Momentos de um sábado a caçar imagens
Pareço regressado aos tempos antigos da caça à fotografia para o blog, ou seja, saía de casa com a intenção de fotografar uma aldeia que tinha em mente e acabava sempre por fotografar outras. Deve ser assim como ir à caça do coelho e trazer perdizes, digo eu que não sou caçador.
Pois a primeira ideia era sair de Chaves e ir mais uma vez até terras de S. Vicente da Raia, mas como as tardes ainda são pequenas e as terras de S.Vicente não ficam propriamente aqui ao lado, decidi-me por terras mais próximas. O Planalto do Brunheiro serve sempre para uns cliques, além disso há em mim um certo prazer em fazer frente ao frio. É certo que dói, mas não me vence. Também sempre fui um bocadinho teimoso.
Hora de ponta entre Adães e Santa Leocádia
Pois lá fui eu pela famosa EN 314 acima. No Peto de Lagarelhos temos sempre outra decisão a tomar, ou continuamos a subir, ou descemos para o vale de Loivos. Mas ia mesmo decidido a subir até às terras das estórias do Gil Santos. Em France, um presépio chamou a minha atenção. Fiz o registo mas quase nem parei. Ia com ganas de continuar a subir e finalmente cheguei à primeira croa da Serra. Ali mesmo onde Carregal decidiu ficar e lançar olhares para o Brunheiro e para a Padrela (claro que falo das serras). Repeti por lá umas voltas, fiz novos registos, não muitos, pois a aldeia também é pequena e ainda dei dois dedos de conversa com uma senhora cujo rosto quase não se via, protegido que estava dos ares da serra com um lenço de lã a cobrir-lhe toda a cabeça. Em tom de provocação ainda perguntei pela gente da terra. – Há poucos, só quase velhos e todos doentes, ainda agora venho de ver um… disse-me. E verdade seja dita, nos 15 ou 20 minutos que andei por lá, só vi mais duas pessoas no amanho de uma horta por trás da Capela. Já não há gente para fazer mais estórias para o Gil nos contar.
Já que ali estava, toca até Fornelos. É só descer da croa do monte, descer um bocadinho e subir até outra croa que se transforma em planalto. Tudo pela EN 314. Bem, em Fornelos bem tento sacar mais umas fotos, e saco sempre, mas ando sempre à volta sem conseguir o que quero. Desta vez até entrei no concelho de Valpaços sem me aperceber mas cheirou-me logo que aquilo já não eram terras de Chaves. Nem parei. Não que tenha alguma coisa contra o concelho de Valpaços, antes pelo contrário, mas foi só por uma questão de território. E foi a pisar sempre a fronteira que atravessei a 314 e fui até Vale do Galo. Nesta, idem Fornelos. Para além das fotos que tenho em arquivo, da aldeia propriamente dita, não consigo sacar mais nenhuma. Mas na envolvente, aí já a cantiga é outra e há sempre motivos que encantam. Olhem só para a foto que a seguir vos deixo se não parece mesmo uma alameda de um parque de cidade em pleno outono e sem bancos como o Jardim Público. Mas não é, pois esta alameda é às portas de Vale do Galo e é de um souto que se trata.
Os dias são pequenos e as tardes, então, quando se vai a dar conta já a noite está a bater à porta. Descida apressada para Santa Ovaia com intenção de apanhar novamente a 314 no Carregal, mas ao passar a ribeira o murmúrio das águas convidaram-me a parar, e parei. Também nunca resisto a estes momentos de pura poesia onde tudo é puro e simples. A água é cristalina, o ar é frio mas absorve-se com odores de perfume e os sons são sinfonias. Não sei se os conseguem ver na primeira foto de hoje. Demorei mais do que tinha previsto, pois o aproveitei para fazer e testar uns registos que há muito tinha em mente. Mas não foi tudo, pois chegado a Adães lembrei-me de passar pelo seu miolo e veio-me à lembrança a luz doirada a iluminar a Igreja Românica de Santa Leocádia (terceira foto de hoje). Não podia perder esse momento, mas com jeito, conseguiria ainda o por do sol visto na descida do Carregal para France. Claro que o atraso ia sendo fatal para poder ver ainda a magia do por do sol por entre um avolumado mar de montanhas que lá de cima se avistam. Nas croas dos montes o sol estava naquele momento mágico de pedir um clique fotográfico, mas o raio da 314 não nos deixa encostar em nenhum desses miradouros naturais e havia que descer à pressa até Lagarelhos, pois dali as vistas também encantam, mas tarde de mais, o sol já estava por trás da última serra. Só havia mais uma oportunidade – a de subir o Brunheiro, pois antes mesmo de se chegar a Santiago do Monte, há por lá um sítio já meu conhecido destas contemplações da despedida do sol, e ontem, os tons do céu estavam imperdíveis.
Como podem ver pela foto que atrás vos deixo, cheguei mesmo na hora H para conseguir os segundos mágicos em que o sol se deixa ver pela última vez, já meio comido pela última serra. Após este momento apenas me restava descer novamente ao vale com espírito de missão cumprida e esperar pelo nevoeiro que vem sempre com a noite, mas desse, hoje não tenho registos.
Até logo, ao meio dia, com o nosso Léxico-Glossário.