Nós, os homens
IV
Um dos maiores problemas das mulheres é a depilação. Nós, homens, lidamos bem com os pêlos. Eu, pelo menos, acho que os tenho todos no sítio certo. Mesmo aquelas pequenas aberrações de ter dois ou três a sair do mesmo folículo piloso, vulgo poro, acho que se trata de uma questão de cidadania que eu respeito. Se conviverem bem uns com os outros, que diferença me faz que saiam todos do mesmo sítio ou de locais diferentes?! Até porque numa superfície de 1,80 m de altura e 85 kg de peso, converta-se em área, só de lupa é que isto se notava e não é, apesar de tudo, esse o caso!
Acho que o Criador sabe o que faz, ou o que fez, partindo do princípio, errado ou não, de que Ele só fez o primeiro casal e depois nos entregou à sexualidade tradicional, tradicional agora, na altura isto havia de ser o futuro!
Seja como for, as mulheres estão convencidas de que Deus se distraiu quando estava a fazer a primeira e lhe colocou pêlos em zonas erradas. Puro erro de cálculo! Não queria entrar em pormenores que estas coisas são delicadas, mas chegam a ponto de ficar carecas em zonas que supostamente foram bem pensadas para ter pêlos. Uma coisa é um gajo com a idade, ou por características genéticas, começar a perder o cabelo e vai daí disfarçar a coisa com um rapar da cabeça, pois sempre é melhor andar para aí armado em careca do que em calvo! Até porque isto tem uma lógica, é dos carecas que elas gostam mais, diz a canção. As figurinhas que nós fazemos para agradar ao sexo oposto! Sim, que nós somos assumidos, não andamos para aí a vender o argumento de que nos arranjamos para nós! Nós arranjamo-nos é para elas, nem fazia sentido outra coisa, somos parvos ou quê? Isto de andar às compras dá uma trabalheira do caraças, para além da perda de tempo e do gasto inútil de dinheiro. Se andássemos lavadinhos e com as partes pudibundas tapadinhas, era o suficiente. Só tínhamos que nos preocupar com o calor e com o frio.
Elas não, sujeitam-se a coisas hilariantes! Aquilo deve doer como tudo, o buço, as sobrancelhas, as axilas, as virilhas, as pernas, o rabo e do resto já falei. Tudo por nossa causa! Não é que não nos faça bem ao ego e à auto-estima, uma mulher sujeitar-se a maus-tratos para agradar a um homem! Fica por explicar a luta pelos direitos iguais e outras tretas com que nos enchem a cabeça nos dias em que estão com o período. E não é que aquela coisa lhes dá todos os meses! Nesta parte talvez concorde com elas, o Criador estava distraído, pois havia alguma necessidade?! Decidindo ter filhos bastava uma vez por ano, que a decisão é séria, não é coisa que se pense este mês quero ter, este mês já não! Valha-me Deus! Quero dizer, tudo menos isso!
E isto até podia não ter importância nenhuma se não tivesse consequências em nós, é que se calha de a esteticista ter um casamento e desmarcar a depilação da menina, nós é que estamos lixados, assim de forma subtil, para não dizer um palavrão! E se fosse isso, até não tinha importância nenhuma, mas isto sou eu a falar, porque a consequência é exactamente o contrário: não estamos. Agora só para a semana, a não ser que a menina esteja tão desesperada como nós e vá à farmácia ou ao supermercado comprar aquelas tiras de auto-mutilação que conseguem o mesmo efeito.
Mas isto é só um desabafo, para compensar o ridículo do que em que nos transformamos por causa delas!
Fazemos tudo, salvo o papel de otários e mesmo assim funcionamos como as companhias de seguros: em letras pequeninas temos as condições especiais, a que recorremos, não em regime de excepção, mas sempre que as condições normais não funcionam!
E as condições normais quase nunca funcionam, aquela coisa de que as mulheres são como os carros: têm todas os botões no mesmo sítio, só para quem nunca conduziu um Porsche, um Jaguar ou um Maserati! O que é que estes carros têm a ver com os outros veículos de quatro rodas?! Eu nunca tive nenhum, por razões unicamente económicas, que outras poderia haver, mas tive um amigo que tinha um stand de automóveis e quando eu lhe fazia favores e me perguntava como é que eu te hei-de compensar?, acto contínuo, lá íamos nós experimentar o último modelo da tecnologia alemã, inglesa ou italiana que ele tinha disponível. E agora estou mesmo a falar de carros, aquilo é que eram máquinas, um gajo até se assustava quando, em poucos segundos, os ditos atingiam o nível da descolagem! É pecado um homem matar-se a trabalhar uma vida inteira e nunca conseguir juntar dinheiro para ter um brinquedo destes!
Mas dizia eu que vamos fazendo cedências aos caprichos das mulheres, e o que elas inventam, meu Deus, para nos porem a trabalhar para elas! Até cenas de ciúmes com o colega de trabalho com quem almoçamos há quinze anos! Se há coisa que eu nunca admitiria a ninguém, a não ser, lá está, por uma mulher por quem estivesse perdidamente apaixonado, é que alguém desconfiasse que eu era gay! Maluco como sou e com os dois bem no sítio, em peso e dimensão, era bem capaz de combinar com o meu colega de trabalho fazer-lhe algumas festas durante o almoço enquanto estava a ser espiado. Punha até a hipótese de lhe dar um beijo na boca depois do café, desde que ele alinhasse, só para me divertir com aquela cena! Não me caía nada ao chão, não era menos homem por isso e divertia-me à brava.
Mas quando o assunto é mulheres, nós comportamo-nos como uns cordeirinhos! Se elas gostam de azul, a gente veste-se de azul, mesmo que seja a cor que a gente mais odeia. Que mais nos faz?! Quando nos dão uma prenda, preocupa-nos por acaso o papel da embalagem?! Elas ficam todas contentes e nós também! Então não é bom ver aquela felicidade estampada num rosto tão bonito, só porque escolhemos a sua cor de camisa preferida! Camisa, pólo ou t-shirt, elas é que mandam, afinal aquilo tudo é para despir ao fim de algumas horas, que diferença é que nos faz?
Mas o Porsche é uma coisa fora de série! Eu que até não sou um gajo nervoso, quando me sentei ao volante daquela coisa e ela se pôs a andar comigo fiquei com pele de galinha! É que a diferença é essa: há carros que nós conduzimos e carros que nos conduzem a nós! Continuo, verdade verdadinha, a falar de carros, e o Porsche é um dos carros que nos conduz a nós. Perdoem-me a comparação, mas eu acho aquilo um carro inteligente e não ficava nada chocado se criassem o Dia Internacional do Porsche, e acho que fazia todo o sentido falar em direitos iguais e outras coisas que as minorias defendem porque aquilo é uma minoria deliciosa!
Mais ainda, se eu me sentar num Porsche vestido de azul ou de branco, ele anda da mesma maneira! Tem características próprias, sei que se trata apenas de um carro, mas tem sensibilidade e personalidade! Reage de imediato ao toque do pedal, não pergunta porquê, onde estiveste, com quem, não faz de conta, não amua, pura e simplesmente interage!
Vou-me esfolar a vida toda, mas ainda não perdi a esperança de ter uma coisa destas dentro de casa, perdão, à porta de casa!
Cristina Pizarro