São Gonçalo da Ribeira - Chaves Portugal
São Gonçalo da Ribeira
Nesta ronda pelas nossas aldeias em que nos propusemos traze-las mais uma vez ao blog com imagens que nos escaparam nas anteriores publicações, resolvemos fazê-lo pela ordem alfabética. Já vamos no S, nas aldeias e lugares que adotaram com topónimo um santo (Santiago do Monte, São Caetano, São Cornélio, São Domingos, São Gonçalo, São Julião, São Lourenço, São Pedro de Agostém, São Vicente da Raia e Santo Estêvão), as Santas, vêm a seguir.
Nem sempre estes topónimos correspondem a aldeias propriamente ditas, tal como acontece com o São Caetano e São Gonçalo, estes nasceram como lugares de culto e assumem-se como santuários. Pois o nosso destino de hoje é para um destes lugares de culto - o São Gonçalo.
Também aqui, tal como penso que aconteceu em São Domingos, começaram a nascer algumas casas junto à Capela. Neste Caso de São Gonçalo há por lá uma construção toda construída em xisto e habitada até há alguns anos atrás que notoriamente tem uns bons anos em cima. As restantes (meia-dúzia) são construções recentes, que não são mais que abrigos de pescadores de fim-de-semana.
Inicialmente poder-nos-á parecer estranho que no meio de um mar de montanhas possam existir pescadores, mas não, não é nada estranho, pois é na base destas montanhas, onde elas se encontram, que correm os rios, maiores ou menores e também eles se encontram. O São Gonçalo é um desses locais de encontro de dois rios, que simultaneamente também são limites naturais de freguesias, de concelhos e de distritos, mas também de reservas naturais e outros limites.
Os dois rios que se encontram em São Gonçalo são o Rio Mousse e o Rio Mente, o primeiro nasce na Galiza (em Terroso) e termina o seu curso aqui no São Gonçalo, onde desagua no Rio Mente que, um pouco mais à frente, irá desaguar no Rio Rabaçal, para já próximo de Mirandela abraçar o Rio Tua que entre montanhas e mais montanhas acabará por chegar ao Rio Douro, muito antes de este entrar no mar. Voltando aos dois rios do São Gonçalo, o Mousse vai servindo os limites de freguesias de Chaves, nomeadamente entre a freguesia de São Vicente da Raia e as freguesias de Travancas/Roriz, Cimos de Vila da Castanheira e Sanfins da Castanheira. Já quanto ao Rio Mente, este serve de fronteira aos concelhos de Chave e Vinhais e aos Distritos de Vila Real e Bragança.
Mas vamos até ao São Gonçalo e à sua localização, não de muito fácil acesso. Na última imagem que deixamos, assinalamos com um círculo vermelho o local onde mora o São Gonçalo. A imagem foi tomada desde Argemil. Por entre a baixa do encontro de montanhas em primeiro plano, corre o Rio Mousse, pelo caminho, passa ainda pelo Castelo do Mau Vizinho. À esquerda da imagem logo imediatamente a seguir a uma sombra no terreno, uns pontinhos brancos assinalam a aldeia de Orjais. É a partir desta aldeia que se faz um dos acessos até São Gonçalo. O outro acesso fica do lado direito para além da imagem e é feito a partir de Parada, uma das aldeias da freguesia de Sanfins da Castanheira.
O São Gonçalo, tanto quanto sei, é reivindicado por estas duas aldeias, Orjais e Parada, mas segundo me consta, a festa é repartida a meias em são convívio. Isto pelo que me dizem, pois nunca tive oportunidade nem o gosto de poder assistir à festa anual. Nunca lá fui à festa e lamento, mas também não sei em que dia se realiza. Sei que é em tempo de Verão. Numa consulta que fiz às festas das duas freguesias que reivindicam o santo, em São Vicente da Raia a festa de São Gonçalo acontece no dia 20 de agosto, já nas festas da freguesia de Sanfins, o São Gonçalo acontece no 3º domingo de julho. Estou mais inclinado para esta segunda data, mas tal como disse, não posso confirmar que seja o mesmo São Gonçalo.
É também conhecida pela festa das merendas, pois ao que consta é tradição levar a merenda de casa para lá ser degustada numa das sombras à beira rios, que por lá abundam. Merenda que pela certa é merecida, pois tal como já tive oportunidade de dizer, o São Gonçalo é de acessos complicados, recomendados para veículos todo o terreno. Os ligeiros também lá conseguem chegar, mas isto, tal como uma vez me disseram em Parada, é só para os que não têm amor ao popó.
Dia de festa que se adivinha ser de festa, também sinónimo de alguma confusão, que pela certa não deixam apreciar o verdadeiro santuário, não o do santo, mas o do local, que tal como já uma vez afirmei aqui no blog, é um verdadeiro santuário de montanhas, de beleza, de tranquilidade, de natureza, de verde e de água cristalina a correr entre margens de ambos os rios.
No acesso até São Gonçalo, que tanto seja feito via Orjais a 5,5 km, ou via Parada a 6,5km, é ainda notório o devaste que um incendio de há quinze ou vinte anos atrás provocou na paisagem. Curiosamente este devaste na paisagem deixou a nu o rude que a montanha é, mas também, que não há um palmo de terra que não tivesse sido, em tempos, trabalhado pelo homem. Hoje penso que já não é bem assim, e também é notório, a montanha há muito que deixou de ser o ganha pão das populações, primeiro porque a população é cada vez mais escassa e segundo porque o fruto da montanha, hoje em dia, pela certa já nem para sobreviver dará.
Uma curiosidade geológica que se vai desenhando ao longo do mar de montanhas chamará a atenção dos mais atentos. Trata-se de um aglomerado rochoso que nos surge à superfície, que se desenvolve em linha reta com cerca de 2 metros de largura e entre 1 a 2 metros de altura parecendo tratar-se de uma muralha, só que esta é natural sem a intervenção humana. Há uns bons anos, no dia em me dei conta desta “muralha” estava com o então presidente da Junta de S. Vicente da Raia que me disse, terem-lhe dito que este fenómeno, começa em terras da Galiza e só termina nas proximidades de Bragança. Pelo que vi, acredito bem que sim, mas mais não posso dizer sobre o assunto, pois nada mais sei.
E para terminar, deixo atrás um vídeo que encontrei no youtube, de autoria de Paulo Moura/ Flygraphy, que mostra um outro olhar sobre o São Gonçalo e respetivos acessos.