23
Jun07
Chaves - Aldeias e Tresmundes
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Nasci em Chaves. Calhou! Pois poderia ter nascido em Montalegre ou em Parada de Aguiar (ou do Corgo) ou noutro sítio qualquer, mas, nasci na cidade porque a minha mãe vivia na cidade quando me pariu, porque se estivesse na terra dela, teria nascido em Montalegre, numa vila e se tivesse calhado na terra do meu pai, era aldeão de origem. Calhou ser cidadão em vez de vilão ou aldeão, mas nem por isso sou diferente, pois tenho orgulho e honram-me as minhas origens, da minha mãe vilã e do meu pai aldeão, porque sei que sou filho de gente honrada que são filhos de terras de honra do mais puro trasmontanismo que há e por isso, além de ser e viver na cidade, conheço muito bem as aldeias e os seus modos de vida, a sua identidade, a de hoje e de ontem (do passado recente), porque também os vivi directamente e indirectamente, e também tenho conhecimento de tempos mais longínquos através das vivências transmitidas pelos meus pais e avós, vivências de tempos difíceis, muito difíceis mesmo, que fazem dos dias de hoje um paraíso à luz dos tempos passados e, por isso, tenho honra e respeito por ser filho de quem sou e das suas origens vilãs e aldeãs.
Tudo isto para chegar a um comentário de há uns dias atrás, num post antigo, em que alguém, anónimo e da aldeia (suponho) se sentia ofendido no modo em como eu trato as aldeias e as pessoas das aldeias… talvez de alguém que não sente orgulho ou tem vergonha das suas origens, talvez, pois não o sei…mas uma coisa eu sei, é a de que todos os fins de semana trago a este blog uma aldeia do concelho onde nasci, uma aldeia (seja ela qual for) pela qual eu tenho carinho, respeito e apreço, tal como respeito as suas gentes e a sua humildade, dignidade e honra que cada um tem na sua terra, mas não é por isso, que deixo de mostrar os males que as tolhem e as desertificam, nem deixo de contar a sua história e estórias de tempos difíceis em que não tinham água canalizada, nem electricidade, nem estradas e muitas vezes nem pão para comer. Tempos em que as pessoas viviam mal, analfabetas e sem condições, no limiar da pobreza senão na própria pobreza e que, desculpem-me o termo, eram uns coitadinhos. Coitadinhos e analfabetos, que com muito trabalho, muitas necessidades e carências quiseram melhores dias para os seus filhos, e mandaram-nos para a escola em vez de os mandar para os campos ou com as ovelhas, educaram-nos e deram tudo que tinham para que os seus filhos hoje possam ser doutores e engenheiros na(s) cidade(s) e ter uma vida de sonho que eles nunca tiveram.
E para terminar, agora digo eu, coitadinhos não são os naturais das aldeias, que sempre nelas viveram e que delas e do seu modo de vida, têm honra e orgulho e, são a gente boa, pura e honrada do nosso povo transmontano e flaviense. Coitadinhos, tristes e mal formados, são os filhos das aldeias que hoje nas cidades são doutores e engenheiros e passam uma esponja sobre o seu passado e as suas origens como se não existissem. Tristes coitados, sem ofensa para os doutores e engenheiros aldeões que têm orgulho de serem filhos dos seus pais e das suas aldeias e não esqueceram as origens, que também os há.
E que tem Tresmundes a ver com tudo isto!?
- Nada! Pois apenas foi apanhada neste desabafo de raiva para com os que não amam, esquecem ou escondem as suas origens aldeãs. Aqui fica um testemunho (para o tal anónimo do comentário que me faz hoje sair dos carris) em como os das aldeias já não são coitadinhos e até já têm parabólicas nos telhados, além dos que têm filhos doutores nas cidades, pois eu que sou nascido e criado na cidade, nunca “abesei” uma parabólica, nem sou doutor, mas ainda sei o que é um engaço e para que serve.
Peço assim desculpas a Tresmundes e a todo o pessoal das aldeias que não se revê nos maus aldeãos. Com Tresmundes fico em dívida e prometo um futuro post digno da sua dignidade de aldeia de montanha e da Serra do Brunheiro.
Até amanhã, noutra aldeia do concelho, sem revoltas, prometo.