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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

22
Fev23

Crónicas de assim dizer


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Acto de contrição

 

Não sabíamos que o tempo era limitado

Tínhamos a eternidade por certa

Numa convicção interior

Desde a infância 

Do tempo das cegonhas

 

Acreditávamos no que nos parecia lógico

Óbvio

Com bom senso

Até descobrir que o contrário é que era verdadeiro 

 

Agora sem chão imploramos aos céus 

Por uma remissão sem pecado

Desadequada nos tempos que correm

Onde até Deus se cansou de nós 

É o vazio

 

Meu Deus

Porque não sois sempre bom

Quando dentro dos Homens

De má vontade?

Tenho muita pena…

 

Cristina Pizarro

08
Fev23

Crónicas de assim dizer


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Vistos Gold

 

Tinha uma linha à sua volta

Mais definida que a do horizonte 

Desenhou um círculo

Onde ocupava o epicentro 

Ninguém entrava lá sem ele querer

Exibição de passaporte à entrada

Reconhecimento facial

Leitura de retina

E impressão digital

Vistos Gold

Com critérios bem definidos

 

Conquistou um espaço 

Como o de uma barragem

A água só entrava ou saía 

Se abrisse as comportas

 

E era esse bem-estar

Que lhe iluminava o rosto

Que lhe fazia brilhar os olhos

E lhe esculpia um sorriso rasgado

Não só na boca

Mas no corpo todo 

 

Tinha um poder... 

Domador de leões 

 

Cristina Pizarro

25
Jan23

Crónicas de assim dizer


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Mar Morto

 

 

Vivo

No mar morto

Flutuando na água

Como na superfície da realidade

Ignorando a lama da sua profundidade

Misturando o concreto

Com sonho e ficção

Vencendo a esperança que se impera

Tudo impreciso

No limite da possibilidade

Assim desejaríamos que flutuasse

A verdade e a justiça

A igualdade e a liberdade

A solidariedade

e a bondade dos Homens

Não só palavras

Levando à paz no mundo

 

Cristina Pizarro

 

 

07
Dez22

Crónicas de assim dizer


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Bichos como anjos

 

Tinha as asas tingidas de negro

Mas parecia um anjo

A fala sem voz humana

Emitia apenas sons

Gritos e grunhidos

 

Nada nele dava indícios de anjo

A não ser o querer dela a acreditar que fosse

Com o poder que temos de nos iludir

A mover montanhas

Com a força da alavanca de Arquimedes

 

Dos seus lábios escorria sangue

Achou que fosse tinta

Que era um artista plástico 

A pintar com a boca

 

Nos pés umas sandálias

A imitar Cristo

Mas com picos por baixo

Como correntes de neve

Apropriadas para escalar corpos

De verão e de inverno

 

A pele grossa e áspera

Treinada e calejada

Parecia de um elefante

Não reagia ao toque

Não tinha sensação térmica 

Nem emoções 

Defendia-se sem ser atacado

Agredia para não ser agredido

 

Ao surpreende-lo de noite a deslocar-se

Como uma barata tonta

Assustada e violentada

Escrava e domesticada

Com feridas que não cicatrizam

Soltou um grito da alma sem freio

E conquistou a liberdade

Nascendo naquele momento

Num parto sem dor

De alegria vibrante

 

Cristina Pizarro 

 

 

 

Nota do blog Chaves

 

Cristina Pizarro soma mais um prémio de poesia, precisamente com o poema que hoje fica aqui publicado, desta vez com o Premio Internazionale di Arte Letteraria "Il Canto di Dafne", Montecatini Terme, Italia.

 

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Sezione E: Per dire NO alla violenza sulle donne in memoria di "Anna Maria Marino".

Premio di Merito Voci dal Mondo Autori Stranieri: 2º Premio, Cristina Pizarro.

 

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Marina Pratici (Presidente del Premio), Jacqueline Monica Magi (Presidente della Giuria) e Rita Innocenti (Direzione Artistica).

 

 

23
Nov22

Crónicas de assim dizer


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No mar alto

 

Como um barco à deriva

Procurava no teu corpo 

Encontrar pedaços do meu

E tu

Como um barco à deriva

A teimar que o farol estava perto

Com a luz apagada

Perguntavas-me

Não sentes?

E eu que sim

A dizer que não

E o farol ausente

Distante

Ao sentir a proximidade

De dois barcos perdidos

Acende a luz

Por causa do nevoeiro

E os barcos à deriva 

A acreditar no por acaso

 

Cristina Pizarro 

02
Nov22

Crónicas de assim dizer


1024-02-02-2022 (1).jpg

 

No berço

 

O mundo estava ali aos gritos

Sozinho

Eu a querer acudir-lhe

Sem força capaz

Quis pô-lo no berço

Pesado que era

Caímos os dois

Consegui levantar-me

Mas ele redondo coitado 

Patinhava no chão molhado

Sem braços nem pernas

Olhava para mim sem falar

Mas com o olhar a implorar

A dizer pega-me ao colo

E eu de novo a tentar

E outra vez a cair

Dei-lhe a mão

Rolámos pelo espaço

Fugimos dos buracos negros

No céu minado

E rimos à gargalhada

Adormeci depois sem querer

Exausta no berço também

Acordei com ele

De novo aos gritos

Em cima de mim redondo pesado

E eu sem colete salva-vidas

Naufraguei

Sem pernas nem braços

Redonda pesada

E ele nem sequer me deu a mão

 

Cristina Pizarro

 

Nota do Blog:

 

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Hoje além deste poema que atrás ficou da Cristina Pizarro, temos outro poema da autora, intitulado “Maths” com o qual ganhou mais um prémio para a sua coleção, neste caso uma Menção de Mérito na Secção S: Poesia em Língua estrangeira do Prémio Académico Internacional de Literatura Contemporânea Lucius Annaeus Seneca,VI Edição, da Academia da Arte e da Ciência Filosófica, Bari, Itália.

 

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A Cerimónia de entrega dos prémios decorreu no 15 de Outubro 2022, na Sala delle Scuderie, Castello Normanno-Svevo, Sannicandro di Bari.

 

IMG_20221015_164859.jpg

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Participara autores de 28 países, 1300 componentes.

 

Mais uma vez, parabéns Cristina por este prémio, mais um!

 

 

Maths

 

Era tão imperceptível

E ao mesmo tempo indelével 

Um grão de areia

Na imensidão da praia

Que fazia diferença

 

Não se sentia a presença do todo

Mas a ausência da parte

Menos um raio de sol no céu azul

Uma estrela a menos na escuridão da noite 

 

Era preciso estar atento

Saber contar

E sentir que entre o menos 

E o mais infinito

Faltava um número pelo meio

Um número pelo menos 

 

Ainda que fosse o zero

Era um número 

Fazia diferença 

Estivesse à esquerda ou à direita

Era da sua ausência 

Que eu sentia a falta

 

Do vazio preenchido 

O buraco negro 

Num Universo insondável 

Tu

A fada-madrinha 

 

Cristina Pizarro

 

 

 

12
Out22

Crónicas de assim dizer


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Um não poema

 

Querias um poema

Uma frase ou um verso

Não me sai nada

Cavaste na distância o silêncio 

O fantasma que engole palavras

Um caminho para o sem destino

Um muro alto sem comunicação 

Transformaste a ausência

Num acordo tácito

Unilateral

Fizeste da esperança de hoje

A esperança do amanhã

Infértil

E depois vens como um gato

Miar ao dono da casa que é dele

Não se percebe nada

Mas continuas a querer o poema

A frase ou o verso

E eu só tenho palavras

Que não te servem

Palavras que te não posso dar

Porque não são minhas

E tu querias que fossem

Insistes nisso

E eu não as tenho

O gato deixou de miar

E o dono vendeu a casa

 

Cristina Pizarro

 

 

21
Set22

Crónicas de assim dizer


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Árvores como pássaros

 

É preciso deixar morrer

Enterrar as mágoas 

Dos ramos que foram e já não são 

Como as coisas e as pessoas

Que já não estão  

E dessa árvore maior

Que depois fica porque cresceu

Perceber que há braços que fugiram dela

Uns que se torceram

Outros que divagaram

Alguns que partiram sem ter estado

Que desapareceram

Que não ficaram por medo

Ou cobardia

De não saber estar

Ou ser capaz

De acompanhar o sentimento da árvore 

Que crescia em direcção ao céu 

Como fazia sentido

As raízes só lá estavam para a alimentar

Para a fazer crescer

Não para a trazer de volta

Nem de regresso à terra

 

Se lhe tivessem dado asas... 

Dançaria agora com os pássaros 

Resgataria deles o céu

Que não é apenas deles

O céu de que se apropriaram

Que julgaram conquistar

Numa ignorância incompreensível

 

Mas agora chegou o momento

É preciso deixar morrer

A árvore seguirá o seu caminho

A árvore que parecia parada 

Afinal anda

Afinal voa

Tem a Arte

Como destino

Fez do efémero

A sua eternidade

 

Cristina Pizarro 

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