Nós, os homens
XXI
Não seria justo continuar este conto sem agradecer, aqui, ao meu grande e sincero amigo, a quem surripiei a história. Ele sabe que as minhas intenções foram as melhores e por isso não me levou a mal.
Enquanto não fundarmos o MEEH, qualquer um de nós está exposto a coisas destas e isto funciona como um alerta.
Quando ele me contou esta história, a primeira coisa que me veio à cabeça foi que, afinal, aquela sua ideia de fundar o Movimento Europeu de Emancipação do Homem, se calhar, não era assim tão tola!
Não posso deixar também de pedir desculpa por, de alguma forma, iludir os leitores, fazendo-os pensar, desde o início, que era comigo que a história se passava.
Se fosse comigo outro galo cantava e não era o de Barcelos! Mas dizemos todos o mesmo, por isso eu até nem estranharia nada se, apesar de há muito tempo ter lido os estatutos, um dia me acontecer o mesmo! Estando vivo, calha a todos!
Quando ele me contou aquele jantar com o nosso amigo, em que lhe tinha feito a proposta de fundar o MEEH e ele só não lhe chamou parvo por pouco, o meu grande e sincero amigo ficou sem coragem para contar o resto: que praticamente a parte documental já estava feita. Mas continuou com a mesma ideia, porque é teimoso como um burro, e achava que isto não era propriamente uma coisa que se pudesse mandar por e-mail aos cinco melhores amigos com a garantia de ganharmos o Céu!
Mas eu sempre o apoiei naquela sua ideia e se há característica que eu tenha, é a de fazer o que não deve ser feito! Tolo como sou e em desespero de causa, porque sinto a dor dos outros como se fosse minha, mandei mesmo o e-mail aos cinco melhores amigos, sem garantia nenhuma de ganhar o Céu, até porque não fazia disso um projecto de vida.
Chamar a isto azar, é pouco. No tempo em que eles os dois se davam bem, eu tinha colocado o endereço electrónico da menina na lista dos cinco mais, a este ponto eu sentia que ela fazia parte dele!, e eis que ela recebe também o texto.
Uma merda os computadores, internet e o diabo a sete! No tempo em que eu andava na caça, nunca me enganei a disparar um tiro. Era o que se chamava cada tiro, cada melro, sempre no alvo certo. Eu estava, a olhos vistos, a perder qualidades.
O que mais me aborreceu foi a minha falta de rigor nos actos, quando eu tinha tanto com as palavras!
Claro que tive de lhe pedir desculpa, não a ela que me estava perfeitamente a borrifar para o que pensasse, mas ao meu grande e sincero amigo, pelo que lhe tinha feito a ele. Afinal, toda a confiança que ele tinha depositado em mim, ao contar-me toda esta história, tinha ficado abalada, pois que eu tinha posto a nu o que me tinha sido dito em confissão, e ainda por cima, ao diabo!
Mas, quando eu contei o que tinha acontecido, o meu grande e sincero amigo riu-se tanto e de forma tão efusiva que eu fiquei seriamente na dúvida se ele tinha achado graça ou se lhe estava a dar um ataque! Outro!
Quando parou de se rir, bateu-me com determinação no ombro esquerdo e disse: obrigado pá, acabaste de me fazer um grande favor!
Nós, os homens, temos destas coisas!
Cristina Pizarro