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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

14
Mar17

Chaves D'Aurora


1600-chavesdaurora

 

  1. DEFESA DA FÉ.

 

Florinda a tudo escutou, com o sangue a lhe subir à fronte, em uma crescente indignação. Quando Aurita interpelou o primo, timidamente – Mas os pastorinhos viram Nosso Senhor no Calvário, viram Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora do Carmo e Nossa Senhora de...– o rapaz riu e exclamou – Pois me dizei, afinal: quantas mães tem o Filho de Deus? Pai, a gente pode ter vários, mas mãe, de facto, só nos há de ter uma, não achais todos vós?

 

Foi então que uma ardorosa defensora da Fé, a deixar assombrado o próprio marido, ergueu-se da cadeira e disse ao sobrinho, em tom normal, porém firme – Senhor Rodrigo, isso não são coisas que se digam na casa de pessoas que têm suas crenças e devoções! Aqueles devotos que lá estavam e que eram, de facto, gente de fé, por certo que seus olhos VIRAM tudo aquilo, porque tais coisas, rapaz, estão acima de nós, pobres seres humanos. Aquelas coisas, ainda que fossem só para aquela gente ver, eram milagres. Milagres da Virgem Santíssima!

 

A seguir, ameaçou-o – Se é para vires até cá com essas ideias de jerico e ficares a blasfemar e zombar de nossa religião, melhor será que penses bem antes de ultrapassar aquela porta! – chamou, até si, as meninas da casa – Aurita, Nonô, Lilinha, Mindinha, venham comigo! – recolheu-se com as filhas ao quarto do casal e todas ajoelharam-se diante do oratório, a rezar à Virgem de Fátima, em voz tão alta quanto pudessem ser ouvidas na sala de estar, pela reconversão do primo à fé católica e pelo perdão “aos pecados de todos nós.”

 

Discreta e educadamente, Rodrigo logo se dispôs à retirada de campo, antes que essa mini batalha doméstica viesse a crescer e se espalhar pelo mundo, como tantas guerras por Religião que se travaram ao longo da História. João Reis, todavia, apesar de devoto por tradição, instou ao sobrinho que ficasse e, com bastante e vivaz interesse, continuou a provocar as argumentações do jovem iconoclasta.

 

Como chegassem até ao quarto algumas risadas dos rapazes e até de João Reis (isto, por si só, um facto inusitado), já entretidos então com outros assuntos, mais amenos, Mamã e as quatro filhas puseram-se a cantar, em alto e bom som, de modo a que os da sala lhes percebessem a indignação, algumas preces musicadas em louvor à Santa Senhora, tais como essa que, até hoje, ainda é conhecida – “A treze de maio, na Cova da Iria / no céu aparece a Virgem Maria / Ave, Ave, Ave Maria...”

 

 

Alguns dias depois, sob o pretexto de devolver um livro à estante de João Reis, o primo Rodrigo tocou a sineta da entrada e pediu a Zefa que transmitisse à senhora sua tia e aos mais as suas maiores recomendações. Já se dispunha a partir, quando se viu chamado pela própria Florinda, como se, há tão pouco tempo, nada de inconveniente houvesse acontecido. – Ora me entres cá, Rodriguito, vem nos dar de novo o prazer de uma boa palestra! Só não me fales de certas coisas, bem sabes! – e, desse dia em diante, por muitos outros mais, entre broas, bolinhos e bolachas, lá estava o rapaz, de novo, a encantar a todos da casa, com os seus ditos espirituosos e as histórias engraçadas, embora algumas, por vezes, terrificantes.

 

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