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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

21
Ago13

Chá de Urze com Flores de Torga - 3


 

Na semana passada eu queria abordar aqui “Um Reino Maravilhoso” de Torga mas acabei por perder-me no “Primeiro Dia” da “Criação do Mundo” e tudo porque uma coisa leva à outra, ou seja, em “Um Reino Maravilhoso” e leia-se Trás-os-Montes ou a terra natal de Torga e tudo que a rodeia, Torga não faz mais que escrever um “poema” de amor à terra mãe, e o amor nunca é uma coisa simples ou passageira como uma paixão. Não, o amor sente-se porque houve momentos vividos que nos levam até ele, e não é feito só de momentos felizes e grandes, mas antes feito de todos os momentos vividos e de todos os passos percorridos no seu caminho. O seu ninho era em S.Martinho de Anta  mas tal como as aves têm o seu território à volta do ninho, o território de Torga era Trás-os-Montes e tinha como fronteira ou barreira natural a Serra do Marão.


O “Reino Maravilhoso” de Torga é o Reino Maravilhoso de qualquer transmontano desde que o tenha vivido nos seus anos de ouro e daí, mais uma vez termos de ir ao “Primeiro Dia” da “Criação do Mundo”, ou sejam os anos de criança de Torga que mesmo difíceis são sempre felizes e por isso se registam para todo o sempre e se transformam em amor, porque todos os passos do seu caminho foram intensos. Esteja-se onde se estiver, o ninho é sempre a nossa referência, por muito ruim que o ninho tivesse sido…

 

Londres, 10 de Junho de 1977


Chuvisca. E é de uma Inglaterra húmida, verde, íntima, fechada nas suas casas iguais e nas suas gabardines iguais, que me despeço, o corpo a bendizer o sol natural que o vai aquecer, e o espírito a maldizer a sombra social que o vai regelar. «Triste pássaro que nasce em ruim ninho» - diz o povo. Mas é lá, no meu, que sempre quis viver e quero morrer. Infeliz de o sentir de tojos, e feliz de o sonhar de penas.


Miguel Torga, in Diário XII

 

Quem acompanha este blog sabe que Torga tem passado por aqui muitas vezes, não semanalmente como agora, mas ocasionalmente quando por uma qualquer razão ou sentimento me levavam até às suas palavras e tudo porque como eu dizia no início desta rubrica - “Chá de urze com Flores de Torga” - Miguel Torga é o maior escritor de Portugal e dos portugueses, ou seja, sentimos as suas palavras como sendo nossas, principalmente nós os transmontanos, os habitantes do tal Reino Maravilhoso, mesmo que distantes dele, ou melhor, sobretudo quando se está distante ou fora dele e se tem o ninho sempre como referência, desde que, claro, os nossos anos de dourados lá (cá) foram vividos.


Pai, Mãe e Irmã de Miguel Torga - Imagem da Fotobiografia de Torga

 

S.Martinho de Anta, 1 de Outubro de 1953


No fundo, foi bom eu ter abandonado a casa paterna quase ao nascer. Fiquei sempre a ver as palhas do ninho como penas de aconchego. Não houve tempo para a minha erosão. Envolvidas numa redoma de saudade que nunca foi quebrada, as impressões infantis guardam toda a pureza de um amanhecer sem ocaso. Intemporal e mítica, a paisagem geográfica é nos meus sentidos uma perpétua miragem; quanto à outra, à humana, tais virtudes lhe descubro, que parece que só junto dela sou gente. As raras horas de céptica objectividade são guinadas passageiras. É na exaltação e na confiança que o corpo e o espírito respiram aqui . E cada visita que faço a este chão amado lembra mais uma peregrinação de sonâmbulo do que um contacto acordado. É como se viesse ao cimo de uma serra cumprir uma promessa, e andasse de joelhos à volta da ermida a cercá-la de intangibilidade, sem olhos para reparar nas imperfeições do orago.


Miguel Torga, in Diário VII

 

E hoje ficamos por aqui com mais uma vez o “Um Reino Maravilhoso” adiado. Hoje entraram dois apontamentos dos seus diários. Aliás as palavras dos seus diários irão ser aqui uma constante.



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