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Estamos em festa. A festa da Feira dos Santos, a festa da cidade. Bem sei que oficialmente tentam fazer do 8 de Julho o dia de festa da cidade, mas em coisa de festas, o povo ainda é quem mais ordena e, dita o mesmo povo que as festas de Chaves são a Feira dos Santos e prontos! (como por cá se diz).
E sem querer entrar em polémicas e ainda antes de entrar no romantismo da feira há duas palavrinhas que gostaria de dizer, ou melhor, considerem mais como um desabafo. Pois é assim: Desde sempre as feiras semanais se realizam em espaços improvisados e sem quaisquer condições, quer para quem vende quer para quem compra. Chãos térreos onde o pó abunda ou de lama quando chove, sem instalações sanitárias por perto, estacionamentos e sem outros serviços de apoio. A Feira dos Santos tem sido (também desde sempre) uma feira semanal alargada, muito alargada que entra até pela cidade adentro. E se semanalmente, na tradicional feira das quartas-feiras, não há condições, então na Feira dos Santos é para esquecer pois o pandemónio instala-se na cidade. Bichas de trânsito de quilómetros, quanto a estacionamentos, já são poucos nos dias comuns
para instalações sanitárias, vão valendo as esquinas e traseiras
e quanto a outros apoios, informações, emergências, etc., nem vale a pena falar
a feira faz-se por si mesma e o que vale é que já estamos habituados e vamos perdoando porque afinal é dia de festa na cidade, em que tudo se perdoa ou talvez não. Penso eu (que não percebo nada destas coisas), que já era tempo de pensar melhor a feira e, já agora, de pensar também melhor o programa destas festas, que meia dúzia de foguetes no ar, uma chega de bois (que nem sequer é tradição no concelho), uma arruada de bombos e de gaiteiros, parece-me ser coisa pouca, quase nada, que nem sequer é digna da mais humilde aldeia do concelho. Tal como atrás disse e reafirmo, a feira faz-se por si mesma e vale-lhe a tradição, pois quanto ao resto e organização, chumbam, e com nota muito baixa. É A MINHA OPINIÃO.
Mas deixando para trás as queixas de sempre, vamos ao romantismo da feira.
Como já disse, a Feira é a festa por excelência da cidade e, embora já vá longe o tempo do roubar o pretinho com a pila à mostra, das bolas de serrim, das arruadas dos estudantes da Escola Industrial e do Liceu e os inevitáveis confrontos de rivalidades, dos afamados Bailes de Santos dos Bombeiros, da exposição de ouro na Rua de Stº António, da mulher das castanhas em frente ao Geraldes, e dos grupos das aldeias, que bem avinhados na companhia da concertina e cantares pernoitavam nas ruas da cidade, ainda há matraquilhos, o velhinho carrossel e embora este ano falte o poço da morte, há farturas em todas as esquinas. Mas do que gosto mesmo é de ver velhos amigos do tempo do liceu que ainda fazem da feira uma obrigação de regressar à terrinha. Ontem, e sem conseguir chegar à fala, vi a estouvada da Mimi, gémea da estouvada da Mémé, que são irmãs da certinha da Mitó que são todas irmãs do amalucado do Rivelino e todos primos da Bicas. Perdoem-me o estouvada e amalucado, mas é com carinho que o digo, como é com carinho que vivo sempre o momento em que um encontro destes se dá como os velhos amigos do tempo de estudante, e que só na Feiras dos Santos é possível, porque é uma festa de rua e uma festa do povo, do meu povo flaviense e de todos os concelhos vizinhos e galego.
E como o tempo promete, um autêntico e antecipado verão de S. Martinho que ainda (imagine-se) permite a manga curta, hoje é dia da feira da lã, em que os flavienses compram. Amanhã é o verdadeiro dia da feira do povo, da feira dos nossos concelhos rurais e da feira do gado, em que é obrigatório ir comer um pouco de pulpo dos nossos amigos galegos, com um pedaço de pão e um copo de tinto, ou dois, e dia 1, como sempre, é o dia dos galegos e o adeus à feira.
Até amanhã, com novo olhar da feira.
Hoje fica um bocadinho da luz e colorido das barracas das atracções, no meio dos carrosséis que fazem a delícia da miudagem e são um teste à nossa paciência de pais.
Até amanhã e desculpem a maçada de tanto palavreado, mas quando é de Santos que se fala, não me consigo conter.