pés que possa transformar velhos em novos!

 

Cristina Pizarro

 

 

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