.
Já sei que a maioria não deu conta, pois virtualmente estive aqui todos os dias, mas na verdade, nestes primeiros dias de Agosto estive de férias e bem longe deste mundo virtual da Internet. Embora se deixe toda a rotina de um ano para trás das costas e até a própria terrinha, é claro que a levamos connosco no coração e até vamos pensando nela, na sua luz, nos seus cheiros e nas suas cores e dei comigo a pensar nas nossas cores.
Muita gente associa o Azul Grená às cores de Chaves e embora não ande muito longe das nossas cores, a nossa cor oficial é o azul e branco, estas sim foram adoptadas como cores oficiais da nossa bandeira e o mais curioso é que Chaves costuma-se orgulhar dos seus antepassados republicanos e até festeja o dia da cidade em comemoração de uma luta entre republicanos e monárquicos e não é que adopta precisamente as cores monárquicas do azul e branco. Curiosas coincidências, mas estou antes em crer, ou melhor quero acreditar que o nosso azul e branco tem mais a ver com o azul e branco galego de que com o monárquico. Outra curiosa coincidência.
Por isso meus senhores, as cores da cidade não são o azul e grená – são o azul e branco, o grená do azul foi acrescentado pela bola, ou seja, são as cores do nosso Desportivo de Chaves e aqui, o termo “nosso” merece mais umas palavrinhas.
Claro que o clube ou melhor clubes da terra são aqueles que nos representam. Mas nesta história vamos deixar um dos clubes de fora (o Flaviense) e vamos àquele que é mais antigo e mais problemas tem causado à cidade – o Desportivo de Chaves.
É certo que o desportivo deu muitas alegrias e ilusões à cidade, umas temporadas na antiga 2ª divisão bem disputadas, o acesso pela primeira vez de um clube transmontano à 1ª Divisão, a disputa da Taça UEFA e por aí fora. Nesse tempo todos nos sentimos orgulhosos do nosso desportivo, mas também foi graças a ele que nesse tempo se cometeram os maiores atentados à cidade de Chaves e todos a médio e longo prazo irremediáveis. Graças ao desportivo houve quem sonhasse mais longe que as nossa possibilidades de uma cidade pequena de província, mas um Benfica, um Sporting e um FCP de três vezes por ano em Chaves e o nome de Chaves nas notícias dos jornais e nos programas da bola na televisão, faziam-nos inchar o ego e fazer vista grossa a outras coisas, mesmo que todos os sonhos e ilusões de um desportivo na 1ª divisão ficassem caídos por terra. Mas isto até são outras histórias e eu hoje quero mesmo é falar do azul-grená.
Pois voltando ao tempo primitivo do desportivo e, o blog Chaves Antiga tem sido testemunha disso, o clube era feito com rapazes da terra e um ou outro “gajo” porreiro que vinha de fora e pedia a nacionalidade flaviense. Disputávamos renhidos jogos com Vila Real e outras terriólas aqui à volta. Disputas dentro e fora do campo, mas sempre com jogadores e pessoal da terra. Uma passagem pela terceira divisão que os jogadores da terra (mais os dois ou três “gajos” porreiros de fora) elevaram com dignidade à segunda divisão. Nesta, sempre com o pessoal da terra (e os outros dois ou três), batalhamos em Lourosa, Vizela, veio o povo prá rua, houve porrada e até polícia de choque, e isto ainda no tempo da outra senhora e depois da outra senhora. Chaves mais que território nacional, tornava-se numa ilha esquecida mas que com os seus lutava pelos seus direitos. E era com os seus que a bola se ia fazendo e jogando e tanto lutou e jogou à bola que os seus (mais os dois ou três porreiros) levaram o desportivo à 1ª divisão. Houve foguetes no ar, esgotou a cerveja e restantes bebidas alcoólicas, e claro que foi festa rija toda a noite, festa que Chaves até então nunca tinha tido e que desde então também nunca mais teve.
É a partir de sermos primeiros que os problemas começam a vir ao de cima. Começou por tudo se inverter. Os rapazes flaviense da bola que tanto suaram a camisola deram lugar a gente de fora, estrangeiros e outros e ficaram apenas um ou dois “gajos” porreiros que por acaso eram flavienses. Os atentados, em nome da bola, continuaram, mas como já não havia pilim suficiente havia que ir aos cofres do município, ou seja ao nosso bolso só para aparecermos nas notícias e dar bola a meia dúzia de resistentes que aos domingos ainda iam ao stadium e saiam de lá sempre a barafustar.
O resto da história é recente e conhecida por todos, talvez seja tempo de além de pôr a bola azul-grená no Tabolado a debitar cerveja fresca para os flavienses, de pôr também e novamente os rapazes da terra a chutar na bola, e não interessa se joga com o Benfica, com o Sporting ou com o Vidago, o Montalegre, o Valpaços ou o Vila Real, o que interessa mesmo é que as camisolas sejam suadas por suor flaviense e que nos contentemos com a nossa condição de uma cidade sim, mas uma cidade pequena e de província, porque a nossa cidade vai muito além da bola e temos coisas muito melhores, mais importantes e interessantes que a bola e o azul-grená, e aliás as nossas cores até são o azul e branco.
Não sei se as férias fazem mal ou nos aclaram as ideias e nos destravam a língua, mas é o que sinto, o que eu sinto e, já que o blog é pessoal, permitam-me estes devaneios, ou talvez não!
Até amanhã, de novo em Chaves, cidade de província, pequena, mas… até amanhã!