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CHAVES

Olhares sobre o "Reino Maravilhoso"

17
Nov25

Quem conta um ponto...


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754 - Pérolas e Diamantes: Apesar de...

 

Apesar de se olhar para as coisas com olhos de ver é necessário ter o máximo de cuidado com o imprevisível. Depois do gesto magnânimo, devemos deixar transparecer um certo toque de ignorância. Quando se volta para a província é ajuizado cultivar o jardim e evitar olhar para a sebe dos outros. E ir por aí fora mirar as coisas, olhar para as pessoas, fazer pequenas viagens pelas aldeias, jornadas privadas de descoberta. De certeza que havemos de descobrir muitas mudanças, umas boas e outras más, e até encontrar lugares onde as mudanças nunca chegam. Também é avisado cada um livrar-se de convites indesejáveis. Por vezes mostram-nos fotografias a sépia de gente importante que já ninguém conhece. Todos estamos tão acostumados a distribuir amabilidade e benevolência que qualquer tipo de confronto de baixa intensidade nos perturba bastante. A boa vontade, na província, onde todos se conhecem, pode causar aversão. É frequente andarmos com o olhar para a frente e para trás a ver se o conseguimos pousar nalgum lado que não seja notado ou que não pretenda incomodar. Não vale a pena pensar no tempo que já passou. A saudade portuguesa está a perder a sua autenticidade. A província é um lugar, ou, pelo menos, parece. E quando encontramos os velhos amigos, depois de olharmos gravemente uns para os outros, todos bebemos fazendo floreados. Logo depois começa o relaxamento. E enquanto vem outro copo, começa-se a falar de política e, durante algum tempo, passam-se bons momentos a ver quem consegue falar o pior possível do partido que está no governo e na câmara municipal e na junta de freguesia. E também dos sindicatos, do sistema educativo, do serviço nacional de saúde, da justiça, da segurança social, da televisão, dos negros e dos árabes, dos jovens e dos idosos, dos homossexuais, etc. Claro que tudo isso pode parecer pouco decente, mas é agradável. Claro que todos se sentem uma pequena fraude, mas uma fraude que se denuncia a si própria é bastante mais credível do que uma fraude escondida. Falar contra si próprio é difícil, mas continua a ser muito admirado, mesmo na província. E, depois de ainda mais um copo, que eufemisticamente se chama digestivo, ou aperitivo, conforme estamos antes ou depois do repasto, os espíritos tendem a animar-se mais um pouco. Entretanto, alguém começa a sugerir distintos lugares para se visitar. E, indistintamente, o resto da rapaziada amiga volta a discutir e a trocar recordações, sobre eles e sobre alguns outros de que se lembram melhor. E agora algo de completamente diferente. As estradas portuguesas são coisas estranhas. Servem para trazer poucos até à província e para levarem quase todos até ao lado de lá. Onde quase todos vivem. Em territórios pequenos e bem delimitados, bem regados por dinheiros públicos que quase ninguém contesta. Entre as colinas e os rios, entre o bom-senso e a paródia, entre o deve e o haver, entre o nada e coisa nenhuma. Os bonzos da União Europeia tudo fizeram para uniformizarem as maçãs, a carne do bife de bovino, caprino, ovino, avícola e suíno, a dimensão das ereções e dos preservativos e das vaginações e dos pneus dos carros e da abertura das bocas perante o espanto e da lista de insetos raros e da extensão dos nomes. E para uniformizarem pobres e burgueses e capitalistas e homossexuais e negros e anões e marrecos e pedófilos e padres e freiras e corruptos e as garrafas de vinho e de cerveja e até o amarelo deslavado dos tremoços. E a velocidade das carripanas e a biqueira dos sapatos e o tamanho da gordura dos gatos e a intensidade máxima do ladrar dos caninos. Que saudades de ir mijar em urinóis que foram a principal inspiração de Duchamp. Tínhamos, sem nos apercebermos, a perceção da arte que era a base da confiança na democracia que estava para vir ou que se encontrava em construção. Agora, cada vez mais vezes nos passam pela cabeça os pensamentos mais banais e inesperados sobre a passagem do tempo. A verdade é que as coisas que se passaram há mais tempo ainda parecem as mesmas só que com mais peso e mais rugas e mais tédio. Mas as diferenças não são bastantes para que se faça disso um drama. É sempre melhor mudar de rumo enquanto descemos, pela simples razão de que é mais fácil e até mais rápido.

João Madureira

14
Nov25

Vivências


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A porta da nossa casa

 

A porta da nossa casa é a porta mais importante da nossa vida. Ao contrário das portas dos centros comerciais ou de outros espaços públicos, não diz “Puxe” ou “Empurre”, nem é de abertura automática… Não é preciso. É uma porta só nossa – ou, melhor dizendo, nossa, dos nossos, e daqueles a quem damos permissão para a transporem (e, na verdade, não deixamos que seja transposta por qualquer pessoa…).

 

A porta da nossa casa vai mudando ao longo dos tempos. Começa por ser a porta da casa dos nossos pais, nos primeiros anos da nossa vida, e são eles que têm a chave e que nos guiam por essa porta para sair e voltar para casa. Mais tarde, quando já somos mais crescidos e responsáveis, passamos a ter uma chave de casa para nós. Entretanto, continuamos a crescer, concluímos os nossos estudos, começamos a trabalhar, casamo-nos ou, simplesmente, deixamos a casa dos nossos pais e passamos a ter a nossa própria casa e uma outra chave de uma outra porta, só nossa.

 

A verdade é que, qualquer que seja o nosso percurso de vida, teremos sempre uma porta de casa e essa porta será sempre a mais importante e a única que delimita a nossa presença em dois mundos distintos: o nosso mundo pessoal e o mundo exterior.

 

Quando estamos do lado de dentro da porta de nossa casa, sair em cada manhã significa deixar o conforto do nosso lar e embrenharmo-nos no mundo exterior, na realidade social, ou profissional da nossa vida: saímos para a escola, para brincar com os amigos, para namorar, para trabalhar, para ir ao ginásio ou ao futebol…

 

Quando estamos do lado de fora da porta de nossa casa e inserimos a chave na fechadura, no final do dia, cansados, exaustos, mas seguramente felizes por voltar, deixamos para trás toda a agitação e todo o burburinho da rua e chegamos ao nosso refúgio, à nossa família, ao nosso porto de abrigo…

 

É assim a porta da nossa casa…

 

 

Luís Filipe M. Anjos

Leiria, novembro de 2025

13
Nov25

Cidade de Chaves...

com chuva


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Estava prometida e veio, para ficar por uns dias, ao que parece, com chuva, às vezes muita outras vezes nem tanto, algum vento e algumas pausas, mas não tão brava como se fez pensar, a depressão Cláudia não passou de chuva de outono, ou seja, da época ou quase, pois por tradição deveríamos ter por cá o verão de São Martinho para alegrar os magustos, como se o alegrar da jeropiga não chegasse.

 

Até amanhã e convém não se esquecer do guarda-chuva, isto se já tem uma certa idade, pois ao que parece os jovens de hoje não o usam… enfim, modas que molham.

 

11
Nov25

Chaves de ontem, Chaves de hoje


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Hoje ficamos com duas imagens, tomadas mais ou menos do mesmo local com o mesmo olhar, a diferença está nos anos em que foram tomadas, a primeira nos finais dos anos 80, talvez inícios dos aos 90 do século passado, e não podemos ter precisão na data por ser ainda da era analógica, quando o nosso arquivo ainda não estava organizado, mas sei que a tinha guardada no “baú” dos anos 80/90. A segunda imagem, essa sim, conhecemos-lhe a data, por ser recente e pelo registo digital que diz ser de 23 de junho de 2025, às 10H39. Dai poderemos afirmar com toda a certeza de que pelo menos 30 anos separam estas duas imagens.

 

Outras diferenças estão, por exemplo, no topónimo popular do local que nos anos 80 era Jardim das Freiras para hoje ser largo das Freiras, pois o jardim já faz parte da história deste local. Também no casario há algumas diferenças, pois com o tempo subiu em altura, mas diminuiu em quantidade. Referimo-nos ao casario confrontante com a ladeira da Trindade, do lardo esquerdo (a subir) todas as construções têm mais, pelo menos, 1 piso, enquanto que do lado direito, também a subir, a construção existente na primeira imagem foi demolida, outra nascerá no seu lugar, mas ainda não nasceu… no entretanto temos por lá um espaço abandonado e vedado com tapumes, mas também uma vista privilegiada sobre um pequeno troço da muralha medieval. Por último, o Monsenhor foi apeado do local e das vistas sobre o centro histórico e passar a residir entre as muralhas de betão do cino-chaves, mas pelo menos está no largo que tem o seu nome, Monsenhor Alves da Cunha, o que já é qualquer coisa…

 

Até amanhã!

 

P.S. Comos os flavienses que, por defeito ou tradição, andam um pouco arredados da nossa história, mas sabendo que ainda resistem alguns curiosos do saber, para quem quiser pode ficar a saber um pouco de quem foi o Monsenhor Alves da Cunha, basta seguir o link que vamos deixar, de um post antigo deste blog:

 

https://chaves.blogs.sapo.pt/324504.html

 

10
Nov25

Quem conta um ponto...


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753 - Pérolas e Diamantes: São insondáveis os caminhos do Senhor

 

É verdade, nunca vi um palhaço negro. Nem um. Em lado nenhum. Nem na televisão. Será que existe alguma razão válida para isso? Já vi até muitos cantores de ópera negros, mas nenhum palhaço. Perguntarão vossas excelências a quem é que isso interessa? E têm razão.

Dizem que os cientistas, finalmente, descobriram a razão das zebras serem listradas: é para afastarem os insetos, sobretudo os que provocam doenças.

Mas continua o mistério da razão pela qual o grasnar dos patos não produz eco.

Isto para não falar do monte de retalhos animal que é o ornitorrinco, talvez uma das experiências mais exóticas de Deus enquanto Criador da bicharada.

São insondáveis os caminhos do Senhor.

Já agora, será que a Muralha da China é visível do espaço? Provavelmente pensa que sim. Mas a resposta correta é não. Quase todos incorremos nos mesmos erros quando pensamos. A verdade é que, na sua parte mais larga, a Muralha da China mede aproximadamente nove metros. Ou seja, a largura de uma casa pequena. Além disso, foi construída com pedras cuja cor é semelhante à das montanhas circundantes, pelo que se confunde com a paisagem. Mas não é para admirar. Dez por cento dos franceses ainda acreditam que a terra é plana. Ou seja, há bolsas de estupidez até nos países cultos e civilizados.

A maneira como pensamos é que nos leva, a maioria das vezes, a ter perceções falsas do mundo. Os seja, as perceções da realidade são muitas vezes desacertadas. Brendan Nyhan, professor no Dartmouth College, em New Hampshire, escreveu que “as perceções erróneas diferem da ignorância na medida em que é frequente as pessoas não duvidarem delas e, por isso, considerarem-se bem informadas”. Ao que se sabe, as perceções erróneas das pessoas não se combatem com mais informação, mas com melhor informação. E mesmo isso não basta. Esse é o problema.

A nossa preferência, porque gostamos de pensar rápido, é para procurar informação que confirme aquilo em que já acreditamos, sermos atraídos por informação negativa, sermos suscetíveis aos estereótipos e ainda pela nossa apetência por imitar a maioria.

Muitas das fake news somos nós que as procuramos. Por incrível que pareça, o nível de fake news depende essencialmente do nosso nível de crendice.

Uma coisa aprendi ao longo da vida, a compreensão profunda da razão de estarmos errados é o caminho certo para nos aproximarmos da realidade. Para continuarmos a ter esperança no futuro, não nos devemos esquecer que os factos ainda continuam a importar.

A verdade é que a nossa perceção do mundo anda uns passos atrasada em relação à realidade.

Francis Bacon, referindo-se à nossa adesão às ideias políticas, leia-se seguidismo ideológico ou partidário, escreveu em 1620: “Assim que adota uma opinião, o entendimento humano vai buscar tudo o resto para sustentar e concordar com ela. E mesmo que haja um maior número e um maior peso de provas em contrário, negligencia-as ou despreza-as ou, lançando mão de certas distinções, põe-nas de parte e rejeita-as.”

Está explicado o espírito de manada.

Depois de nos afeiçoarmos a uma ideia, causa-nos sofrimento psicológico abandoná-la. Daí andarmos atrás de informação (muitas vezes de origem duvidosa) que confirme as nossas certezas.

A nossa ignorância é pluralista. Do mal o menos.

É normal as nossas preocupações transformarem-se em exageros. A tendência quase geral é para seguir o rebanho.

E isto tem consequências. Cálculos recentes estimam que a fortuna de 1% dos mais ricos do planeta é superior à da totalidade do resto da população. Cerca de 73% da população do globo detêm uns meros 2,4% da riqueza mundial. Melhor será dizer da pobreza mundial.

Deste 1% dos mais ricos, 7% vivem no Reino Unido, 5% na Alemanha e 37% residem nos EUA. Na Rússia, por exemplo, apesar da dimensão da sua economia, apenas 0,2% das pessoas mais ricas do mundo lá habitam.

À escala mundial, o número de pessoas que vivem com quase nada ou absolutamente nada é gigantesco.

As nossas perceções erróneas estão sempre relacionadas com as nossas opiniões. Os nossos medos são, na maior parte das vezes, motivados, não apenas por aquilo que desconhecemos mas, sobretudo, pela incompreensão dos factos.

As pessoas escolhem os meios de comunicação que refletem o que elas já pensam. E assim se habituam a pensar mais do mesmo.

Estamos ancorados nos nossos próprios palpites. Mas, como dizia Aldous Huxley, “os factos não deixam de existir por serem ignorados”.

João Madureira

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