O Barroso aqui tão perto - Antigo de Viade
Geralmente às segundas-feiras fazemos o regresso à cidade, mas hoje, para ser diferente, apenas vamos passar pela cidade, seguimos em direção ao São Caetano, paramos lá, não para cumprir promessa, rezar ou meditar, mas para encher a garrafa de água fresca para o resto da viagem, depois seguimos em direção a Soutelinho da Raia sem entrar na aldeia, pois logo no início vamos virar à esquerda e, umas centenas de metros à frente, entramos no concelho de Montalegre, mas antes, imediatamente antes de entrarmos em Montalegre, paramos no alto, junto ao grande penedo, para deitar um olhar sobre a Serra do Larouco, é dali, que a serra mostra toda a sua imponência e se transforma no Deus Larouco, daí, ser paragem obrigatória.
Bem, poderia continuar a descrever o resto da viagem e o que iria acontecer, mas na realidade esta viagem já foi feita, e o que vai ficar por aqui é aquilo que vimos na aldeia barrosã convidada de hoje, Antigo de Viade, a última da trilogia de aldeias com o topónimo de Viade. Se calha, esta, Antigo de Viade, até deveria ter sido a primeira, mas calhou para o fim, pois primeiro fomos até Viade de Baixo, depois a Viade de Cima e hoje, sim, fica Antigo de Viade.
Pois regressemos ao trajeto que fizemos até lá, um dos nossos preferidos para entrar no Barroso, e recordemos que o nosso ponte de partida é sempre a cidade de Chaves. Pois preferencialmente vamos via São Caetano, passamos por Soutelinho da Raia, entramos no concelho de Montalegre e logo na primeira aldeia, Meixide, deixamos a estrada principal que nos levaria até Montalegre, via Vilar de Perdizes, e viramos em direção a Pedrário e logo a seguir entramos em Sarraquinhos onde de novo abandonamos a estrada que também nos levaria até Montalegre para apanharmos uma outra que nos levará até Zebral, Vidoeiro e o Barracão, onde apanhamos a EN103 em direção a Braga, logo a seguir vai-nos aparecer a barragem dos Pisões (à esquerda) e depois de passarmos pela Aldeia Nova do Barroso, São Vicente, Travassos da Chã, Penedones e Parafita, ainda tendo a barragem dos Pisões por companhia, saímos da EN103 (à direita) para finalmente entrarmos em Antigo de Viade.
Viramos à direita mas também à esquerda, entre a EN103 e a Barragem já há casario que pertence à aldeia, mas trata-se de casario mais recente e de certeza que não me engano, trata-se de casario que só foi construído depois da construção da barragem em meados do século passado. Mas o nosso destino é mesmo a antiga aldeia de Antigo de Viade, embora depois de a termos visitado também fomos deitar uns olhares à barragem e ao viveiro das trutas. Para melhor esclarecer este trajeto, fica o nosso habitual mapa.
Quanto ao regresso a Chaves, como de costume, propomos um itinerário diferente e que poderá ser a EN103, ou seja, voltamos para trás e no Barracão em vez de tomarmos o trajeto de ida, continuamos pela EN103 até Chaves.
Entremos em Antigo de Viade, que sem ter qualquer documento (para já) em que me apoiar, suponho que será a mais antiga das três aldeias que adotaram o topónimo de Viade. Pois, em geral, costumámos surpreende-nos pela positiva quando entramos pela primeira vez numa aldeia, mas desta vez, tal não aconteceu, tudo porque depois de termos passado por Viade de Baixo e Viade de Cima, só ficaríamos surpreendidos se Antigo de Viade, no que respeita a aldeia típica barrosã, ao casaria e à envolvência não estivesse a par ou à altura das outras duas. Claro que tem as suas singularidades e é diferente das outras, mas igualmente interessante, pelo que recomendamos e merece ser visitada.
Do que mais gostámos de ver em Antigo de Viade, para além do conjunto como aldeia, da verdura da sua envolvência e do espaço junto à barragem, podemos destacar a sua igreja com a torre sineira separada do edifício e localizada em frente à entrada principal, tal como vai acontecendo em outras igrejas do Barroso. Gostámos também de ter visto algumas recuperações de casario respeitando a traça original e do conjunto escola/recreio e a sua localização, já não gostámos tanto de a ver abandonada.
Claro que para além do abandono da escola, também há outros pormenores que gostámos menos, tal como algumas ruínas, algumas casas abandonadas, o envelhecimento da população e, claro, a tendência ao despovoamento, ou seja, o costume nas aldeias mais pequenas e mais distantes da sede de concelho.
Quanto às nossas pesquisas, no livro “Montalegre” ficámos um pouco baralhados, pois há muitas referências a Viade, simplesmente Viade, sem referir se é Viade de Cima, Viade de Baixo ou antigo de Viade. Aliás o Antigo de Viade não é referido nenhuma vez, pois a aldeia apenas aparece como Antigo, a única referência e apenas para dizer que faz parte da freguesia de Viade de Baixo, atualmente Viade de Baixo e Fervidelas.
No resto das pesquisas também pouco mais encontrámos. Há no entanto no Facebook dos sítios com referências da Antigo de Viade, uma página e um grupo, ficam os links:
https://www.facebook.com/antigo.deviade
https://www.facebook.com/groups/156309271139920/
Quanto a “Toponímia de Barroso” temos o seguinte:
Antigo de Viade
Nasce do adjectivo latino ANTIQUU > ANTICO > ANTIGO, mas com idêntica significação. Sendo adjectivo há que subentender o substantivo perdido. É natural que fosse algum casal, vilar ou construção arqueológica que se desconhece qual fosse. Mantém-se o topónimo que recorda o facto.
Ora assim sendo, vamos ao topónimo de Viade, que Antigo de Viade também tem:
VIADE
Desde 2013 – União de Freguesias de Viade de Baixo e Fervidelas
É o genitivo do nome pessoal Beatus; “villa” BEATI>BIADE>VIADE.
Podia ser escrito Biade pois o topónimo já em:
-1258 «Sancte Marie Biadi» INQ 1514 estava sedimentado. De igual modo a forma encontrada em
-1288 « de Sancta Maria de Biady» (Com o y dos ditos amigos sdo pedantesco arcaísmo) INQ N.A. – 492. Nas inquirições de
- 1282 «…isto he en termyo de Biadi». Aqui voltamos à forma final/inicial – onde apenas faltava o e mudo terminal cujo i já assim devia soar.
Quanto à “Toponimia Alegre” integrada na “Toponímia de Barroso” temos em relação a Antigo de Viade:
Justiça do céu te caia,
De Deus te venha o castigo,
Porque te foste casar
No deserto do Antigo.
E mais esta:
Adeus lugar do Antigo
Tens um chafariz no meio
Onde os homens vão beber
Com a cabeçada e freio.
A mais esta ainda:
Dizem os do Antigo:
Ao clérigo-frade
Nem por amigo
Nem por compadre
Também aqui:
Cávado – Regavão:
Leirões de Lamas,
Lagartos de Fervidelas,
Conhadeiros de Bustelo,
Boleteiros de Friães,
Ladrugães, esfola-gatos mata-cães,
Manta-moura de Reigoso,
Chinos de Currais,
Porcos de Sacoselo,
Ovelhas de Pondras,
Fanhos de Travaços de Chã,
Penedos de Penedones,
Tomba-malgas de Parafita
Ó derrim pó-pó
Cabra velha arroz pró pote!
Corta-matos do Antigo,
Esfola-cabras de Viade
Arribadas de Viade de Cima,
Machuchos da Vila
Cambados de Cambeses
(…)
E ficamos por aqui. Ficam ainda as habituais referências às nossas consultas e dizer-vos que as abordagens que já fizemos às aldeias e temas de Barroso estão agora no menu do topo do blog, mas também nos links da barra lateral. Se a sua aldeia não está lá, em breve passará por aqui num domingo próximo, e se não tem muito tempo para verificar se o blog tem alguma coisa de interesse, basta deixar o seu mail na caixa lateral do blog onde diz “Subscrever por e-mail”, que a SAPO encarregar-se-á de lhe mandar um mail por dia com o resumo das publicações, com toda a confidencialidade possível, pois nem nós teremos acesso à vossa identidade ou mail.
BIBLIOGRAFIA
BAPTISTA, José Dias, Montalegre. Montalegre: Município de Montalegre, 2006.
BAPTISTA, José Dias, Toponímia de Barroso. Montalegre: Ecomuseu – Associação de Barroso, 2014.