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Dez06
Chaves, o Liceu, as Freiras e o 1º de Dezembro

E como hoje é o 1º de Dezembro a saudade falou mais alto e tinha que ir até ao velho Liceu, até às Freiras e até às recordações que lhes estavam associadas neste dia. Claro que começam a ser saudades e recordações de juventude, da irreverente e também contestatária juventude.
Apenas assisti e participei em duas arruadas de estudantes do 1º de Dezembro. À minha primeira arruada , no meu primeiro ano do Liceu, com apenas 13 anos, e à última arruada de que o Liceu e a cidade tem memória, já após o 25 de Abril, ou seja um ano depois. Esta última foi memorável, não fosse ela logo após o 25 de Abril em pleno período quente do pós Abril. Muitos ovos, muitos tomates, muita contestação, muitas bocas e insultos afinal de contas a revolução ainda pairava no ar e o acto estudantil era associado a uma das permissões do antigo regime e como tal deveria ser banido. Embora tenha pena e lamente que a tradição estudantil do 1º de Dezembro terminasse após o 25 de Abril, democraticamente, aceito a morte da noite dos estudantes.
Claro que a imagem de hoje tinha que ser uma imagem nocturna do Liceu e do Jardim das Freiras onde tudo se iniciava, a imagem possível, com as recordações possíveis, pois já nem existe o LICEU nem o JARDIM. O Liceu passou a ser escola e o jardim a largo ou praça, infelizmente mas não é por aqui que quero ir. O que quero mesmo é voltar ao 1º de Dezembro das arruadas de estudantes, com a bandeira do Liceu a abrir caminho, as capas negras e o resto
No resto é que a irreverência da juventude estudantil vinha ao de cima, pois era a noite das galinhas e de uma boa petiscada. Era tradição logo após a arruada e os mais atinadinhos (ou como hoje se diz betinhos) retirarem aos seus aposentos, os restantes continuarem a noite em visitas às capoeiras da cidade que inevitavelmente terminavam numa noite de petiscada (se as coisas não corressem mal, claro!). Recordo que alguns dos estudantes, para manterem a tradição, assaltavam-se a eles próprios, como quem diz, assaltavam as capoeiras ou galinheiros dos pais. Havia até estudantes que gostavam tanto desta tradição, que a prolongavam pelo ano lectivo fora, mas isso são outras estórias de vida e noites possíveis antes do 25 de Abril que às vezes terminavam com uns puxões de orelhas e/ou um sessenta e coroa na Rua Bispo Idácio, mas isso, como disse, são outras estórias que bem podem fazer história.
E lamento desapontar os mais puristas da história, mas quanto ao 1º de Dezembro fico-me por aqui e pelas suas antigas tradições estudantis, quanto ao resto, bem, é feriado nacional, o que significa que hoje é dia de descanso para passar com a nossa família e/ou como os nossos amigos, uma daquelas datas que é assinalada a vermelho no calendário.
Até amanhã, por aí, numa freguesia deste concelho de Chaves.