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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

26
Nov20

REINO MARAVILHOSO - PINHÃO

Douro e Entre os Montes


1600-pinhão (7)

1600-reino maravilhoso

 

PINHÃO

 

Nesta rubrica do Douro e entre os montes, hoje vamos até uma localidade que quase entra pelo Rio Douro adentro – o Pinhão.

 

Vamos já ao mapa e itinerário para ir e vir do Pinhão, num passeio feito com partida e regresso à cidade de Chaves. No mapa aparecem duas alternativa de itinerário, a nossa recomendação, como sempre, é ir para o Pinhão por um dos itinerários e regressar a Chaves pelo outro. Passeios estes que são sempre para fazer nas calmas, em maré de apreciação e contemplação, para um dia.

 

mapa pinhao.JPG

 

E agora fica um pouco sobre o Pinhão, com aquilo que se diz na página oficial do Município de Alijó, ao qual pertence a freguesia do Pinhão.

 

A Freguesia do Pinhão encontra-se situada no coração da Região Demarcada do Douro, e é ladeada pelos rios Douro e Pinhão, situando-se deste modo na rota do Vinho do Porto.

Elevada a Freguesia em 1933, foi pioneira na rede eléctrica e iluminação pública, sendo a primeira freguesia do distrito de Vila Real a ter telefone, correio permanente e água canalizada.

 

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 Em 1934, foi criada a primeira Casa do Povo do Distrito em parceria com a freguesia.

 

Devido à sua situação geográfica, Pinhão tornou-se um importante entreposto comercial, sobretudo para o transporte do Vinho do Porto, primeiro em Barcos Rabelos, depois em vagões pela Linha do Douro e finalmente em camiões cisterna, o que permitiu a esta localidade um rápido desenvolvimento, alcançando o estatuto de centro económico geográfico da Região demarcada do Vinho do Porto.

 

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Hoje, o Pinhão, visando essencialmente o comércio e o turismo, oferece aos seus visitantes costumes, usos seculares, tradições, vindimas, adegas tradicionais, artesanato e sobretudo a famosa paisagem em socalcos das vinhas durienses.

 

Esta localidade possui ao nível do património, uma Estação de Caminhos de Ferro ornamentada com azulejos datados de 1937 que foram encomendados à fábrica Aleluia, sendo dos mais belos de Portugal, constituído por 24 painéis com motivos vitivinícolas, documentando a labuta do trabalhos durienses. A Ponte Rodoviária sobre o rio Douro projectada por Gustave Eiffel no século XIX, a Ponte Metálica Ferroviária, ponte sobre o rio Pinhão, a Igreja Matriz, Cruzeiro, Barco Rabelo, velhos solares, Quintas com visitas em veículos todo-terreno e sobretudo as paisagens durienses que convidam os turistas a visitas sazonais com especial realce para as vindimas e lagaradas.

 

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Não devemos esquecer o rio Douro, sempre convidativo para um passeio de barco avistando-se as quintas das bem conhecidas casas produtoras de vinhos generosos, assim como a Linha do Douro com realce para o Comboio Histórico a Vapor.

 

A festa anual em honra a N.ª S.ª da Conceição acontece no segundo domingo de Julho, atraindo milhares de crentes a esta Vila.

 

No plano gastronómico destacam-se o cozido à portuguesa, o cabrito assado no forno, doces conventuais, bolo borrachão, vinhos finos e de mesa, compotas e mel.

 

No artesanato são famosas as miniaturas do Barco Rabelo, a latoaria típica, mantas, colchas, rendas, bordados, cestos, chapéus, olearia, balsas e pipas.

 

Principais associações: Comissão de Melhoramentos do Pinhão, Clube Pinhoense, Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Pinhão, Associação de Lavradores e Produtores do Vinho do Porto.

 

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“Nas margens de um rio de oiro, crucificado entre o calor do céu que de cima o bebe e a sede do leito que de baixo o seca, erguem-se os muros do milagre. Em íngremes socalcos, varandins que nenhum palácio aveza, crescem as cepas como os manjericos às janelas. No Setembro, os homens deixam as eiras da Terra-Fria e descem, em rogas, a escadaria do lagar de xisto. Cantam, dançam e trabalham. Depois sobem. E daí a pouco há sol engarrafado a embebedar os quatro cantos do mundo.”

Miguel Torga in “Reino Maravilhoso”

 

 

Consultas: http://www.cm-alijo.pt/pagina/72 em2 5/11/2020

 

 

12
Ago18

O Barroso aqui tão perto - Pelas serras com Torga


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montalegre (549)

 

Mais uma ida até ao Barroso aqui tão perto, mas mais uma vez sem termos por cá qualquer aldeia e até temos uma preparada em imagem, mas ainda lhe faltam as palavras para as quais não tivemos tempo de lhe alinhavar as letras. Assim, hoje vamos mais uma vez para o Barroso, sim, mas aquele que é feito de serras e montanhas e água que corre, que cai, que estaciona entre o penedio. Vamos fazer nossas as palavras de Miguel Torga, não só por também nós comungarmos da sua paixão telúrica, mas por serem também palavras inspiradas por imagens como as que deixamos hoje, aliás algumas delas foram tomadas enquanto se falava de Torga e de como tão bem entendíamos e sentíamos as suas palavras quando estamos no seu ambiente natural.

 

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É possível que esta paixão telúrica que me faz divinizar as fragas, os rios e os carvalhos signifique, afinal de contas, que não consegui desembaraçar-me da placenta de ovelha que o destino me atirou à figura, como certo inimigo fez a Maomé. Mas não me desagrada a hipótese.

 

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Estou sinceramente convencido de que a realidade campestre nem é inferior à outra, nem se lhe  opõe. Por detrás das pedras roladas e das ravinas, pulsa o mesmo coração inquieto a vida. A solução, portanto, consiste apenas em auscultá-lo com a finura de ouvido que é obrigatória nas consultas citadinas. E a mágoa que me punge não é ser montanhês por devoção: é de não ser capaz de revelar todos os mistérios que se escondem nas dobras da estamenha.

 

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Bem rústicas parecem as urzes, e a abelha tira das suas flores mel perfumado. Nada mais agressivo do que um silvedo, e o melro faz o ninho no meio dele.

 

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O mal é nosso e, neste caso, meu particularmente. Confundimos a casca com o sabugo. Talvez porque só temos casca e não merecemos a graça de comungar à mesa onde Collete recebia o corpo eucarístico da natureza. Ela, sim, podia exprimir o cataclismo de cada fecundação e decompor o arco-íris  de cada primavera. Através do sacramento do amor e da entrega, real e substancialmente, os seres e as coisas passavam a fazer parte da sua humanidade profunda e falavam depois pela sua boca.

 

Miguel Torga, In Diário VII

 

 

 

01
Jun16

Chá de Urze com Flores de Torga - 133


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Alturas do Barroso, 1 de Setembro de 1991

 

Incansavelmente atento às lições do povo, venho, sempre que posso, a este tecto do mundo português, admirar no adro da igreja, calcetado de lousas tumulares, o harmonioso convívio da vida com a morte. Os cemitérios actuais são armazéns de cadáveres desterrados da nossa familiaridade, lacrimosamente repelidos do seio do clã mal arrefecem, cada dia menos necessários, no progressivo esquecimento, à salutar percepção do que significam na dobadoira do tempo. Ora, aqui, cada paroquiano pisa, pelo menos dominicalmente, a sepultura dos ancestrais, e se liga a eles, quase organicamente. Vive, numa palavra, referenciado. Sabe que tem presente porque houve passado, e que, mais cedo ou mais tarde, enterrado ali também, será para os descendentes consciência e justificação do futuro.

 

Miguel Torga, In Diário XVI

 

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E terminam aqui as referências às terras de Barroso, concelho de Boticas e Montalegre. Concluídas que estão as referências ao Barroso e Chaves, a partir de hoje a rubrica “Chá de Urze com Flores de Torga” deixará de estar aqui no blog todas as quartas-feiras. Mas continuará, ocasionalmente, sem dia certo, não só com trechos dos diários, mas também outros textos e notícias, de preferência com referências transmontanas e com o sentir transmontano como Torga o sabia fazer tão bem.

 

As próximas quartas-feiras darão lugar a uma nova rubrica, ainda em preparação, mas até que surja aqui, não faltarão motivos flavienses para preencher o espaço dos dias de feira em Chaves.

 

 

11
Mai16

Chá de Urze com Flores de Torga - 130


1600-torga

 

Serraquinhos, 14 de Setembro de 1975

 

O Barroso coberto de gado. Os mais diversos bichos a granel nos mesmos pastos, nos mesmos eidos, nos mesmos currais. Bois, ovelhas, cães, cabras, burros, porcos e galinhas no mesmo cordial convívio. E pus-me a pensar na fácil comunhão da condição viva, em encontra-me com difícil harmonia da condição social. A fraternidade de que não somos capazes nós os homens, simples como o bom dia entre seres sem cromossomas permutáveis.

 

Miguel Torga, In Diário XII

 

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Pitões das Júnias, Barroso, 8 de Setembro de 1983

 

Só vistas, a aspereza deste ermo e a pobreza do mosteiro desmantelado. Mas canta dia e noite, a correr encostado às fundações do velho cenóbio beneditino, um ribeiro lustral. E os ascetas e o poeta que se digladiam em mim, de há muito peregrinos desta solidão, mais uma vez se conciliam no mesmo impulso purificador, a invejar os monges felizes que aqui humildemente penitenciaram o corpo rebelde e pacificaram a alma atormentada. O corpo a magoar-se contrito no cilício quotidiano da realidade e a alma a ouvir de antemão, enlevada, a música da eternidade.

 

Miguel Torga, In Diário XIV

 

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Covas do Barroso, 8 de Setembro de 1987

 

Uma bonita imagem de Nossa Senhora de Rocamador na igreja matriz, e o forno do povo ainda quente  e a reacender da última fornada. Um lavrador, quando me viu ougado, meteu a navalha a uma broa e fartou-me. O comunitarismo, por estas bandas, não é uma palavra vã. Significa solidariedade activa em todos os momentos. Até a fome turística tem direito ao pão da fraternidade.

 

Miguel Torga, In Diário XV

 

 

02
Mar16

Chá de Urze com Flores de Torga - 120


1600-torga

 

Chaves, 3 de Setembro de 1993

 

Hoje foi a minha vez de atravessar a fronteira sem cancelas de nenhuma ordem. Nem fiscais alfandegários, nem polícia a carimbar o passaporte. Apenas um painel de doze estrelas a mandar seguir. Mas nem por isso andei por Espanha dentro de coração solto. Confrontado com a realidade do poder crescente que por toda a parte nela verifiquei, a minha velha suspicácia de ibérico livre veio à tona agravada. A arrogância e o desprezo, que lia na cara de cada interlocutor, causava-me ainda mais engulhos do que no passado. A tese de Franco na escola militar foi a ocupação desta faixa ocidental em poucas horas. E a da generalidade dos demais espanhóis, mesmo civis, é indisfarçadamente a mesma. No rótulo de uma caixa de melões que me mostraram há dias, vinha escrito: «Origem – Espanha. Região – Portugal.» Para todos os nosso vizinhos, somos independentes, sim, mas provisoriamente, enquanto os iluminados governantes que temos não acabem de abrir mão dos nossos últimos trunfos nacionais, e um outro Filipe II nos integre submissos no grande redil peninsular , desta vez sem necessidade de herdar, de comprar e de conquistar o rectângulo rebelde. Recebe-o gratuitamente de bandeja.

Miguel Torga, in Diário XVI

 

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Após este registo no diário XV, Miguel Torga apenas fez mais vinte e oito registos no seu diário, todos escritos em Coimbra, terra que o Poeta escolheu para viver grande parte da sua vida, sendo o último registo datado de 10 de dezembro de 1993, intitulado Requiem Por Mim. São as últimas palavras publicadas de Miguel Torga que viria a falecer pouco mais de um ano depois em Coimbra a 17 de janeiro de 1995.

 

Coimbra, 10 de Dezembro de 1993

 

REQUIEM POR MIM

 

Aproxima-se o fim.

E tenho pena acabar assim,

Em vez de natureza consumada,

Ruína humana.

Inválido do corpo

E tolhido da alma.

Morto em todos os órgão e sentidos,

Longo foi o caminho e desmedidos

Os sonhos que nele tive.

Mas ninguém vive

Contra as leis do destino.

E o destino não quis

Que eu me cumprisse como porfiei,

E caísse de pé, num desafio.

Rio feliz a ir de encontro ao mar

Desaguar,

E, em largo oceano, eternizar

O seu esplendor torrencial de rio.

 

 Miguel Torga, in Diário XVI

 

Miguel Torga, pseudónimo do médico Adolfo Correia da Rocha, nasceu em S.Martinho de Anta em 12 de agosto de 1907 e faleceu em Coimbra, com 88 anos, no dia 17 de janeiro de 1995.

 

De acordo com o desejo do poeta, repousa em campa rasa no cemitério de S.Martinho de Anta, com uma torga plantada a seu lado.

 

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Terminadas que estão as referências à cidade de Chaves na obra de Miguel Torga, esta crónica “Chá de Urze com Flores de Torga” bem poderia terminar aqui, e com ela terminar uma pequena e merecida homenagem, como flaviense grato por Miguel Torga nos visitar e registar na sua obra e no seu diário ao longo de 38 anos (1955 a 1993), com mais de uma centena de textos (119). Poderia terminar aqui, mas não vai terminar ainda. Vai continuar por mais uns tempos, talvez não com a regularidade que teve até aqui, mas vai continuar com os diários e algumas referências de proximidade (em falta), que Miguel Torga também escreveu em Chaves, ou durante o período em que se hospedava em Chaves, mais concretamente textos sobre o Barroso aqui tão perto e de Verin e outras terras galegas próximas, assumindo-se assim toda uma região que já é habitué aqui no blog e Verin, que pomposamente faz parte dessa tal eurocidade Chaves-Verin.

 

 

24
Fev16

Chá de Urze com Flores de Torga - 119


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Chaves, 28 de Agosto de 1993

 

A indiferença da natureza! Revejo lugares que há anos me são familiares e onde, num poema, numa frase ou num simples estremecimento emotivo, cuidei que qualquer cousa de mim permanecia e ficaria identificado. E em nenhum deles há resquícios sequer de que por ali passei. Ou então sou eu, que, de tão desfasado do mundo, me vou perdendo de vista até nos Tabores das minhas passadas transfigurações.

Miguel Torga, in Diário XVI

 

Chaves, 30 de Agosto de 1993

 

Israel e os Palestinos vão finalmente entender-se. A paciência de Job não teve limites mais uma vez. E mais uma vez venceu as tentações do diabo.

Miguel Torga, in Diário XVI

 

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Chaves, 31 de Agosto de 1993

 

O primeiro-ministro britânico veio passar as férias ao Doiro, nas quintas de um patrício. Tem comido bem, bebido melhor e passeado. Até figos vindimos provou e saboreou, dizem os jornais. Os nossos velhos donos dão, como sempre, sinal na hora própria. O melhor de tudo o que temos, culinária, paisagem, conforto, mar, sol e cordialidade, já estava ao seu serviço no Algarve. Faltava o Doiro. Depois de feitoria de rapina, promovido também , na cara de quem nele consome a vida e a esperança a trabalhar de sol a sol para meia dúzia de vorazes e adventícios patrões, o éden de lazeres. E começa agora. O coitado do Forrester, ao menos, desenhava mapas bonitos da região, que explorava como bom comerciante, e saldou-lhe a dívida de parasita afogado no cachão da Valeira ao peso dos dobrões. Este barão actual espaireceu num rebelo motorizado, sem risco e sem passaporte restrito, apenas com licença magnânima da CEE, que lhe disse que sim, que aproveitasse, que isto agora é baldio, comunitário, multinacional, e deles, Ingleses, com particular direito. Em que feliz dia futuro a «chaga do lado de Portugal», que desde a infância me obsidia, deixará de sangrar?

Miguel Torga, in Diário XVI

 

 

17
Fev16

Chá de Urze com Flores de Torga - 118


1600-torga

 

Chaves, 24 de Agosto de 1993

 

Num molho, mas cheguei. O que me vale é saber Portugal de cor tão bem sabido, que, mesmo a atravessá-lo ofegante e mareado, o vejo sempre inédito e deslumbrador como da primeira vez.

Miguel Torga, in Diário XVI

 

 

Chaves, 25 de Agosto de 1993

 

Sabe tudo do Barroso. Mas falta-lhe o principal: não é capaz de o imaginar.

Miguel Torga, in Diário XVI

 

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Chaves, 27 de Agosto de 1993

 

Envelhecer não é para covardes. E, morrer, muito menos. Corajosamente, envelheci, e corajosamente morro. Mas levo comigo uma dúvida: fui, realmente, corajoso, ou vivi sempre em pânico, com medo de o não ser?

Miguel Torga, in Diário XVI

 

 

10
Fev16

Chá de Urze com Flores de Torga - 117


1600-torga

 

Chaves, 6 de Setembro de 1991

 

EVASÃO

 

De luz são estas horas clandestinas

E vagabundas,

Roubadas à razão e à lógica dos outros.

O Sol ergue-se nelas num fulgor

Dobrado.

Não há sombras no largo descampado

Onde se esconda a alma envergonhada.

Pura, campeia, íntima e liberta,

Contente

Do ensejo gratuito da aventura.

Viver é ser no tempo intemporal.

É nunca, a ser o mesmo, ser igual.

É encontrar quando nada se procura

                                   Miguel Torga, in Diário XVI

 

 

Chaves, 26 de Agosto de 1992

 

Cá cheguei e cá ando. Mas inseguro, aéreo, a ver tudo sonambulamente, com a sensação de ser um embrulho humano que veio despachado por aí acima com o rótulo de «muito frágil». Vamos a ver se me consolido, e a realidade se consolida dentro de mim.

Miguel Torga, in Diário XVI

 

 

03
Fev16

Chá de Urze com Flores de Torga - 116


1600-torga

 

Na última publicação de “Chá de Urze com Flores de Torga - 115”, dedicada às palavras que Torga deixou escritas no seu diário após a visita a Curral de Vacas, à Pedra da Pitorca, além de transcrever o que Torga escreveu sobre o assunto, nós acrescentámos alguns apontamentos sobre a importância do local e mencionámos os achados feitos no local em 1980 (?) de um anel em ouro em espiral e um machado de bronze. Pois a nossa curiosidade levou-nos até esse anel e machado que estão patentes ao público no Museu da Região Flaviense, com o achado datado de 1990 (?).

 

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Isto da data do achado são coisas da História e de como ela é abordada e por quem. Todos os documentos a que tive acesso (de especialistas na matéria) apontam os achados para 1980, inícios dos anos 80, no entanto no Museu Municipal a data que consta é de 1990. A diferença destes 10 anos até nem tem importância para o caso e só vem dar razão àquilo que eu penso da História e da sua exatidão ou credibilidade, coisa sem importância neste caso que até eu, um leigo da História, facilmente poderei averiguar e chegar à data exata, mas é só um pequeno apontamento para demonstrar que quase sempre só temos acesso à História de quem a escreveu e não à verdadeira, que às vezes pode coincidir ou não. Claro que me vem à lembrança o caso Silveira/Pizarro das 2ªs Invasões Francesas… mas isso são contas de outro rosário que não está encerrado aqui no blog.

 

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Com isto quero dizer que hoje vamos outra vez até Curral de Vacas e de novo até à Pitorc(ga), com imagens do anel, do machado, do parque de penedos que acompanham a dita cuja, mas também com um apontamento que o nosso amigo Luís Fernandes, colaborador deste blog, teceu após a leitura do de “Chá de Urze com Flores de Torga - 115”, que passamos a transcrever:

 

πORGA”

 

O POST(al) de  4ª feira, 27 de Janeiro de 2016, do BLOGUE “CHAVES” – Olhares sobre a cidade, para além do regalo para a vista das esplêndidas fotografias e da sempre bem-vinda transcrição das palavras de MIGUEL TORGA, causou-me cá um formigueirinho na papila gustativa da molécula da memória!

 

O "Chá de urze" activou a minha circulação imaginativa.

 

A Pitorca de Curral de Vacas começou a dançar uma valsa com a Pitorga do Nando.

 

Apanhei-lhes a cadência e solfejei umas diatribes comentaristas.

 

Pitorga daqui, Pitorca d’acolá, lembrei-me da paixão assolapada que alguns pedantes intelectuais, uns tantos consagrados intelectuais e uns entusiasmados «curiosos» pelo conhecimento têm mostrado pelas “PEDRAS”.

 

1600-curral-vacas (627)

 

Bem, aqui ponho de fora os «derretidamente apaixonados» pelas “Pedras” gasosas, convenientes e oportunas em tantas circunstâncias, as mais famosas do que os «pedantes intelectuais», tão famosas e conhecidas tanto (ou quase tanto) como os “consagrados intelectuais” tão afeiçoadas às “Pedras” e a proclamarem-lhes o seu imorredoiro amor.

 

E deixo de fora as «preciosas», não vão ficar algumas Preciosas e Diamantinas engalfinhadas comigo por eu preferir a Esmeralda, a Ágata … e o topázio.

 

A ele se acolhiam os primitivos habitantes da região, assediados por ursos, lobos, javalis e outros inimigos. Nele se refugiaram foragidos da Inquisição e da sanha miguelista e liberal, e perseguidos da Guerra Civil espanhola, que a raia não defendia da raiva nacionalista. Labirinto granítico oculto num matagal de giestas e carvalhas, nele me apeteceu resguardar também a dignidade de poeta neste tempo sem poesia que me coube”.

 

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Ora aqui está o segredo pré-histórico e contemporâneo a ser revelado!

 

Já nem precisamos de ir a DELFOS, visitar e sentarmo-nos na ônfala deixada por Zeus, (aquele meu amigo muito especial de quem já vos tenho falado em “Conversas” … fiadas) para cantarmos hossanas a uma «Pedra»: “O Torga” revelou-nos uma “πTORGA”, na NOSSA TERRA, neste Blogue “CHAVES” muito bem divulgada.

 

A Pitorca de Curral de Vacas, tal como o “pedregulho” de Outeiro Machado, ou as «crastas» (de que me falaram lá) de CARVELA- NOGUEIRA da MONTANHA, da NOSSA TERRA, aí estão, à mão de semear… ou de colher, como «locus consecratus» onde os simples mortais podem comunicar harmoniosamente entre si, com o mundo dos mortos ou com a(s) divindade(s).

 

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A «pedra», ensina-nos Eckhart de Hochheim, é sinónimo de conhecimento.

 

E quem «ama o conhecimento» tem mesmo de «amar as pedras».

 

E este amor não vem de ontem nem de hoje: vem do tempo … das “Pitorcas” e, provavelmente só depois, das ônfalas!....

 

Pedantes intelectuais “exitistas”, contemporâneos, porque um dia escreveram duas linhas ou fizeram três rimas em louvor do amor às «pedras», não querem consentir que outros, do seu tempo, quanto mais os «doutros tempos» amem as pedras. E ai de quem delas falar: ladrões, que lhe roubam a sentença e o sentimento!

 

Os “Salomés” cantaram:

Eu hei-de amar uma pedra
deixar o teu coração
uma pedra sempre é mais firme
tu és falsa e sem razão.

 

Mas foi quando um dos «consagrados intelectuais» titulou uma das suas obras com o primeiro verso desta cantilena um dos pedantes intelectuais “exitistas” fez de virgem ofendida!

 

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Como se as «Pedras» num tivessem estado na moda, desde a criação do mundo!

 

Desde essa altura, a pedra era, para o Homem, a residência de Deus.

 

A “Pedra do Destino”, serviu para a «sagração dos reis da Irlanda, da Escócia e da Inglaterra».

 

AS «pedras erguidas» e as «pedras de chuva» são, por igual, símbolos da fertilidade. Não admira que os invejosos Pedantes-intelectuais-“exitistas” queiram ser só eles a falar no «amor pelas pedras».

 

Quem não me deixará pensar que as «grandezas e pequenezas da vida» transportadas na «Jangada de pedra» foram «colhidas» pelo “Zé d’Azinhaga” num «oubir» falar dessa «Pitorca de Curral de Vacas”?!

 

Quanto a mim, bem que lá terei de meter a mão por uma «pedra furada», não vá o diabo tecê-las e mandar que me sejam atiradas mais sete pedras por algum «homo siliceus» com «calculus»!

 

Quem tem pedra no sapato?!

 

“Crominho”!

 

M., 28 de Janeiro de 2016

Luís Henrique Fernandes

 

 

20
Jan16

Chá de Urze com Flores de Torga - 114


1600-torga

 

Hoje é dia de S.Sebastião e desde que o descobri celebrado no Barroso, vou por lá todos os anos neste dia 20 de janeiro. Gostaria dizer que é promessa, mas não, não sou o católico suficiente para as fazer e tão pouco vou lá pelo santo. Antes pelo povo, pelas tradições, pelo comunitarismo e pela simplicidade da festa, enfim, sinto-me em casa.

 

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 Couto de Dornelas

Hoje neste dia que aqui no blog também também dedico a Miguel Torga, penso que ficará bem trazer aqui o Barroso que Torga também percorreu. Penso que Torga nunca teria ido a estas celebrações do S.Sebastião, mas andou pelas aldeias onde o santo hoje é festejado. Já em oportunidades anteriores deixei aqui as palavras que Torga dedicou às Alturas do Barroso, que conjuntamente com o Couto de Dornelas são as duas aldeias onde hoje há festa comunitária. Para não me estar a repetir deixo hoje três passagens por outras terras do Barroso, mas também em imagem as aldeias do S.Sebastião

 

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 Alturas do Barroso

Negrões, Barroso, 28 de Maio de 1955

 

Por mais que tente, não consigo reduzir estas vidas de planalto a uma escala de valores comuns. Foge-me das mãos não sei que força incomensurável, que, exactamente por ser assim, se alcandora nos olimpos possíveis do mundo. Nada existe aqui de notável a testemunhar uma actividade humana superior ou singular. Seres esquemáticos, num ambiente esquematizado. E, contudo, cada indivíduo parece trazer à sua volta um halo de intangibilidade divina.

 

Talvez seja a própria pobreza do meio que, despindo-os de todo o acessório, lhe evidencie a essência. E a nossa perturbação diante deles seria a perplexidade de pobres Adões cobertos de folhas diante de irmãos que permanecem nus.

Miguel Torga, in Diário VII

 

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 Negrões

Carvalhelhos, Barroso, 21 de Junho de 1956

 

PASTOREIO

 

Uma cabra montesa no pascigo;

Fiel ao seu balido,

Um fauno apaixonado;

Entre os dois, um açude adormecido,

Imagem do instinto represado.

 

Corcunda como a vida,

Uma ponte arqueada de suspiros

A ligar as arribas do desejo;

E um guarda as passadiço, uma presença humana,

- O pastor, a moral quotidiana…

 

                                                                     Miguel Torga, in Diário VIII

 

1600-pisoes (84)

 

Negrões, Barroso, 24 de Setembro de 1960

 

Tanto monta ser aqui, como no Terreiro do Paço. Ouvir um político, é ouvir um papagaio insincero.

 

Miguel Torga, in Diário IX

 

 

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