Pedra de Toque - O Nosso Fado
O NOSSO FADO
Foi ela que abriu portas. Foi a sua voz que deslumbrou continentes. O fado consagrado Património Cultural e Imaterial da Humanidade, na passada semana, deve imenso à ainda inultrapassável Amália Rodrigues.
Em todas as gerações surgiram vozes no fado respeitadas e aplaudidas.
No nosso tempo, canta-se muito bem o fado e todos os dias os fadistas conseguem sucesso e reconhecimento mesmo além-fronteiras.
Mas depois desta recente consagração, indiscutivelmente as portas escancaram-se.
Marisa, Carlos do Carmo, Carminho, Camané, Ricardo Ribeiro, entre outros, são aplaudidos em todo o mundo.
Recentemente, Carlos Saura, realizador espanhol de fama merecida, filmou na velha Lisboa um documentário interessantíssimo sobre o fado, realçando as suas discutíveis origens, e escutando as mais velhas e as mais novas gerações da canção nacional, no seu recanto mais íntimo, as tradicionais casas de fado.
Villaret provou que o fado também se pode falar. No filme de Saura, como há muito eu pressentia, provou-se que o fado também se pode dançar.
Voltando à Amália, urge lembrar que ela cantou os poetas populares e tradicionais, mas também poemas que o povo cantou de poetas com estatuto literário relevante.
Que o fado tenha chamado à atenção do mundo é bom para os portugueses (mesmo para os que não gostam do fado), é bom para Portugal.
Agora que a nossa alma vive sofrida, pode ser que o fado ainda nos tire desta sina.
Desde sempre que o fado me emocionou.
As grandes vozes do fado, o trinar das guitarras, lavraram fundo no meu peito.
Porque gosto, continuarei a ouvir fado.
Os poetas não deixarão de estar atentos aos estados de alma, aos anseios do povo.
Os músicos porão técnica e sentimento no dedilhar das guitarras e das violas.
O fado nunca morreu desde que no século XIX começou a ser cantado. E não morrerá.
Está aí reconhecido no mundo e cheio e gente jovem para o revitalizar.
Eu não deixarei nunca de ouvir fado.
Se calhar,
É a minha sina.
É o meu fado.
António Roque