Pedra de Toque
Minha Senhora, minha.
Há coisas que não entendo.
Eu não entendo a doença que fere e pode matar gente.
Eu não entendo a crueldade que petrifica os sentimentos das pessoas.
Continuo a não perceber as calamidades que destroem, que semeiam fome e miséria, bem como o estado dormente de quem manda, se é que alguém manda.
Não entendo também a ignorância assumida, a inveja incontrolável, a vaidade que supera todos os desígnios e que vira maldade incompreensível.
Entendo, no entanto, o sol que alivia a depressão, que oculta o nevoeiro que definha as mentes.
Entendo as águas dos rios que empurram outras para a imensidão dos oceanos que atemorizam e assustam.
Entendo-te a ti, minha senhora minha, que me falas dos confins e persistes em não aparecer.
Eu estou à tua espera no fim de todos os caminhos de braços abertos para estreitamente te apertar.
Esse dia, dizem-me os santos em que não acredito, chegará vindo de nuvens embaladas pela brisa com cheiro a camélias e jasmins.
Estou cansado, um pouco doente e entristecido, mas quero que saibas até porque “a dor também precisa de respiro” que TE AMO,
Minha senhora minha.
António Roque