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Nov07
Vilela Seca - Chaves - Portugal
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E hoje é dia de aldeias. Vamos de novo até Vilela Seca, mas desta vez para a grande reportagem, que nunca é grande, pois no que toca a falar de um povo, ficamo-nos sempre aquém daquilo que é real e daquilo que merecem.
A informação nem sempre está acessível e por isso a abordagem a uma aldeia é sempre superficial, breve e vista pelo olhar apaixonado do “repórter”, pois todas as nossas aldeias têm muito para contar e para dar, mas para isso é preciso vivê-las, estar lá no dia-a-dia, falar com as pessoas, sobretudo com as de mais idade que são as que têm muitas e mais histórias e estórias para contar. Vilela Seca, pela sua localização geográfica, pela certa que tem muita coisa para contar, mas vamos ficar pela brevidade do possível e pelas imagens do meu olhar. Claro que também aqui há muito mais para mostrar.
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Vilela Seca é sede de freguesia, a única aldeia da freguesia, com uma área de 13km2 e 322 habitantes. Fica a 12 quilómetros de Chaves e faz fronte irra com as freguesias de Vilarelho da Raia, Outeiro Seco, Bustelo e Ervededo.
Quanto à sua localização, fica na transição do vale de Chaves com o inicio das montanhas barrosas, mas é mais do vale do que da montanha e com a Galiza ali quase ao lado, por isso também não lhe devem ser estranhas as histórias do contrabando do tempo da existência de fronteira controlada.
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Tem como produções mais notórias o centeio e a batata e pode ser que num futuro próximo coma rede de rega (suponho) da recente barragem construída do Rego do Milho, outras produções e outras riquezas possam sorrir à freguesia, que como quase todas se divide entre uma população envelhecida e jovens que trocam a aldeia por trabalho na cidade ou no estrangeiro.
Diz quem sabe que Vilela é um topónimo que significa vila pequena, cuja origem remonta à romanização. O povo atribui-lhe a designação de Seca, pela escassez de água, que aparentemente, pelo menos pelo verde do pequeno vale, a escassez não seja assim tanta.
Quanto a arquitectura das suas construções, no núcleo, temos de tudo, desde o tradicional das construções típicas de pedra à vista e habitações rudimentares (maioritariamente em ruínas ou desabitadas), a um outro conjunto de casas aristocráticas, também moribundas e desabitadas. Algumas delas situadas dentro de quintas com belas espécies florais. Claro que na periferia nasceram e crescem algumas habitações novas, o típico também em todas as aldeias, pois continua a ser mais fácil e barato, construir de novo a recuperar. Infelizmente, tal como na cidade, é assim que se vai perdendo a vida e o núcleo tradicional, pois geralmente as novas moradias são isoladas, vedadas onde se perde o espírito do convívio de vizinhança. Novos tempos e novas vidas.
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Quanto a belezas e obras de arte, saliento a da entrada do cemitério onde se ergue um artístico cruzeiro barroco datado de 1779, cuja cruz mostra numa face Cristo Crucificado e na outra a Senhora da Piedade. Diz-se que o escultor foi o mesmo que esculpiu o bonito cruzeiro de Tamaguelos, aldeia espanhola vizinha e acredito que sim, pois o cruzeiro segue todas as características dos cruzeiros galegos.
Possui uma Igreja antiga de devoção à Senhora da Assunção, encravada entre o casario e abandonada, também a meter dó. Disse-me uma simpática senhora que antigamente a igreja era pequena para os fiéis e o padre empenhou-se na construção de uma maior. Agora que têm uma igreja grande, não têm gente para a encher. Embora a nova igreja não seja de desprezar e a sua torre até marca presença, é pena que a antiga igreja fosse abandonada e desprezada, pois poderia perfeitamente ter mantido a sua dignidade, pois é bem interessante, tirando uma intervenção menos feliz na torre sineira, mas continua a ostentar um lindo relógio, que (claro) já há muito não dá horas, pois também morreu.
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Quanto a gente ilustre, dizem-me ser a terra do major Luís Borges Júnior, pai do ilustre historiador José Guilherme Calvão Borges.
E por hoje vai sendo tudo. Amanhã cá estarei de novo com uma nova aldeia do nosso concelho de Chaves.
Até amanhã!