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Fev06
Chaves e o Carnaval

A tradição do Carnaval em Chaves está mais ligada à gastronomia do que a desfiles, no entanto nos últimos anos as crianças das escolas da cidade têm-nos brindado com os seus desfiles. Para a criançada é uma alegria, para quem vê, são uns momentos de boa disposição.
Mas a tradição mesmo é à mesa. Reservam-se para o dia de Carnaval as carnes de porco, mais propriamente os enchidos mais preciosos, aqueles que foram guardados propositadamente para esse mesmo dia de Carnaval.
Mas e antes que alguém que conhece a tradição diga que em sua casa não é ou era bem assim, diga-se, que a tradição também varia de casa para casa e tem muito a ver com a origem das famílias e com a combinação das origens e, aquilo que numa casa pode ser o enchido mais precioso, na casa ao lado pode não o ser. Em casa dos meus pais, cuja origem era de Vila Pouca de Aguiar e Montalegre, o fumeiro da casa, era uma mistura da tradição do fabrico de Vila Pouca, com o de Montalegre acrescido do de Chaves, embora prevalecesse a tradição barrosã . Mas numa coisa a tradição era e é comum no Carnaval Os enchidos de porco.
Na maioria das casas o comum é, além das linguiças e salpicões, o bo(u)telo e o palaio. O primeiro não é mais que a bexiga do porco cheio de costelinhas e outras carnes de porco, que depois de passarem o Inverno pelo fumo, aguardam o dia de Carnaval para ser esventrada . O segundo, o palaio, não é mais que a parte mais larga do intestino grosso do porco, cheio da massa de carnes do tradicional chouriço de sangue e cabaça, que tal como a bexiga, passou pelo fumo durante todo o Inverno.
Iguarias destas, se forem genuínas, são de comer e chorar por mais. Talvez por isso é que à mesa só são vistas uma vez por ano. Ah!, claro que tudo isto tem que ser regado com um bom vinho, e neste capítulo não sou bairrista. Um bom vinho tinto, bem encorpado e de preferência da região de Valpaços ou em alternativa Alentejano, ou vice-versa, desde que seja bom.