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Mai06
A Escola do Caneiro

De novo o regresso às origens. Esta escola que hoje trago aqui foi onde aprendi as minhas primeiras letras. A escola primária do caneiro, na altura, dos rapazes, porque a das raparigas era ao lado.
Guardo desta escola as recordações mais antigas que ainda tenho registadas na memória. Alguns colegas, professores, brincadeiras, o primeiro namoro, zaragatas de miúdos e sobretudo muito medo. Medo de tudo, de não saber a tabuada, os rios e as linhas de comboio, dos colegas maiores e mais zaragateiros, da estrada, do ardina que me aparecia sempre a caminho da escola. Mas recordo também muitas vezes sobretudo as brincadeiras e jogos do recreio, sobretudo jogar aos cromos, ao espeto e ao estás, as conversas proibidas com as raparigas junto ao muro e a taberna onde por meia dúzia de tostões comprávamos os cromos dos jogadores de futebol de então, embrulhados num rebuçado e as rabichas e bombas de Carnaval.
Recordo com saudade os, infelizmente já falecidos, professores Cabugueira e Lareno e alguns colegas: O Óscar, o Jaime, o Gaspar, os irmãos Mesquitas, o Luizinho, o Mosca, o Marinheiro, o Esteves, o Inácio, o Totó das couves, os gémeos e malucos Caios, o Pinheiro, o Marco, o Piriscas, o Adérito Velhote, o Branco e o primo Americano, O Jorge Carneiro, o Carlos Lameirão, o Rogério, o Celestino e alguns outros que agora me falham e que eram toda a rapaziada da Casa Azul, do Campo da Fonte, do Caneiro, do Campo da Roda da Madalena, do S.Roque e Rajado, ou seja, e como eu costumo dizer os filhos da veiga. Só rapazes e a razão é simples, é que eu ainda sou do tempo em que os rapazes ficavam para um lado e as raparigas para o outro e em que uma ida ao muro de separação e uma conversa proibida com uma rapariga (misturas de café com leite) eram proibidas e dava direito a meia dúzia de reguadas, com aquela régua de madeira que o professor Lareno guardava na gaveta e tinha cinco buraquinhos geometricamente distribuídos, com 6cm de diâmetro, 1,5cm de espessura e 25 cm de cabo Recordo-lhe as medidas e o medo que a ela tinha.
Recordo dessa escola também e, nunca mais esquecerei a tabuada cantada e que 6x8=48, porque graças a esta operação matemática levei 48 reguadas, para nunca mais esquecer.
Graças a Deus que os métodos de ensino mudaram e que hoje é com gosto e alegria que vi o meu filho e vejo a minha filha aprender as primeiras letras, com o mesmo gosto e alegria com que eles aprenderam.
Desculpem-me as recordações, mas penso que são as mesmas do pessoal da minha geração, a geração de 60, uma boa colheita, como costumo dizer!