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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

11
Mar18

O Barroso aqui tão perto - Sabuzedo


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As nossas partidas para o Barroso, em geral, fazem-se sempre ao nascer do dia. Depois de recolher os parceiros de viagem e dependendo do roteiro previamente elaborado, viramos para a estrada de Braga (EN103) ou para a estrada do S. Caetano (EM507). Vá-se por onde se for, há sempre paragens obrigatórias. Para a nossa aldeia de hoje, Sabuzedo, recordo que tomámos a estrada de S. Caetano, com duas paragens obrigatórias, uma à entrada do concelho de Montalegre para lançar olhares e fazer mais uns registos da Serra do Larouco e outro na Vila de Montalegre para tomar café e finalmente despertar para o dia.

 

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Em Montalegre a paragem/pausa para o café de despertar é sempre na esplanada da padaria do Largo do Pelourinho. É aí que se vai fazendo o ponto da situação, ou seja, como os parceiros de viagem confiam nas minhas escolhas, arrancam sempre às cegas, vão para onde eu os levar e é aí, que lhes participo o roteiro e aquilo que nos espera, combinamos o local para almoço, etc.

 

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Pois para esse dia o roteiro era longo. Começava em Donões e terminaria em Outeiro, com passagem por Sabuzedo, Mourilhe, Cambezes do Rio, Frades do Rio, Sezelhe, Travassos e Covelães para a parte da manhã. Para a tarde ficaria Pitões das Júnias, Tourém, Paredes, Parada de Outeiro e Outeiro. Geralmente as manhãs cumprem-se sempre, depois de almoço é mais complicado, mesmo assim ainda fomos até Pitões e Tourém.

 

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É certo que regressamos destas descobertas do Barroso sempre com espírito e alma renovadas, mas também sempre com o corpinho a pedir umas boas horas de repouso, mas sempre com o espírito de missão cumprida, principalmente quando pensamos que no Barroso já não temos mais descobertas a fazer e ele acaba sempre por nos surpreender, e nesse dia 2 de setembro de 2016, surpreendeu-nos mais uma vez, com as aldeias de Donões e Sabuzedo, que até aí não conhecíamos, pois as restantes já eram nossas conhecidas.

 

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Entremos então em Sabuzedo que começa logo a surpreender antes de se entrar na sua intimidade, pois nem todas as aldeias gozam de uma localização tão privilegiada que enche logo o olhar ainda antes de se entrar nela, dispondo-se em anfiteatro na encosta da montanha a receber o sol da manhã, a pedir logo uma fotografia mal se começa a avistar ao longe.

 

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E aquilo que se vê ao longe promete, uma aldeia de aglomerado concentrado, com a escola lá no alto, a encosta da montanha a terminar num biquinho, muito verde envolvente e arvoredo, daquele que gostamos de ver por condizer com a região, os carvalhais. Apenas um pouco reticentes quanto à brancura das casas que sobressai no conjunto, pois geralmente é sinónimo de novas construções que ferem a integridade das aldeias tradicionais. Mas só entrando na aldeia é que poderíamos tirar conclusões.

 

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 E tal como se costuma dizer, as aparências iludem. Ao entramos na aldeia, quase parece que por magia, o tal branco das casas desapareceu, e a cada passo que dávamos no adentramento da aldeia, mais surpreendidos íamos ficando. Como era possível existir assim uma aldeia a apenas 4.8km Montalegre e nunca termos dado por ela. Pois estávamos perante uma das aldeias tipicamente barrosãs do Alto Barroso onde o granito a vista é rei e senhor com uma aldeia que vai mantendo a sua integridade. Os tais pontos brancos do casario que ao longe se avistam, dentro da aldeia não são assim tão percetíveis e depois de uma leitura mais atenta sobre a localização das mesmas, acabam por estar na periferia do núcleo histórico da aldeia, ou seja, onde devem estar.

 

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Quanto aos traços da arquitetura típica das aldeias barrosãs, estão lá todos, os tanques, bebedouros e fontes públicas, o casario de pedra à vista com meios lances de escaleiras sem proteções encimado por patamares de entrada cobertos com estrutura de madeira, testemunhos no telhado das antigas coberturas de colmo, alminhas, a capela, gado nas ruas, um cruzeiro, etc.

 

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Quanto ao meu destaque, vai mesmo para o conjunto do casario tradicional, e para as alminhas, não só pela sua singularidade com a particularidade do relógio de sol, mas também pelo seu enquadramento onde até o fontanário com bancos de repouso, embora mais recente, acaba por ficar bem, ou como se costuma dizer na moda, acaba por fazer pandã. Na inscrição das alminhas está bem visível a data de 1858, no entanto não me parece que todos os elementos existentes sejam da mesma data.

 

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Já fomos adiantando a localização de Sabuzedo e o itinerário para chegar lá, mas vamos ser mais precisos. Pois quanto ao itinerário já dissemos que é o da estrada de S. Caetano, EM507, que até Montalegre não há que enganar. No entanto a estrada no concelho de Montalegre entre Vilar de Perdizes e Meixide tem estado em obras e por vezes cortada ao trânsito. Assim sendo, a melhor opção é após passar Meixide virar à esquerda em direção a Pedrário/Sarraquinhos, que por aí também se chega até Montalegre e a paisagem até é interessante.

 

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Chegado a Montalegre, Sabuzedo fica a Noroeste da Vila, a apenas 4,8km. Há que atravessar a vila e apanhar a M305, ou seja a estrada que nos leva até ao campo de futebol de Montalegre, passa-se este e quase logo a seguir vira-se à direita em direção a Donões, passa-se ao lado desta e a seguir é Sabuzedo. Mas ficam as coordenadas e o nosso habitual mapa.

41º 50’ 34.79” N

7º 49’ 57.04” O

Altitude: entre os 950 e 1000 metros

Saliente-se que Sabuzedo esta implantada na encosta de uma das serras mais altas do concelho, logo a seguir à Serra do Larouco, do Gerês e do Pisco de Tourém, ou seja no Cabeço do Alto  com 1.322 m.

 

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Administrativamente Sabuzedo pertencia à freguesia de Mourilhe. Com aquela coisa da reorganização administrativa de 2013,  a aldeia passou a pertencer à União de Freguesias de Cambezes do Rio, Donões e Mourilhe.

 

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E o que dizem os livros e documentos sobre Sabuzedo. Pois não dizem muito, mas fica aqui aquilo que encontrámos nas nossas pesquisas, iniciando pelo  Livro “Montalegre” (os realces e sublinhados são nossos):

 

"Só o concelho de Montalegre tem mais de cento e cinquenta capelas com quase outros tantos oragos. Não há praticamente povoação que não tenha ao menos uma, mesmo tendo a sede de freguesia.

As alminhas são o dobro, mais ou menos, das capelas e algumas de singular aspecto. Destacam-se as alminhas de Sabuzedo. Os cruzeiros são mais de 60 e se lhes juntarmos os calvários ainda existentes com as cruzes das estações da via sacra serão três vezes mais. Destacam-se o de Salto, Pondras, Mourilhe, Codessoso de Meixedo, de Montalegre, o da Interdependência da Vila da Ponte, Negrões, Meixedo, Sabuzedo, Santa Marinha, Santo André, Penedones, Antigo de Serraquinhos, Sezelhe, Travasços do Rio, Vila da Ponte, Bustelo e Parafita!"

 

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Na página da freguesia de Mourilhe (suponho que seja anterior à união de freguesias), encontrámos mais alguns dados sobre a aldeia:      

Alminhas e Capelas

 Capela de Na. Sra. do Carmo, a sua construção foi dedicada a S. Miguel Arcanjo. Alminha em homenagem a Na. Sra. do Carmo e Alminha com relógio de Sol.

Forno Comunitário 

 

FESTA DE NOSSA SENHORA DO CARMO

Tem lugar no último Domingo de Julho. Festa religiosa com missa e procissão em volta da aldeia.
A parte profana consta de arraial e fogo de artificio.

 

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Vamos à “Toponímia de Barroso”

 

Sabuzedo

“ É um nome comum “sabugo” cujo étimo latino é SA(M)BUCU. Dá origem a numerosos topónimos dos quais, os mais raros, são o nosso e Sabugueses. Claro que uma planta (que antigamente se chamava sabugo e hoje é sabugueiro – trata-se de situação muito parecida com o pinho e pinheiro) não tinha poder para toponomizar! Acontece que com a aglomeração dessas plantas já tal pode acontecer como, aliás, especifica o seu sufixo ETU — EDO, que sugere quantidade.”

 

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E continua a Toponímia:

“ O nosso topónimo ter-se-á erguido a partir de Sabucu + edo — sabucedo e, por abrandamento do c intervocálico, Sabuzedo, lugar de sabugueiros. A forma intermédia  Sabucedo (facto claríssimo da lógica evolutiva dos vocábulos) aparece na localidade próxima, do outro lado da fronteira."

 

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E ainda na Toponímia:

"— 1258 “Item, de Savozedo cum toto suo termino, quod est divisum et demarcatum faciunt de pane quinque quiniones  et de duobus quinionibus dant Domino Regi octavam partem panis et eiradigam”. Isto é: De Sabuzedo com todo o seu termo que está dividido e demarcado fazem cinco quinhões de pão e de dois quinhões dão ao rei a oitava parte do pão e a eirádiga."

 

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Ainda na “Toponímia de Barroso”, na  Toponímia alegre temos:

 

Carvoeiros de Cambeses,

Calça-marela de Contim,

Ferros-velhos de São Pedro,

Formigotos de Vilaça,

Salta-Sebes de Paredes,

Chibinhas de Parada,

Paus mandados de Seselhe,

Carraceiros de Travaços do Rio,

Verguinhas de Fiães,

Aluados de Loivos,

Arreguicha Covelães!

Anjolas de Frades,

Nabiços de Mourilhe,

Trombalazanas de Sabuzedo,

(ou Tarouqueiros de Sabuzedo)

Couveiros de Paradela.

 

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Bem queria deixar aqui mais um pouco sobre Sabuzedo, mas mais nada encontrei. Assim sendo e como ainda me restam umas fotos para meter no post, deixo-vos com uma “História da Vermelhinha” de um Ilustre Barrosão, que infelizmente há pouco nos deixou — Bento da Cruz.

 

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A Colheita do Sal

 

Num passado ainda recente, os barrosões viam-se em palpos de aranha para arranjarem sal para o governo da casa. A estrada só chegava a Ruivães. Daqui para cima, o sal, vindo do mar, tinha de ser transportado em burros e por caminhos de cabras. Trabalho duro!

Por isso não admira que um dia o ti Pedro, de Cima, se saísse com esta para o ti João, de Baixo:

— Ó compadre! Tenho andado cá a matutar numa coisa.

— Diga, compadre.

— E se nós, em vez de andarmos todos os anos a correr para Ruivães atrás do sal, semeássemos umas rasas dele para nosso governo?

— Tem razão, compadre. Mãos à obra. Sempre ouvi dizer que o sal se dá bem onde houver muita água. Ora a minha Lameira, como o compadre sabe, é um atoleiro. Se estiver de acordo, semeamo-la de sal, a ameias.

— Por mim, é para já.

Espalharam o sal, embeberam o terreno de água e aguardaram o tempo quente para a colheita.

 

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Chegada a Primavera, o terreno enxugou e os dois compadres foram ver o resultado.

Encontraram a Lameira viçosa, mas, de sal, nem pitada.

— Homessa! Aqui há mistério! — disse o ti Pedro.

— Já sei o que é, compadre! — atalha o ti João.

— O quê?

— Os saltões que devoram o sal à nascença. Temos de correr com eles…

— É capaz de ter razão, compadre. Vamos a isso.

Muniram-se cada um com seu estadulho e foram, descalços, guardar o sal. Era cada saltão uma estadulhada.

Nisto, ti Pedro dá no rasto dum gafanhoto do tamanho dum gaio. Manda-lhe uma cacetada. O bicho furta-se. Ti Pedro, segunda. Saltão salta. Ti Pedro, tau! Saltão, traz! Ti Pedro enfia o pé num atoleiro, desequilibra-se, rodopia sobre si mesmo e tomba desamparado de costas num silvedo.

 

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— Ó compadre! Ó compadre, acuda! — grita ti Pedro de pernas para o ar e cu a arder nas silvas, — Compadre! Ó compadre!

Como o compadre não acudisse nem respondesse, ti Pedro tanto estrebuchou que lá conseguiu desenvencilhar-se das silvas. Limpa o sangue dos olhos e que vê ele? Ti João de costas, especado a meio da Lameira.

— Compadre! — grita de novo ti Pedro.

E ti João mudo e quedo.

Vem de volta e planta-se-lhe de frente.

— Compadre!

Compadre, nada.

 

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Atónito, ti Pedro olha pelo compadre abaixo. E foi então que reparou no dedo grande do pé direito do compadre a apontar para o céu. Olha compadre acima, e vê a sobrancelha direita a apontar para a cabeça. Segue na direção indicada, dá com o gafanhoto comodamente refastelado na careca do ti João. Manda-lhe uma cachaporrada, bum! Ti João, baque!

— Lá o matei, com seiscentos diabos! — exclama ti Pedro. — Ou será apenas desmaiado?

Após breves momentos de hesitação, deita unhas a um caldeiro velho de carrar cinza, que para ali estava abandonado, corre à mina, enche-o de água, volta a toda a pressa, espeta uma grande zapada nas ventas do compadre. Ti João sacode as orelhas, abre os olhos e pergunta:

— Matou, compadre?

— Matei! — responde ti Pedro, todo contente.

— Então valeu a pena, catano! — diz ti João, acariciando um galarispo do tamanho dum ovo a meio da careca…

Bento da Cruz, In Histórias da Vermelhinha

 

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Agora sim, ficamos por aqui, mas antes ainda deixamos como sempre as referências às nossas consultas. Quanto aos links para as anteriores abordagens às aldeias e temas de Barroso, estão na barra lateral deste blog,. Se a sua aldeia ou a aldeia que procura não está na listagem, é porque ainda não passou por aqui, mas em breve passará.

 

BIBLIOGRAFIA

BAPTISTA, José Dias, (2006), Montalegre. Montalegre: Município de Montalegre.

BAPTISTA, José Dias, (2014), Toponímia de Barroso. Montalegre: Ecomuseu – Associação de Barroso.

 

WEBGRAFIA

http://www.cm-montalegre.pt/

http://www.terralusa.net/?site=116& sec=part1  

 

 

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