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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

09
Nov16

Quente e Frio!


quente-frio-cabec

 

(...)

Chegadas ao fim da leitura, deram um saltito, ficaram viradas uma para a outra. Cada qual apertava contra o coração a carta carregadinha de amor e de saudades.

 

XIX

 

A Carmelinda ficou colocada numa Escola perto de casa.

 

A Ermelinda, numa escola longe de casa.

 

Quanto mais depressa passassem a «EFECTIVAS», com mais segurança poderiam planear as suas vidas.

Nas “Férias de Natal”, a Ermelinda e Carmelinda conversaram uma vez com o TINO «militar» e o TINO «doutor» no “JARDIM das FREIRAS” e lancharam no “BAR AURORA”.

 

Nas “Férias da Páscoa”, a Carmelinda e a Ermelinda conversaram outra vez com o TINO «doutor» e o TINO «militar» no JARDIM das FREIRAS” e lancharam no “IBÉRIA”.

 

1-freiras.jpg

 

Nas «FÉRIAS GRANDES”, as “Lindas” e os «TINOS» passaram uns dias na cidade.

 

Elas e o “TINO da TERRA QUENTE”, em casa de família de cada um.

 

O “TINO da TERRA FRIA” ficou hospedado na “Pensão do Senhor Modesto”.

 

O “TINO da TERRA QUENTE” ofereceu um almoço na moderna “Estalagem Santiago”

 

De tarde passearam pela cidade.

 

Chegarem ao Tabulado, um verdadeiro jardim, o TINO e a Ermelinda viraram para o rio. Admiraram as «Poldras» e os barcos do «Redes» em que uns parzinhos se deliciavam, ela a sorrir, ele a remar, com a curiosidade dos peixitos.

 

1-poldras.jpg

 

O TINO e a Carmelinda foram para até ao caramanchão da “buvette” das Caldas. Deram a volta por fora. E, ao passarem por onde as trepadeiras mais crescem, deram a mão.

 

E aconteceu o primeiro beijo!

 

No dia seguinte, o “TINO da TERRA FRIA” ofereceu um imperial almoço na “Pensão Império”.

 

De tarde passearam pela cidade.

 

Lancharam na “SISSI””.

 

Desceram para o Arrabalde.

 

Olharam a montra do “Sarmento” e a dos “Machados”.

 

Atravessaram a PONTE ROMANA.

 

1-ponte romana.jpg

 

Entraram no JARDIM PÚBLICO.

 

O «doutor» apalpou o pulso da Carmelinda.

 

O «militar» apanhou a mão da Ermelinda.

 

A Carmelinda preferiu o «chorão» à beira do rio.

 

A Ermelinda, o banco do canto junto ao Coreto.

 

1-coreto.jpg

 

O TINO «doutor» abraçou a linda.

 

Os beijinhos trocados, de fugazes, passaram a mais demorados.

 

Ele tinha os olhos húmidos.

 

Os dela choravam.

 

Serenaram.

 

Compuseram-se.

 

E começaram a passear, de mãozinha dada, pela alameda da parte sul do Jardim.

 

No banco perto do Coreto, O TINO «militar» falou da disciplina na Academia e nas saudades da linda.

 

Pegou-lhe na mão e entrelaçou-lhe os dedos.

 

Suspirando, inclinou-se para lhe dar um beijo.

 

A linda fez um ligeiro gesto de afastamento e o beijo do académico militar caiu no pescoço da linda.

 

Faziam-se horas de regresso a casa da família.

 

Atravessaram a Ponte ROMANA, subiram o ARRABALDE, caminharam pela Rua do Olival e despediram-se nas FREIRAS.

 

1-arrabalde.jpg

 

Na 5ª fª, dia seguinte, houve Verbena no Jardim Público.

 

O “CALYPSO” competia com «Os PARDAIS» e «Os CANÁRIOS» nas preferências dos «dançarinos».

 

As “Lindas” e os «TINOS» foram à Verbena.

 

Ouviram música, conversaram, sentados num dos bancos, dançaram duas ou três vezes e foram para casa a horas decentes, acreditados em que aquela noite seria de lindos sonhos.

 

Na 6ª fª, à tarde, os pais das “Lindas” chegariam à cidade com o «carocha».

 

XX

O “TINO da TERRA QUENTE” partiu para Coimbra.

Encontrou-se algumas vezes com as estudantes de ...

 

(continua)

 

 

02
Nov16

Quente e Frio!


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(...)

Um bando de passarada soltou-se dos plátanos do Largo da Igreja de S. Pedro, e, num chilreio troante, esvoaçou para os quintais pendurados nas margens escarpadas do Corgo!***

 

XVIII

*****.                 

 

O Celestino foi para Coimbra.

 

O Clementino, para Lisboa.

 

A «Linda» Carmelinda foi colocada numa Escola perto de casa.

 

A «Linda» Ermelinda, numa Escola longe de casa.

 

A primeira carta do “TINO da TERRA QUENTE”, com o carimbo de Coimbra, foi entregue na morada da “RAIA”.

 

A primeira carta do “TINO da TERRA FRIA” com carimbo de Lisboa, na morada da “RAIA” foi entregue.

 

Quando carteiro chegou, veio à porta a mãe.

 

Sorriu ao receber as cartas.

 

Quando entendeu oportuno, chamou as filhas e, sem dizer palavra, entregou-lhas.

 

Coradinhas como romãs, foram para o quarto. Sentaram-se numa cama de costas voltadas, mas encostadas.

 

Chegadas ao fim da leitura, deram um saltito, ficaram viradas uma para a outra. Cada qual apertava contra o coração a carta carregadinha de amor e de saudades.

 

XIX

A Carmelinda ficou colocada numa Escola ...

 

(continua)

 

 

28
Set16

Quente e Frio!


quente-frio-cabec

 

(...)

Cheio de alegria, o pai pegou na mala da “Linda” do «lencinho de azul mais escuro», com uma mão, e, dando a outra à filha, juntou a sua pressa à dela para logo ele ir abraçar a “Linda” do «lencinho de azul mais claro», e ela a mãe!

 

XII

 

Os pais das “Lindas” eram abastados. Colhiam perto de 150 toneladas de Batatas e o pai ainda comercializa outras tantas, lá por toda a Região; faziam dez medas de centeio; tinham moinho próprio; colhiam vinho e azeite para todo o ano; soutos, pinhais e carvalheiras; «Abertas» e «Tapadas»; cevavam oito a dez recos; tinham bois «a ganho»; nas cortes, uma junta de bois galegos, seis vacas barrosãs, duas éguas, um burro, uma burra e um rebanho de ovelhas; os cortelhos cheios de coelhos; e um galinheiro bem povoado com galinhas «pedrês», «marelas», «brancas» e «pretas» (estas, muito especiais para certas mèzinhas!).

 

O pai ainda se metia em negócios de «CONTRABANDO».

 

Era morgado.

 

A mãe, natural de um concelho vizinho e de uma Aldeia pegada à Freguesia deste morgado, também era morgada. Governava a casa com todo o acerto. Assim, o marido bem podia sair para os tratos que mais lhe conviessem, com toda a tranquilidade e descanso.

 

E as suas MENINAS, filhas únicas, «meninas dos seus olhos», davam-lhe alegria e estímulo para encarar as lutas pela vida com a maior valentia e o maior orgulho.

 

Elas fizeram a 4ª Classe com «Distinção». Ficaram bem na «Admissão». Dispensaram a «LETRAS e a «CIÊNCIAS» no 5º ANO. Ficaram bem no “EXAME de ADMISSÃO à ESCOLA NORMAL”.

 

Bem podiam tirar um Curso Superior. Mas desde pequenitas que queriam «ser Professora com a AVÓ, de POTAMIÃO.

 

Entraram no «Carocha» e lá seguiram para o conforto de casa.

 

O Clementino e o Celestino estavam felizes.

 

Pegaram cada um na sua trouxa e saíram da ESTAÇÃO.

 

O Clementino ainda ia apanhar a «camioneta do Marinho», que o deixaria à porta de casa, já ao escurecer.

 

O Celestino, como tinha família na cidade, passaria por lá o resto do dia e a noite. No dia seguinte, logo se veria, disse ao amigo.

 

XIII

 

Em Fevereiro chegou o 1º Semestre para as «NORMALISTAS». Com sucesso para as «irmãs gémeas», da...

 

(continua)

 

 

07
Set16

Quente e Frio!


quente-frio-cabec

 

(...)

Mas os olhares continuavam sem ser trocados, mesmo quando da saída da Missa, nos últimos domingos.

 

 

IX

 

Aproximava-se o “REGADINHO”.

 

Talvez que nesse dia de convívio estudantil aparecesse a divina oportunidade de o “Rapaz da Terra Quente” e o “Rapaz da Terra Fria” chegarem à fala com a fada do «lencinho de azul mais escuro», a Carmelinda; e a fada do «lencinho de azul mais claro», a Ermelinda.

 

 Aquela tarde de 5ªfª estava frescote.

 

As janelas da aula de Filosofia tinham manchas embaciadas.

 

Até o Professor parecia triste ao falar do Temperamento.

 

Acabou a aula, e o Celestino e o Clementino saíram sem pressas.

 

Iam para descer as escadas que dão para o Recreio dos Rapazes quando se aperceberam que a Adília e a Adélia se faziam demoradas no corredor e perto da escadaria.

 

Com um risinho intriguista e maroto, elas disseram-lhes baixinho:

 

- Vamos lanchar à “GOMES VELHA”!

 

Os «TINOS» da “Terra Quente” e da “da Terra Fria” galgaram a escadaria em três saltos, atropelaram uns quantos colegas, no pátio, e correram como desalmados até à frente da Câmara Municipal. Aí pararam. Olharam um para o outro. E sem dizerem palavra, começaram a caminhar com passo e ar solenes.

 

1600-vila-real (45)

 

Chegados à “GOMES VELHA” sentaram-se à mesma mesa do encontro com as colegas de Vilarinho de Freires e de Vilarinho do Tanha.

 

Estas não demoraram a chegar.

 

“””Desempoeiradas e sorridentes, a Adília de Vilarinho de Freires e a Adélia de Vilarinho do Tanha entraram na “GOMES VELHA” e sentaram-se junto dos colegas.

 

Um «jesuíta» para uma, um «mil-folhas» para a outra, dois «covilhetes» para os Rapazes; um «galão» para cada Menina, e uma “Laranjinha C” para um, e uma “Canada Dry” para outro”””.

 

A mesa estava equilibrada, embora os Rapazes permanecessem trémulos e suspensos das palavras das Raparigas.

 

Elas disseram umas banalidades.

 

Eles calavam sentimentos profundos.

 

Elas fizeram que provavam o «jesuíta», uma, e o «mil-folhas», a outra.

 

Eles molharam a boca seca, com a “Laranjinha C”, um, com a “Canada Dry”, o outro.

 

A par, ambas abriram o “Compêndio de Filosofia”, do «Bonifácio», mostraram, cada uma, o seu envelope inscrito com o nome de cada um, e, com toda a cerimónia e muita delicadeza, estenderam-nos ao Celestino e ao Clementino.

 

O «jesuíta», o «mil-folhas» e os «covilhetes» desapareceram; o «galão», a «Laranjinha C» e a «Canada Dry», sumiram-se!

 

Um dos «TINOS» pagou a conta.

 

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À saída da “GOMES VELHA, o “Rapaz da Terra Quente” e o “Rapaz da Terra Fria” ainda conseguiram dizer, com a voz embargada, à Adília e à Adélia:

 

- OBRIGADO!

 

As RAPARIGAS foram ver as montras.

 

Os RAPAZES viraram à esquerda, meteram pela Travessa da Portela e desceram até à Capela da Misericórdia. Apanharam a Rua do Rossio e enfiaram-se no quarto do Celestino.

 

Sentados na cama, puxaram pelos envelopes, cada um tirou a sua carta e começaram a ler.

 

A do Celestino, o estudante que queria fazer o 7º ano e seguir o Curso de Medicina, em Coimbra, dizia:

 

“Celestino,

Foi com muita surpresa que recebi a sua carta.

Não tinha reparado em si, não fosse a conversa com as nossas amigas. Só num Domingo, à saída da Missa é que notei o seu perfil, na esquina da “Brasileira”.

Estranhei não o ver «de balde» na mão, pois na sua carta assim descreve as suas andanças à minha procura.

A minha presença em Vila Real deve-se ao facto de eu querer tirar o Curso do Magistério Primário.

Os estudos, a conclusão do Curso, são a minha única preocupação e a minha primeira e última prioridade.

Além disso, não vejo como poderia frutificar uma relação mais afectuosa a partir do momento em que a sua carreira continuará por Lisboa.

Esperando que lá o sucesso o acompanhe e tenha uma boa Companhia, pelo menos como capitão, despeço-me

 

Ermelinda

 

A carta do Clementino, o estudante que queria fazer o 7º ano, seguir para a Academia Militar e especializar-se em Engenharia, dizia:

 

““Clementino,

 Foi com muita surpresa que recebi a sua carta.

Não tinha reparado em si, não fosse a conversa com as nossas amigas. Só num Domingo, à saída da Missa é que notei o seu perfil, na esquina da “Brasileira”.

A minha presença em Vila Real deve-se ao facto de eu querer tirar o Curso do Magistério Primário.

Os estudos, a conclusão do Curso, são a minha única preocupação e a minha primeira e última prioridade.

Além disso, não vejo como poderia frutificar uma relação mais afectuosa a partir do momento em que a sua carreira continuará por Coimbra, em Medicina, onde não lhe faltarão «Tricanas» com quem estudar os ritmos cardíacos provocados por paixonetas «assolapadas».

Esperando que lá o sucesso o acompanhe e tenha uma boa clientela, despeço-me

 

Carmelinda

 

Acabada, em simultâneo, a leitura das cartas, na cara de ambos estava estampado o maior espanto do mundo.

 

Pegaram nos envelopes e verificaram se o vocativo da carta correspondia ao nome inscrito na face do envelope.

 

Tal qual!

 

- “Eu CAPITÃO”?! – berrou o Celestino

 

- “Eu MÉDICO?! – esganiçou o Clementino

 

- Mas que bruxedo é este?!  –  exclamou o estudante que queria fazer o 7º ano e seguir o Curso de Medicina, em Coimbra.

 

- A minha carta era para a fada do «lencinho de azul mais escuro», a Carmelinda!

 

- Porque me responde a Ermelinda?!

 

- - Que bruxedo é este, digo eu?! – gemeu o estudante que queria fazer o 7º ano, seguir para a Academia Militar e especializar-se em Engenharia.

 

-  - A minha carta era para a feiticeira do «lencinho de azul mais claro», a Ermelinda!

 

- - Porque me responde a Carmelinda?!

 

X

 

Um e outro sentiam que os miolos lhe estouravam.

Não podia ser!  - choramingavam.

Resolveram...

 

(continua)

 

 

31
Ago16

Quente e Frio!


quente-frio-cabec

 

(...)

Um dos «TINOS» pagou a conta.

 

E os dois lá seguiram pela Rua Direita, a caminho de casa, com o coração mais amansado, mas as fontes ainda a latejarem.

 

VIII

As lições foram preparadas com mais serenidade e com mais entusiasmo.

 

Ambos se propuseram acrescentar ao seu currículo de apaixonados a excelência das suas qualidades académicas.

 

No Domingo, lá estavam os dois na esquina da “Brasileira”, à espera do lustro dos sapatos e do brilho no olhar daquelas duas lindas Raparigas, mal saíssem o portão da Sé!

 

O olhar breve que elas lhes dirigiram foram como dois luminosos raios de sol a anunciar a aurora, por entre as ameias do CASTELO de MONFORTE de RIO LIVRE.

 

As quatro amigas saíram à direita pelo passeio do Hotel Tocaio, Rua da Misericórdia, Largo da CAPELA NOVA. Mas hoje, decidiram ir ver as montras da Rua Direita.

 

E desta vez, eles não as seguiram.

 

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Subiram a Avenida, passaram em frente ao Seminário, viraram para o Pioledo. Desceram a rampa do “Jardim da Carreira” (Rua do Calvário) e continuaram pela Rua Alexandre Herculano.

 

Quando se preparavam para se despedirem, qual não foi o seu espanto ao tropeçarem o olhar com a Adília e a Adélia e as duas “Lindas” a dobrarem a esquina da Farmácia Barreira, para a Rua Cândido dos Reis.

 

Todas sorriram com ironia. A Adília e a Adélia piscaram os olhos com um ligeiro acento de cabeça.

 

Na 3ªfª e na 5ª fª., depois da aula de Filosofia, as Raparigas de Vilarinho de Freires e de Vilarinho do Tanha fugiram de dar conversa aos Rapazes da “Terra Quente” e da “Terra Fria”.

 

No Domingo, os estudantes da alínea F) repetiram a esquina da “Brasileira”, o lustro dos sapatos e as aventuras do «Roy Rogers».

 

No Domingo, as estudantes de “Românicas” e de “Germânicas”, na companhia das “Lindas”, «NORMALISTAS» repetiram o passeio do “Tocaio”, a “Rua da Misericórdia”, o “Largo da CAPELA NOVA” e subiram, do seu vagar, a Rua das Pedrinhas.

 

Depois do almoço, o Celestino e o Clementino encontraram-se ao princípio da Ponte e foram dar uma volta pelo “Jardim da Estação, pela “Meia-Laranja” e espreitar a “Senhora da Saúde”.

 

1600-vila-real (63)

 

Na 3ª fª, ansiosos por «novidades», a Aula de Filosofia pareceu demorar-lhes uma eternidade.

 

Fizeram por sair mais lesto que as Raparigas, e estas sentavam-se nos bancos da frente, para atalharem à frente das suas mensageiras.

 

Elas pareciam andar a brincar às escondidas com eles.

 

A Adília e a Adélia apresaram o passo pelo corredor fora, mas a tempo de dizerem em simultâneo:

 

- Domingo devemos ter notícias!

 

Que semana tão difícil de passar!

 

Chegou a 3ª fª seguinte ao esperado Domingo e ainda não havia «Românicas” nem “Germânicas notícias.

 

Os Rapazes da “Terra Quente” e da “Terra Fria”, estudantes da alínea F), no Liceu “Camilo Castelo Branco” andavam desolados.

 

Subiam e desciam a Rua das Pedrinhas e a “Cândido dos Reis”, davam volta ao Largo de S. Pedro e demoravam-se no Largo feito pelo fim da Rua Direita e o princípio da do Rossio, com a palpitante esperança de se encontrarem de frente com as duas lindas irmãs, quer na ida quer na vinda da ESCOLA NORMAL, situada Logo à entrada da Rua do Rossio.

 

À noite, o Celestino e o Clementino mal ceavam, tal a pressa de ocupar um lugar estratégico junto à entrada do Cinema “Avenida”, quando eram exibidos filmes como “A Colina da Saudade”, “Sissi, a jovem Imperatriz”, “Shane”, “O Ritmo do Século” (com os Platters), “A Leste do Paraíso”, “Mogambo” e outros, aos quais não podiam faltar os RAPAZES e RAPARIGAS daqueles tempos.

 

Mas os olhares continuavam sem ser trocados, mesmo quando da saída da Missa, nos últimos domingos.

 

 

IX

 

Aproximava-se o “REGADINHO”.

Talvez que nesse dia de convívio estudantil aparecesse a divina oportunidade de...

 

(continua)

 

 

 

17
Ago16

Quente e Frio!


quente-frio-cabec

 

 A Adília era natural de Vilarinho de Freires.

A Adélia, de Vilarinho do Tanha.

A Adília frequenta “Românicas”.

A Adélia, “Germânicas”.

Andavam no Liceu desde o 1º Ano. Conheciam bem a cidade, os usos e costumes de todas as classes sociais da «Bila».

 

VI

 

No quarto vizinho do “Macário”, o “TINO da Terra Quente” e o “TINO da Terra Fria” depois de repetidos discursos a saborear as emoções do dia, combinaram escrever, cada um, uma «declaração de amor».

 

As Lindas eram gémeas.

 

Vestiam de igual.

 

Bem, de pertinho notava-se uma pequenina diferença na cor trigueira das suas faces.

 

Porém, havia uma nota que, para quem estivesse mais atento, as distinguia.

 

Havia quem pensasse que até o faziam de propósito: ambas usavam um lenço com cores semelhantes, virado para fora: uma, para o ombro esquerdo; outra, para o ombro direito.

 

O “Rapaz da Terra Quente” e o “Rapaz da Terra Fria” tinham reparado no lenço, quando as viram pela primeira vez, na saída da CAPELA NOVA.

 

Neste domingo, ficaram um pouco confusos: os laços estavam virados para dentro, e as cores ficavam mais confundidas.

 

“Linda, 

 

Desde a hora em que a vi descer os degraus da CAPELA NOVA e a segui pela Rua das Pedrinhas que a Linda ficou senhora dos meus pensamentos e do meu coração.

 

Debalde tenho procurado a oportunidade de chegar à fala consigo para lhe declarar todo este profundo amor que lhe dedico, esta paixão imensa que me consome.

 

Hoje mesmo dei conta que temos amigas em comum: a Adília e a Adélia, minhas colegas da Aula de Filosofia.

 

Com receio de que a minha carta pudesse ser interceptada, se enviada pelo Correio, aproveito para pedir à Adília o favor de lha entregar pessoalmente.

 

A minha felicidade depende em absoluto de ser correspondido, neste profundo amor, pela pessoa amada, a  Linda.

 

Aguardo com muita impaciência a sua resposta, e com toda a ilusão do mundo o seu «sim» de me aceitar como seu namorado.

 

Apaixonadamente e eternamente seu

 

Celestino”

 

 

VII

 

O Celestino queria fazer o 7º ano e seguir o Curso de Medicina, em Coimbra.

O Clementino queria fazer o 7º ano, seguir ...

 

(continua)

 

 

10
Ago16

Quente e Frio!


quente-frio-cabec

 

(...)

Mal eles sabiam que ali morava o Doutor Tavares, Professor do Colégio das Meninas, e que, em casa ajudava as candidatas ao Exame para a ESCOLA NORMAL a prepararem-se para a «Aprovação».

 

V

 

Os dias foram passando entre corridas matinais pela Rua Direita a garantir a chegada atempada à primeira aula - não que a disciplina horária e de comportamento do reitor Martinho Vaz Pires não era para brincadeiras!

 

O regresso a casa, o “Rapaz da Terra Quente” e o “Rapaz da Terra Fria” faziam-no sempre pela Rua das Pedrinhas, com a secreta esperança de verem sair da CAPELA NOVA as duas fadas  ou de verem entrar pela porta do mistério as duas feiticeiras.

 

Aos domingos, de manhã, lá seguiam os dois amigos para a esquina da ” GOMES NOVA” ou da “Brasileira” para assistirem ao «santo sacrifício da saída da missa», da Sé com a sempiterna esperança de pousarem os olhos no andar das suas apaixonadas.

 

O “Rapaz da Terra Fria”, mal viu as primeiras beatas a sair para o adro, pôs o pé sobre a caixa do engraxador e deu ordem para que os sapatos ficassem lustrosos.

 

O “Rapaz da Terra Quente” foi ao Quiosque ali ao lado, encostado à “Pensão Avenida”, e comprou o «Mosquito» com as aventuras do “Roy Rogers”.

 

O «polidor técnico de calçado» já estava a puxar o lustro ao calcanhar do segundo sapato, quando o coração dos estudantes quase lhes saía do peito: as Lindas saiam pela porta do adro.

 

Nem queriam acreditar que com as Lindas vinham duas colegas da Aula de Filosofia.

 

Ao verem a Adília e a Adélia na companhia das princesas dos seus sonhos, o coração do “Celestino da Terra Quente” e o coração do “Clementino da Terra Fria” pularam mais do que o coração do Bartolomeu Dias quando transpôs o “Cabo das Tormentas”, e ficaram cheiinhos de Esperança!

 

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As quatro amigas viraram para o passeio do Hotel Tocaio. Chegadas à Farmácia Almeida, atravessaram a Avenida para a Farmácia Galeno. Seguiram pela Rua da Misericórdia e arribaram ao Largo da CAPELA NOVA.

 

O “Rapaz da Terra Quente” e o “Rapaz da Terra Fria”, entenderam o desvio: por modéstia e por pudor, elas não quiseram sujeitar-se aos olhares dos mirones do Pelourinho, do “Excelsior” e da “Rosas”.

 

Eles seguiram-nas com cuidado e discrição.

 

Para não levantarem suspeitas, pararam na foto “Marius” a fazer que apreciavam as fotografias da montra, ao mesmo tempo que pelo canto do olho viam as cachopas subir a Rua das Pedrinhas.

 

A meio da tarde daquele domingo, os dois estudantes da alínea F) juntaram-se no quarto da Casa da “Rua do Rossio”, por lhes parecer mais resguardado para as suas conversas.

 

Embora mal tivessem «proβado» o almoço, estavam entusiasmados com a oportunidade que lhes …. saiu da !

 

A Adília e a Adélia, eram duas Raparigas alegres e bem-dispostas, cujas intervenções nas Aulas de Psicologia  -  o 6º Ano de Filosofia tratava só de Psicologia, o “Bonifácio” era Livro Único! 

 

 A Adília era natural de Vilarinho de Freires.

 

A Adélia, de Vilarinho do Tanha.

 

A Adília frequenta “Românicas”.

 

A Adélia, “Germânicas”.

 

Andavam no Liceu desde o 1º Ano. Conheciam bem a cidade, os usos e costumes de todas as classes sociais da «Bila».

 

VI

 

No quarto vizinho do “Macário”, o “TINO da Terra Quente” e o “TINO da Terra Fria” depois de repetidos discursos a saborear as emoções do dia, combinaram (...).

 

(continua)

 

 

03
Ago16

Quente e Frio!


quente-frio-cabec

 

Enfeitiçados, desceram a Rua Cândido dos Reis.

Pararam na esquina da “Casa Calado”.

Olharam um para o outro. E com um aperto de mão, a dar uma ajuda ao desaperto da voz, despediram-se com um «até amanhã» cheio de cumplicidade subscrita pelo olhar.

 

IV

 

No dia seguinte, pouco passava das oito da manhã, o “Rapaz da Terra Quente” e o “Rapaz da Terra Fria” entraram na Igreja de S. Pedro. Benzeram-se com umas pingas de água benta e viraram costas ao santo e seus companheiros. Pararam à porta. Simularam olhar ora para esquerda ora para a direita, mas sem perder de vista a entrada da casa dos seus segredos mais fresquinhos.

 

Um grupo de estudantes da Escola Comercial e Industrial acomodou-se junto ao gradeamento do adro. Uns fumavam um «20-20-20»; outros, «Português Suave», e dois mais jovens davam umas chupadelas nos «Provisórios». Todos viraram a cabeça ao mesmo tempo.

 

Pela porta dos mistérios saíam duas cachopas, vestidas de igual, de cor trigueira, e cheias de graça.

 

- Como são lindas as “Lindas”!   -  murmurou o que, pela envergadura e idade que aparentava, devia ser dos mais antigos tarimbeiros da Escola, daqueles que são a demonstração de que «às três tem vez».

 

O “Rapaz da Terra Quente” e o “Rapaz da Terra Fria” ficaram a saber o nome das cachopas.

 

Que consolação!

 

Até lhes pareceu que elas tinham adivinhado a ansiedade que os consumia para vê-las quando perceberam que caminhavam na sua direcção.

 

O coração de um e o coração de outro pareceu sair-lhes do peito!

 

Elas vinham sorridentes, bem-dispostas.

 

E tão graciosas!

 

Entraram pelo portão, atravessaram o adro e sumiram-se dentro da Igreja sem o mínimo sinal de terem dado conta da presença, quanto mais da aflição, do “Rapaz da Terra Quente” e o “Rapaz da Terra Fria”.

 

Ambos se afastaram do seu vagar e pararam na esquina da Rua Isabel Carvalho.

 

A hora da primeira aula aproximava-se. Resolveram ir até à Rua da Dona Margarida Chaves, cortar pela frente do Palácio da Justiça, descer a Avª Carvalho Araújo e logo chegar a tempo das aulas.

 

1600-vila-real (13)

 

A meio da tarde, depois de terem passado pela Livraria do Sr. Branco, estavam a conversar naquele passeio mais largo, frente ao Banco, quando viram as duas “lindas Raparigas Lindas” descer a Rua, virar na esquina para a Rua Direita.

 

Seguiram-nas com discrição. Não demorou a vê-las dar, com uma maçaneta em forma de punho, umas pancadas na porta de uma casa quase chegada aos Bombeiros.

 

As portas misteriosas deixavam-nos cada vez mais intrigados.

 

Mal eles sabiam que ali morava o Doutor Tavares, Professor do Colégio das Meninas, e que, em casa ajudava as candidatas ao Exame para a ESCOLA NORMAL a prepararem-se para a «Aprovação».

 

V

 

Os dias foram passando entre corridas matinais pela Rua Direita a garantir a chegada atempada à primeira aula   -  não que a disciplina ...

 

(continua)

 

27
Jul16

Quente e Frio!


quente-frio-cabec

 

III

 

Comido o «mil-folhas» e bebido o «pirolito» do “Aleo”, o “Rapaz da Terra Quente” e o “Rapaz da Terra Fria” tomaram o caminho da casa onde tinham quarto alugado.

 

Espreitaram para o “Pompeia”, pararam para ler as capas das Revistas, no “Bragança”, dobraram a esquina do “Santoalha” e, quando leram “Parreco” na cumieira de uma porta, riram-se ambos ao mesmo tempo, olharam um para o outro e foi então que perceberam que levavam o mesmo caminho.

 

Bem, um, o “Rapaz da Terra Quente”, morava perto do “Macário”, na Rua do Rossio; o outro, o “Rapaz da Terra Fria”, perto do “Areias”, à entrada da Ponte.

 

A montra do “Real” era a mais moderna da cidade. E até ganhava às da Rua Direita, mesmo à do “Castelo” ou à do “Rendeiro”!

 

Ambos dois” param para ver a montra da frente, andar à volta e cobiçar as camisas!

 

1600-vila-real (74)

 

Pelas escaleiras da Capela Nova desciam duas cachopas, vestidas de igual, de cor trigueira, e cheias de graça.

 

O coração do “Rapaz da Terra Quente” deu um salto!

 

O coração do “Rapaz da Terra Fria” deu um pulo!

 

Ficaram sem fala.

 

Nem o barulho do Latoeiro, a deitar uma asa a um cântaro; nem as provocações do Miguel ao «Birtelo», que levava um recado, ou as do Dionísio ao «Zé d’Abaças», que levava uma encomenda, interromperam a contemplação em que ficaram aqueles dois!

 

Sem dizerem palavra, seguiram-nas. Tinham virado à direita e subido a Rua das Pedrinhas.

 

Lá no cimo da rua, elas entraram por uma porta viradinha para o “S. Pedro”.

 

No Largo, e no pequeno Miradouro, estudantes da Escola Comercial e Industrial misturavam-se com Bombeiros.

 

Chegados ao “Largo de S. Pedro”, pararam frente ao escritório do “Cabanelas”. Continuando sem voz, fizeram que olhavam para a Igreja, para a montra do “Amândio”, sempre muito colorida com pares de meias e camisas, e, de esguelha, para a porta e janelas da casa onde «desapareceram» as suas visões.

 

Enfeitiçados, desceram a Rua Cândido dos Reis.

 

Pararam na esquina da “Casa Calado”.

 

Olharam um para o outro. E com um aperto de mão, a dar uma ajuda ao desaperto da voz, despediram-se com um «até amanhã» cheio de cumplicidade subscrita pelo olhar.

 

(continua)

 

 

20
Jul16

Quente e Frio!


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II

A Turma da alínea F) era mista.

 

Os Rapazes desceram as escadas para o pátio de recreio dos Rapazes.

 

As Meninas desceram pelas escadas do pátio de recreio das Raparigas.

 

Porém, Rapazes e Meninas vestidos com capa e batina, a maioria já a frequentar o 7º Ano, desceram pelas escadas da porta principal, mais pertinho da “Toca da Raposa”.

 

Como é natural e frequente, vão-se formando pequenos grupos, fermentados pela curiosidade estimulada pelo «donde és», «donde vens», «que queres ser», ou se «sabes onde é a «Meia-laranja», o «Codeçais», a «Patrulha», ou, ainda, se já ouviste falar do “Regadinho”, das «ganchas do S. Brás» e dos «pitos de Santa Luzia».

 

E uma visita a «Trás do Cemitério”, na Vila Velha, de Vila Real, é mais sacramental do que «ir a Fátima a pé» ou a Roma ver o Papa!

 

No pátio do recreio dos Rapazes, meia dúzia de palmos elevado, há um pequeno recinto cimentado, separado por uma rede.

 

O “Rapaz da Terra Fria” perguntou a um do grupo que saía do Liceu com ele para que servia aquele pedaço roubado ao recreio.

 

O Zé da Cumieira, tarimbado no Liceu desde o 1º Ano, esclareceu:

 

- É para o «Hóquei em patins».

 

Mas logo acrescentou:

 

- O nosso verdadeiro «rinque» é ali na «Bila Velha», em terra solta, batida com as nossas tacadas e os nossos tombos, dadas com «setiques» feitos de toros de giestas, já que freixos e marceneiros à mão não temos, e, e os «setiques», em vez de «pá»…

 

- … tem uma moca a quem foram aparadas as barbas das raízes!  - interrompeu o “Rapaz da Terra Fria”.

 

O grupo parou «num repente»!

 

O Zé da Cumieira e o Garfejo olharam um para o outro com o maior espanto do mundo espetado na cara!

 

- Chamas-te “Belasco”?! – interroga o Zé da Cumieira, agora com o espanto já espalhado pela voz.

 

- Não me digas que és «Bouçós» - exclama, para não se ficar atrás na «admiração», o Garfejo.

 

- “Bós aqui jogaides o «óquei em patins» no «faz de conta»; na minha terra joga-se a «CHOCA» como debe ser”!

 

Que bem lhe soube ao “Rapaz da Terra Fria” falar deste modo!

 

O grupo foi dar a volta por «Trás do Cemitério Velho».

 

Mesmo aqueles que estão habituados às serranias, aos córregos e aos desfiladeiros, apreciam com encantamento os moldes que o Corgo e o Cabril esculpiram naquelas faldas do Marão, nas vésperas do seu abraço.

 

O Zé da Cumieira, satisfeito com a simpatia e a franqueza dos novatos do grupo e com a amizade já feita com os «tarimbeiros», convidou aquele magote de, mais ou menos, uma dúzia de «pré-universitários» a irem comer um «mil-folhas» ou um «jesuíta» à “GOMES NOVA”!

 

Uma vez mais, «para não se ficar atrás», o Garfejo acrescentou:

 

- Ou então vamos à «ROSAS» comer um «pastel de nata»!

 

E assim se davam as boas-vindas aos noviços colegas do Liceu Camilo Castelo Branco!

 

(continua)

 

 

 

 

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