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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

19
Mar24

Chaves de Ontem, Chaves de Hoje


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Na última terça-feira, nesta rubrica de Chaves de Ontem, trouxemos aqui este mesmo local, com uma fotografia da mesma época das que hoje aqui deixamos (1962), com o troço da muralha que hoje também aqui fica, mas, na última terça-feira vista da sua face exterior, enquanto que hoje fica a face interior e também a fachada do antigo edifício militar que existiu até esse ano, acabando por ser demolida, tal como o terceiro piso do edifício onde hoje se encontra instalado o Museu da Região Flaviense.

 

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Este esclarecimento documentado em imagem, mostram bem que a muralha então existente, continua a existir, tendo sido apenas demolida num pequeno troço onde hoje se encontram umas escadas de acesso ao jardim do castelo, a partir do atual largo que se recuperou com a demolição do edifício militar. A muralha existente apenas foi desimpedida das construções que tinha adossadas e reconstruída, em bem. Ganhou-se um largo e o acesso à torre de menagem, que há muito é o nosso monumento mais visitado.

 

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Ficam duas imagens atuais que provam bem que a muralha continua lá, felizmente, aliás é um dos poucos troços que ainda existe visível ao contrário da grande maioria da muralha medieval/seiscentista. Ficam as imagens atuais deste local para esclarecer algumas dúvidas que foram levantadas com a publicação da última terça-feira.

 

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Até amanhã!

 

 

18
Mar24

Quem conta um ponto...


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674 - Pérolas e Diamantes: A luta continua

 

Por vezes somos dominados pelo cansaço. E também porque a luta continua. Provavelmente não. O diabo do escapismo sempre a sussurrar-nos ao ouvido. E nós a tentar diferentes tentativas de fuga à missão. Impossível. Pobre é o escritor que se deixa aprisionar pelas suas próprias palavras. Eu não desconfio delas. Desconfio é daqueles que lutam sobretudo com a forma, sobrestimando tudo o resto. Quem se esconde atrás da forma é porque desconfia das palavras. A temática sexual é geradora de desconfiança. A arte acontece entre pessoas concretas, necessariamente imperfeitas. Bendita arte. A literatura tipicamente sedutora, tende a ser pedagógica, por isso não inspira confiança. E é desnecessária. A má arte, por incrível que pareça, é sempre a mais representativa da pátria. A beleza tem os seus mistérios. Que beleza de nação cheia de gente que gosta de passarada, especialmente da de comer. E de bolachas Maria para embeber no café com leite. E de animais de estimação, sobretudo cães e gatos. E de porquinhos mealheiros. E de peixinhos vermelhos a nadar em círculos dentro de aquários minúsculos. Gente que gosta de sonhar acordada, escrever poesia romântica, doar sangue e falar impecavelmente línguas europeias. E que se pela por derramar teorias sobre a qualidade, ou a falta dela, do treinador da sua equipa de futebol. Que aprecia sentir as brisas a soprar nas esquinas e que adora o verão de São Martinho, castanhas e vinho e de contar pela milionésima vez a lenda do tal legionário romano que ofereceu metade da sua capa a um mendigo enregelado. Gente que se atrapalha com os números, com os sinais diacríticos, com os presságios, com as miríades, as complexidades estatísticas e os palimpsestos das aventuras numéricas das outras gentes. Esta é gente que se orgulha de gostar muito de caldeirada. Daí teorizar misturando aspetos sociológicos, antropológicos, metafísicos, éticos, religiosos, filosóficos, culturais, musicais, intelectuais, poéticos, artísticos, históricos, militares, judicias, ambientais, políticos, raciais, morais, futebolísticos, físicos, musculares, ginecológicos, prostáticos, dentários e até urinários. O que esta pacífica gente mais gosta de fazer é comer, beber e jogar às cartas. Gosta também de regressar a casa, de visitar a família e de convencer a vizinhança de que a sua vida é um sucesso. Durante as festas dos povos, agora deu-lhes para se enfiarem dentro de sacos de serapilheira, calçar sandálias mal-amanhadas feitas por artesãos de cacaracá, colocar uma espada de madeira à cinta e representar o papel de um lusitano que nunca existiu, a não ser na imaginação da rapaziada mais pândega. A peroração dos adeuses é que é o cabo dos trabalhos. Parece a história interminável. Estas pessoas gostam de fugir umas das outras, apesar de dizerem o contrário. Neste país de poetas, a poesia não se consegue concretizar. É ineficaz. Apesar de apesar… a estupidez é descarada, as pessoas são melodramáticas, tendem sempre para o sentimentalismo, para o phatos, para a palhaçada. Esta gente, esta gente indominável, momentos antes de alcançar o cais de chegada, apenas pensa no ponto de partida. Ora isto é saudade. Quando agora se olha para o céu, a tonalidade que se percebe é a de um azul reciclado. Atualmente é tudo reciclado. Até a bondade. E a mesmíssima liberdade. Ora isso faz com que toda a gente ande ligeiramente intoxicada com salmonelas e seja alérgica a leituras e a discussões literárias. Tantos anos de escola e de universidade e não se consegue arranjar emprego. Apesar disso, fico entusiasmado só de pensar no futuro. Quando forem velhos vai ser fantástico. Logo é que vai ser divertido, uma chuva de meteoros. E memórias. E chupa-chupas. E cromos de futebol. E ler duas páginas do Astérix na revista Tintim. Para o Tintim, propriamente dito, já não há pachorra. E depois a solidão e o silêncio. Ou outras coisas simples que me levam de volta ao tempo antigo. Mas não é apenas isso. A vida é bela se insistires. As saudades que eu já tinha da minha alegre casinha tão modesta… Já não há pachorra. Este porreirismo nacional vai dar cabo de nós.

 

João Madureira

 

14
Mar24

Dez Andamentos

Da Solidão em Solilóquio


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Da Solidão em Solilóquio

 

Ignorando o folheto que me pende das mãos, perde-se o meu olhar na memória das tonalidades que já envernizaram estas minhas unhas, irmanando pés e mãos ou denunciando as subtis dissonâncias públicas e privadas da minha existência.

 

Uma existência ainda hoje feita de outras existências passadas, onde os solilóquios fingiam ser altruístas diálogos disfarçando intermináveis monólogos autistas, sempre diluídos naqueles fascinantes brilhos esmaltados que escondem a obsidiana natureza estriada e translúcida das unhas.

 

Não sei porque fazes isto, Eduardo, mas até a claridade zenital deste quarto insiste nessa arte da dissimulação, encenando uma luminosidade que acompanha a nudez do meu corpo e atenua o facto de o meu rosto e o meu tronco permanecerem melancolicamente na sombra.

 

De onde queres que venha esta minha prostrada e desanimada melancolia? Das saudades de um entusiasmante passado, mais sedutor do que este monótono presente solitário? De uma persistente insatisfação que apenas terminará quando eu terminar?

 

Destas dúvidas emana uma única certeza – esta minha melancolia traduz saudades, sim, mas saudades de uma inebriante ideia de futuro que jamais se concretizará…

 

Um futuro materializado nesta bagagem fechada que me acompanha. Quando a abrir, todo o seu mistério se desvanecerá e poderei comprovar que, afinal, o seu fecho e a sua abertura em nada contribuíram para transmutar o seu conteúdo.

 

Como numa paradoxal metáfora, tudo o que dali sair será exactamente igual, embora este presente seja o futuro do passado e eu já não seja a mesma pessoa que ontem fui, nem esta minha solidão seja a mesma que ontem foi. 

 

E este inquieto saltitar, Eduardo, este inquieto saltitar que tu insistes em gerar no nosso interior, fazendo-o contrastar com a aparente imutabilidade dos cenários onde nos colocas, mais parece justificar que as tuas mãos sejam tesouras, fazendo recortes e criando colagens, e não as extremidades com que manejas estas serenas pinceladas que inquietam a nossa existência.

 

Sim, não me enganas, Eduardo. Imagino a tua deliciada satisfação quando concluis uma destas telas, sabendo que nela poderás inscrever então, uma vez mais, o apelido Hopper, com toda a ironia que essa assinatura traz ao cenário e às personagens de cada uma das tuas obras.

 

t10-hopper.JPG

Edward Hopper (1882-1967)

Hotel Room (1931)

 

 

13
Mar24

Chaves e o regresso do Sol


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Depois da chuva, da neve e do frio dos últimos dias, finalmente o sol na deu o ar da sua graça, com um dia luminoso e bem menos frio, como que a anunciar a primavera que está a chegar. Hoje ao que parece, o sol é para continuar. No final do dia logo se verá como foi… Bom proveito, se ele vier.

 

Até amanhã!

 

 

11
Mar24

Quem conta um ponto...


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673 - Pérolas e Diamantes: Ainda me lembro...

 

Ainda me lembro quando me deitava a ler Dostoiévski. Dessas noites frias. Dessas noites brancas. Dessas noites em branco. Foi um dos primeiros atos deliberados e conscientes que ajudaram a definir o meu mundo. Foi como se a Terra tivesse parado. Engoli muita daquela prosa inquietante em grandes tragos. Foi a primeira amostra que eu tive da alma humana. Dostoiévski foi o primeiro escritor a revelar-me a sua alma, se é que teve apenas uma. Provavelmente eu já seria um rapaz um bocadinho estranho, mas com Dostoiévski tornei-me decidida e irremediavelmente um ser excêntrico. Esses acontecimentos são, provavelmente, irrevogáveis. Senti-me então só no mundo. A solidão atingiu-me como um tornado. Senti-me estranho no meio da minha própria gente. As vagas de solidão continuaram a atingir-me como se estivesse a nadar numa praia de literatura. Tudo doido e eu, cansado, a tentar lutar contra o meu mundo. Entre o tudo e o nada. Os meus sonhos passaram a ser como metamorfoses. Sonhos e mais sonhos. Sonhos dentro de sonhos. Nunca pude jogar o jogo dos snobes. Nunca o fui e nunca o serei. Nunca frequentei esses meios. E a dita sociedade entedia-me e chega  a provocar-me enjoo. Aos poucos lá fui à razão. Nós somos a obra-prima do absurdo. A nossa loucura não tem pretexto, pois provém do contexto. Apesar das revoluções, e de outras traições (tradições?) históricas, ainda se continua a rezar a ladainha dos apelidos sonantes. Pois por aí continuam os mitos, as hierarquias, as honrarias. E as subserviências. E as “monarquices”, essa literatura de pechisbeque, essa mitologia imatura, esse snobismo desprezível, esses preconceitos ridículos. A estética é ruim e o encanto duvidoso. Apesar da aparência de modernidade, tudo isto tresanda a mofo. Eles gostam de interpretar o presente com os olhos do passado. São álbuns de outono com folhas secas. Essa gente gosta de pensar que nada mais nos resta do que nos embebermos com o perfume subtil das recordações, com bosques onde cantam rouxinóis antigos. Apesar dos disfarces, sente-se a esfinge da morte lenta e da impotência. As formas são sagradas, não Deus. O seu crepúsculo nem sequer é historicamente justificado. O jogo deles é cantarem para os outros os admirarem. Está na hora de revermos até os lugares-comuns. Não é a velha história que tem de nos impor o futuro. Temos de ser nós próprios a criá-lo. As pessoas sérias não se prestam a papéis de figurantes. Eu, por causa das coisas, cá continuo a escrevinhar. Os sapatos de molde antigo são-me sempre apertados nos pés, fazem-se calos. A mediocridade, por cá, é excessiva. E isso eu não consigo compreender. Eles sempre a declamar as imortais lapalissadas. E lá vamos celebrar porque todos celebram e mentir porque todos mentem. Dizem que a culpa não é das pessoas, mas das situações. Será? Ser e não ser faz parte da mentira. Da dramaturgia antiga. Estou em crer que Rabelais não tinha na ideia ser “histórico” ou “a-histórico”, nem sequer tencionava desenvolver uma “escrita absoluta” e muito menos prestar tributo à “arte pura”. Nem caraterizar a sua época. Resumindo, não revelava qualquer intenção, porque escrevia como quem se alivia. Malhava naquilo que o irritava, combatia quem se lhe metia no caminho, escrevia por prazer, para o seu prazer e para o prazer de quem o lia. Escrevia o que lhe vinha à cabeça. Apesar disso, ou por isso mesmo, expressou, melhor do que nenhum outro, a sua época e até pressentiu a época vindoura, criando uma arte pura e, por isso mesmo, eterna. Ao exprimir-se com inteira liberdade, condensava a essência eterna da humanidade e de si próprio, enquanto filho da sua época e profeta dos tempos vindouros. O conselho que ainda hoje mais me convence é: “Escreve o que te dita o coração.” Não devemos abdicar nunca da nossa própria verdade, pois de outra forma renunciamos provavelmente ao único heroísmo em que assenta o orgulho, a força e a vitalidade da literatura. Estou, estamos todos, já um bocado fartos de poetas que se dizem prosadores, de santos que se sentem rebeldes, de clássicos que dizem ser aparentados à vanguarda, de patriotas apátridas, de ativistas sociais que se identificam como eremitas. É uma perda de tempo andar a tentar explicar o óbvio.

 

João Madureira

 

 

11
Mar24

De regresso à cidade, com e sem neve


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Neste regresso à cidade trazemos na algibeira imagens deste fim-de-semana passado, primeiro com uma imagem de uma entrada no concelho com a Serra do Larouco, o seu planalto e a neve nas nossas costas, isto na entrada no concelho para quem vem do Barroso, neve que prometia descer à cidade, mas que não desceu… a cidade continuou com chuva, frio (muito) mas com a cidade florida, graças às magnólias que insistem em manter-se a brilhar…

 

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Uma boa semana para todos.

 

 

08
Mar24

Vivências


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Encomendas

 

Janeiro de 2024. Não é uma situação frequente, mas estou no final do dia numa estação dos CTT para proceder ao envio de uma pequena encomenda para a minha filha. Tranquilamente, e para não me demorar muito, preparei antecipadamente a respetiva caixa, bem fechada com fita cola, com uma etiqueta com as informações do destinatário e outra com as informações do remetente, ambas impressas em computador em letras bem visíveis.

 

Retiro uma senha e não demoro a ser chamada para um dos balcões. Reparo, então, numa jovem no balcão ao lado. Está, tal como eu, para enviar uma encomenda, mas provavelmente terá comprado a caixa no próprio local e, por isso mesmo, está ainda a fazer o preenchimento das informações necessárias. Noto nela um certo desconforto, para não dizer dificuldade, e concluo que, claramente, não está familiarizada com este procedimento tão simples. Depois de preencher o espaço do destinatário pergunta ao funcionário o que deve colocar do lado que diz “Remetente” … Feito o esclarecimento, prossegue, e é com alívio que acaba por entregar a encomenda para ser processada.

 

Num ápice vem-me à memória uma crónica que escrevi há alguns meses sobre cartas, postais e selos de correio, e o desconhecimento que as gerações mais novas têm destas realidades. Pois bem, às cartas, postais e selos de correio, podemos acrescentar também o envio de uma encomenda como mais uma das vivências claramente desconhecida para muitos jovens…

 

Não me parece justo culpar aquela jovem pelo seu desconhecimento e pelo tempo que demorou na tarefa. Os tempos de agora são diferentes, as necessidades são outras, há procedimentos que se vão perdendo e outros que vão surgindo, num mundo cada vez mais tecnológico e digital. A realidade é simples: se a um jovem de hoje nunca lhe foi explicado como se envia uma encomenda, e se ele nunca teve de lidar com uma situação dessas, pois é certo que não saberá como proceder. E, então, assim sendo, não estaremos nós, adultos/pais, a falhar nalguma coisa?

 

Luís Filipe M.Anjos

Leiria, janeiro de 2004

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