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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

13
Dez17

Nós, os homens


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XII

 

As relações amorosas só duram o tempo que demoramos a perceber que a culpa é delas.

Lembro-me do dia em que esperei por ela a tarde toda para ir tomar café em frente ao mar. Nós, os homens, temos este romantismo que nunca havemos de perceber e nunca ninguém nos vai saber explicar! Então porque raio é que um café há-de ter sabor diferente e melhor só porque a água está ali ao lado a bater estupidamente na areia de forma insistente e rotineira, um vento do caraças como é sempre habitual nas praias do Norte e um cheiro estranho que dizem ser a maresia, mas que na maior parte das vezes é a marisco cozinhado na véspera!

 

Seja como for, ela nunca mais vinha. Tinha ido a uma exposição de Barbies no Estádio do Dragão para a qual não me tinha convidado e que, pelo avançado da hora, devia estar a ser interessantíssima! E eu digo isto sem ironia nenhuma porque na realidade eu só tinha pena era de não ter ido! Primeiro, porque sou um gajo simples e acho piada a tudo, segundo, porque ainda que não achasse, ao seu lado tudo tinha graça. Mas ela nunca se lembrava destes pormenores de eu fazer parte da sua vida e de que onde ela ia eu podia ir também.

 

Era a mesma coisa quando chegava a casa às tantas da noite e me mandava uma mensagem carinhosa a dizer cheguei. Nunca passava naquela cabecinha que à hora a que ela estava a chegar a casa, vinda dos inúmeros jantares que tinha com as amigas, podia ser exactamente a mesma hora a que nós estávamos a chegar a casa e que não havia necessidade nenhuma de me mandar uma SMS porque eu estava com ela. Melhor ainda, podíamos passar a noite juntos que era outra coisa que também não lhe passava pela cabeça. Se fossem jantares de trabalho, havia lógica nisto, mas não eram, lógica nenhuma. No princípio ainda pensei que se tratava de jantares de gajas, enfim, aquelas coisas que elas têm, confrarias não sei de quê e o diabo que as carregue, mas com o passar do tempo dei-me conta que aquilo era misto. Ela não dava conta, não sei, se calhar era ao contrário e até fazia de propósito, um gajo faz cada papel, e quando eu perguntava pelo jantar da noite anterior ela contava coisas e conversas de um casal que lá estava… Casal? Então havia homens! Mas isto era o que eu pensava, nunca disse nada, sempre à espera que um dia ela sentisse a minha falta e tomasse a iniciativa de me convidar a acompanhá-la. Claro que nunca aconteceu. Sentir a falta de quê, se ela tinha tudo?! Aliás, se eu não estivesse, era a forma de ela até ter mais gente à volta dela! A presença de um macho afasta sempre os outros, se bem que quem nos visse em público ninguém dizia que éramos um casal. Ela não gostava nada de brincadeiras fora de casa. Mas pronto, aquela coisa da proximidade de um macho de uma fêmea deixa sempre os outros na dúvida e nestas coisas, justiça nos seja feita, a gente mais ou menos respeita-se, digo, quando estamos na frente uns dos outros. 

 

Isto agora dito assim não parece ter importância nenhuma, mas na altura magoava! E magoava tanto mais quanto mais meiga ela era comigo! Parecia que me queria castigar! Eu sabia que não era isso, era por isso que aguentava e não dizia nada, mas doía. Uma noite quando chegou a casa, mandou-me uma SMS a dizer que sentia vontade de me tocar e …. Claro que não terminou a mensagem, mas vindo dela isto já era muito, porque não era nada habitual ela dizer o que sentia quanto mais escrever. Se eu não me tivesse transformado já no idiota em que me tinha convertido desde o dia em que a conheci, pegava no telefone, como qualquer gajo na minha idade e com a minha disponibilidade faria, e dizia: na tua casa ou na minha? Mas eu não fiz absolutamente nada, transformado como estava em cordeirinho manso, para não dizer tanso, que choca com a minha masculinidade, devo ter dito uma lamechice qualquer.

 

E isto tudo para dizer que quando terminou a exposição das Barbies acabámos por não ir tomar café ao pé do mar porque eram 6h00 da tarde e àquela hora, embora não houvesse trânsito para lá, haveria certamente para cá e a menina não chegaria impreterivelmente às 8h00 ao jantar que religiosamente tinha todos os domingos em casa de não sei quem e para o qual, obviamente, eu nunca fui convidado.

 

Um gajo mete-se em cada uma! Hoje, por exemplo, tomar café num domingo em frente ao mar é das coisas mais simples que há: meto-me no carro e vou! Melhor ainda, quando as gajas me vêem sozinho vêm-me pedir lume a ponto de eu, que até nem fumo, agora andar de isqueiro. Sabe-se lá, estas coisas quando um gajo menos espera…. Olha, nem vamos mais longe, com ela foi uma coisa parecida!

 

Cristina Pizarro

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