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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

08
Mai09

Discursos Sobre a Cidade - Por Gil Santos


 

.

 

ECOS DA VEIGA

Texto de Gil Santos

 

NOTAS DE ABERTURA

Pelas encostas do Brunheiro, à noitinha, precipita-se o zimbro como um rebo tresloucado. Ímpio, escarrapacha-se em silêncio, cindindo-se em mil cibos de cristal que transem o Vale num abraço de bincelho. A alma, granítica, dos da Veiga, é curtida por este castigo que os céus arrimam.

De cacaranhas sob as choinas do tição, em silêncio, carpem-se as mágoas da solidão e do carambelo.

A vida folgada continua aputada por aí. Emprenhando amantes, ignora a fêmea, ávida, que tem em casa!

Bem se arremeda a dor para que suma; bem se escancaram portas e janelas para que Satanás não atazane, bem se emborca o tinto morno da pichorra que aqueceu ao borralho, mas não há meio!...

A esperança é, quotidianamente, assobalhada como a ferrã em campo verde.

Nada muda, pese embora a ilusão de tudo estar diferente!...

Catancho, que vida de merda!...

A esperança na electricidade, no telemóvel, no computador e na internet, no ipod, no satélite, no GPS e na televisão de alta definição, na auto-estrada, nas promessas dos políticos, no fim do isolamento milenar e na igualdade de oportunidades, mirra como a bosta no merouço!...

Está quase tudo na mesma:

- a chiba continua despreocupadamente, como há séculos, a roer os rebentos de silva brava nos arrabaldes da cidade;

- a fêmea do bicho homem a parir, antes no cortelho, agora na A24 para Vila Real;

- o filho do remediado a estudar na Universidade de Curral de Vacas!... o do pobre, condenado, para sempre, a ficar brutinho!

- o Tâmega a correr para Sul;

- e o comum transmontano a sonhar que o amanhã é que é!...

Pois é! os da beira mar vestem-se de carmim, os da Veiga que se remedeiem de serrubeque!...

Maldita sorte, rais-te fonha!

Não sou, nem nunca fui biqueiro, mas custa-me a deglutir tanta injustiça! A ter de a gramar, hei-de esgomitá-la em trejeitos de revolta para que não me esfoure.

Quero escarabulhar as palavras como quem o faz com as baijes chixarras e ser capaz de cantar a Veiga como ela bem merece!

Que sejam os dezeres desse cantar que um dia porei ao léu uma espécie de caga-lumes. Pontos de luz, na noite escura do esquecimento a que a votaram.

Sonho-os prenhes da idiossincrasia de que o leitor carece para sonhar!...

Bonda de carregar estrume! Já tenho as cruzes doridas!...

 

AUSÊNCIAS!...

Da umbria e agreste encosta do Brunheiro

Por entre o refulgir de vãos enleios

Rasga um sol vadio o frio Inverno

Sorri desmesurado em devaneios

 

Trago no ventre a criação profana

De um sentimento vadio que me mente

Sufoco melancolias ausentes do passado

Inconformado, invento os termos do presente

 

E antes que a trompa macrocéfala redobre

Em miseráveis e funestos sons o seu alento

Canto aqui a Veiga, p’ra que oiçam

Um revoltado e forte grito de tormento

 

Ausentes da Veiga, olvidai-la

Clamai que o céu vos valha orgulhosos!

Regressareis um dia arrependidos

Implorando clemência com olhos bem chorosos

 

Doces sonhos alimentaram o devir

Pesarosa ilusão que o mundo tece!

Quanta mais esperança tu procuras

Quanta mais desgraça te aparece!...

 

 

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