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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

20
Out17

O Factor Humano


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10 contos de reis – sem notas - 10

 

Houve uma época em que os serviços de urgências eram escassos e concentrados no litoral. No interior, apenas numa ou noutra cidade, equipas rudimentares, um médico e um enfermeiro, asseguravam as necessidades das populações.

 

Eram geralmente os mais pobres que recorriam a estes serviços, vindos das aldeias e vilas mais próximas, por vezes aproveitando o dia da feira. Havia alguma desconfiança em relação à competência ou à simpatia dos profissionais que trabalhavam nessas urgências básicas. Às vezes diagnosticava-se uma apendicite aguda ou uma hérnia complicada e era então que o próprio médico fazia de cirurgião ou de anestesista e resolvia a situação, com o apoio de irmãs freiras enfermeiras.

 

Numa dessas pequenas cidades do interior, na região centro, trabalhava um médico, dotado de uma cabeça notável, onde por vezes os neurónios se entrelaçavam demasiado, produzindo alguns comportamentos bizarros, mas controlados, tolerados pelos demais, porque naquele tempo quase tudo se perdoava a um doutor.

 

Um dia que estava de serviço, esse médico, conhecido pelo Doutor Tó, pediu ao enfermeiro que espreitasse para a sala de espera, para saber quantos pacientes estavam para ser atendidos. Quando este lhe falou em dúzia e meia, o Doutor Tó franziu o sobrolho num sorriso malicioso, ao mesmo tempo que despia a bata. "Já vais ver" disse enigmático para o enfermeiro, dirigindo-se para a porta de saída da sala de observações.

 

Com este doutor já nada surpreendia, mas o enfermeiro verificou espantado ao voltar a espreitar pela porta entreaberta, que o Doutor Tó estava sentado na sala de espera como se fosse um qualquer aldeão.

 

O silêncio existente na sala foi rompido pelo falso aldeão com uma pergunta simples. " Ele quem é, o Doutor de serviço?" e logo uma mulher mais faladora respondeu " É um tal Doutor Tó". O falso aldeão disse, com um ar assustado, " Mas esse foi o que esteve anteontem e limpou o sebo a dois...". Os outros pacientes entreolharam-se preocupados e ele prosseguiu: " Parece que lhe bebe uns canecos e não é muito certo". Dito isto, levantou-se e abandonou a sala de espera. Quando reentrou na sala de observações, vindo directamente da rua, perguntou com ironia ao enfermeiro: " Então afinal quantos é que estão?". E este respondeu com um suspiro entre a admiração e a condenação: " Cinco Doutor Tó".

 

Manuel Cunha (Pité)

 

 

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