Pedra de Toque
TEUS OLHOS DA COR DA TERNURA
Sempre fui pessoa comunicativa, mas nos últimos tempos, tenho falado em demasia comigo.
Nem tenho escrito o que tenho para escrever. Começo algumas crónicas mas não as termino e envio-as para na gaveta fermentarem e aguardarem nova oportunidade.
Tenho sofrido muito com a saudade.
Banalizada a palavra, cita-se de forma leviana, sem respeitar a dor que tantas vezes provoca naqueles que a sentem fundo.
Eu tenho imensas saudades tuas.
De tal sorte que, desde o encontro fugaz em que trocamos curtas palavras num momento de júbilo, tu estás sempre comigo.
Senti a tua fragilidade nas mãos finas com dedos compridos que sempre me enamoraram, mas sobretudo nos teus olhos que aos meus se colaram até hoje.
Eles estão nos becos da cidade, nas mesas de café, nos passeios que ladeiam as ruas, nos regatos, entre as flores nos canteiros dos jardins.
Já os vi espelhados nas águas do nosso rio.
Tenho-te visto muito pouco, por vezes na rua quando me desloco, noutras ocasiões no face, com teus olhos a embelezarem o teu rosto doce.
Teus olhos têm cor indefinida. Tanto me parecem verdes, como me parecem azuis, ou até cinzentos.
Só sei que quando os vejo, me perco neles.
Sei, contudo, que têm sempre a cor da ternura, a cor da poesia, a cor da tua boca.
Quando passares por mim, olha-me por favor.
A minha saudade, comovida agradece.
Obrigado.
António Roque