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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

18
Mar13

Quem conta um ponto...


 


Pérolas e diamantes (29): o protocolo e as coisas

 

 

A arte existe porque a vida não chega, lembra-nos o poeta brasileiro Fernando Gullar.

 

Observo diferentes fotos antigas de Chaves e penso que esta terra já foi berço de excelentes artistas e também de bons estadistas. Homens que entendiam o exercício da política como uma arte. Mas atualmente, Deus meu, tocamos mesmo no fundo. O que temos em termos de ciclo político autárquico é mau e o que se aproxima não será, quase de certeza, melhor. Que Deus nos ajude, se puder.

 

Eu agnóstico me confesso, mas deixo que o materialismo e a metafísica convivam dentro de mim em afetuosa tensão. Nisso acompanho Fernando Gullar. Não sou religioso, nem acredito em Deus. Mas, apesar de o não ser, considero que o Universo é inexplicável.  

 

Inexplicável é também o que os responsáveis atuais fizeram à nossa cidade e ao nosso concelho. Não sei porquê, mas vem-me à memória o título do livro de Arthur Koestler, “O Zero e o Infinito”.

 

Talvez um dia me inspire a escrever um conto intitulado “O Infinito e o Zero”.

 

A cada dia que passa fico mais estupefacto em relação ao mundo. Porque é que existe a matéria em vez do nada? Dizem que o mundo teve um começo. Falam do Big Bang, dessa enorme explosão de energia e matéria. Mas como é que do nada surge uma deflagração dessa magnitude? É um mistério sem decifração.

 

Também o poder autárquico desta última década continua a ser para mim um mistério sem explicação. Como é que gente com tanta falta de talento para a política foi capaz de se impor no seu partido e de ganhar eleições? Eu gostaria de conseguir entender o enigma, porque considero que é melhor ter uma resposta explicativa das coisas do que não a ter. Afinal estamos sujeitos ao acaso, à Teoria do Caos. Em política, particularmente na nossa cidade, tudo pode acontecer.

 

Foi a ler “O Bom Soldado Svejk”, de Jaroslav Hasek, que descobri uma possível resposta, não para a explicação da origem do Universo, pois isso era pedir demais a um livro humorístico, mas sim para a vitória do atual poder autárquico. Que também pode ser extensível a anteriores executivos camarários e de algumas juntas de freguesia.

 

O bom soldado Svejk conta, a dado momento, a história de um homem que num interrogatório, quando lhe perguntaram se tinha alguma objeção ao protocolo, disse: “Independentemente da forma como se passaram as coisas, sempre se passaram de alguma forma, até à data não houve vez nenhuma em que não se tivessem passado de alguma forma.”

 

De facto, em Chaves, depois de tanto esforço por parte das autoridades civis e militares, depois de tantos presidentes de câmara, vereadores, presidentes de junta, assessores, secretários, doutores, arquitetos, engenheiros, deputados, deputadas, governadores civis e marechais, até à data não houve vez nenhuma em que as coisas não se tivessem passado de alguma forma. E nós somos testemunhas de que nunca ninguém pôs em causa o protocolo, independentemente da forma como se passaram as coisas, pois elas, as coisas, sempre se passaram, e passam, de alguma forma.

 

Também nós flavienses, à imagem e semelhança do valente soldado Svejk, perante os absurdos colossais e insondáveis dos nossos políticos, e das suas políticas, resistimos oferecendo a mais veemente cooperação.

 

Foi Montesquieu, nas suas Cartas Persas, que deu origem a uma tradição humorística que pretendia demonstrar quão ridículo é o mundo se observarmos os seus princípios civilizacionais com olhos de um extraterrestre.

 

Estamos em crer que os discursos da gente que nos governa são todos inspirados no coronel Salzburgo, um dos muitos personagens do livro de Hasek. O militar padece da mania de definir enciclopedicamente qualquer objeto que lhe apareça ao alcance da mão, ou do discurso: “Um livro, meus senhores, é um conjunto de folhas de papel de recorte diferente e formato diverso que é coberto de carateres impressos e depois agrupado, cosido e colado. Pois. Sabeis, meus senhores, o que é a cola? A cola é um preparado glutinoso para fazer aderir papel, madeira e outras substâncias.”

 

E perante a nossa teimosia em não querermos ser tratados como imbecis, esses nossos dirigentes de certeza que olham para nós com os olhos, e as intenções, do catequista violento do delicioso livro de Hasek, que “pretendia aproximar toda a gente de Deus” à força de porrada. Pois, como conta o bom soldado Svejk, ele esbofeteou um aluno porque apresentara determinadas dúvidas relativamente à Santíssima Trindade. “Recebeu três estalos. Um por Deus Pai, o segundo pelo Filho de Deus, e o terceiro pelo Espírito Santo.”

 

Estimados leitores, pelo que vou lendo, escutando e observando, cada vez mais me convenço que Mark Twain tem toda a razão: “A Humanidade tem apenas uma arma eficaz: o riso.”

 

E é bem verdade que cá por Chaves também nos rimos… para não chorar.

 

João Madureira

 

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