Pecados e Picardias - Por Isabel Seixas
Pecados e picardias
O liceu…
O Liceu era mais teórico
Que a Escola técnica
A escola facultava cursos
De comércio de formação feminina
O liceu fornecia os recursos
Para prosseguir os estudos
Os mais velhos
Para nós uns senhores
Namoravam discretamente
Frequentavam os cafés e iam jogar ping pong
Onde é agora a Princesa
Faziam terapia de grupo secretamente
E seleccionavam os amores
Alguns impossíveis de certeza
Nós fazíamos umas festas
Quando convidadas por alguma amiga
Em casa da Olga na hora das sestas
Filha de mãe ternurenta
Fazíamos teatro com as roupas destas
Um lanchinho e nem prelúdio de briga
Mesmo da mais embirrenta
Passamos a época conturbada
Do pós vinte e cinco de Abril
Às vezes sem entender mesmo nada
Apesar das RGAs mil
Houve passagens administrativas
Amarguras em praça pública
Alguns lavavam a alma
Em rebeldias proliferativas
Que adulteravam a calma
E confundiam a ética pudica
As Freiras eram muitas vezes o palco livre
O Sport o Aurora o Comercial e o Ibéria
O cenário estimulante da conversa mais séria
Nasceram partidos
A LUAR
Sempre me fascinou pela sigla poética
Embora desconhecesse o seu programa
Isso era irrelevante
Diziam que era…bom ou mau
E nós acreditávamos como sempre
A militância partidária
Encetou o separatismo
Um novo tipo de gregária
Entre o socialismo e o comunismo
As aulas decorriam para nós normalmente
E os professores carismáticos
Como O Dr. Castro mantinham a sua pedagogia latente
Registava a avaliação continua com mais e menos
Em conformidade com as respostas positivas e negativas que demos
Havia imparcialidade em questionários algo lunáticos
Mantendo-nos em sentido e em quase toda a aula estáticos
Mandava-nos para casa recados para os pais
Que tinham que ser assinados preferencialmente com os nossos ais
Perguntava-nos se tínhamos levado
Ficando satisfeito e regozijado
Depois voltava a explicar muito bem
As ciências naturais como ninguém
Nesta época as mais bonitas
Já eram mencionadas para angariar namorado
Embora só fosse para trocar olhares às escondidas
E para no intervalo espreitar noutra sala ao lado
Os professores eram benevolentes
Mudança dos tempos ou já eram assim antes
Os alunos é que estavam mais desinibidos
Alguns até se mostravam desabridos
A professora Misinha
Na história
E a professora Anita
Na matemática
Suscitavam o nosso interesse
O raciocínio e a memória
Com atitude pedagógica e pragmática
Havia um professor
Cujos alunos ao redor
Faziam brincadeiras
Que se assemelhavam a asneiras
Às vezes alguns iam para casa
Suspensos
A informação era lida nas turmas
Para moralizar
E inibir a repetição do feito e entre silêncios se comentar
Os rebeldes malcriados nem ficavam tensos
Ainda ostentavam com orgulho as diabruras
Já se vislumbrava o delinear
Da ténue fronteira
Entre a liberdade e o abuso
Essa ratoeira
Que infringe a cidadania e o respeitar
A omissão de regras e o seu desuso
(…)
Continua
Isabel Seixas
In Chaves Musa Inspiradora