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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

20
Out20

Chaves D´Aurora

Crónicas


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As aldeias de Trás-os-Montes

           

            Encantaram-me, sempre,  as aldeias de Trás-os-Montes. Especialmente as que, mesmo a lhes chegarem as benesses (algumas polémicas)  da modernidade, conservam ainda, quando menos aos sítios centrais,  uma bucólica e multissecular disposição arquitetónica, com suas ruas, casas, igrejas e mercados de pedras, por cujas fendas nos muros ou às  janelas coloridas, plantas e flores brotam, como que trazidas pelas mãos do vento. À viagem de retorno que fiz por autocarro, de Chaves ao Porto, em 2002, os meus olhos perseguiam, até desaparecerem ao longe, muitas dessas aldeias petrificadas no tempo, embora ladeadas, agora, por ricas e hodiernas mansões.

 

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            Além dos vários bens imobiliários na (então) vila flaviense, meu avô possuía duas  quintas em aldeias serranas. No processo de escritura de meu romance Chaves D’ Aurora, queria muito conhecer alguns desses vilarejos, mormente porque, nos capítulos que tratam da Pneumónica, imaginei, com grandes possibilidades de certeza, que meu avô, para resguardar a família daquela pandemia virulenta,  haveria de transferir a família para uma de suas propriedades rurais. Eis que, como a adivinhar meu desejo, Fernando DC Ribeiro, acompanhado de outro amigo, Dinis Ponteira,  dedicado como ele a uma excelente  arte fotográfica, levou-me a conhecer várias aldeias no entorno de Chaves.

 

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            Algumas, conheci-as de passagem. A que mais me encantou foi a de São Lourenço, onde nos detivemos por algum tempo e fomos muito bem recebidos pelo Senhor Amável – de cujo nome jamais vi tanta correspondência ao nomeado  –  e que obsequiou-nos com um delicioso vinho caseiro, tão quão saborosos e domésticos eram o pão, o queijo e o famoso presunto de Chaves que o acompanhavam. Ali estavam, nessa aldeia, em largo número feita de pedras, casas com janelas de treliças, a igreja, pequenos estábulos com o feno e animais à vista, ruelas ora floridas, ora com muros entregues ao limo e às erosões do tempo.

 

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            Esse passeio campestre, além de outro a que me levaram os amigos Dona Maria da Luz e o Senhor António Miranda Chaves, serviram-me às fartas para compor, no romance, a minha fictícia Sant’Aninha de Monforte, onde os personagens da quinta Grão Pará, inspirados em meus familiares, passaram tantos dias,  agradáveis, uns, tristonhos, outros,  durante a propagação do vírus letal que, erroneamente, foi também conhecido  como Gripe Espanhola. Lá em Sant’Aninha, onde passaram o Natal e os Reis, puderam apreciar manifestações folclóricas como a dos Ramos e a Festa dos Moços, e vivenciaram uma consoada e festa de Reis imersos em melancolia.

 

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            Hoje, os aldeãos têm acesso à Televisão, à Internet, a carros modernos, mas, nas minhas viagens  –  as outras, as do sonho e da imaginação  –  fico a pensar nas carroças, nas ceias à luz das velas, nas historietas que se contavam antes de dormir e que (risos) algumas causavam pesadelos aos miúdos...

 

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            Trás-os-Montes de ontem e de hoje! Encantadora, sempre!  Sobretudo para mim, suspeito em meu amor genético por toda essa região de meu pai e ancestrais.

 

Raimundo Alberto

 

06
Out20

Chaves D´Aurora

Crónicas


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Minhas noites literárias no Grão Bago

 

            Uma das mais encantadoras recordações de meus três meses em Chaves, adoráveis pausas para a intensiva digitação de meu romance, as reuniões literárias de que participei, de março a maio de 2010, no Grão Bago, à Rua da Ponte, chegadinho à Ponte de Trajano, tornaram-se inesquecíveis para toda a vida.

 

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            Todas as tardes, era-me rotina sair para pesquisas na Biblioteca Municipal, ou perambular  pela  cidade, a observar cada rua,  cada beco, cada casa, cada vestíbulo (como aquele onde imaginei o frade maroto da Adelaide), capelas como a de Nosso Senhor do Bom Caminho, ou detalhes como o Nicho de Nossa Senhora do Bom Encontro, sítios históricos dos tempos de meu pai, que eu anotava para aproveitar e contextualizar depois, na elaboração do Chaves D’ Aurora. À volta, sempre detinha-me diante do Grão Bago, um bistrô com motivos estilizados de Art Nouveau, em seu belíssimo desenho externo e uma  decoração interior bem  aconchegante,  criação e realização dos jovens e amáveis  empreendedores Paula Chaves e Hugo Marceneiro.

 

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            Para já, essas paragens levaram-me a adentrar o interior, onde acostumei-me a tomar um cálice de vinho do Porto ou uma bica de expresso ristretto, e conversar um pouco com o Hugo. Foi então que este, ao ficar sabendo de meu projecto, convidou-me a participar das noites literárias no Grão Bago.

 

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            Esses agradáveis saraus eram frequentados por uma nata intelectual da cidade, pessoas de atividades profissionais diversas, médicos, advogados, artistas plásticos,  professores do Liceu,  uma química, uma arquiteta e um arqueólogo do Município,  todos amantes da Poesia e da boa literatura em geral, que até lá se dirigiam para simplesmente ouvir, ler ou declamar  — e muito bem  — poemas de autores portugueses e da comunidade  lusófona em geral. Havia, inclusive, alguns bons poetas nativos, como António Roque, que liam também suas próprias composições. Além deste e de Paula e Hugo, participavam Eurico Borges, Sérgio Fiandeiro, Sofia Costa Gomes, Maria José Fillol Guimarães, Maria da Luz, António Miranda Chaves, Jorge Medeiros, João Sardinha, Dr. Lobo, Dr. Reis Morais, Dr. Alfredo Carneiro, o escritor Rogério Ribeiro Gomes... e outros mais, a quem peço mil perdões por não ter podido registar.

 

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            Infelizmente, eu viajara desprevenido a Portugal e não portava nenhum poema da minha lavra, mas foi-me possível  dispor de alguns versos de João de Deus e de Fernando Pessoa, que levara comigo para eventuais citações. Sendo eu do tipo “decoro, mas logo esqueço”,  só pude valer-me do Mal Secreto, de Raimundo Correia. Na Biblioteca Municipal, entre os jornais das primeiras décadas do século passado, colhi alguns versos de António Granjo, o histórico poeta flaviense, um deles incluído no romance. Por lá descobri, também, alguns brasileiros, como Cecília Meirelles e Thiago de Mello. Deste, aliás, ocorreu-me com a Declaração dos Direitos do Homem, uma espécie de gafe  que deixou-me constrangido. Ao anunciar o que iria ler, perguntei se já conheciam o poema e a resposta, unânime, embora sem qualquer ironia ou arrogância,  foi, para mim, humilhante.  Que fossem pessoas cultas e progressistas, isso eu já sabia. O que agora constatava era que todos eles tinham uma grande intimidade com a literatura e as artes do Brasil, em geral.

 

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            A face lastimável da moeda é que, conforme sabemos, isso não tem um vice-versa. A não ser entre artistas, núcleos académicos,  cursos de Letras ou outros nichos da intelectualidade brasileira, a grande parcela inculta (e até mesmo escolarizada) da população desconhece o quanto de artistas portugueses expressam sua criatividade e talento, em  nosso idioma comum. O consolo é que, a excetuarem-se os ídolos da Televisão e seus metafóricos  quinze minutos de fama (cf. Andy Warhol), essa parcela de incultos, desinformados, conservadores, negacionistas das ciências, teleguiados por líderes de falsas crenças religiosas ou ideologias retrógradas, e que sempre elegem muito mal os políticos que vão reger seu próprio destino social, também não conhece muitos dos artistas brasileiros consagrados, principalmente os que já não estão ou nunca estiveram na Mídia.

 

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            Parabéns ao Hugo e à Paulinha,  por essa realização.  O Grão Bago durou o tempo que lhe fora dado permanecer, mas não deixou apenas saudade. Deixou sementes em cada um de nós, que tivemos o privilégio de participar de suas quartas-feiras literárias. Alimentava nossos corpos com seus expressos, seus drinques, vinhos do Porto, pastéis de Chaves e outras delícias, mas também nutria de arte as nossas almas!

 

Raimundo Alberto

 

Nota: Fotografias retiradas da página do Grão Bago no facebook.

 

 

 

15
Set20

Chaves D´Aurora

Crónicas


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A vida cultural em Chaves

 

Em minhas pesquisas à Biblioteca Municipal, nos jornais dos primeiros decénios do século passado, e aproveitadas no contexto histórico de meu romance Chaves D´Aurora, chamou-me a atenção o facto de que a  –  então ainda –  Vila de Chaves tinha uma razoável e interessante vida cultural. Dos saraus familiares, muitas vezes  com pianos assassinados e poemas declamados com overdose de gestos; das apresentações da Banda da Infantaria 19 e outros concertos no Jardim Público; do Cinematógrafo e, depois, das sessões fragmentadas de filmes em rolos no Cineteatro Flávia; das apresentações teatrais de amadores do Grupo Dramático dos Bombeiros Voluntários de Chaves; das exposições, como a da História da Aviação;  às exibições de cultura popular,  notadamente no Forte de São Neutel, durante a Festa da N. Srª Brotas,  com danças e cantos de conjuntos folclóricos,  oriundos de aldeias transmontanas;  tudo isso, enfim, contribuía de algum modo para a formação cultural dos habitantes daquele pequeno vilarejo, ao centro norte de Portugal.

 

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Festa da Nossa Senhora das Brotas - Meados do Sec.XX

 

Em 2010, quando da minha estadia em Chaves para a elaboração do romance, lamentei que mal pudesse localizar onde fora o Cineteatro. Os vídeos, a exibição na TV e a Internet acabaram com a maioria dessas salas no mundo todo, mas fiquei feliz de ver que ainda resiste o cinema coordenado pelo Teatro Experimental Flaviense, no Largo do Monumento. O TEF traz, sem dúvida, uma abnegada e empreendedora contribuição artística à cidade, com suas apresentações de dança e de espetáculos teatrais com seu grupo de atores, sob a direção de Rufino Martins.         

 

Algo ainda bem recente para mim, naquela altura, o Centro Cultural de Chaves, na antiga Estação de Comboios, também contribui bastante para vida cultual flaviense, com exposições, cursos de arte e um excelente auditório. Assisti, nesse moderno e confortável espaço cénico, a interessantes apresentações de grupos teatrais e de dança, provenientes de outras cidades da região.

 

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MACNA - Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso

 

Em 2016, meu amigo Fernando Ribeiro levou-me a conhecer o edifício, já prestes a abrir, desse grandioso empreendimento cultural que é, atualmente, o MACNA - Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso, além de suas exposições eventuais, está a enriquecer, cada vez mais, seu acervo de obras de artistas hodiernos.

 

Apenas senti, na ocasião, a falta de uma sala especial  –  até de pequena capacidade e que, se viável,  poderia ser no CCC ou no MACNA   –  para exibir, com oportunos debates, filmes de arte. Ou seja, aquelas obras autorais que conduzem à reflexão sobre problemas políticos e/ou sociais e/ou económicos que afligem a humanidade, frequentemente polémicos. Ou, também, películas de mera experimentação, para deleite contemplativo da arte cinematográfica.

 

Assim é o progresso: a querida cidade de meus ancestrais paternos vai adquirindo, passo a passo, a promessa de se tornar um grande centro de atividades artísticas e culturais, nesse outrora perdido e até esquecido Concelho, ao norte do país.

 

Raimundo Alberto

 

25
Ago20

Chaves D´Aurora


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Chaves e o Progresso

 

                A primeira vez que estive em Chaves, em 1974, era ainda um jovem  perto dos trinta, a viajar pela Europa com a minha recém esposa Betty, de férias das funções de funcionário do Banco do Brasil e, nas horas vagas, dramaturgo (então, com apenas uma peça encenada). Ainda não estava nos meus projetos experimentar outros géneros literários, menos ainda escrever uma obra que exigisse tanta dedicação e pesquisas, como  Chaves d´Aurora.  Minhas tias Alda e Áurea (Aldenora e Aurélia, no romance), ao saberem dessa viagem, instaram-me  que fosse até à saudosa terrinha e tentasse localizar a Quinta Grão Pará, na Estrada do Raio X.  Somente em 2006, já com um pré-roteiro na cabeça, a partir de conversas com a minha prima Lourdinha (Fátima, no romance),  é que resolvi “meter a mão na massa”, ou seja, no teclado.

 

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Chaves, anos 70 do Séc. XX

 

                Quanto à Quinta, sem nenhuma ideia onde ficava, perguntei em vão a muitas pessoas e busquei alguém que recordasse José Brás, meu avô (João Reis, no romance). Restou  apenas a emoção de ter pisado no solo natal de Alberto, meu pai (Alfredo, no romance). Como passei ao largo da parte antiga de Aquae Flaviae  e  caminhei  até o Raio X,  da antiga estação de comboios, pela ponte Engenheiro Barbosa Carmona (e não pela histórica Ponte de Trajano, ou Romana), a ideia que trouxe comigo de Chaves, ainda que atraente,  foi a de uma vila empobrecida e perdida no tempo. Entre lapsos de memória, recordo lavadeiras no rio, o Ribeiro do Caneiro e uma simplíssima feira de frutas e legumes,  ao ar livre.  Tudo me parecia tão antigo quanto o velho comboio que me levara até lá. Lembremos que Portugal acabara de concretizar sua Revolução dos Cravos e, embora com um povo ansioso de sair da austeridade económica fascista (que tinha lá suas exceções, para as classe sociais coniventes com o regime) ainda não se antevia o que pudesse acontecer, nos anos seguintes,  à minha segunda pátria.

 

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Imagem de arquivo do Blog Chaves

                Em 2006, já tudo estava diferente. Os comboios, agora,  dormiam em algum museu ferroviário; cheguei de Lisboa, por autobus,  a uma estação rodoviária cercada de prédios novos;  a Torre de Ménage estava cercada de jardins, com flores e grama verdinha;  e havia, nas ruas antigas, um comércio modernizado. Mais ainda, admirei-me ao conseguir, em poucos minutos, num Cartório informatizado,  a certidão de nascimento de meu pai (em diversas cidades do Brasil,  ainda não era possível com tal rapidez). Fiquei nos Anjos, em uma aconchegante pousada.  Infelizmente, três dias eram um tempo exíguo demais para pesquisar. Colhi apenas alguns dados na Biblioteca Municipal de Chaves, que ainda situava-se próximo à Torre, e,  na Galeria Antígona, a Senhora Maria Isabel Viçosa me doou os livros Etnografia Transmontana (volume I) e Crenças e Tradições do Barroso (volume II),  do Padre António Lourenço Fontes, que foram de extrema utilidade para o romance. O melhor de tudo, no entanto, com base num croquis que meus familiares tinham levado para o Brasil, foi localizar, finalmente, a Quinta de meu avô.  Algum tempo depois, tive o prazer virtual de conhecer o blog Cidade de Chaves, de Fernando D. C. Ribeiro, onde recolhi vários outros dados preciosos sobre a cidade e a região,  e que me deram mais subsídios para a concretização da obra.

 

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                Em 2010, ao chegar a Chaves, disposto a passar  o tempo necessário para as pesquisas e a escritura do romance ( o que fiz de março a maio daquele ano), a cidade modernizara-se bem mais  e revelava-se  ainda mais encantadora. Na Biblioteca, agora no Largo General Silveira, a Boa Sorte me bafejou com os jornais “O Flaviense” e “A Região Flaviense”, do período 1912-1926, o mesmo em que ocorreram os factos inspiradores do livro. Eram poucos e remanescentes,  mas suficientes e  disponíveis. Naqueles papeis amarelados,  já lá estava –  como se costuma dizer, “de bandeja” –  toda uma época de vida às margens do Tâmega, com os costumes, eventos, o modus vivendis,  enfim,  daqueles tempos em que por lá viveram meu pai e os mais da família. Fotos dessa época, de Alberto Alves, somaram-se às de Fernando Ribeiro e a algumas que eu fiz, como importantes registos para o livro.

 

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Imagem de arquivo do Blog Chaves - Ao fundo, antigas instalações do Bombeiros, atual Biblioteca Municipal

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                Ao constatar e analisar os contrastes entre o antigo e o moderno, ficava impressionado em como, ao contrário de numerosas cidades com um porte similar no Brasil, havia uma profusão de  cafés e restaurante de excelente qualidade.  Perambulava por becos, vielas e veigas; caminhos rurais, como a silenciosa Rua da Solidão; entornos do Forte São Francisco e sua pousada contemporânea;  o Forte de São Neutel;  as Caldas; o Jardim Público; o Tâmega, rio abaixo, rio acima; as Poldras;   o Moinho abandonado (um crime de omissão, pois, restaurado, e com a instalação de um bar ou café, com mirante para o rio, poderia oferecer mais uma bela atração turística para a cidade);  o Centro Cultural, onde era a antiga estação de comboios; o Cinema e a sede do Teatro Experimental Flaviense; o Cemitério...  Posso dizer, enfim,  sem bazófia, que conheci a minha querida Chaves de sítio a sítio – ou quase. E tudo o que eu conferia já estar lá desde os anos dez a vinte do século passado, colocava  como cenários do romance, integrados aos factos e  vivências dos personagens.

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Imagem de arquivo do Blog Chaves Antiga - Estação do comboio anos 70 do Séc. XX

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Antiga estação do comboio, atual Centro Cultural de Chaves

                Em 2016, à altura da apresentação do livro na Biblioteca Municipal, ouvi de Paula Chaves, que me honrava como apresentadora do evento, achar interessante eu falar de sítios, como a Capela do Senhor do Calvário, num Horto de Santo Amaro, orto, em Santo AamroHortoHHHHHHque não eram (re)conhecidos por muitos flavienses natos. Aliás, não posso mencionar Paula sem fazê-lo,  também, a Hugo Marceneiro e ao Bar Grão Bago, charmoso bistrô do casal, com decoração Art Nouveau, chegadinho à Ponte Romana, onde eu pousava todas as tardes, ao vir de minhas pesquisas, e que foi importante demais para os venturosos e inesquecíveis dias que vivi em Trás-os-Montes. 

 

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Imagem de arquivo do Blog Chaves - Antigo Grão Bago e esplanada (2009)

 

                  Sobre o Grão Bago, com seus encontros de poetas e poesias às quartas-feiras, falarei numa próxima crónica.

 

Raimundo Alberto

 

11
Ago20

Chaves D´Aurora

Crónicas


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AS AURORAS DE CHAVES

 

Ainda faltavam três semanas para findar o inverno de 2010, quando cheguei a Chaves, onde um projeto pessoal me faria apaixonar, plena e incondicionalmente, pela terra querida de meus ancestrais. Este sentimento já começara em 1974, pouco após a Revolução dos Cravos, quando viajei pelo antigo caminho de ferro, em um comboio cheio de soldados muito jovens que estavam a celebrar, com uma sadia algazarra, tanto o retorno definitivo à terrinha, quanto o facto de estarem livres, enfim, das guerras nas colónias d’África.  Tendo que voltar no mesmo dia a Lisboa, após aportar à antiga estação (hoje um centro cultural), percorri sítios ainda perdidos no tempo até à Estrada do Raio X, onde tentei, em vão, localizar a Quinta do Grão Pará, que pertencera ao meu avô paterno.

 

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Direitos de autor da imagem de Berto Alferes

 

 

Isso viria a concretizar-se apenas em 2006, quando, por uns três dias, num simpático hotel nos Anjos, a contrastar a Aquae Flaviae antiga – e que já me deslumbrava – com a então modernizante Chaves, colhi alguns dados para a construção do romance que pretendia escrever, e no qual me propunha a narrar os acontecimentos que levaram meu avô, meu pai e os mais da família para o norte do Brasil, sem jamais retornarem  –  do quê e onde resultou, afinal, meu estar no mundo.

 

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Dessa vez, porém, o carro de aluguer conduziu-me para a outra margem do Tâmega, ao aconchegante Hotel 4 Estações, próximo à Capela do Senhor do Bom Caminho, numa avenida que se prolonga até a estrada que vai dar à Galiza. Era já noitinha e, por estar cansado, comi um resto de farnel que trouxera de viagem e atirei-me ao sono. Despertei bem cedinho e, ao abrir a janela do quarto,  visualizei partes da veiga, outras tantas da estrada que seguia para o norte, e mais uma pequena amostra do início do planalto Barrosão, a oeste. Fascinante, porém, era o banho de luzes e cores que respingavam em meus olhos. A Natureza apresentava-me – muito prazer em conhecê-la! – a aurora de Chaves.

 

Infelizmente, só algumas vezes pude obter de novo esse gozo, pois, no pouco mais de cem dias em que estive a debruçar-me sobre o notebook, ou, em “pesquisas de campo”, a colher dados na Biblioteca Municipal de Chaves,  percorrer todos os sítios da cidade e conversar com os locais, entre os quais fiz bons e excelentes amigos, eu trabalhava até bem tarde da noite e raramente me podia dar à alegria de dizer  –  bom dia, aurora!       

 

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Certa vez, porém, aconteceu algo que me emocionou bastante. Os amáveis Sr. Ilídio e Dona Ana haviam-me transferido, há pouco tempo, para uma água-furtada no último andar do hotel. Esta era, a meu ver,  o que de mais romântico e charmoso poderia haver para  um escritor. O teto era em diagonal, enviesado, com uma claraboia bem acima da pequena mesa de trabalho, o que, na minha imaginação, reportava-se às mansardas de Paris, onde vários artistas escreveram, pintaram ou compuseram suas obras. Havia dormido cedo, na véspera e acordei com uma súbita inspiração para novo capítulo. Após as abluções matinais, fui até à claraboia e ergui a moldura de vidro, para entrar o ar da manhã. Pus a cabeça para fora, a fim de prover meus olhos, novamente, do orgasmo visual da aurora flaviense.

 

Cerrei o caixilho e... o melhor veio a seguir. Estava a digitar o romance, quando escutei batidas leves, mas insistentes. Abri a porta do quarto, para atender a quem tocava. Ninguém. Ao voltar à mesinha, olhei para o teto e vi o autor dos toques. Era um belo representante da Natureza, um passarinho de penugem quase toda amarela, que pinicava com insistência o vidro da claraboia. Talvez quisesse dar-me o bom dia; o mais provável, no entanto, era entrar para comer alguns nacos de pão e de queijo que, com um bom vinho trasmontano, sobraram da minha frugal ceia noturna. Esse delicioso facto levou-me a pesquisar na Internet e escrever o capítulo 221: “No último dia dos Bernardes ao Raio X, ao abrir uma janela, Aurélia deixou seus ouvidos inebriarem-se do canto dos passarinhos. Ah, os pássaros de Chaves! Eles estão por toda parte e alguns, como cantam! Tordos, toutinegras, estorninhos, rouxinóis, rolas-turcas, melros, chapins, bicos-de-lacre, piscos, ferreirinhas, cotovias, chamarizes, pintassilgos, vendilhões... e muitos outros que, àquela altura, abundavam na veiga, nos jardins, nos pomares e nas margens arborizadas do Tâmega”. Talvez Aurélia viesse a inverter, no Brasil, a geografia dos versos de Gonçalves Dias, na “Canção do Exílio”: “As aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá”.

 

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Embora protagonizado por minha tia Aurora (ainda que meu avô seja o antagonista e a verdadeira protagonista seja, talvez, a própria cidade), e cujo prenome no livro é o único real, não fictício, é possível, também,  terem sido as auroras de Chaves que me inspiraram o título do romance. As palavras chaves e aurora têm várias conotações. Fazem pensar em quantas portas fechadas minha tia deparou, reais ou metafóricas, e nas tantas chaves que esteve a buscar, na esperança de abrir, para si, um novo alvorecer.

 

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Conforme é exposto na página inicial de Chaves d’ Aurora: “Em que subtis cornucópias os deuses escondem as chaves da aurora, enquanto brincam, perversos, com o desespero dos pobres mortais que, ao intenso frio da madrugada, anseiam pelo amanhecer?”    

 

 

(Nota do Autor: Agradeço a imensa honra de ser convidado por esse dedicado flaviense, meu caríssimo amigo Fernando Ribeiro, a escrever em seu blog https://chaves.blogs.sapo.pt, esta e outras crónicas que virão, sobre as minhas vivências na querida Chaves. Buscarei fazer essa escrita de acordo com as grafias e acentuações de uso em Portugal, ao mesmo tempo em que seguirei o novo Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. Como tenho dupla cidadania, mas nascido e residente no Brasil, peço apenas a compreensão dos leitores se, em razão de não dominar bastante o linguajar lusitano, houver palavras ou expressões que causem estranheza aos usuários portugueses do idioma).

 

 

 

04
Ago20

Chaves D´Aurora

Romance - Últimos Capítulos


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  1. CHAVES DA ILUSÃO.

 

A última escada, o último apito, a última esperança já lá se foram. A rapariga se agarra firme à amurada, para não cair, enquanto se põe a contemplar a terra que mais e mais se distancia. Nela ficará, para sempre e tão distante, um certo gajo com luvas cor de morcela. Aquele pelo qual tanto ansiava e que a fizera conjugar, ao mesmo tempo, os verbos amar e desamar. Aurora prosseguirá, no entanto, a carregar consigo a tentativa de esquecê-lo, como a um indesejável inquilino de algum sótão em sua memória, ou, mais apropriadamente, de um porão cada vez mais sombrio.

 

Em vão.

 

Posto que entregasse a esse rapaz muito mais do que havia de si mesma, pressente que jamais o deixará de trazer dentro de si, no mais recôndito de suas esferas pessoais. Pelo menos até que, finalmente, a imagem de Hernando Camacho se venha a definhar, diluir-se, evadir-se da sua mente insana; porque também terá chegado o tempo de seu corpo insano apagar-se, diluir-se, inexistir. Ao cabo de tudo, agora ela percebe afinal quem é o homem a quem entregara muito mais do que amor, esse alvo tão perseguido e o mais complicado de todos os sentimentos humanos, mas que, não obstante, os próprios amantes o transformam, tantas vezes, em algo efémero, banal, fugaz.

 

Um choro de criança miúda, proveniente da terceira classe do navio, alcança-lhe os ouvidos e ela percebe, então, o inteiro teor das palavras de Totonha, a velha sibila. Sílaba por sílaba, Aurora as guardara de cor, ou seja, ao coração. Lá no camarote, a dormir junto aos avós, está aquela que será sua constante companhia por todos os anos do resto de sua vida. Um serzinho em botão que a ela caberá regar com o seu desvelo e ajudar a florescer, com todo o seu amor.

 

Aos dias seguintes, no navio e nas terras do seu destino, muitos homens como o tripulante alemão, ou mesmo esse jovem que ali estivera perto dela, com sua luva cor de morcela, olharão para si, então no esplendor de sua beleza e juventude e, sem saberem dos insucessos da rapariga, estarão a lhe transmitir educados, gentis e cavalheirescos sinais de interesse amoroso. O que se haverá de saber, no entanto, por todos os que com ela vierem a conviver, é que jamais voltará a se entregar a homem nenhum.

 

 

  1. CHAVES D’ AURORA.

 

O dia, finalmente, alvorece. As chaves dessa alba, Aurora há de guardá-las consigo, para sempre. A radiosa manhã, ainda que fria, favorece a que ela veja se distanciarem, cada vez mais, os últimos recantos desse Portugal que ela tanto ama e nunca deixará de amar. Terras que serão, agora, inversamente d’além-mar (e às quais ela não sabe, mas já prenuncia, ninguém de seu clã original irá volver, jamais).

 

Murmura então a si mesma – Ah, Hernando, eu te amei entre flores de giesta, mas nem mil pontas de tojo me fariam tanto magoar! – e a olhar para as águas do mar, alcança-lhe à lembrança o canto das lavadeiras, às margens do Tâmega:

 

 

“Olhos pretos roubadores

porque vós não confessais

dos débitos que fazeis vós

dos corações que matais?”

 

F I M

 

 

 

Chaves, Portugal, 22 de março a 27 de maio de 2010.

Rio de Janeiro, Brasil: revisão final em junho de 2015.

 

 

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Lavadeira no Rio Tâmega. Chaves antiga (PT).

Postal público. Foto Alves.

 

 

FEITURA (OU “MAKING OFF”):

 

Os dados essenciais, sobre os factos que inspiraram este romance, foram-me fornecidos pela verdadeira Maria de Fátima, em Belém do Pará, pouco antes de ela vir a falecer. Era apenas um novelinho que conseguira amealhar, sobre a sua origem flaviense. Constituía, porém, o bastante para servir de fio condutor à narrativa desta saga familiar.

 

Procurei envolver os Bernardes com as tradições locais e os eventos históricos e quotidianos que eram noticiados nos jornais da região, entre 1912 e 1926, os quais se encontram disponíveis na Biblioteca Municipal de Chaves. Presumo que muitos desses episódios guardem, de uma forma ou de outra, alguma semelhança com os vividos de facto pelos protagonistas. Quanto à Belém do século XIX, os dados foram recolhidos na imprensa e na bibliografia local. Pesquisei também, outros temas, como os ciganos e suas tradições.

 

Foram numerosos os dados importados daqueles periódicos, que incorporei à história de Aurita, como se dela fizessem parte. Curioso notar que o anúncio sobre a “venda de mobiliário” foi publicado em uma data bem próxima à da partida dos Bernardes para o Brasil. Era deles, possivelmente.

 

Pessoas reais da época, citadas nos jornais, como o dentista, a pianista etc., misturam-se a personagens históricas, como António Granjo e Maria do Rasgão, e às lendário-urbanas, como a Moura da Ponte, Maria Mantela e outras. Quanto à Zefa, à Adelaide, ao primo Rodrigo e tantas criaturas mais, inclusive as que existiram de facto, como os Camacho, os Sidónio (o filho, foi o único do qual localizei o túmulo, no cemitério de Chaves), o Cazarré e Alice, foram todos desenvolvidos pela imaginação do autor, tal como a maior parte das ações e situações em que eles se envolvem, no romance. Já os Bernardes, com os quais, exceto o patriarca, cheguei a conviver, são híbridos de realidade e ficção. Fictícia, também, é Sant’Aninha de Monforte, uma síntese de várias aldeias trasmontanas.

 

No que se refere à Quinta Grão Pará, julgo tê-la reconhecido em um casarão ainda remanescente à Rua do Raio X, nº 135, ao comparar com um croqui trazido pelos Bernardes para o Brasil. Os interiores, todavia, são descritos de forma inteiramente imaginária.

 

Foram da maior importância os meses em que convivi com os habitantes da cidade, a recolher dados, linguagens e tradições locais, como a Festa de N. S. das Brotas, a Procissão do Senhor Morto, até ao Horto, em Santo Amaro, ou as viagens a aldeias próximas, à Pedra Bolideira e ao Castelo de Monforte

 

Interessante notar que as descrições do Carnaval em Chaves, conforme colhi aos jornais da época, assemelham-se às de escritores cariocas dos séculos XIX e XX, sobre o Entrudo no Rio de Janeiro. Da mesma forma, os folguedos portugueses de São João, parecem até resgatados da minha infância, em algumas cidades da Amazónia.

 

O texto sobre a lápide mortuária, que aparece no sonho de Aurora, foi tomado de empréstimo ao seu autor, Mário Fernandes Nazareth. Está esculpido no túmulo da família Bernardes, ao Cemitério de Santa Izabel, em Belém do Pará.

Por fim, um registo pessoal: certa ocasião, por volta dos anos 60, a verdadeira Florinda Bernardes, em uma casinha simples de um subúrbio belenense, ao manifestar sua imensa nostalgia de Portugal, que só a palavra saudade pode definir, olhou para mim e disse – “Quem sabe se tu, ó rapaz, que tanto aprecias viajar, não vais ter algum dia lá em Chaves?” – ao que Aldenora, ao seu lado, acrescentou – “E quem sabe se não serás tu, que tanto gostas de escrever, a contares, um dia, a nossa história?!”.

 

Rio de Janeiro, junho de 2010.

Raimundo Alberto.

 

 

POSSÍVEL LOCAL DA QUINTA GRÃO PARÁ, À RUA DO RAIO X, N° 135,

CF. CROQUIS EM PODER DO AUTOR.(Fotos comparativas):

 

foto-1.JPG

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Frente e lateral direita.

 

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Lateral direita.

 

 

FONTES:

 

Ainda que se trate de uma obra de ficção, relacionarei, dentre as fontes consultadas, as que me foram de suma importância para a feitura do romance, listadas em formato livre, ou seja, fora dos padrões académico-bibliográficos:

 

  • Site / blog www.chaves.blogs.sapo.pt, de Fernando Ribeiro.

 

  • Jornais “O FLAVIENSE” e “A REGIÃO FLAVIENSE” – exemplares esparsos do período 1910-1926, na Biblioteca Municipal de Chaves.

 

  • “ETNOGRAFIA TRANSMONTANA, VOL. I – CRENÇAS E TRADIÇÕES DO BARROSO e VOLUME II – O COMUNITARISMO DE BARROSO”, de António Lourenço Fontes, editados pelo autor, o primeiro em Braga, 1979 (2ª edição) e o outro em Vila Real, 1977.

 

  • “A IGREJA DE SANTA MARIA MAIOR DE CHAVES”, de Francisco Gonçalves Carneiro, edição do autor, Braga, 1979.

 

  • “ESTUDOS FLAVIENSES – 1 – O CICLO DO NATAL NA REGIÃO FLAVIENSE”, com ilustrações de Nadir Afonso e textos de Francisco Gonçalves Carneiro, João da Ribeira, António Granjo, Heitor Moraes da Silva e outros, editado pela Associação Cultural dos Amigos de Chaves, em 1963.

 

  • “CIGANOS – ROM – UM POVO SEM FRONTEIRAS”, de Nelson Pires Filho, Madras Editora Ltda., São Paulo (SP), Brasil, 2005.

 

  • “A TRAJETÓRIA CIGANA”, artigo de Patrícia Terra e a reportagem “MINORIA”, publicados na revista Terceiro Mundo, Brasil, em datas não registadas pelo Autor.

 

  • “MAGIA CIGANA”, artigo de Anastácia Benvinda, no jornal O Povo Cigano, Rio de Janeiro, novembro de 2007.

 

  • “HISTÓRIA DA LOCOMOÇÃO TERRESTRE”, da coleção “A Ciência Ilustrada”, de Erik Nistche, Livraria Morais Editora, 1966.

 

  • “PARÁ, CAPITAL: BELÉM – MEMÓRIA & PESSOAS & COISAS & LOISAS DA CIDADE”, de Haroldo Maranhão, editado pela FUMBEL-Fundação Cultural do Município de Belém, Gráfica Supercores, Belém do Pará, 2000.

 

  • Reportagens sobre BELÉM ANTIGA, publicadas (em datas diversas) nos jornais belenenses O LIBERAL e A PROVÍNCIA DO PARÁ.

 

  • “GUIA VISUAL DE PORTUGAL, MADEIRA E AÇORES”, publicado pela Folha de São Paulo, Brasil (apud Dorling Kindersley Limited, Londres), em 1999.

 

  • “DICIONÁRIO PRIBERAM DA LÍNGUA PORTUGUESA”, versão on-line.

 

  • “DICIONÁRIO PRÁTICO ILUSTRADO LUSO-BRASILEIRO”, publicado por Lello & Irmão – Editores, Porto, 1995.

 

  • “DICIONÁRIO DE PORTUGUÊS - SCHIFAIZFAVOIRE- CRÓNICAS LUSITANAS”, de Mário Prata, Editora Globo, 1993.

 

  • Artigo sobre a “IGUALDADE ENTRE HOMENS E MULHERES EM PORTUGAL”, do sociólogo Carlos Nunes, publicado no jornal A VOZ DE CHAVES, março de 2010.

 

  • Dados sobre PORTUGAL e outros temas do romance, colhidos à ENCICLOPEDIA BRITÂNICA, Editora Encyclopediae Britannica do Brasil Publicações Ltda., 1981.

 

  • Artigos de autores diversos sobre a Pneumónica, Primeira Guerra Mundial, aparições em Fátima, os Ciganos em Portugal e outros temas abordados na obra, colhidos na Internet, via GOOGLE, WILKIPÉDIA e outros sites de busca e informação.

 

  • Pesquisas de linguagem em obras de autores clássicos e modernos – Eça de Queiroz, Miguel Torga, Alexandre Herculano, Almeida Garrett, Fernando Pessoa, Ferreira de Castro, José Saramago, Inês Pedrosa, Miguel Sousa Tavares, o flaviense Rogério Ribeiro Gomes e outros.

 

 

 

AGRADECIMENTOS:

 

  • Ao primo Mário Fernandes Nazareth e, em memória, à saudosa M. L., por seus informes essenciais sobre a saga dos Bernardes.

 

  • Ao poeta, escritor, ator e diretor luso-português Jorge Carlos Amaral de Oliveira (Mané do Café) pela inestimável cooperação na revisão desta obra.

 

  • A Fernando D.C. Ribeiro, pelos dados colhidos em seu blog www.chaves.blogs.sapo.pt.
  • e por me fazer conhecer, in loco, várias aldeias ao entorno de Chaves, a Pedra Bolideira e o que resta do Castelo de Monforte;

 

  • À senhora Maria Isabel Viçoso, da Galeria Antígona, em Chaves, que me cedeu os livros do admirável escritor Padre Lourenço Fontes, sobre o Barroso; ao Dr. Alfredo Carneiro, pela amável cessão das obras de seu pai Francisco Gonçalves Carneiro; ao Sr. Rogério Ribeiro Gomes, pela oferta de livros de sua autoria; e a Nazareno Tourinho, pelas obras sobre Belém antiga com as quais me obsequiou.

 

  • A todos os gentis e eficientes funcionários da Biblioteca Municipal de Chaves, nos anos de 2006 e 2010.

 

  • À Sra. Carla Sofia Simões Fernandes, do Arquivo da Universidade de Coimbra, pelos informes sobre exames de admissão à Universidade.

 

  • À Fraulein Angelika Arlander, pela foto que fez de mim, junto à estátua de Fernando Pessoa, no Chiado, em março de 2010; e ao fotógrafo Sr. Carlos, de Chaves, pela recuperação de algumas fotos de Portugal que eu julgava deletadas.

 

  • Aos senhores Ilídio, dona Ana, dona Alda e Patrícia, do Hotel Residencial 4 Estações, em Chaves, pelo apoio inestimável durante todo o processo de criação do romance; ao senhor Dinis Ponteira, que me ensinou a distinção entre urzes, giestas, tojos e outras plantas de Trás-os-Montes; ao senhor Amável (que faz jus ao nome) e família, pela acolhida em sua casa, na aldeia de São Lourenço; à dona Maria da Luz e senhor António Miranda Chaves, pelo contacto com outras aldeias do Concelho; à dona Miquelina e aos seus familiares, do Café e Restaurante Rampa; a Hugo Marceneiro e Paulinha Chaves, em seu Bar Bago, próximo à Ponte Romana, bem como a todos os demais participantes das leituras de poesias no Bago, às noites de quartas-feiras (primavera de 2010), pela boa acolhida e incentivos ao projeto do autor; a Eliana de Castela e a Fátima Guabiraba, por algumas observações revisionais.

 

  • A todos os mais, enfim, cuja valiosa colaboração, por lapsos de memória alheios à minha vontade, deixei de registar.

 

Raimundo Alberto

 

 

Nota Final do Blog Chaves

 

Termina aqui esta longa caminhada de trazer todas as terças-feiras um ou mais capítulos do romance “Chaves D`Aurora”. Sim, já lá vão 4 anos, quando no dia 12 de julho de 2016 publicámos aqui o primeiro capítulo dos 241 capítulos do romance “Chaves D`Aurora”, pouco tempo após ter lido o romance pela primeira vez. Tempo apenas para obter autorização do autor, Raimundo Alberto, para o começar a publicar. Senti então que o deveria partilhar no blog, não só porque o romance se passa em Chaves e envolve a família flaviense “Bernardes” que mesmo com alguma ficção não deixa de ser uma família e uma estória real, mas também porque com ele se faz a História da cidade de Chaves do primeiro quartel do século XX, por sinal rico em acontecimentos, desde a queda da monarquia e a implantação da República, tentativas de derrube da jovem República com a última invasão monárquica de Paiva Couceiro em Chaves, abordagem a António Granjo, a pandemia da Gripe Espanhola tão idêntica à do corona vírus que hoje atravessámos, etc, etc, etc, tudo isso e muito mais do viver em Chaves nos início do século passado. É um romance que fala de nós flavienses e em particular de uma família flaviense regressada do Brasil que aqui vivia bem e feliz,  até que um acontecimento transformou as suas vidas e a fez voltar ao Brasil, para nunca mais voltar, a não ser o autor do romance, Raimundo Alberto, descendente dessa família, que já nasceu no Brasil,  mas que veio a Chaves para sentir na primeira pessoa a cidade e os locais que os seus antepassados aqui viveram.

 

E agora é o nosso tempo de agradecer a Raimundo Alberto a gentiliza de nos permitir a publicação total do romance neste blog, mas mais ainda, por ter aceitado o nosso convite para dar continuidade a esta crónica “Chaves D’Aurora”, não com o romance, mas agora com crónicas suas sobre as suas vivências em Chaves e outras temáticas, assim o

 

Chaves D’Aurora continua na próxima terça-feira,

 

com o mesmo autor, apenas lhe mudamos o cabeçalho para marcar a diferença sobre o romance, em que deixamos a Aurora mulher, para temos as auroras dos dias de Chaves, e não só, Raimundo Alberto é que sabe, as palavras serão suas. Fica o novo cabeçalho desta crónica, precisamente com uma aurora dos dias de Chaves, com uma imagem tomada desde o alto da serra de Soutelo, com a cidade de Chaves mergulhada no nosso habitual nevoeiro, presença de tantas auroras de Chaves:

 

chaves-aurora-cab-2

 

Até à próxima aurora, a acontecer aqui na próxima terça-feira.

 

 

 

 

28
Jul20

Chaves D´Aurora

Romance


1600-chavesdaurora

 

 

  1. TREVAS.

 

Diante de João Reis Bernardes, as trevas eram metáforas de um outro Portugal, não mais aquele em que vivera, há bem pouco tempo e, agora, estava prestes a deixar. A obscuridade social e política de sua pátria estava apenas no início. Aos anos seguintes, os governos antidemocráticos de Carmona e sucessores iriam desferir duros golpes sobre o regime republicano e todos os seus atos e instituições liberais. Decretariam o encerramento do Congresso e sua dissolução; a substituição, por comissões administrativas oficiais, das câmaras municipais eleitas em sufrágio popular; a dissolução dos partidos políticos e das organizações operárias; o restabelecimento de privilégios e da livre interferência da Igreja em assuntos nacionais; a censura à imprensa; prisões, interrogatórios e torturas, como nos tempos da Inquisição; exílios forçados, deportações et coetera, levando às masmorras ou à morte numerosas vítimas, contrárias ao governo ditatorial,

 

Os grupos capitalistas dominantes, todavia, estariam favorecidos como sempre, a se valerem das benesses governamentais do Estado. Tudo isso iria compor um regime totalitário que, no ano de 1933, acabaria por mergulhar o país, em uma das mais duráveis e funestas ditaduras do século XX, a do (oficiosamente chamado) Estado Novo, sob a clava de chumbo político-económica de Oliveira Salazar.

 

Somente aos 25 de abril de 1974, os cravos da liberdade e da alegria nacional iriam adornar os cabelos das raparigas, as lapelas dos rapazes, as mãos das crianças, o coração dos idosos, a alma dos portugueses e, enfim, as mentes de todos os verdadeiros democratas, em várias partes do mundo. Trariam, também, o contentamento geral dos povos das ex-colónias, logo em breve libertas e a se governarem por si próprias.

 

 

  1. CHAVES DA ILUSÃO.

 

A última escada, o último apito, a última esperança já lá se foram. A rapariga se agarra firme à ...

 

(continua  e TERMINA na próxima terça-feira)

 

 

fim-de-post

 

 

 

21
Jul20

Chaves D´Aurora

Romance


1600-chavesdaurora

 

 

  1. LUVA.

 

Lá em baixo, os estivadores estavam, enfim, a acabar sua faina. Restavam agora poucos volumes a carregar para o navio. Ao último apito do paquete alemão, deu-se um aperto enorme no coração de Aurora Bernardes. Correu então pelo convés, até ficar acima e diante do sítio por onde entravam os passageiros retardatários da terceira classe. Estava a olhar, ansiosamente, para essa outra escada, prestes a ser também recolhida, quando percebeu, pelo canto dos olhos, achegar-se de si a luva de couro cor de morcela, cor do seu amado, adorado e mil vezes perdoado cigano.

 

Estremeceu.

 

O coração disparou.

 

Tocou-lhe afinal, ao ombro, a mão enluvada.

 

Sabia que finalmente, ao seu lado, estava agora outro homem, maduro, regenerado, pronto a fazê-la feliz em qualquer parte da Terra. Ali estava o homem que a fez, algumas vezes, tocar as cordas de sol; não obstante, em outras ocasiões, as teclas de dó; que levou a si a cantar lá seus fados como ré; e que, agora, em misericordiosa benesse, irá proporcionar-lhe o prazer de tocar todas as notas da escala de seu ser.

 

Estava ali a sua tábua de salvação, o bálsamo a curar feridas d’alma, o porto seguro onde atracar o seu destino. Não importa aonde ela vá com ele. Há que lhe dar as mãos e descerem correndo, antes que seja recolhida a última escada, antes que soe o último apito. Agora ela vai estar, para sempre, ao lado do homem que sempre amou e amará por toda a vida.

 

 

  1. FUGA.

 

Ao percorrer o deque do Hildebrandt, o patriarca dos Bernardes encaminhou-se até ao sítio bem acima de onde a última escada (a que dava às partes inferiores do navio), acabava de ser recolhida. Eis que, do ponto onde estava, divisou dois vultos de negro que desciam apressados os degraus, rumo ao cais.

 

Teve ímpetos de gritar – Aurita! Aurita! Não faças isso, volta, sua tresloucada! – mas antes que o desejo se concretizasse na garganta, os dois evadidos sumiram, entre as brumas da enevoada manhã.

 

 

  1. ENLUVADO.

 

A luva cor de morcela! Aurora está presa da mais plena emoção, nem ao menos consegue mover-se para contemplá-lo, mas sente, pressente: ali está o seu rico cigano. A mesma estatura, a mesma compleição física, o mesmo tipo de trajo… Ali está ele, enfim, a mirá-la, admirá-la, com um olhar de ternura que, em tempo algum, havia antes demonstrado. Ainda sem divisar o amado, sente que a mão direita deste, leve e gentilmente, acaba de lhe pousar sobre o ombro. Vira-se afinal para abraçá-lo, pronta para lhe dar, incondicionalmente, todo o profundo amor que tem a oferecer.

 

Um ricto de espanto, porém, desfigura o seu rosto. O sorriso e a alegria de Scarlett O’Hara, o vento levou para alguma Tara distante. As raras brisas da manhã estão a debochar de sua circunstância.

 

A luva é de um jovem campónio de Santo Estêvão, filho de um conhecido de seu pai e, agora, também emigrante. – Menina Bernardes! Que estás a fazer por cá, a essa altura da madrugada? Cuida que já passa, e de muito, a hora de se haver aos lençóis! – e em sofrida tentativa de resposta, ela balbucia ao companheiro de viagem – Obrigada, não te preocupes. Já estou a recolher – e o rapaz afasta-se dali, por entre as brumas, até seus aposentos da terceira classe.

 

 Ao olhar o porto que virava um ponto a se distanciar, cada vez mais, o corpo de Aurora balançou-se perigosamente sobre a amurada e, diante das águas escuras como um chocolate amargo, viu-se ela a cair na musse de espumas confeiçoada pelas ondas.

 

Seu corpo apareceria boiando, dias depois, em algum sítio do litoral.

 

 

  1. TREVAS.

 

Diante de João Reis Bernardes, as trevas eram metáforas de um outro Portugal, não mais aquele...

 

(continua na próxima terça-feira)

 

 

 

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14
Jul20

Chaves D´Aurora

Romance


1600-chavesdaurora

 

 

 

  1. PERDIDO!

 

Graças à perda do monopólio da borracha, a Amazónia era agora uma região de economia em decadência, que só viria a se reerguer várias décadas após. Bastava-lhe dedicar-se a alguns ramos de negócios inoportunos ou que não os conhecesse bem; viesse ele a confiar e ser vítima de sócios corruptos, inescrupulosos, velhacos, que lhes roubassem toda a parcela de seu capital; e, mesmo sujeito a esses e outros riscos da atividade comercial, ainda permanecesse no quadro constante de depressão e melancolia que trouxera de Chaves, enrolado em seus neurónios de papelão; enfim e assim, o desenho de sua penúria estaria finalmente esboçado.

 

Montava-se, dessa forma, o piorio de seu completo desastre pessoal e financeiro. Na mais cruel miséria, sem um migalho de património a mais para solapar e ante à inevitável falência, teria que bater com os seus, famintos e esfarrapados, à porta de algum parente remediado.

 

Pior ainda se o fosse à casa do marido de sua Arminda (o que iria consumar-se de facto no Brasil, como tudo ou mais que o atemorizava, conforme relatos posteriores). Que flagelo moral para ele, João Reis, o provedor de suas meninas, inclusive de Flor, que mal sabia se prover sozinha e da pobre miúda, que de nada e nenhuns, nem de si mesma, ainda estava a saber!

 

Sozinho, ali no convés, diante da imensidão do mar escuro que se revelava aos olhos do patriarca, como se todo o navio fosse apenas ele só, um imenso couraçado João Reis, agora sem blindagem e à deriva, eis que o pranto retido naqueles últimos anos chegou-lhe em rajada, como lufadas a emanar de seu furacão interior. O mui digno flaviense, lusitano e brasileiro João Reis Bernardes chorou. Um pranto forte, viril, aliviado, a desfazer, um por um, os nós imediatos de sua garganta. Pois que outros nódulos – íntimos, invisíveis, imateriais – eram impossíveis de desatar.

 

 

  1. LUVA.

 

Lá em baixo, os estivadores estavam, enfim, a acabar sua faina. Restavam agora poucos volumes a carregar para o navio. Ao último apito do paquete alemão, deu-se um aperto enorme no coração de Aurora...

 

(continua na próxima terça-feira)

 

 

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07
Jul20

Chaves D´Aurora

Romance


1600-chavesdaurora

 

 

  1. PERDAS, PERDAS, PERDAS!

 

 

Ao retornar à cabine, Reis balançou a cabeça para a sua Menina Flor – Levou-a, o patife! – e Mamã, após dar um longo suspiro, abraçou-o e deu vazão ao pranto, como se fora uma ave que acaba de perder um filhote para os predadores da Vida. Ajoelhou-se e se pôs a orar pelo destino da filha desatremada. Ao mesmo tempo, rezou contrita por aquele doce pingo de gente ao seu lado, inocente de tudo à volta de si, a dormir tão plácida sob os cobertores de lã, entre os alvos lençóis, com apliques artesanais de panos coloridos, a formarem bichinhos, florezinhas, estrelinhas e que tais.

 

Ao ver o marido repor as luvas, o chapéu e o sobretudo – Para onde estás a sair de novo? Aonde vais, a essa altura, meu bom Reis? – mas ele tranquilizou-a – Vou só um pouquinho lá fora, pegar um ar fresco ao convés do navio. Gostava de fumar um pouco (e esse pouco seriam muitos e muitos cigarros, um atrás do outro). Talvez o frio que faz lá fora me esfrie cá essa caixa de fósforos na cabeça, que está aos raios de me acender todos os lumes e os ver explodir de uma só vez, como aos fogos de São João!

 

Ao passear pelo deque do Hildebrandt, o patriarca andou até perto da proa, encostou-se à amurada e se pôs a tentar distinguir o mar por onde, logo mais, ele haveria de singrar o seu destino. Certo e tão incerto, como os pélagos vorazes, em todas as suas comparações! A paisagem que agora se apresentava, todavia, aos olhos de João Reis, era apenas turvação, neblina, nenhum horizonte à vista, escuridão.

 

– Perdas! Perdas! Perdas! – explodiu para si mesmo. Vieram-lhe então à lembrança as palavras de Totonha, na estação dos comboios em Chaves. – Oh, céus! As profecias da velha sibila! Mas em que foi que eu errei na vida?! O que de menos ou demais eu fiz ou deixei de fazer, ao tempo certo?!

 

Ah, esse incómodo, importuno, impertinente companheiro de viagem, o medo! Não da morte prenunciada para algum migalho de tempo a mais, pois todos nós iremos um dia, afinal, cair nos braços desse Morfeu eterno e mergulhar no sono fatal. Seu maior temor era da miséria, sobretudo para os seus. Levava joias de ouro e prata da mulher e das filhas; óleos de bons pintores, enrolados em canudos de papelão e alguns outros bens vendíveis; papéis com valor cambial, além de muitas libras esterlinas a serem trocadas no Banco do Brasil. Para as filiais de casas bancárias portuguesas no Pará, já havia transferido quase todo o património financeiro que amealhara, graças à alienação de seus bens em Chaves.

 

Tinha condições, portanto, de reconstituir suas posses e reconstruir no Brasil, com segurança e conforto, sua vida e a de toda a família. O que temia, então, senão as incertezas do mundo? – Totonha de Murça... aquela velha é um opróbrio ambulante! – cismou e, de raro, sorriu. Logo o riso se desfez, ao pensar que ele já não era mais o mesmo, aquele que, no século anterior, partira ao Além-mar e, graças ao seu tino comercial e perseverança, fizera por lá ótimos negócios. Hoje, entretanto, era um homem sem ânimo para lutar contra as suas próprias fraquezas, todas estas pelas quais se via dominado. As adversidades da vida o abatiam como a um pássaro migratório que se perdeu da revoada e ficou a voar sem direção.

 

 

  1. PERDIDO!

 

Graças à perda do monopólio da borracha, a Amazónia era agora uma região de economia em decadência, que só viria a se reerguer várias décadas após. Bastava-lhe dedicar-se a ...

 

(continua na próxima terça-feira)

 

 

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